A Dessensibilização Cardíaca
No início dos anos 80 ficou demonstrado que a
deterioração hemodinâmica progressiva que se instala no portador de ICC,
após anos de relativa normalidade no débito cardíaco, deve-se em parte
à perda da sensibilidade cardíaca às catecolaminas.
Esse fenômeno, descrito e estudado como
dessensibilização
miocárdica, é resultado do excessivo estímulo crônico do
coração pelas catecolaminas circulantes, desencadeando a regulação
down típica dos receptores beta adrenérgicos.
Regulação
down (é uma situação em que nível elevado do hormônio induz
redução no número dos seus receptores na membrana de células-alvo.
Além disso, a sensibilidade do miocárdio aos
agonistas beta-adrenérgicos diminui não apenas por redução no número
de receptores beta, mas também por desacoplamento desse receptor do
complexo da adenil-ciclase, fenômenos que podem ser revertidos ou
evitados com uso de beta-bloqueadores.
Na ICC, a população de receptores beta-2 e alfa
adrenérgicos persiste a mesma em termos absolutos, mas aumenta
relativamente, já que quase inexistem os receptores beta-1.
Na verdade, ocorre um desvio na proporção normal de
receptores beta-1 em relação aos
beta-2, indo de 80:20 para 60:40, no
miocárdio insuficiente.
Diz-se, então, que o coração insuficiente é
um órgão misto beta-1/beta-2, enquanto que o coração normal é
predominantemente beta-1.
Os receptores alfa-1, quase inexistentes em
pessoas sadias, podem na verdade aumentar na ICC avançada.