M�sica Holofractal

Caos & Fractais: what the hell are those?

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A própria definição da palavra "caos", em princípio oposta ao conceito de ordem, já nos coloca em situação difícil: ao que indicam as últimas descobertas, o caos não é um conceito absoluto, que designaria o estado de desordem ou entropia de um sistema. Ao contrário, a suposta desordem do caos resulta de nossa incapacidade em compreender a fundo os sistemas aperiódicos, típicos da natureza e da sociedade, exemplificados pela turbulência dos fluidos, variações da economia, transformações meteorológicas, crescimento de populações e muitos outros fenômenos que escapam das famosas CNTP (Condições Normais de Temperatura de Pressão, inexistentes em qualquer lugar do planeta). Lembramos que a acepção do termo "chaos" no seu étimo grego é de "origem" ou "abertura originária de onde vem tudo", portanto, indeterminada . Só com o mundo romano é que tomou a acepção de "desordem", como oposição ao "kósmos" ou ordem.

A Segunda Lei da Termodinâmica, por exemplo, segundo a qual o universo caminha inexoravelmente para estados mais caóticos, costuma ser explicada a leigos pelo experimento da mistura de tinta e água. Seu resultado, no entanto, pode servir para explicar uma nova organização extremamente homogênea e, por conseguinte, entálpica . Esses foram alguns dos problemas encarados pelos primeiros cientistas a pensar metodicamente sobre o caos. Nas origens do estudo científico dos sistemas aperiódicos -- ou não-lineares, como também são chamados por apresentarem dependência sensível das condições iniciais -- vamos encontrar cientistas como Benoit Mandelbrot e Christopher Scholz, criadores de uma matemática e geometria mais próximas da natureza. Já que o mundo se recusava a se comportar de acordo com as teses euclidianas, que viessem os fractais para descrever a complexidade do recorte de litorais e encostas montanhosas, das microirregularidades na superfície dos metais, das rochas porosas cheias de petróleo etc

Mandelbrot, juntando uma abordagem relativ�stica ao profundo estudo das dimens�es, concluiu que a natureza exigia, para um melhor entendimento, o tr�nsito pelas fra��es entre o ponto e a linha, a linha e o plano, o plano e o volume. Como calcular a quantidade de petr�leo existente numa rocha porosa? Encontrando um n�mero entre a segunda e a terceira dimens�o. Algo como 2,4 dimens�es, por exemplo. Com esta l�gica � poss�vel calcular o grau de irregularidade ou fragmenta��o de um fen�meno ou objeto. Foi a partir deste fracionamento, desta fracture, que Mandelbrot criou o termo fractal em 1975. Hans Lauwerier, professor de matem�tica da Universidade de Amsterd�, define para leigos que "a fractal is a geometrical figure in which an identical motif repeats itself on an ever diminishing scale" , embora n�o deixe de registrar que a defini��o original de Mandelbrot refere-se a um conceito mais estrito e mais complexo de dimens�o fractal. A Torre Eiffel -- erigida sobre uma estrutura que se auto-reproduz em escala fractal, de modo a combinar leveza e resist�ncia -- ou os pulm�es humanos -- que compactam fractalmente uma superf�cie que estendida ocuparia uma �rea maior que uma quadra de t�nis -- s�o outros exemplos da peculiaridade e import�ncia desta organo-geometria. Dentre as principais caracter�sticas do caos e dos fractais podemos citar a homogeneidade, intermit�ncia, auto-semelhan�a -- inter-rela��o entre macro e micro, que nos lembra os hadr�ons bootstrap --, din�mica harm�nica entre ordem e desordem -- que tamb�m nos pode lembrar a teoria do holomovimento --, simplicidade na complexidade e vice-versa. A invas�o da vida moderna pelos sistemas eletr�nicos de manipula��o de dados, a inform�tica, nos traz outras novas ci�ncias que estudam a realidade virtual e a intelig�ncia artificial, dificultando cada vez mais a separa��o entre mundo vivo e n�o-vivo, org�nico e inorg�nico. Embora sejam teorias bastante recentes, tem crescido sua aceita��o n�o s� entre os f�sicos, mas entre v�rios outros segmentos da sociedade, principalmente por tratar dos problemas atuais de um ponto de vista holon�mico -- j� vivenciando um novo paradigma. Percebemos seus reflexos em �reas como ecologia, sa�de, economia, assim como na arte . Nas artes pl�sticas podemos citar o cubismo, o dada�smo ou o surrealismo, inter-relacionados pelos novos conceitos de tempo idealizados pela f�sica relativ�stica. Na literatura desse momento hist�rico a simetria temporal tamb�m � rompida pelas obras de James Joyce, assim como vai enraizar o concretismo de nossa poesia. Especificamente na m�sica, percebemos sua influ�ncia nas correntes p�s-estruturalistas deste final do s�culo XX, preocupadas profundamente com os relacionamentos internos dos elementos e signos musicais (estruturais), e entre esses, os int�rpretes e o p�blico (meta-estruturais) -- todos, como j� afirmamos, participantes cri-ativos no fen�meno musical experimental.

Uma das correntes atuais mais preocupadas em aplicar novas idéias paradigmáticas ao campo da criação musical -- a PLANIMETRIA, técnica composicional desenvolvida por H. J. Koellreutter. Clique aqui para conhecê-la melhor. Ou vá direto à análise da peça Letterblocks, de minha autoria, baseada nessa proposta estética.

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Eufrasio Prates
eufrasioprates@gmail.com

Created: 30/Apr/97
Updated: 25/Dec/97