Defesa da Tese:

"Música Quântica"

No dia 30 de Abril de 1997, das 17 às 19:30 horas, o Professor Eufrasio Prates empreendeu a defesa pública de sua dissertação de Mestrado "Música Quântica - de um novo paradigma estético-físico-musical: transversalidade e dimensão comunicacional". A banca examinadora compôs-se de:

A defesa iniciou-se com uma rápida exposição dos objetivos do trabalho, seguida da audição de 2 músicas: Eine Kleine Nachtmusik (K525, 1787), de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), e Point (1971), de Hans-Joachim Hespos (*1938). As obras musicais foram a seguir utilizadas para a realização de uma análise comparativa dos dois últimos grandes paradigmas do Ocidente (mecanicista e holonômico) sem deixar de utilizar referências aos desenvolvimentos da Física Quântica como ponte para a construção das citadas ligações.

As argüições iniciaram-se com o Prof. Dr. Roland Azeredo que, criticando a má utilização do termo "Quanta" pelo compositor Gilberto Gil em seu último disco (uma "apropriação indevida" em suas palavras), elogiou a profundidade com que o tema foi tratado nesta dissertação. Apresentou rapidamente o problema das variáveis ocultas trazidas por David Bohm como resquício do EPR (a divergência de Copenhagen sobre a natureza incerta dos fenômenos quânticos) e sua relação com o pré-determinismo implícito da posição de Einstein, Podolsky e Rosen, aproveitando para elogiar o paralelo colocado no trabalho entre essa questão e as características do surgimento da estética Dodecafônica (ainda inextrincavelmente vinculada à visão clássica). Questionou sobre uma posição do trabalho sobre essa questão e sobre outras a ela vinculadas, como por exemplo a da reversibilidade de processos entrópicos. Respondi que a questão era demasiado complexa, não tendo sido ainda solucionada sequer por grandes estudiosos da Física, e que, no fundo, eu não tinha nenhuma opinião formada ou resposta pronta. Lembrei que trabalhos como "O Tempo e a Eternidade", de Prigogine e Stengers, ou "Acaso e Caos", de David Ruelle, apresentavam propostas ainda bastante complexas em direções opostas. Sugeriu que num próximo trabalho, com o caráter maior de pesquisa inovadora, fossem aprofundadas questões como a da "irreversibilidade do tempo" (entropia, Caos, Fractais) e questionou sobre o signo musical como possibilidade de interconexão de campos "diversos" como os da Arte e da Ciência. Respondi lembrando que, justamente por sua capacidade em compreender o signo como o interconector "universalis", a semiótica foi o instrumento mais utilizado na dissertação para realizar as análises comparativas. Isto, sem descartar a riqueza da hermenêutica como instrumento filosófico de avaliação estética da nova Weltanschauung holonômica.

O compositor Conrado Silva abriu sua argüição elogiando o alto nível do trabalho que, sem esgotar a história da música contemporânea (o que não era o objetivo do trabalho), deu conta das principais correntes musicais do Século XX analisando-as enquanto linhas estético-filosóficas. Reforçou a importância do ensaio para clarear os vínculos paradigmáticos existentes na Música e na Física, potencializando sua utilidade para outros pesquisadores. Levantou a questão (tratada no quarto capítulo) da comunicabilidade da Música Experimental, questionando se as dificuldades de divulgação desse tipo de obra musical não teriam seu fundamento no "medo do desconhecido". Concordando com o argüidor, sugeri que tal problema não inviabilizava o consumo de filmes de terror ou o uso de brinquedos "assustadores" em parques de diversão, por exemplo. Levantei que o maior problema, na verdade, encontrava-se no círculo vicioso determinado pela ausência sistemática de espaço para a música nova nos meios de comunicação de massa, o que, por sua vez, não deixava de ter um caráter político-ideológico. Afinal, como dizia o poeta, "vida de gado, povo marcado, povo feliz". Conrado levantou também o problema da demanda de uma nova postura do público, frente ao caráter sinerético e de "abertura" (no sentido dado por Umberto Eco ao termo) da nova música.

O Prof. Dr. Luis Martins, abriu sua fala dizendo sentir falta, no Mestrado em Comunicação da UnB, de uma alternativa existente em outros programas de Pós-graduação: além das três opções existentes: Aprovado, Reprovado e Revisão (quando o trabalho tem problemas a solucionar antes de ser aprovado) faltava uma quarta opção: Revisão para Doutoramento, pois o trabalho apresentava excelente nível, podendo ser reapresentado com pequenos ajustes para o título de Doutor. A seguir, elogiou a interdisciplinaridade e o cuidado extremo no bom acabamento do ensaio (citando particularmente a qualidade e complexidade do índice remissivo). Criticou o fato de gastar-se muito espaço com a crítica do velho paradigma e reservar-se pouco para novas propostas. Questionou qual seria o novo paradigma comunicacional e se se confirmaria sua impressão de que a teoria usada seria a da Escola de Frankfurt, de tom adorniano. Perguntou qual era, efetivamente, o objeto de investigação, já que não se tratava de semiologia da música e questionou se a música seria um mediador entre o empírico e o transcendental. Minhas respostas foram tão enroladas (e provavelmente incompletas frente a esse arsenal de questões) que reproduzirei a seguir apenas algumas idéias que foram lançadas frente aos desafios do argüidor.

A princípio afirmei que se o campo da comunicação apresenta algumas vantagens (tais como a interdisciplinaridade) por não ser uma Ciência ("comunicologia"), paga por outro lado um preço: o de apresentar alguma dificuldade na construção e uso de novas teorias. Em suma, o tom "adorniano" existe no trabalho apenas por falta de opções efetivamente novas de exclusividade comunicacional. É claro que as semióticas, greimasiana ou pós-estruturalistas, já se impõem como novas alternativas nesse campo. No entanto, ainda se perdem um pouco na disputa em seu campo próprio, o que as têm tornado menos produtivas que se já estivessem mais assentadas. Quanto ao objeto de investigação, se é que pode dizer assim, seria o próprio homem, o homem-signo que vincula essencialmente a diversidade e fragmentariedade científica em sua vivência estética, intelectiva e volitiva. A ligação pode se dar, privilegiadamente, quando se discute seus modelos ou concepções de mundo, isto é, a construção de novos paradigmas. Mais valor terão as nossas produções teóricas quando vinculadas a práticas cotidianas. Por este motivo eu não abandonei a prática composicional durante o desenvolvimento do projeto. Ao contrário, procurei aplicar os resultados do trabalho teórico nas obras que compus recentemente.

Para finalizar o evento, após uma colocação elogiosa do orientador, Fernando Bastos, foi tocada a obra "coVeranS", última música do CD "Música Quântica", a ser lançado ainda este ano.

O resultado final da defesa foi apresentado pelo presidente da Banca, que leu em voz alta a aprovação do trabalho com louvor e a indicação, inédita no Mestrado em Comunicação, para publicação imediata.

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Created: 07/May/97 - Last revised and counter begining: 30/Jun/97