Aviação
 
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Eu me lembro quando o vi pela primeira vez. Estava lá. Quieto, imóvel. Amarrado ao solo por cabos mal tensionados. Na noite sem lua, escura, suas asas brancas refletiam as luzes distantes do pátio principal do aeroporto. Eu me lembro de ter lido o prefixo dele e repetido para mim mesmo com a mesma entonação de quando se pronuncia saudosamente o nome de uma pessoa de quem se gosta muito. Aquele aviãozinho recebia duras críticas de quem o voava, eu sabia, mas ali, na forma que eu via, ele parecia enorme, robusto. Era ele o próximo passo a ser cumprido se eu quisesse aprender a voar. Muitos pilotos conversam com seus aviões. Exatamente como se fossem pessoas. E eu, que ia só começar a aprender a voar, já tive vontade de falar com aquele passáro pousado. Só não fui lá dizer "Olá!" porque seria embaraçoso, tendo ao lado o vigia do aeroporto, que me mostrava o caminho pro alojamento do aeroclube. Mas lancei um pensamento desafiador, mas com carinho: "Agora, vai ser eu e você, não é?". E o avião manteve a mesma altivez, a mesma compostura... Tive realmente a impressão que ele me olhava, desconfiado, arrogante, de cima de sua pose de senhor do céu. Era um olhar como de um mestre, amigo, esperançoso de ter ao seu lado mais um filho, mas medindo seu aprendiz, meditando se ele era aberto e merecedor de suas lições. Ele me olhava com o canto dos olhos. 

Tive que seguir caminho, adentrando a escuridão do hangar, guiado pela luz da lanterna do vigia até a porta do alojamento, onde um instrutor de vôo sonolento me recebeu. Fui apresentado. Entrei no alojamento. Mas antes de fechar a porta, ainda dei uma olhada no aviãozinho. Ele brilhava lá fora. Tive a impressão que ele sorria agora, ainda olhando com o canto dos olhos... 

Foi assim que comecei...

 


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