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Histórico

            É  muito  difícil  afirmar  a  época  do aparecimento  de uma doença com base em textos antigos, por dados fragmentados e suposições de tradutores dos mesmos, o assunto se torna confuso e gera uma série de falsas interpretações.

            Esse  é o caso da Hanseníase, muito já se escreveu sobre sua origem e existência, por outro lado muitos desses escritos são citações de fontes descrevendo a moléstia sem os seus aspectos peculiares.

            Apesar disso, há  referências bastante  claras  com relação à Hanseníase em livros muito antigos. Ao que parece, essa doença já era conhecida na Índia em 1500 a.C., e no Regveda Samhita ( um dos primeiros livros sagrados da Índia ), a Hanseníase é denominada de KUSHTA. Contudo, na China, referências muito antigas sobre essa doença, como aquela que é feita em um dos tratados médicos chineses mais antigos, o Nei Ching Su Wen ,dão conta de descrições compatíveis com pacientes portadores de Hanseníase, por volta de 2600 A.C .

            A Bíblia é outra fonte de confusão quanto à existência da Hanseníase entre os judeus na época do êxodo. O termo “tsaraath”, no hebraico, significava uma condição anormal da pele dos indivíduos ,das roupas, ou das casas, que necessitava de purificação. Segundo o Livro Sagrado, o “tsaraath”na pele dos judeus seriam “manchas brancas deprimidas em que os pelos também se tornavam brancos”. Na tradução grega, a palavra “tsaraath”foi traduzida como lepra e “lepros”em grego, significa “algo que descama”.A palavra lepra também foi usada pelos gregos para designar doenças escamosas do tipo da Psoríase. A Hanseníase mesmo, eles chamavam de Elefantíase.

            A Hanseníase, entretanto, não era conhecida na Europa na época de Hipócrates (467 AC. ). Nos trabalhos do “PAI DA MEDICINA”, não há referência a qualquer condição que se assemelhasse àquela doença. Admite-se que foram as tropas de Alexandre, o Grande, quando voltaram à Europa, depois da conquista do mundo então conhecido, que trouxeram soldados contaminados com a doença nas campanhas realizadas na Índia ( 300 AC. ) . Tempos depois as conquistas romanas se encarregaram de disseminar a doença para outras regiões européias.

            A Hanseníase continuou sua disseminaçào pela Europa depois da queda do Império Romano e no início da Idade Média. Ela atingiu o seu máximo, naquele continente, entre os anos 1000 DC e 1300 DC que coincide com o período das Cruzadas que com certeza concorreram para o aumento do número de doentes.

           Acontece, porém, que a Hanseníase era designada como lepra, como também eram denominadas todas as doenças que se supunham ser idênticas ou ter alguma relação com ela. Outra condições como a miséria tinham a mesma conotação.

            Por esta época ( Idade Média ) , o diagnóstico da doença era feito de uma maneira imprópria. No fim do século XV  a lei de Strasbourg, exigia que quatro pessoas ( um médico, um cirurgião e dois barbeiros ) fizessem o teste para a confirmação ou não da doença ( testes da urina e do sangue ). Para o teste do sangue, por exemplo, uma amostra , retirada do indivíduo suspeito de ser portador da doença, era depositada em um recipiente que continha sal. Se o sangue se descompusesse, o paciente era sadio, se não, era considerado leproso. Depois disso, água fresca era derramada em um vaso e misturada com sangue. Se a mistura dos dois líquidos era impossível, era porque se tratava de sangue de um leproso. Quando se juntava gotas de sangue ao vinagre, se não houvesse formação de bolhas tratava-se de sangue de leproso.

            Os conceitos imprecisos a respeito da doença e a impropriedade dos métodos diagnósticos fazem com que a noção que se tem a respeito do número de doentes na Europa na Idade Média seja falsa.

            Seja qual for o número de doentes que havia na Europa naqueles tempos, o certo é que esse número diminuiu a partir do século XVI. Uma das causas poderia ter sido a melhoria das condições de vida, e outra que não pode ser descartada é que o “complexo” lepra foi se esvaziando porque as doenças cutâneas foram sendo melhor estudadas e foram recebendo os seus nomes definitivos.

            Hoje, na Europa, ainda persistem focos de Hanseníase em Portugal, Espanha, Rússia e Turquia.

           Nas Américas, a Hanseníase deve ter chegado com os coloniza- dores entre os séculos XVI e XVII. Hoje, todos os países sul-americanos têm Hanseníase com exceção do Chile,  o Brasil é o que apresenta a prevalência mais alta, sendo o segundo país do mundo no número de casos.

            No Brasil, os primeiros documentos que atestam a existência da hanseníase em nosso território datam do fim do século XVII, tanto que, em 1696, o governador Arthur de Sá e Menezes procurava dar assistência no Rio de Janeiro, aos “míseros leprosos” , já então em número apreciável.

           O Brasil e em especial o estado de São Paulo, adotaram o modelo isolacionista, isto é, a internação compulsória de todos os pacientes de Hanseníase no início da década de 1930. Esse modelo estava sendo utilizado também em outros países endêmicos.

            Essa política pretendia eliminar a Hanseníase para a qual não havia ainda tratamento, afastando os doentes da comunidade, internando-os em Asilos-Colônias.

            No VII Congresso Internacional de Leprologia  realizado no Rio de Janeiro em 1963, foram apresentados muitos trabalhos atestando os resultados ineficazes da política isolacionista e os bons resultados do tratamento ambulatorial dos pacientes.

            Hoje, com o auxílio de medidas terapêuticas eficazes, está se realizando um trabalho coordenado e intenso para controlar a Hanseníase em nosso país, fazendo com que o Brasil irmanado à outras nações e sob a égide da Organização Mundial da Saude consiga atingir a meta de eliminar a doença como um problema de saude pública logo no início do século XXI.

  

 

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Para maiores informações:

       Cassio  Ghidella

Médico Dermatologista e Hansenólogo

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Agosto de 2000