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Dia 24 de maio de 1958, cinco horas da tarde. A nossa seleção embarca rumo à Suécia com escala na Itália, onde faria dois amistosos. Nosso time voou levando consigo a desesperança e o descrédito dos torcedores. E havia algumas fortes razões para isso. Afinal, o Brasil vinha de duas Copas seguidas sem trazer a cobiçada Jules Rimet: em 50, quando teve tudo para ser vitoriosa, e em 54, quando esbarrou na forte equipe da Hungria de Puskas e Kocsis, não indo além das quartas-de-final. Além do mais, havíamos passado a duras penas pelo Perú nas eliminatórias, com um empate de 0x0 em Lima e com uma sofrida vitória por 1x0 no Maracanã (a Venezuela, também deste grupo, cancelara sua participação na Copa). Para complicar, existia, também, uma flagrante indefinição do técnico Feola quanto à formação do time. Quem escalar? De Sordi ou Djalma Santos na lateral-direita? Bellini ou Mauro na zaga central? Dino Sani ou Didi no meio-campo? Joel ou Garrincha na ponta-direita? Dida ou Vavá de centro-avante? Só os dois amistosos na Europa (com duas vitórias por 4x0 contra a Fiorentina e contra a Inter de Milão) e os dois primeiros jogos na Copa viriam, por meios tortuosos, como veremos, dirimir as dúvidas e consagrar a grande equipe que venceria a Copa do Mundo. Só então surgiria a "Seleção de Ouro".
De um total inicial de 53 países, 46 confirmaram sua participação nas eliminatórias. Classificou-se a Inglaterra, embora com várias e importantes ausências, devido ao trágico desastre aéreo sofrido pelo Manchester United meses antes e que vitimou vários de seus craques. Entrou a Hungria, apesar de já estar com uma equipe bem abaixo da de 54 (seus maiores jogadores tinham se exilado pela Europa após a invasão soviética). Entrou, também, a URSS, bem cotada para o título. Também classificou-se a Irlanda do Norte, derrotando os italianos. Estes também estavam enfraquecidos em razão de outro acidente aéreo sofrido pela mais forte equipe do país, o Torino, onde todo o time pereceu. A Itália teve que integrar em seu plantel jogadores "oriundi", isto é, estrangeiros de origem italiana e que lá jogavam. Foi o caso dos uruguaios Ghiggia e Schiaffino (campeões mundiais em 50), do argentino Montuori e do brasileiro Dino da Costa, vindo do Botafogo. Mesmo assim, foram surpreendidos pelos irlandeses. A Espanha, para surpresa geral, ficou de fora, devido ao empate com a Suíça. Entraram, também, o País de Gales e a Escócia. Outras surpresas: a eliminação, na América do Sul, de um Uruguai já decadente, derrotado pelo Paraguai. Foram apontados como favoritos ao título a Argentina, que se apresentava como campeã da Copa América de 57, o Brasil, com um anunciado novo esquema tático, e a Inglaterra. Correndo por fora, a União Soviética e a Tchecoslováquia. A França e a Suécia não estavam tão bem cotadas, apesar de a primeira trazer jogadores do porte de um Kopa, de um Piantoni e de um Fontaine. Os 16 finalistas foram distribuídos, numa escolha orientada, em quatro grupos. De cada grupo sobrariam dois para as quartas-de-final. Mas, acima de tudo, esta Copa seria o palco para o surgimento de dois craques realmente exponenciais: um desconhecido garoto de 17 anos, o futuro "Rei do Futebol" Pelé, e o imarcável e fabuloso Garrincha.
O Brasil embarcou, como dissemos, sob o signo do pessimismo em nossa pátria. Ainda estava gravada em nossas mentes a excursão à Europa em 1956, sob o comando de Flávio Costa, em que o Brasil colheu o saldo sofrível de três vitórias (1x0 sobre Portugal, 3x2 sobre a Áustria e 1x0 sobre a Turquia), dois empates (1x1 com a Suíça e 0x0 com a Tchecoslováquia) e duas derrotas (0x3 com a Itália e 2x4 frente à Inglaterra). Havia muito o que mudar. Até que, em janeiro de 58, João Havelange é eleito presidente da CBF, quase às vésperas do torneio mundial. E as mudanças surgiram. Deu ele carta branca a um plano engedrado por um empresário paulista, Paulo Machado de Carvalho. A improvisação passada foi posta de lado, cedendo lugar a um profissionalismo e a uma visão bem orientada, que mudaria os rumos do futebol brasileiro. Foi então aprovado o "Plano Paulo Machado de Carvalho" (que futuramente seria chamado de o "Marechal da Vitória"). Mas, a bem da verdade, a imprensa esportiva abrigava sérias desconfianças em relação a este Plano. Por exemplo, jogadores convocados foram acusados de favorecimento, inclusive Didi. Era ele visto como que fazendo corpo mole nos treinamentos. Ficou famosa sua frase, respondendo às acusações: "jogo é jogo, treino é treino". A comissão técnica ficou constituída com Carlos Nascimento, Vicente Feola e José de Almeida, com Paulo Machado à frente. Foram ainda chamados, pela primeira vez, um médico, o Dr. Hilton Gosling, um dentista, Mário Trigo (foram extraídos nada menos que 62 dentes dos jogadores do plantel .) e um psicólogo. Muito curiosa foi a insistência do psicólogo junto ao técnico Feola em não escalar Garrincha como titular. Segundo ele, Mané tinha "um tipo de mentalidade simples, não apta a desenvolver um jogo coletivo". E, apesar do diagnóstico, tornou-se ele aquele fenômeno já decantado em prosa e verso, como diria mais tarde o técnico soviético, Gavril Katchalin: "Garrincha é um verdadeiro assombro. Não pode ser produto de nenhuma escola de futebol. É um jogador como jamais vi igual". No jogo-treino contra a Fiorentina, Feola e Carlos Nascimento resolveram barrar Garrincha. Por quê? Porque Mané pegou a bola, driblou o goleiro e, podendo empurrar a bola para o gol vazio, preferiu esperar pela chegada de um zagueiro para aplicar-lhe um drible desnecessário e só então assinalar o gol. A jogada foi considerada irresponsável e não-condizente com uma Copa do Mundo
O Brasil estreou contra a Áustria sem Djalma Santos, Zito, Garrincha, Vavá e Pelé (considerado ainda muito novo e inexperiente). Venceu por 3x0, com dois gols de Mazola e um de Nilton Santos. A seguir, empatou em 0x0 com a Inglaterra. Ainda não era visivelmente uma seleção brilhante e dinâmica. Não contava com os gênios de Pelé e Garrincha, entre outros. No terceiro jogo enfrentaríamos a União Soviética. Seria de vital importância uma vitória para nos classificarmos para a fase seguinte. Foi então que se deu a grande guinada em nossa equipe. Com Nilton Santos, Didi e Bellini à frente, Feola foi pressionado para mudar o time e escalar Pelé, Garrincha e Zito. Feola, homem simples e cordato, cedeu. E assim surgiu a Seleção de Ouro. O Brasil pôde, a partir daí, apresentar um futebol de primeiríssima qualidade, com um ataque rápido e estonteante, com Garrincha e Pelé junto a Vavá, coordenado com um meio-campo criativo, com Zito e Didi. Garrincha foi fenomenal, deixando tonta a defesa soviética com seus dribles desconcertantes. Vencemos com uma exibição de gala por 2x0, gols de Vavá. Didi disse que durante o jogo "fazia o lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão. Em fila, disciplinadamente". Vieram as quartas-de-final. O jogo foi contra o País de Gales. Enfrentamos uma forte retranca galesa, até que aos 30 min. do 2o tempo, Pelé deu um chapéu num defensor adversário e, antes que a bola tocasse no gramado, enfiou-a num sem-pulo direto para as redes. Segundo Pelé, este foi um dos gols mais importantes de sua carreira, pois com ele adquiriu a confiança necessária para se firmar como titular da seleção.
No início da reta rumo ao título, o Brasil pegou a França na semi-final. Foi, sem dúvida, a melhor partida do Mundial. A França possuia a chamada "Santíssima Trindade", isto é, o seu ataque com Kopa, o cérebro da equipe, o incansável Piantoni e o grande artilheiro marroquino Just Fontaine. O jogo foi em Estocolmo, em 24 de junho. A França terminaria a Copa com o ataque mais positivo e com o goleador do Mundial, Fontaine, com 13 gols. Vavá abriu a contagem aos 2 min. de jogo, mas Fontaine empatou logo após, aos 9 min. Foi, até então, o primeiro gol sofrido pelo Brasil. Antes do final do 1o tempo, Didi fez 2x1. O 2o tempo mostrou amplo domínio brasileiro, com Pelé assinalando 3 gols contra um de Piantoni. Uma manchete de jornal da época estampou: "Mesmo roubados, vencemos de goleada: 5x2", aludindo à má arbitragem do gaulês Griffiths, que nos teria prejudicado.
A final foi entre Brasil e Suécia, dia 29 de junho, com o Rei Gustavo presente na tribuna de honra. O juiz foi o francês Guigue. A Suécia exibiu um 4-3-3 e pretendia tirar partido de um gramado um tanto pesado. Logo aos 5 min. a Suécia abriu o placar. A torcida local delirava, antevendo um resultado favorável. Parecia que iria se repetir o final da Copa de 50. Mas nossa seleção aos poucos foi tomando as rédeas da partida, até que aos 9 min. Garrincha passou feito uma flecha por dois suecos e centrou para Vavá marcar nosso primeiro gol. Aos 32 min., numa quase reprise do gol anterior, o mesmo Garrincha pôs a defesa sueca em polvorosa e cruzou para Vavá fazer Brasil 2x1. O sueco Liedholm diria depois: "Estávamos em pânico pensando no que Garrincha poderia fazer. Não existia marcador no mundo capaz de neutralizá-lo". A Suécia ainda tentou uma reação, usando uma de suas armas, seus rápidos pontas. Mas Djalma Santos e Nilton Santos os anularam, enquanto pelo miolo da zaga, Bellini e Orlando impediam as tentativas suecas de penetração e conclusão. No 2o tempo, o Brasil começou avassalador, com amplo domínio do jogo, até que aos 10 min. Pelé marcou o gol mais bonito da Copa: livrou-se de dois marcadores com um lençol e concluiu para as redes. Brasil 3x1. Com a Suécia já batida, Zagalo assinalou Brasil 4x1, aos 32 min. Bem perto do fim, a Suécia ainda faria seu 2o gol com Simonsson, mas nada mais restava a fazer. E em cima do apito final, o Brasil daria cifras definitivas ao placar, por meio de uma cabeçada de Pelé. Éramos, finalmente, Campeões do Mundo! Quem não se lembra da imagem do grande capitão Bellini erguendo triunfalmente a Taça? Foi, também, a consagração definitiva de dois gênios do futebol: Pelé, que saiu chorando abraçado a Gilmar, e Garrincha. O Rei Gustavo desceu ao gramado para saudar os campeões. Aí aconteceram dois fatos muito engraçados, há muito incorporados ao folclore de nosso futebol. Em meio às solenes cerimônias de premiação e diante da saudação do Rei, nosso inefável dentista Mário Trigo se saiu com um nada protocolar "E aí, King, tudo bem?". Já Garrincha, em sua ingênua simplicidade, ao chegar sua vez de cumprimentá-lo sapecou um também estranhíssimo "Olá, meu chapa".
As palavras de admiração e de elogio a Pelé e sua incrível habilidade aos 17 anos, bem se refletem no que disse o craque francês Raymond Kopa aos jornalistas: "Pelé vai fazer com que os brasileiros esqueçam outros ídolos, pois vai superar todos eles". Quanto a Garrincha, relembremos o que escreveu o jornal inglês Daily Mirror: "Em cinquenta anos de futebol, jamais apareceu um jogador como Garrincha". O Brasil jogou a final com Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. Pela Suécia atuaram Svensson; Bermark e Axbom; Borjesson, Gustavsson e Parling; Hamrin, Gren, Simonsson, Liedholm e Skoglund. A bem da verdade, diga-se que a Suécia causou uma ótima impressão ao longo da Copa, só caindo diante de nossa seleção. Sua equipe era formada por jogadores com ampla experiência internacional. Muitos deles jogavam na Itália, como Liedholm e Gren no Milan, Gustavsson no Atalanta, o ótimo Hamrin no Pádova, posteriormente na Fiorentina, Milan e Nápoli, e Skoglund na Inter de Milão.
O quadro final de colocações ficou assim:
Resumo dos jogos do Brasil:
Os jogadores titulares de nossa seleção:
Gilmar dos Santos Neves. Nas palavras do grande goleiro russo Lev Iashin, Gilmar foi "o melhor goleiro do mundo". Jogou 103 partidas pela seleção. Dele disse o jornalista Mário Filho: "Era um bailarino em campo, dava gosto vê-lo jogar". Foi 8 vezes campeão paulista (pelo Corinthians e Santos), além de inúmeros outros títulos nacionais e internacionais. Jogou 3 Copas (58, 62 e 66), sendo bi-campeão mundial.
Djalma Santos, excepcional zagueiro-direito, um dos melhores do mundo. Elegante, físico privilegiado e técnica refinada. Foi 3 vezes campeão paulista (pelo Palmeiras), campeão paranaense (Atlético), e diversos outros troféus. Jogou nada menos do que 112 partidas (100 oficiais) pela seleção. Atuou nas Copas de 54, 58 e 62, sendo também bi-campeão mundial. Nelson Rodrigues uma vez o chamou de "o Cristo Negro". Hideraldo Luis Bellini, zagueiro-central, nosso "grande capitão". Foi 3 vezes campeão carioca pelo Vasco. Impunha-se por seu estilo leal, mas vigoroso. Sempre exerceu uma liderança natural por onde passou. Jogou 58 partidas pela seleção. Atuou nas Copas de 58, 62 (como reserva de Mauro) e 66, sendo bi-campeão mundial.
Orlando Peçanha, zagueiro-central pela esquerda. Excelente marcador, formou uma dupla famosa com Bellini. Foi 2 vezes campeão carioca (Vasco) e 2 vezes campeão paulista (Santos), entre diversos outros títulos. Participou de 34 jogos pela seleção (30 oficiais). Atuou em 3 Copas (58, 62 e 66), sendo também bi-campeão mundial.
Nilton Santos, a "Enciclopédia do Futebol", lateral-esquerdo e depois quarto-zagueiro. Tinha uma técnica brilhante e uma extraordinária visão de jogo. Foi um dos primeiros laterais a ultrapassar o meio-campo em apoio ao ataque. Há até uma história curiosa ocorrida com Feola. O Brasil jogava contra a Áustria e ganhava no 2o tempo por 1x0, quando Nilton Santos partiu com a bola dominada para o ataque. Feola então começou a berrar "Volta, Nilton". Mas este fez-se de surdo e, ultrapassando adversários, escutou novamente o berro: "Volta, Nilton". Feola continuava gritando já quase fora de si, quando Nilton Santos chutou da entrada da área e marcou o 2o gol. Então Feola murmurou baixinho, retornando ao banco: "Boa, Nilton". O grande zagueiro foi 4 vezes campeão carioca (Botafogo), entre outros títulos. Jogou 84 partidas (74 oficiais) pela seleção e atuou nas Copas de 50 (como reserva), 54, 58 e 62, sendo, pois, bi-campeão mundial. Dele disse o jogador argentino Nestor Rossi: " ele joga em pé, pleno de classe, como convém aos deuses da bola". José Eli de Miranda, o Zito. Médio-volante de muita categoria e liderança. Sempre deu ordens até para o rei Pelé. Bi-campeão Mundial pelo Santos, 10 vezes campeão paulista (Santos) e mais uma infinidade de títulos. Jogou 50 partidas (45 oficiais) pelo Brasil. Atuou nas Copas de 58, 62 e 66, sendo bi-campeão mundial. Valdir Pereira, o Didi, o "Príncipe Etíope", devido à sua figura esguia e elegante. Armador clássico, estilo vistoso, chutes venenosos (inventou a "folha seca"). Na decisão contra a Suécia, após o 1o gol do jogo marcado pelos nórdicos, pegou a bola do fundo das redes e bem lentamente caminhou, cabeça erguida, segurando a pelota até o meio de campo para dar a saída, como que a dizer: esperem, vocês ainda não viram nada. Foi, entre outros títulos, 4 vezes campeão carioca (Fluminense e Botafogo). Atuou em 74 jogos pela seleção (68 oficiais) e nas Copas de 58 e 62, sendo, pois, bi-campeão mundial. Seu estilo de jogo, quieto, calmo e de corpo erecto, foi bem definido por ele mesmo: "Quem deve correr não é o jogador, é a bola". O "filósofo" do futebol Neném Prancha dizia, em mais uma de suas tiradas de efeito, que "jogador é o Didi, que joga como quem chupa laranja". Manuel Francisco dos Santos, o Garrincha. Muito já falamos sobre ele. Das 60 partidas que disputou pela seleção brasileira, só perdeu uma: foi seu último jogo oficial pelo Brasil (contra a Hungria em 66). Seus marcadores eram indistintamente chamados de "Joões", tal a facilidade com que os ultrapassava com seus fantásticos dribles. Era conhecido por vários apelidos, como "A Alegria do Povo", "Mané", "O Anjo das Pernas Tortas", etc. Sempre foi, além de muito leal, bastante ingênuo e puro de coração. Quem não se recorda quando, na Suécia, Garrincha comprou um rádio todo incrementado por US$ 100. Mas o rádio "só falava em sueco" Mané, então, passou-o adiante para o massagista Mário Américo por US$ 40, com a condição de que este não contasse a ninguém sua equivocada compra. Garrincha foi 3 vezes campeão carioca (Botafogo), entre outras conquistas. Jogou as Copas de 58, 62 e 66, sendo também bi-campeão mundial. Relembremos, mais uma vez, outras opiniões sobre ele: "De que planeta veio Garrincha?" (Jornal El Mercúrio, do Chile, após a Copa de 62). "Para os dribles de Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio" (jornalista Armando Nogueira). Edwaldo Isídio Neto, o Vavá. Centro-avante técnico e rompedor, 2 vezes campeão carioca (Vasco), além de outros títulos. Jogou nas Copas de 58 e 62 (bi-campeão mundial, portanto). Foi chamado de "O Leão da Copa". Artilheiro nato, marcou 5 gols no Mundial de 58 e 4 no de 62. Edson Arantes do Nascimento, Pelé, é claro. Deste pouco há o que falar, pois não há quem não o conheça no mundo inteiro. Ponta de lança, o melhor jogador de todos os tempos. "O Atleta do Século", "O Rei do Futebol", tudo o que se disser é pouco para quem o viu jogar. Foi o criador involuntário do "cabeça de área", ao exigir a marcação simultânea de vários jogadores para tentar conter suas investidas pelo ataque. Dele disse o sóbrio The Sunday Times, da Inglaterra: "Como se soletra Pelé? Assim: G-O-D (D-E-U-S)". Ou então o sueco Parling, seu marcador na final: "Após o 5o gol, eu só queria aplaudi-lo". Ou ainda, Burnigchi, zagueiro italiano que o marcou na final da Copa de 70: "Eu pensei que ele era feito de carne e osso como eu, mas vejo que me enganei". E para finalizar, o que disse a Pelé o astro Robert Redford, ao desembarcar lado a lado com ele no aeroporto em New York, e ao ver que todos só pediam autógrafos ao craque: "Cara, como você é popular!". Para encurtar, diremos apenas que Pelé ganhou 60 taças em sua carreira. Jogou 115 partidas (92 oficiais) pela seleção, marcando 97 gols. Em toda sua carreira fez nada menos que 1.279 gols. Mário Jorge Lobo Zagalo, ponta-esquerda de caráter tipicamente europeu, utilíssimo ao esquema tático da seleção. Quando o Brasil era atacado, invariavelmente recuava para ajudar na marcação no meio-campo. Revezava com Nilton Santos nas escaladas pela esquerda de nosso ataque. Jogou 33 partidas oficais pela seleção, atuando nas Copas de 58 e 62 (bi-campeão mundial). Entre outras conquistas, foi bi-campeão carioca (Botafogo). De 1966 em diante tornou-se um vitorioso técnico de futebol, tendo sido tri-campeão mundial dirigindo o selecionado na Copa de 70. Nosso técnico, o paulista Vicente Ítalo Feola, foi o primeiro treinador a conquistar um campeonato mundial para o Brasil. Havia ele passado anteriormente pelo Botafogo e pelo São Paulo, quando foi convocado por Paulo Machado de Carvalho para ser seu homem de confiança na direção do selecionado brasileiro na Suécia. Foi nomeado "diretor técnico", com amplos poderes para convocar, testar jogadores e, principalmente, para armar um esquema que pudesse concorrer de igual para igual com as seleções européias. Feola era um homem calmo, dócil e propenso ao diálogo. Era tão tranquilo, que dizem que até costumava cochilar durantes os jogos. Seu sistema tático era o 4-2-4, com variações para o 4-3-3, quando a equipe era atacada (Zagalo recuava para o meio-campo). É verdade que a Hungria já havia adotado em 54 uma tática aparentada com o nosso 4-2-4. Mas a formação de Feola era diferente: havia quatro zagueiros em linha e marcando por zona, dois (às vezes, três) no meio-campo e quatro no ataque. Os laterais, mesmo que raramente, também apoiavam os atacantes, principalmente Nilton Santos, apesar dos já vistos temores de Feola. O meio-campo era o ponto de equilíbrio do time e conseguiu juntar a categoria e a criatividade de Zito e Didi. Na frente, dois pontas bastante abertos (principalmente Garrincha), um centro-avante bem avançado, Vavá, e um meia-esquerda super-ofensivo, Pelé. Ë claro que o esquema deu certo (em parte pela qualidade dos jogadores de que dispúnhamos), tanto assim que foi empregado por outras equipes, com algumas variações, até o início dos anos 70.
Devemos concluir dizendo que o Brasil ganhou a Copa de 1958 com inteira justiça, deixando os críticos, a torcida estrangeira e até os jogadores adversários pasmos diante de tanta arte, magia e criatividade. Esta Copa revelou ao mundo dois jogadores inesquecíveis, Pelé e Garrincha, além da categoria de um Nilton Santos, a visão de jogo de um Didi e a combatividade e união dos demais jogadores. Surgira a "Seleção de Ouro", que, com poucas modificações, ainda nos daria o bi-campeonato mundial em 62, no Chile. Pelé disse, tempos depois, que "muitas coisas influíram em nossa campanha. A falta de confiança inicial do povo, a subestimação dos críticos e o nosso descrédito ao sair do Brasil. Sem dúvida, tudo isso nos serviu. É que aquela era uma equipe humilde". Humilde e vencedora, diríamos nós. Como bem sintetizou o treinador italiano Victorio Pozzo, "venceu o melhor conjunto e devemos nos alegrar. O modo com que o time se impôs na final, selou as magníficas atuações que teve".
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