Aviação | ||||||||||
Indo
Para Casa
Desde que comecei a fazer o curso teórico de piloto, me perguntava da possibilidade de ir para casa dos meus pais em Umuarama, interior do Paraná, de avião - eu morava já fazia 3 anos em Curitiba, distante 600 km de casa. A possibilidade existia, e não era complicado, fiquei sabendo depois. Bastava aprender a voar e ter um pouquinho de paciência até chegar um dia que fosse possível fazer a viagem. O tempo passou, aprendi a voar, já era Piloto Privado e estava cumprindo o programa para tirar minha licença de Piloto Comercial e Vôo por Instrumentos. A viagem para Umuarama ainda estava por ser feita. Aproveitando a necessidade de ter que fazer uma navegação longa para cumprir o programa da carteira de Piloto Comercial, combinei com meu instrutor do aeroclube de Blumenau - onde eu ia aos fins de semana para voar - de matar 2 coelhos com uma cajadada só: fazer a navegação do programa e chegar em casa não pela rodoviária, como sempre fazia, mas pelo aeroporto, pilotando eu mesmo o avião. Ficou acertado para o dia 26 de Abril de 1997, um sábado. O avião que eu iria era um Corisco, de 4 lugares, asa baixa, trem retrátil e monomotor, que voa a uns 230 km/h. Bom, "se tinha quatro lugares por que não ocupar mais um?" pensei eu. Foi assim que procurei, com o consetimento do instrutor que iria comigo, velhos amigos do tempo que eu morava em Umuarama e que agora, assim como eu, estavam em Curitiba estudando. Um havia se mudado, outro não quis ir. Daí convidei um outro colega, Eduardo Previatto, também aspirante à piloto, que também morou em Umuarama e ainda tinha pais lá, e que eu tinha conhecido em Curitiba mesmo ( qualquer semelhança é mera coincidência! ). Ele topou na hora. No dia 25 pegamos o ônibus de Curitiba para Blumenau, e às 10 horas da noite, após 3 horas e meia de viagem, chegamos no Aeroclube. Entramos no alojamento e fomos dormir, na espera de um dia ensolarado. E foi assim mesmo que o dia nasceu: sem nenhuma nuvem no céu! Eu, que já queria sair cedinho, na primeira oportunidade e sem deixar ninguém voar antes de mim (ou seja: "hoje, o avião é meu, ninguém tasca, eu vi primeiro!"), tive ainda que esperar um vôo de instrução e um vôo panorâmico que saiu de última hora. Mas tudo bem, ter paciência na aviação não pode ser uma virtude da personalidade; é um dever e uma necessidade de qualquer piloto! Mas finalmente, depois de ter almoçado um China In Box lá pelas uma e trinta da tarde, eu estava abastecendo o avião e fazendo a inspeção pré-vôo. Mais ou menos uns trinta minutos depois, já estávamos voando eu, no banco da esquerda, meu instrutor, na direita, e meu amigo espalhado nos dois bancos de trás, com destino Umuarama. A pista de Blumenau começava a se esconder atrás dos morros, enquanto eu mantinha a subida para 8500 pés de altitude. Agora, seguindo reto na proa calculada, só restava aguardar as cerca de três horas de vôo que separavam Blumenau de casa, sempre cuidando das referências no solo para não se perder na navegação. Logo, deixávamos a região de serra onde está nosso aeroporto de saída, e um imenso planalto seria então a passarela para o desfile de rios, matas, campos e cidades pelos quais passaríamos. O céu se mantinha sem nuvem alguma, um imenso azul por todos os lados nos cercava e se encontrava com a terra na linha do longínquo horizonte. No meio do caminho, comemorei: apontei a única nuvem que vi durante toda a ida para casa - se é que aquele fiapo de chumaço de algodão podia ser chamado de nuvem. Depois de duas horas de vôo, escutando o barulho do motor na frente, a viagem começa a e tornar um tanto quanto desconfortável. A única coisa que quebrou a rotina foi o pedido do Controle Curitiba para informar quando no cruzamento de uma aerovia que passava por nós. Faltando meia hora antes, a coisa começou a ficar mais animada. O ADF - um equipamento usado para navegação e que pode captar rádios AM - sinalizava Umuarama bem à frente, e já podíamos escutar nitidamente a voz do locutor, animando nossa chegada. Mais dez minutos depois, iniciei a descida e informei nossa chegada na frequência livre de informação. O aeroporto de Umuarama tinha um rádio no chão, e quem nos chamou foi o vigia, perguntando de onde vínhamos e se "tinha algum Previatto a bordo". Informei que ele estava sim, e o vigia complementou dizendo que a mãe dele o estava esperando. Claro que eu e o instrutor rimos dele. Explicação adicional: a mãe dele, temerosa quanto a aviões, só havia sido avisada que ele estava a caminho depois que tínhamos decolado, através de uma amiga dele. Próximo a cidade, baixei para 1000 pés - a altura mínima regulamentar - e comecei a circular minha casa, balançando as asas para dar "tchauzinho". Bem que eu quis baixar para uns 500 pés, mas o instrutor não deixou. Meu pai ou minha mãe, não me lembro bem, agitava uma toalha branca pra sinalizar. Meu irmão acompanhava, no quintal de casa. Tirada
algumas fotos e algumas voltinhas depois, segui para o aeroporto nas proximidades
da cidade. Entrei no circuito de tráfego e fiz um pousinho meia
boca ( só havia voado aquele tipo de avião uma vez antes
), mais ou menos às 5 horas da tarde, não sem a ajuda do
instrutor. Táxi feito até o pátio, já todo
mundo fora do avião, que pipocava aquele barulho gostoso de motor
estalando, coisa de serviço completo (efeito típico do aquecimento
do motor ); enquanto amarrava o avião, meus pais chegaram. Daí
foi só abastecer a nave, amarrá-la ao chão, e fomos
pra casa. A sensação de poder chegar em casa pelo alto foi
excelente. Hoje, mal vejo a hora de refazer a viagem.
Como não poderia deixar de ser, eu e o instrutor ainda saímos a noite. Na manhã seguinte, oito e quarenta e cinco da manhã já estavámos todos nós reunidos no aeroporto, pra volta. Despedidas feitas, embarcamos todos, liguei o motor e fui taxiando pra pista. Cheque de motor feito, alinhei na cabeceira e enchi a manete de potência. O avião foi ganhando velocidade. Com o canto dos olhos ainda pude ver meus pais e o resto do povo dando tchau à minha direita, enquanto rodava o avião para iniciar a subida. Tenho isso numa foto, tirada por meus pais. Logo após a decolagem, trem de pouso em cima e bomba elétrica desligada, curvei à esquerda. Nova curva à esquerda, e vim num último adeus, cruzando a pista à uns trezentos ou duzentos pés de altura, balançando as asas e dando uma boa puxada em cima do pessoal, fazendo meu colega no banco detrás se afundar no banco com a força da gravidade. Depois disso aproei nosso caminho de volta. Volta essa tão tranquila quanto à ida. Poucas nuvens depois, alguns poucos bancos de nevoeiro, e pousei em Blumenau, mais ou menos meio dia e meio. Um
sonho a mais riscado do meu caderninho de coisas a realizar...
|
||||||||||
|
||||||||||
Ir para:
|
||||||||||
Aprochegue-se: ![]() tomazcavalcante@yahoo.com
|
||||||||||
![]() |
Página Inicial | Poemas | Eu, Ano a Ano | Aviação | |||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |