3- LUSITÂNIA


3.1. A obra


3.2. 1º Bloco: A História em Ação


3.3. 2º Bloco: Os Grandes Feitos


3.4. 3º Bloco: Um Diálogo Permanente


3.5. 4º Bloco: A Presença na Ausência


3.1. A Obra


A obra poéética Lusitânia, publicada em 1917, apresenta-se dividida em catorze partes, a saber: "Vales de verdes pinos tão sózinhos" ( pórtico de abertura ), "O Reino de Camões", "O Mar", "Sagres", "A Noviça", "Índia", "Os Náufragos", "Jerônimos", "Alcácer Quibir", "Trova", "Aquela Madrugada...", "O Enviado", "O Regresso" e "Ausentes".

Os poemas em Lusitânia contam a história gloriosa e trágica do povo português, tendo como ponto de chegada o ressurgimento de um Portugal forte e soberano com o retorno do El-Rei D. Sebastião e na parte final entitulada "Ausentes", a obra apresenta uma série de sonetos evocando as figuras gloriosas de Portugal.

Podemos dividir tematicamente a obra Lusitânia em quatro blocos. O primeiro bloco formado pelo poema: "Vales de verdes pinos tão sozinhos" até "A Noviça”, que corresponderia à parte geográfica e física de Portugal, situando-nos sobre a terra, o mar, as construções, as cidades e o povo.

O segundo bloco composto por : "Índia", "Os Naúfragos" e "Jerônimos", conta-nos sobre as grandes vitórias e a formação do Império, para que no terceiro bloco, com "Alcácer Quibir ", "Trova ", "Aquela Madrugada", "O Enviado" e "O Regresso", tenhamos a queda do Império, a dor do povo e a esperança no retorno do El-Rei. O último bloco, formado pelos poemas de "Ausentes", dedica-se a enumerar os formadores da Pátria, dando destaque a figuras históricas e literárias.

Vejamos, pois a participação, em detalhe, de cada bloco na formação da nacionalidade portuguesa, na visão de Mário Beirão.


3.2. 1º Bloco: A HISTÓRIA EM ACÃO


Segundo Pareyson [1], "a obra reimerge na história: longe de reduzir-se a um simples momento do fluxo temporal, é capaz de, ela própria, produzir história, porque com a exemplaridade de seu valor suscita, atrás de si, uma vida de imitações, retomadas e desenvolvimentos que, de maneira variada, nela se inspiram e, com a sua validez universal, solicita uma infinidade de interpretações leituras e execuções que, de tempos em tempos, a fazem reviver". [2]

Lusitânia revive essa relação de modo que a História presente em seus versos é uma reintegração criadora deste universo. Observemos o soneto introdutório à obra: " Vales de verdes pinos tão sòzinhos ", que transcrevemos:

" Vales de verdes pinos tão sozinhos,

Alumiados da graça do Senhor;

E, em arroubos ao Céu, - jardins em flor

De enlaçadas roseiras sem espinhos...

Ermidas onde ajoelham pobrezinhos,

Sorrindo, como Cristo, à própria dor;

Planícies de enigmático torpor

Onde se escutam vagos murmurinhos...

Por ti, meu pensamento é mais profundo

E o meu canto mais alto se alevanta,

Ó Lusitânia, coração do Mundo!

O mar ergue o teu nome em seus delírios!

E, em tardes de milagre, - ó mais que santa,

Sobre o teu corpo o céu desfolha lírios! " [3]

Ele é significativo porque desde o início nos revela a importância que o eu poético dá a palavra "Lusitânia". Nessa escolha percebemos a conotação de valor histórico que o autor do poema expressa. A formação portuguesa é lusitana. Alexandre Herculano, sobre esse povo, afirmara: "o povo desde o qual os historiadores têm tecido a genealogia portuguesa está achado: é o dos lusitanos. Na opinião destes escritores, através de todas as fases políticas e sociais da Espanha durante mais de três mil anos, aquela raça de celtas

soube sempre, como Anteu, erguer-se viva e forte; reproduzir-se, imortal na sua essência; e nós os portugueses do século XIX temos a honra de ser os seus legítimos herdeiros e representantes."[4]

Invocando a Lusitânia, o poema invoca e evoca o primordial na formação do povo. O povo não é simplesmente o português, mas é o lusitano que emerge para justificar os feitos primorosos da nação.

Nos versos iniciais temos a idéia da pátria solitária:

" Vales de verdes pinos tão sozinhos," mas que, embora sejam sozinhos, são "Alumiados da graça do Senhor;".

Nesses dois versos fica evidente a importância da solidão e da religiosidade. Estes dois elementos resgatam, pela visão do eu-lírico, a condição da própria pátria : a nação solitária e de grande religiosidade.

Percebemos também que o eu-poético, ao fazer referência aos " verdes pinos ", evoca o período inicial da Literatura Portuguesa: o Trovadorismo, na cantiga de D. Dinis:

" Ay, flores, ay flores de verde pino, "

É uma volta às raízes culturais portuguesas, notadamente porque retira uma evocação característica de uma cantiga de amigo ( o gênero não vindo da Provença, mas surgido da própria comunidade popular portuguesa).

Estas duas imagens vão ao longo do soneto tomando corpo e dimensionando estes dois aspectos:

" Ermidas onde ajoelham pobbrezzinhos,

Sorrindo, como Cristo, à própria dor;

Planícies de enigmático topor

Onde se escutam vagos murmurinhos..."

Estes elementos são básicos, pois fundam uma visão de mundo, em que tudo, como veremos mais adiante, na obra, com eles se relaciona: a solidão do povo português em sua epopéia moderna e a fé como elemento restaurador da perda do ideário lusíada.

Na segunda estrofe coloca-se o "povo" de uma forma sutil, relacionado à dor: "Ermidas onde ajoelham pobrezinhos". Essa visão carinhosa e comovida do "povo " faz lembrar a poesia de Antônio Nobre, precursor da onda de nacionalismo do início do século.

Fica claro que o povo é o maior sofredor em todo o processo de grandeza e decadência da nação , mas que mesmo o sendo, é aqui destacado como agente participante nesse processo de constituição histórica portuguesa.

Partindo do geral para o individual, o eu-poético se apresenta nos tercetos , mostrando toda a sua reverência em relação à terra amada:

" Por ti, meu pensamento é mais profundo "

A profundidade vai ao ponto de destacar a Lusitânia como coração do mundo. O esquema rítmico ( E R ), até então 10 ( 6-10 ), decassílabo heróico, é neste momento modificado para 10 (4 - 8 - 10), decassílabo sáfico, demonstrando ser significativa a carga emocional sobre a lógica histórica dos acontecimentos:

" Ó Lusinia, coração do Mundo! "

10º

O verso todo é expressivo por si só. Todo o enaltecimento dado pela pontuação nas linhas anteriores, é resgatado com uma força poética que faz eclodir o desejo de glorificar a memória, de trazer a soberania que um dia se perdeu. A mudança rítmica rompe a regra colocando o lado subjetivo do eu-poético em evidência.

A Lusitânia é tratada como uma pessoa que participa dos acontecimentos:

" Planícies (...) onde se escutam vagos murmurinhos" (p.7)

Em: " E o meu canto mais alto se alevanta ", o poeta, citando e parafraseando Camões, reforça a importância da Lusitânia e é por ela que o seu canto chegará ao ponto mais alto. Ele recoloca sua terra no lugar em que seu coração deseja. Personifica atribuindo-lhe um "corpo":

" Sobre o teu corpo o céu desfolha lírios! " ,

A personificação da imagem de Portugal mostra o desejo do poeta de nos revelar que a nação é um ser vivo, que assim como seu povo sofre a dor, ela, a pátria, também sente a ausência de um direcionamento.

Nos poemas seguintes: "O Reino de Camões", "O Mar", "Sagres" evidenciam-se o aspecto físico de Portugal, preparando o cenário para as inclusões históricas que serão abordadas.

Nesses poemas observamos a História inserida na obra e a emergência dentro dela ( da obra ), citando novamente Pareyson esclarecemos este ponto de vista. Ele nos afirma que "a história se derrama na obra precisamente no ato com que a obra emerge da história, e, por outro lado, a obra age na história precisamente no ato em que a história age sobre a obra: estes são os aspectos da história da obra, que, nascendo como intemporal no tempo, vive temporalmente além do tempo. " [5]

Dessa forma, nesses poemas que se seguirão, presenciaremos a história a se derramar na obra e a obra agindo na história.

Estruturalmente, em "O Reino de Camões", o poema é formado por 54 estrofes irregulares que se mesclam entre versos de variados metros, sendo forte a predominância de decassílabos ao longo do texto.

A alternância de rimas garante a unidade melódica que, juntamente com o uso de orações exclamativas, exprimem as cenas "merencórias" retratadas pelo eu-poético. Observamos que desde o início a pessoalidade expressa pelo eu-lírico do poema assume um nível de lamentação, elevando-se a um plano metafísico.

" O Reino de Camões " coloca-nos duas questões a serem discutidas. A primeira diz respeito ao próprio título - por que reino de Camões e que características são apresentadas neste reino? A segunda questão é a atitude do eu-poético.

Comecemos com a voz poética invocadora do passado:

" Invoco, à luz dos poentes moribundos,

Longes do meu sonhar,

lembranças doutros mundos," ( p. 11)

A formulação do espaço poético é feita por meio desse desvendar do passado. Abre-se assim, ao leitor um painel de momentos históricos representativos da História Portuguesa.

O primeiro painel a ser descortinado é a "Torre de Menagem", onde o poeta faz uma invocação para que sua alma seja erguida:

" Ergues, como um pendão, à ventania,

Minha alma tímida de monge!" (p.12)

Na verdade, pede a ela que lhe dê amplitude suficiente de alma para que possa ver a sua terra de forma isenta, ser um observador e narrador da sua própria História. Coloca-se num posto de superioridade de onde poderá rever e observar os fatos da sua nação.

A partir daí temos,diante dos nossos olhos, um desfile dos feitos portugueses, a começar com Afonso Henriques vencendo os reis da Mauritânia. Aos poucos, os olhos do eu-poético vão apresentando a nós as suas visões:

"Visões que incendiaram outros olhos,

Deslumbram meu olhar!" (p. 12)

Nessa primeira parte do poema, as imagens evocadas constituem o corpo da História lusitana a ser contemplado. Nela passam também as aldeias, as ruínas, as imagens peregrinas, as almas perdidas, os palácios, os sonhos, a melancolia, as velhinhas, as freiras, as donzelas, as avós e os senhores. Todas essas imagens estão inseridas dentro da noite, a qual o eu-poético refere-se da seguinte forma:

"A Noite bruxuleia,

Pelas frinchas das portas mal cerradas;" (p. 14)

e colocadas num tom saudosista:

" E na minha saudade, onde hoje moram,

Renascem num presépio, entre pastores!" (p. 14)

O cenário recriado é um mundo permeado pela nostalgia e surge um desejo de reviver todos esses elementos evocados, embora esse reviver constitua um processo de amargura e desencanto:

" De memórias, destroços, recomponho

Os que passam, ao longo do meu sonho,

As lágrimas nos olhos agarenos; " (p.14 )

Significativo é o destaque dado ao mar. Ele aqui é um elemento que se funde ao eu-poético:

" O mar, em minhas veias, flui, reflui..." (p.15)

É também um elemento que provoca dolorosas lembranças:

" Porque vindes meu sono pertubar,

Lembranças do que fui? " (p. 15 )

Paulatinamente fica claro que o mar faz parte da vida do sujeito da enunciação, é o seu ser, mas ainda não nos é revelado quem seria este narrador e de que forma o mar influiu em sua vida.

Mais adiante, ao nos depararmos com a seguinte estrofe:

" Tardes de Agosto, nacaradas, vivas!

Brilham cortejos músicos de cores,

Miragens, esplendores,

Crepitam no ar os risos das ciganas,

Risos das suas almas excessivas;

Deliram alto os sonhos vagabundos;

E as solenes planícies transtaganas,

- Esplanadas do céu, - descobrem Mundos! "(p.15)

O eu-poético destaca a descoberta do mundo, suspendendo por momentos o elogio ao mar e enfatizando a importância das planícies e do povo que as habita. A alma excessiva dos ciganos conduz à realização dos " sonhos vagabundos " . Contrapondo-se a esta imagem de alegria e euforia, a estrofe que se segue mostra um mundo cadenciado pela amargura e tristeza:

" A sombra dos montados,

As solidões remotas,

Põem crepúsculos de som, magoados,

Nas vozes cadenciadas dos pastores:

Outonos cismadores

Exalam nas rotas..." (p.15)

De forma suscinta, apresenta uma oposição entre os navegadores e os pastores. A euforia do primeiro grupo contraposta à solidão dos pastores parece-nos uma forte referência ao abandono sofrido pela agricultura em Portugal e a necessidade de valorizar o trabalho rural.

O eu-lírico não questiona esses fatos; de fato, ele prefere suspender seu pensamento, mudando a direção de seu olhar,pois outro painel será erguido.

" Alongo o tardo olhar que se desterra

Para os longes confusos da distância," ( p. 16)

Em oposição à atmosfera taciturna anteriormente suscitada, temos agora a evocação de cores claras e de pensamentos alegres. O reino é azul, as laranjeiras e as ondas riem de alegria, as donzelas ouvem, "nos aduares", versos de João de Deus, as horas são de paz e consoladoras. É a visão de Sagres que surge:

" Do mar, acenam as gaivotaas;<

Sagres desponta, ao largo, entre visões de frotas! "(p.16)

Nessa estrofe o contemplador escolhe os elementos de maior valor para a formação do seu quadro histórico nacional, e que continuam na apresentação do espaço físico lusitano, dando destaque a Sintra, "a bem-amada" dos seus versos, onde se faz revelar a sina de Portugal :

" A minha sina de Senhor doo Mar! "< (p.17)

Apesar de todas estas colocações, ainda não nos é revelado quem esse eu e, assim, seu olhar continua a desvendar outros cenários surgidos em delírios. Aparecem, "libertos da Morte ", os outros:

" Seus vultos esculpidos pelo Assombro

Radiam esplendor; " ( p. 17)

O cenário se adensa, como se um turbilhão de "outros" tomasse conta do painel para que o sujeito poético revele sua identidade:

" Eis que sou, neste instannte sobree-humano,

Nestes altos de Sintra, à lua triste,

Esse que ainda existe

Da jornada fatal do Desengano;

Sobrevivente espectro do Passado,

O Desejado!" ( p.19)

Revelada a identidade da voz que diz eu, a serra lusitana cresce no horizonte e o seu crescimento é relacionado à figura de Viriato:

" Viriato, quebra a brônzea sonolência,

Mais alta voa a luz das madrugadas;" (p. 20)

A voz poética se avulta por outras regiões, como Serra da Estrela, as àguas do Mondego, Coimbra, Douro e Minho.

Percebemos que esse eu, antes só fixo na visão do mar, agora tem também a terra para contemplar:

" Sou todo terra lusitana

-- Raiz solta no ar --,

Altas memórias a evocar!" ( p. 22)

Assim como a visão da Lusitânia se expandiu, também o seu ser se completa nesta relação terra-mar.

Voltando agora à questão inicial, que propusemos no início da análise, o que é o "Reino de Camões"?, podemos responder que o poema é uma apresentação do território português, poeticamente erguido em nome da memória, da saudade e do esplendor.

Por meio da memória, descortinamos um universo melancólico onde, em algum lugar do tempo, ainda lateja o desejo de vida:

" Alongo o tardo olhar que se desterra

Para os longes confusos da distância," ( p. 16 )

O uso do "enjambement" nesta estrofe confere-lhe um movimento de divagação contemplativa que parece sugerir o distanciamento entre o ponto de onde se olha e o horizonte. Daí, na maioria das vezes, a memória descritiva do eu-poético recair na saudade.

A saudade por ele expressa, nessa parte da obra, é uma saudade-lembrança sensibiliza o contemplativo comovendo-o até as lágrimas. O passado é o lugar agradável por excelência.

Segundo Sérgio Filippi[6], "a lembrança é suscitada por aquelas recordações que nos trazem recados da pátria, das pessoas amadas e dos tempos felizes. A recordação do passado passa facilmente de um estado puro, constituído apenas por factos realmente acontecidos, a um estado misto em que o evento recebe o influxo da nossa psique actualmente mudada. (...) Regressamos aos lugares por onde passámos e deixámos a marca da nossa criatividade: Lembrança, visão duma realidade que nos pertenceu, e que agora é tentativa de parar o tempo no seu fluir."[7]

Sobreposto a este elemento, há também a presença do esplendor histórico e de figuras gloriosas como Afonso Henriques, Viriato, João de Deus e também, de forma genérica, o mar, o povo e a terra.

O eu-poético tem consciência de sua solidão e de que, neste momento, a sua única ação é o recordar e o rezar junto a seu povo, principalmente junto os pastores.

A imagem construída num crescente envolve todo o território português: ora ele é envolto nas sombras, no crepúsculo do outono, ora na claridade da primavera, sendo que a primeira imagem, a nebulosa, se sobrepõe à segunda. Dominam as sombras dos sepulcros, a incerteza do presente, as sombras do passado.

No poema seguinte a "O reino de Camões", "O Mar", esse elemento é personificado como uma figura que possui mistérios a serem desvendados e transpostos:

" Vou teus mistérios desvendar... " ( p. 26)

O mar é uma pessoa viva, que irradia luz, vida, músicas de sinos, rola sonhos, é onde a espuma brinca. O eu-poético constrói duas imagens do mar, aquela que imita com maior realismo a própria natureza, a visão da luz, e a visão que o mar produz em seus sentimentos. Nesta segunda perspectiva, o mar adquire um aspecto "Incerto", exausto, é um mar que "empalidece" o eu da enunciação. Mesmo tendo aspecto turvo, reforçado por imagens do vento, da noite sem luz, o eu demonstra respeito pela sua autoridade e incorpora-se às suas características:

" Ó voz do mar carpindo, à flor do vento,

Soturnas elegias;

Voz do meu pensamento,

Eternecendo as duras penedias;

Mar, escultura viva dos meus versos. " ( p. 27 )

É por meio do mar que o eu poético descobre e desvenda os novos mundos e é através dele que se volta a Portugal.

O último poema dessa série, "Sagres", continua a descrição física dessa região de Portugal:

É um rochedo bisonho,

Lavrado pela espuma da maré,

Absorto em sonho,

Ventos do largo, e Fé!" (p. 322 )

Os versos irregulares, ora em 4, 5, 6, 7, 8, 10 ou 12 sílabas, evidenciam um movimento de ir e vir do poema que é reiterado pela sonoridade das suas rimas misturadas ao longo das estrofes. Reproduz-se assim, poeticamente, o ir e vir das ondas, o movimento do mar, temos também nas duas primeiras estrofes os seguintes pares de rimas:

peregrino - Destino / fundos - mundos / mágoa - água / rocha - desabrocha / Alguém - Além / morte - ssortte / areia - epopéia.

Essas evocações remetem ao universo das Descobertas, evidenciando luta e glória. A sonoridade obsessiva do fonema / o / sugere abertura ou amplitude e faz pensar na localização de Sagres junto ao mar:

"Ó Sagres, - piedosíssimo ooratório,,( ...)

O mar em tua frente, em teu altar, rezando," ( p. 31)

Ao lado desse aspecto geográfico aparece o elemento humano na figura do eu-poético, contemplador e visionário das cenas evocadas por esse lugar, tornando-se, assim, íntimo dos acontecimentos:

" Ó primeira abalada

Das naus, vencendo o Incerto!

Vela o piloto esperto,

Vela o receio dos que vão na armada...

Saudosa, bruxuleia a madrugada,

O céu em flor é como um templo aberto! "( p. 33)

Sagres é a linha divisória entre Portugal e o seu destino - o mar. É o cenário perfeito para o Inffantte sonhar os " impérios infinitos" e ter sempre como referência a luz que aí brilha .



3.3. 2º BLOCO: OS GRANDES FEITOS


Teixeira de Pascoaes afirma que, juntamente à idéia de pátria, devemos incluir a idéia de raça; assim, "Portugal é uma Raça, porque existe uma Língua Portuguesa, uma Arte, uma Literatura, uma História ( incluindo a religiosa ) - uma actividade moral portuguesa; e , sobretudo, porque existe uma Língua e uma História portuguesas. ( ... ) a vida de Portugal se tem manifestado, através dos séculos, por meio de factos

históricos que revelam o seu carácter em acção religiosa, política, militar, econômica, etc.

Basta falar nas Descobertas que não foram uma obra peninsular, mas exclusivamente portuguesa, filha da nossa inciativa aventureira, do nosso poder de raça em actividade. (...) As Descobertas foram uma obra essencialmente portuguesa, porque o gênio português, encarnado em Camões, lhe deu a forma espiritual, sublimada e eterna. "[8]

Essa longa citação deixa clara a importância que os fatos históricos adquiriram em Portugal para a formação da raça lusitana. Observamos que os feitos não são somente as meras ações da conquista, mas também a materialização daqueles acontecimentos, na obra artística de Camões, figura que constitui um intermediário no processo espiritual da raça.

Nessa parte da obra de M.B., vamos observar essa relação entre matéria e espírito.

O poema "A Noviça" traz a motivação das ações do eu-poético:

"Por ti, à hora de novena, ao poente,

Enfeito altares! " ( p. 37 )

Composto por dezesseis estrofes regulares, com quatro versos cada uma, apresenta sempre o mesmo esquema métrico em 10, 4, 10 e 4.

A presença da noviça é espiritual e passiva, enquanto que o eu-poético estabelece no poema um movimento de " fugir, esquecer, lembrar, enfeitar, sentir saudade e tristeza, ter visões e partir".

Notamos também que a expressão que caracteriza o outro, "por ti", repete-se 8 vezes ao longo das estrofes como busca de justificativa, por parte do eu-poético, das ações por ele realizadas.

A evocação cristã da figura da noviça é a necessidade de relacionar seu ato a algo de maior para que haja motivação na concretização de seus sonhos, é a tentativa de unir a realização material com o espiritual:

" Por ti, meus sonhos seguiirão nas vagas,

Náufragos tristes,

Tràgicamente a perguntar às fragas

Se ainda existes? " ( p. 40)

Adiante a figura, consciente , tenta a memória do eu-poético com as recordações das histórias de Adamastor e da Índia.

O eu-poético revela à natureza o seu estado de clausura, recordações, dor, tentação:

" __ Visões! Lírios que a Morte despedaça,

Vinde assistir:

Toda cheia de estrelas e de graça,

Eu vou partir! " ( p. 39 )

O poeta segue formando os painéis da memória em versos e no poema seguinte, "A viagem à Índia", conta este grande feito histórico .

Nesse recontar poético, reforça-se a idéia do " incerto" nos caminhos que a natureza lhe apresenta.

A descrição da natureza revela a angústia desse estado d'alma: as noites são "sem fim" , a escuridão é da "Sorte", o mar "atroa os céus", o vento é "peregrino", a noite adensa-se cada vez mais e traz consigo a imagem da morte:

" Ronda, no mar, a Morte...."> ( p. 43)

Na construção do poema, em estrofes e versos irregulares, a voz de Adamastor aparece "em ira" aos navegantes. Como em Os Lusíadas, a coragem do povo é evidenciada e a "lusitana raça" zomba do gigante. Na décima primeira e décima segunda estrofes, os verbos de ação: debaldar, afrontar, avançar, dobrar, desafiar, vencer, zombar, reforçam o grande feito de contornar o Cabo.

A figura do Gigante, tal qual na obra de Camões, é vítima do amor e vencido pelos deuses e por Tétis.

Na décima-quarta estrofe, o poema adquire um tom de claridade :

"As naus caminham, céleres, ao vento,

Abrem-se os mares pra lhes dar passagem, " ( p. 45)

E para haver a idéia do passar do tempo, a saudade da pátria é evocada e só é rompida por um grito de: "- Terra! Terra! " ( p. 46)

O poema segue caracterizando a Índia como sendo de Prestes João, de D. Francisco de Almeida, de Albuquerque Terribil, de Castro Forte e por fim, faz uma referência à batalha dos Rumes - para, desta forma, consolidar o império:

" Fundar o Império de oiro do Nasceente

Depô-lo aos pés de Deus! " ( p. 47 )

Findo esse poema e continuando a apresentação do seguinte,

"Náufragos", continua o recontar dos grandes feitos, tendo como base o medo, a agonia, a espera. Os versos heptassílabos, em sete estrofes irregulares, revelam a voz do coletivo:

" Por toda a noite velámos" ( p. 51 )

A atmosfera do poema é escura, sendo cortada pela visão eufórica das riquezas vindas do Oriente e pela visão de dois cometas.

O texto lembra o "Velho do Restelho", em Os Lusíadas, quando o velho adverte a população, bem como os navegantes, acerca dos perigos e dos infortúnios do mar.

Neste poema há também esta voz de advertência:

"Ai dos que sonham impérioss!

__ Ai da gente portuguesa! " ( p. 52 )

Em oposição a esse mau presságio, o poema termina fazendo uma declaração de amor e fidelidade à nação portuguesa:

" Acima, acima, gajeiro,

Àquele mastro real!

Não vês meu amor primeiro,

Areias de Portugal? " ( p. 53 )

No último poema desse bloco, " Jerônimos", o eu-poético resgata o lado espiritual da conquista. Até o presente momento tínhamos a amplitude dos espaços. Esse espaço, no entanto, vai paulatinamente fechando-se para apresentar o lugar onde os grandes heróis da pátria estão encerrados:

" Ó templo em orações alevantado!

Firme solar da Fé! Altar aceso!

Poema dos Lusíadas lavrado!" ( p. 59 )

O verbo "repousar", anaforicamente em duas estrofes seguidas, reforça o descanso merecido dos grandes, como Vasco da Gama, João de Deus[9] e Camões.

O espaço é evocativo para o eu-poético, e por ele passam os vultos, as imagens, as sombras e a saudade que brilha transportando-o para "regiões ignotas" até confessar o seu regresso a Portugal:

"Ó Portugal, por cujo amor penei,

Não me cegou a luz da imensidade,

Às tuas praias de oiro regressei!" ( p. 59 )

Estruturalmente, esse poema apresenta todos os versos decassílabos e estrofes com três versos cada, com exceção da última que apresenta um a mais, destacando, mais uma vez, a importância do mar na vida do eu-poético :

" Ó minha alma que foste de longada,

Mundos a descobrir, a interrogar,

Descansa, sob a abóbada sagrada

Do tempo aberto às orações doMar!" ( p. 60)[10]

Novamente, faz-se presente o jogo de espaço escuro e claro e o eu-poético se revela trazido pela saudade.

3.4. 3º BLOCO : UM DIÁLOGO PERMANENTE


Acreditamos que com esse grupo de poemas entramos no ponto fulcral da obra - a questão do Sebastianismo.

O poema "Alcácer Quibir" é divido em quatro partes. A primeira parte tem 25 estrofes, a segunda e terceira têm 5 estrofes cada e a última, 17. Todas as estrofeses são dísticas com versos heptassílabos As rimas emparelhadas juntamente com os versos em redondilha maior conferem ao poema um ritmo de balada popular, entoado pela voz de um eu-poético que observa uma cena.

Na primeira parte há pouco uso de verbos de ação. Os verbos que aparecem descrevem contemplativamente um momento da cena:

" Passa o esplendente cenário

Dum cortejo extraordinário: " ( p. 63 )

Neste quadro é onde surge El-Rei "vestido de seda" e "de quimera ao peito" , em toda a sua exuberância.

O eu-poético, observador e contemplador, é perspicaz o suficiente para notar que dentro dos olhos de El-Rei "pasma o torpor dos desertos". Ele nos constrói uma imagem abrangendo tanto o presente como o futuro.

Na oitava estrofe, o "Povo" é chamado para participar dos sonhos que se encerram na figura de El-Rei. Os verbos no

imperativo afirmativo: "chegai", " vinde", " vede" reforçam o convite para tomar parte do cortejo:

" Vinde ver dos miradoiros<

A Glória colhendo loiros! " ( p. 64 )

O quadro criado é cheio de euforia e esperança compartilhada em comunhão com a natureza :

" À luz do poente extasiadoo,

Passa o cortejo sagrado! " ( p. 65 )

e com Deus:

" Pela sua alta certeza,

Falam Deus e a Natureza! " ( p. 64 )

Paulatinamente temos a construção da figura de El -Rei, segundo as visões dos que o rodeiam. Dessa forma, refletem-se no rei os desejos e sonhos da sua corte: para os pajens, o rei reflete " celestes paisagens", para o povo, é um " milagre novo", para os sábios e os velhos , é o rei que não "escuta os conselhos".

Atentemos para a seguinte estrofe:

" Pelas suas tentações>

Responde a voz de Camões. " ( p. 64 )

Mais uma vez é feita menção à obra de Camões e cumpre-se aquele destino solenemente previsto nos irmortais versos da dedicação, que relembramos:

" E, enquanto eu estes cantto, e a vvós não posso,

Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,

Tomai as rédeas vós do reino vosso," [11]

Em Lusitânia, El-Rei toma as rédeas do reino e tem a certeza de estar atendendo a vozes divinas:

" Deus fala ao seu pensamennto:>

__ Armada ! Panos, ao vento! ( p. 65 )

A segunda parte coloca em cena as naus em partida. Assim, a repetição do verbo "ir" na terceira pessoa do plural do presente do indicativo apresenta uma carga semântica de movimento e de visão de futuro muito forte:

" Lá vão as naus, lá vão elas"

( ...)

" Vão carregadas ( eu sei! )

Dos sonhos virgens de El-rei. ( p. 66)

E, mais uma vez, o eu-poético mostra a sua relação afetiva em relação aos fatos.

Pouco a pouco esse cenário adensa-se ; a natureza torna-se escura:

" As nuvens o ar escurecem;

Vento e vagas endoidecem! ", ( p. 66 )

trazendo mais um presságio do eu-poético:

"Ai da frota resplendente &"< ( p. 66)

A chegada das naus acontece na terceira parte do poema. O eu-poético personifica os elementos da natureza, de modo que a armada chega a seu destino porque o "vento peregrino" quis. A paisagem, embora estática: " e nos tardos horizontes" preguiçam " os montes," tem vida na luminosidade do sol que " cintila" e "doira a praça".

Os verbos "ver" e "olhar", no imperativo afirmativo, chamam a atenção do leitor para a fixação da cena e dos fatos que irão se desenrolar.

A última parte do poema coloca a crescente emotividade do eu-poético e a batalha em Alcácer Quibir em evidência:

> <"Tristes paragens; areais,

Chagados do sol, aos ais! ( p. 67 )

O vocábulo " triste" já prenuncia o destino derradeiro que El-rei terá ao encontrar-se com o "moiro ferino".

O uso de orações exclamativas e de reticências, na maioria das estrofes, mostram o envolvimento do eu-poético que explode em lamentos:

" A Morte ilusões destroça;;

Ai de El-Rei, esperança nossa! ( p. 68 )

É de se notar a linguagem religiosa que perpassa todo o poema. No caso, uma invocação tirada da "Salve Rainha" que se aplica a D. Sebastião, visto religiosamente, como o salvador.

A partir daí, as cenas adquirem uma tonalidade vermelha e negra. Temos o sangue a dimanar "a flux" dos ferimentos de Jesus e a noite a estender a mortalha " sobre o campo de batalha."

A escuridão é gradativa, indo da noite ao céu sem nenhuma estrela, até chegar ao silêncio dos "sonhos mortos". O espaço parece diluir-se neste abismo de dor que toma voz em outro lugar, na Lusitânia:

" Longe, nos ecos do mar,

A Lusitânia a chorar! " ( p. 69 )

Em "Trova", o próximo poema, o autor coloca como mote uma estrofe de um de seus livros, O Último Lusíada:

" Quando eu canto, o povo eem massa,,

Chora ouvindo a minha voz;

Sou o Camões da Desgraça,

Canto o mal de todos nós! " ( p. 73 )

Este mote servirá de base para a finalização de cada uma das 4 estrofes regulares que compõem o poema.

Os versos são todos heptassílabos , colocados em primeira pessoa e apresentam-nos de forma direta o próprio pensamento de D. Sebastião, numa simplicidade elocutiva que nos leva a pensar nas cantigas medievais.

A primeira estrofe, com dez versos, dá ênfase à ação passada do sujeito: andei, puni, fui, sustive, perdi; revelando-nos dois movimentos: o da sua glória e o da sua queda.

Em sequência, na segunda estrofe, a angústia do eu-poético é adensada pelo contraste entre o real e o desejo. Há o sonho, mas este está a "fulgir"; anseia-se por um "novo mundo", mas estas "miragens" dormem o "sono profundo". O remorso se evidencia pela ação do verbo "partir":

> " Ai de quem parte! Partir!

É nada restar de nós! " ( p. 74 )

E também pela passividade do verbo "ficar":

" Ai dos que ficam a sós,

Na escuridão, de repente! ( p. 74 )

As antíteses partir e ficar expressam a mesma dor que culmina na perda de algo - é o choro da ausência.

É nessa atmosfera que podemos entender o surgimento de " uma voz ausente", na busca da voz do eu-poético:

" Ao longe, uma voz ausentee

Chora, ouvindo a minha voz! " ( p. 74 )

A terceira estrofe reitera a perda de tudo por parte do eu-poético:

" Minha guitarra, perdi-a,

Lá onde nem ave esvoaça, " ( p. 74 )

Simbolicamente o vocábulo " guitarra ", expresso duas vezes nessa estrofe, representa a alegria que o eu-poético já não possui mais e reforça a idéia contida na primeira estrofe:

" Poeta perdi a graça."t; ( p. 74 )

Poeta sem graça e sem guitarra, ele se firma melancolicamente,por meio de aliterações em / d/ e / t/ , como o " Camões da Desgraça".

Por último, na quarta estrofe, há a evocação de dois cenários: Mauritânia e a Lusitânia.

O primeiro caracteriza-se por ser o cenário da morte, onde Cristos sobem calvários. O segundo, Lusitânia, é dos "delírios de incerta voz", da "insânia", onde o eu-poético na " cruz da Ausência" canta o seu "mal".

O terceiro poema da série, " Aquela Madrugada", estabelece um diálogo com o soneto de Camões. O poema formado por 6 estrofes, repete em cada verso inicial o verso de Camões:

" Aquela triste e leda madrrugada".<

Nesse poema, em gradação, a madrugada é " desejada ", " celebrada", "anunciada", "memorada"; sendo que o vocábulo "desejada" repete-se três vezes intercaladamente entre as estrofes.

A madrugada adquire desde a primeira estrofe uma conotação positiva:

" Doira o cristal das fontes,

Inunda o meu jardim! " ( p. 79 )

A madrugada representa um movimento de abertura. A sua origem é o passado:

" Vem das sombras confusas do Passado, " ( p. 80 )

E chega até o eu-poético para "descerrar" seus "olhos de ceguinho". Além de Camões nesse poema, há Antônio Nobre, nos "Olhos de Ceguinho".

A madrugada, assim como no poema de Camões, anuncia algo que está prestes a acontecer. Observamos que o poeta fala sobre o esplendor da madrugada, mas tarda em esclarecer o porquê da sua vinda. Somente na última estrofe sabemos que ela vem:

" Doirar o azul marinho

Da praia Ocidental!" ( p. 80 )

Encontramos nos primeiros versos de cada estrofe do poema, os dois adjetivos "triste" e "leda", constituindo uma antítese que se aplica ao desenvolvimento do poema. A madrugada é triste porque demorou a surgir, vem das sombras e é saudosa. Opondo-se a esse estado, a madrugada é leda porque dissipa essa angústia e traz dentro de si a nova manhã.

Vemos, então, que o "triste" dá uma conotação de profundidade, de expectativa e esperança - é a dor. Ao passo que "leda" traz a alegria confluente com a claridade azul e descerradora do olhar do poeta. A madrugada, posta assim, é símbolo do desfecho de um conflito:

> <" Rescende a Paraíso,

Demanda os corações! " (p. 80 )

A madrugada adorna, rescende, demanda, vem, entra, visita e doira. Ela é ativa e encerra um mundo de ações na reação de quem a percebe.

Dessa forma, temos a celebração da madrugada que porta luz, como todas as manhãs, mas que especificamente nessa manhã, anuncia o "descerrar" de um novo horizonte. Parece-nos que tanto mais intensa é a alegria de sua vinda, quanto mais íntimo é o desejo dela em si.

A madrugada assegura a unidade do poema e funciona como uma personagem preparando-nos para o próximo poema, "O Enviado". Aqui novamente os versos voltam a ser heptassílabos, com treze estrofes dísticas. O poema é um diálogo do eu-poético com a " donzela", os " fantasmas", o "Romeiro", os "ciprestes", a "noviça" e o " rei".

O poema abre com duas estrofes interrogativas que questionam o destino do rei, para, em seguida, a grande maioria das orações tornarem-se exclamativas e mostrarem toda a intimidade com a qual o eu-poético expressa a sua relação com El-Rei:

> __ Senhor de olhar peregrino,

Vem guiar nosso destino! ( p. 84 )

De novo, nestes versos que estilizam orações populares, litanias, há uma forte presença de Antônio Nobre.

Observamos também o contraste entre o escuro e claro que se faz no poema:

" E partiu... levou a luz &"< ( p. 84 )

e a volta à claridade em:

" Desponta, ao largo, uma vvela ! " ( p. 84 )

O rei é o agente divino, que surge por entre a cerração com seu olhar peregrino e a finalidade de trazer a luz a seu povo.

O último poema desta série " O Regresso ", reitera em versos heptassílabos o cantar do português e a volta triunfante de El-rei.

Nesse poema, dá-se ênfase aos verbos no presente do indicativo ( ver, enxergar, escutar, acordar) todos relacionados ao povo.

Há a preocupação de situar os fatos com o advérbio de tempo "depois" na primeira e segunda estrofes como a confirmar que este tempo já é passado.

A imagem que vamos formando de El-rei é aquela associada às expectativas do povo, pois é este que vê a " luz duns olhos errantes".

Esse povo é descrito em três momentos:

a. o de assomar aos mirantes;

b. o de sonhar com a manhã redentora;

c. e, finalmente, o de acordar para abraçar a sombra " virgem de um moço".

O movimento do povo passa da contemplação: vê, enxerga, escuta, para a ação de acordar, abraçar e prosseguir a " Idade de Oiro".

El-Rei continua sendo descrito como sagrado e, nesse cenário, criado pelo eu-poético, aparece ao lado de uma das imagens supremas da cristandade: Nossa Senhora, para também compartilhar essa nova era.

O espaço apresenta-se pleno e abbertto :

" Passa nos céus, a fulgir..." ( p. 87 )

e, tal abertura está foneticamente criada pela assonância em

/ a/: "mar", "ar ", "barra", "varanda", "guitarra", etc., que reforça o esplendor da manhã anunciada.

Retomando Os Lusíadas, na Dedicação, Camões já previa:

" E vós, ó bem-nascida segurança

Da Lusitânia antiga liberdade,

E não menos certíssima esperança

De aumento da pequena cristandade,

Vós, ó novo temor da maura lança,

Maravilha fatal da nossa idade,[12]

e mais adiante:

" Vós, poderoso Rei, cujo alto império

O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;

Vê-o também no meio do hemisfério,

E quando desce o deixa derradeiro;

Vós, que esperamos jugo e vutupério

Do torpe ismaelita cavaleiro,

Do turco oriental e do gentio

Que inda bebe o licor do santo rio: " [13]

Segundo Ernest Curtis, o herói é um ideal humano [14] que, na visão de Max Scheler, se completa com a configuração de cinco valores básicos: " a santidade, os valores intelectuais, a nobreza, o útil e o agradável. A estes valores correspondem cinco tipos de personalidades ou paradigmas: o santo, o gênio, o herói, o dirigente da civilização e o artista do prazer. Assim, o herói deverá ser ( ...) o tipo de pessoa ideal, com o centro de seu ser fixado na nobreza e nas suas realizações, portanto em valores vitais "puros" e não técnicos, e cuja virtude fundamental é, naturalmente, a nobreza do corpo e da alma." [15]

Ambas as figuras construídas por Camões e Mário Beirão, resgatam o aspecto virtuoso e heróico de D. Sebastião, evidenciando a sua nobreza de espírito, sua disposição para as grandes realizações. Contudo, em Lusitânia, o herói, paulatinamente ultrapassa o plano heróico para inserir-se no plano do sagrado:

" El-Rei a imagem sagrada " ( p. 87 )

Desta forma, vai-se desenhando o aspecto mítico do rei, pois, como ensina Mircea Eliade " o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do "princípio". Em outros termos, o mito narra como,

graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação": ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente ( ... ) em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado ( ou do "sobrenatural") no Mundo." [16] A figura do rei é,pois, ao longo da obra, dimensionada até ser o elemento principal para criar uma Nova Era Portuguesa:

" Os que, libertos da Ausência,

Prosseguem a Idade de Oiro! " ( p. 88 )

Chamamos a atenção para a idéia de recriar-se um novo universo em que D. Sebastião tem a nobreza de alma, a virtude, o ímpeto, a autoridade, o valor do grande empreendedor e criador mítico para ser de fato o fundador do novo Portugal e também de um novo Império.

Lusitânia ao fazer menção à volta da Idade de Ouro, fecha o ciclo do ressurgir, em que tínhamos os fatos anteriores a de Alcácer-Quibir, o período da espera e finalmente a volta da Idade de Ouro. O ciclo, assim exposto, remonta a História na cosmogonia mítica, em que El-Rei é o renovador de todo o Cosmos; no caso, revelador de um novo Portugal ou mundo.

A transcendência mítica do rei fundamenta-se também pela evolução do Sebastianismo em Portugal. Segundo Antônio Quadros, esse foi o único movimento de feição nacionalista, surgido entre os portugueses, de modo tão forte como uma religião. Na sua visão, seria um mito que " passaria a constituir um dos principais elementos da estrutura cultural portuguesa até os dias de hoje. Mito que teria profundas ressonâncias na psique nacional, ora na transposição e na sublimação da literatura popular ou erudita, ora no nível mais profundo do inconsciente coletivo, aparecendo, adormecendo e reaparecendo sempre ao longo dos séculos." [17]


4.5. 4º Bloco: A PRESENÇA NA AUSSÊNCIA


Chegamos assim à última parte da obra, " Ausentes". Este capítulo, de certa forma isolado do todo da obra, apresenta-nos dezesseis personalidades da História e da Literatura Portuguesas cantadas em soneto. São elas: Nun' Álvares, Infante Santo, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Camões, Dom Sebastião, Frei Agostinho da Cruz, Bocage, Castilho, Camilo, João de Deus, Antero, Oliveira Martins, António Nobre.

Após ter-nos dado sua visão histórica de Portugal, nas partes anteriores, o que estaria Mário Beirão pretendendo trazer de novo para a sua obra ? Que aspectos ligariam essas figuras para serem especialmente ressaltadas ? Fisicamente, todas já se encontravam ausentes da vida portuguesa, quando da publicação do livro e pensamos que para responder à questão levantada, o mais acertado será proceder à análise dos sonetos em questão.

Primeiramente, deparamo-nos com o ausente " Nun' Álvares".

O soneto é escrito em primeira pessoa:

" Senhor! Por mim, teu espírito visita

O Reino onde servi como soldado;" ( p. 91 )

É por sua própria elocução que sabemos a tragicidade de sua vida:

" A humilde cela que o teu filho habita

É um cárcere de lágrimas banhado;" ( p. 91 )

Ao utilizar a imagem "cárcere de lágrimas banhado", com ênfase na palavra "lágrimas", fica claro o destaque que se dá ao sofrimento que este "eu-eloquente" presentifica. Há uma visão de desalento acerca de sua própria história, mas existe também uma esperança de poder sair desse estado de aprisonamento. Adiante, ao dirigir-se ao "Senhor", diz:

" Condoa-se do olhar do empparedado,,"

Trava-se uma luta silenciosa entre o olhar de Deus e o olhar do prisioneiro:

" Condoa-se do olhar do empparedado,,

A luz desses teus olhos infinita!" ( p. 91 )

A sua história, professada em tom de oratório, é reforçada por aliterações em /s/ e /m/ e, também pela insistente evocação da palavra "Senhor". No primeiro verso do primeiro quarteto:

" Senhor! Por mim, teu espírito visita

O Reino onde servi como soldado;"

no primeiro verso do primeiro terceto:

" Senhor, perdoa ao monge arrependido: "

e para terminar o soneto:

" Por teu pranto humaníssimo, Senhor! "

O eu-poético, reforçando este tom de prece, usa verbos como: perdoar, condoer-se, merecer, construíndo desta forma a sua súplica.

É sabido que, de fato, Nuno Álvares foi herói e santo português, mas o aspecto expresso neste soneto é o estado de consciência que ele atinge, acusando-se por ter sido um dia vencedor de grandes feitos:

> " Soberbo eu fui; perdoa ao vencedor,

Ao vencedor dos homens, - o vencido"

Apresenta-se diante do leitor uma tensão entre o que foi o seu passado e a possibilidade de perdão expressa em tempo presente. O momento do "agora" rege a dor e a expectativa de que a justiça seja feita:

" Se ainda não mereço a tua dor,

Reduz-me à escuridão do eterno olvido!

Em sequência temos um soneto dedicado ao " Infante Santo ".

Neste soneto em terceira pessoa, o Infante é comparado a Job, mostrando as dificuldades de seu destino, sendo seu fado mais cruel :

" Job não soltou mais lastiimosos trrenos,

Nem foi mais crua a estrela do seu fado:" (p.92)

O universo poético construído pelo narrador é de dor e comiseração. Para descrever este estado utiliza adjetivos como: "crua" para falar de seu destino, "escravizado" referindo-se aos infiéis a quem foi entregue, "gemidos" relatando o seu estado , "compungidos" e destinados a exprimir os seus olhos " marejados".

Além desse universo de dor, há também ênfase no esquecimento que a nação lhe dedicou:

> <" Morto por sua pátria, sem que ao menos,

Por ela fosse, em lágrimas, lembrado! " (p.92)

Apesar de destacar elementos tão dolorosos, o eu-poético chama a figura do Infante, pedindo-lhe que saiba perdoar:

> " Se te move o Perdão, ó desterrado,

Vem para nós de alma isenta e olhos serenos! " ( p. 92)

O Infante D. Fernando é o santo que, ao encontrar-se com seu povo, é capaz de absorver os crimes deste e purificá-los por meio da " estranha luz de Além", característica de seu olhar.

Enfatiza-se mais uma vez a questão da espiritualidade e do herói. O Infante Santo foi mártir e morreu pela pátria. O soneto resgata o aspecto da integridade espiritual dessa personalidade, não só pela comparação com a personagem bíblica Job, como também pelo enaltecimento do seu "olhar" que é " sereno", "compungido" e "marejado de luz". É uma personagem capaz de ver o passado e possui a capacidade de transformar as pessoas no momento presente, dada a sua fé e santidade.

Ao ser chamado : "Vem para nós de alma isenta e olhos serenos", percebemos que a tensão entre passado e presente se rompe pelo reconhecimento que se faz da sua pessoa:

" Descansa em novos céus Jeerusalém!! " (p. 92)

O uso do verbo "descansar" convida a que as pazes sejam efetivadas, nesta relação de esquecimento e reconhecimento, que, embora tardio, é de extrema importância.

Seguindo a análise, o outro poema é dedicado a Afonso de Albuquerque. No soneto é retratado o momento de seu funeral:

"Vai aos ombros dos mudos ccavaleiroos," ( p. 93)

uma descrição da cena utilizando-se de uma forte integração entre o fato em si, a morte de Albuquerque, e o envolvimento da natureza no desenrolar deste processo.

A natureza participa do evento, desde o início da cena até o seu final:

" A noite acende fúnebres luzeiros

Que o vento ruim apaga, de repente;" <(p.93)

A natureza personifica-se para prestar a sua homenagem a tão ilustre Governador de Goa:

" Do Vizo-Rei espectral... O céu prrofundo

Veste pompas de grã solenidade!" (p.93)

O universo construído pelo eu-poético é o de uma imagem em que a natureza, embora muda, expressa a sua dor de forma mais profunda que a dos próprios homens. Os cavaleiros que conduzem o Rei são mudos, a "desvairada gente" de Goa ouve dos pássaros os "pios agoireiros". No soneto sobrepõe-se o sentimento expresso pela natureza como a enaltecer a figura de Afonso de Albuquerque; a natureza "veste pompas de grã solenidade"; já os homens são descritos como "mudos", ou "desvairados".

O "olhar" do morto é ausente, mas em contra partida, "o Espectro sonha". A visão espectral que se cria do Vizo-Rei é uma fusão do seu ser material com a natureza e a religiosidade. O elemento religioso é reforçado pela cruz que o Rei tem em suas mãos.

É interessante observamos a posição em que o ser

" espectral" sonha:

" O Espectro sonha, de alumiado aspeito,

Em frente ao mar... " ( p. 93 )

Se o olhar já se faz ausente, o sonho se faz inspirado no mar e na fé.

O desfile dos ausentes continua no soneto seguinte com a figura de Vasco da Gama.

O eu-poético faz uso da anáfora " perpassa em Glória" no início dos dois quartetos para reforçar a idéia do herói, do desbravador Vasco da Gama. A esta anáfora, junta-se outra - " vencendo "-, para também evidenciar a idéia do herói:

" Vencendo a própria natureza humana!( ...)

> Vencendo o Adamastor na fúria insana!" (p.944)

A figura de Vasco da Gama é construída ressaltando dois aspectos em questão: "Homem ou Deus" ?

A sua pessoa é associada à do "mar". É o mar que lhe cinge o corpo e leva a "sua alma à Terra Prometida". É o mar também que embala o seu "coração desfeito " .

Notamos que, mais uma vez, o elemento espiritual é destacado. Vasco da Gama é um homem, mas é um homem sobre quem o próprio eu-poético se questiona se também não será Deus . Em suma, ele é o desafiador dos mares, o que peleja nos ares, o vencedor.

O poema mostra o confronto entre Vasco da Gama e o gigante Adamastor:

" Vencendo o Adamastor na ffúria inssana " ( p. 94 )

O herói não é recriado realizando o seu feito real,- a viagem às Índias -, mas sobre a personagem concebida por Luís de Camões em Os Lusíadas de Camões. O narrador- poético busca no antológico episódio o rigor da força da personagem camoniana para que ela se construa com mais vigor e efeito.

Outro elemento destacado são os "olhos" de Vasco da Gama "já sem vida", mas que, embalados pelo mar, trazem " o Sonho que não coube no seu peito!"

Depois de celebrar estas quatro personalidades históricas, os sonetos começam a explorar o campo literário. A primeira personagem a ser destacada é Gil Vicente.

Os verbos estão no presente do indicativo, dando a exata sensação de que realmente estamos presenciando uma festa no paço. Na verdade, não se destaca Gil Vicente em si, mas o mundo vivido por ele. Assim os substantivos: paço, corte, farsa, riso, El -Rei, máscara, retratam o espaço que o cerca. A sua obra é mais forte que sua presença física:

" E dos lábios do Mestre a mofa em riste

Rasga a sombra do século, aos clarões; " (p. 95 )

Autor e obra fundem-se para criar esta visão que será ainda reforçada pela característica mais marcante da obra de Gil Vicente: o riso.

" Reino em delírio! Máscaras de Entrudo,

Rindo os risos diabólicos da Farsa!" ( p. 95 )

De forma indireta, o eu-poético traz à tona a expressão latina que foi tão caracterizadora do trabalho de Gil Vicente:

" ridendo castigat mores”,ou seja, por meio do riso corrigem-se os costumes que o dramaturgo visava corrigir de sua época.

Juntamente com a sua figura, destaca-se também a presença do Rei e do seu olhar sobre o que se passa:

" El-Rei atende, estranhamente mudo;

Em seu olhar de lúgubre comparsa,

Alagam trevas reflectindo tudo... "

O olhar do Rei na verdade é o próprio olhar de Gil Vicente, uma vez que é um "olhar de lúgubre comparsa" - um se reflete no outro e ambos refletem sobre tudo.

Cronologicamente, nesta apresentação dos " Ausentes” passamos para o soneto seguinte " Bernadim Ribeiro" , ele, literato tão bem conhecido pela sua obra História de Menina e Moça, de densa interioridade, fatalismo e melancolia.

Na descrição de Bernardim, destaca-se a palava "fonte”: " uma fonte rompeu”, " a fonte da tua alma", " a fonte chora", " ó fonte onde naufragam meus sentidos”

A alma de Bernardim é isso: a fonte, a origem de algo de divino que marca a alma portuguesa:

" Lá, num deserto bíblico, sem fim,

__ Tristeza morta, pântanos, livores...

Uma fonte rompeu por entre flores, " ( p. 96 )

É interessante observar que não se destaca o "olhar " do poeta, mas algo mais forte: a alma.

A alma dele é uma alma que " chora, pela noite ruim", que é "melindrosa". É a alma da sensibilidade:

" Por que sufocas de ais? Que fundas mágoas

Arrepiam teu curso de gemidos?" ( p. 96)

Dentro dessa visão, Bernardim traz um " cântico de amores" à Literatura que então resplandesce de dor e melancolia; é o resgate da saudade amorosa.

O eu-poético, dada a força da alma de Bernardim, deixa-se fundir com ela, como se a alma dele fosse também uma fonte de inspiração:

" Ó fonte onde naufragam meeus sentiidos," (p.96)

Bernardim é a fonte, que saiu do "deserto biblico" e que "rompeu, por entre flores”.É a alma que encontra a luz e a leva aos outros.

Em "Camões", o próximo soneto , o poema em primeira pessoa expõe a voz do poeta que ressurge " no curso das memórias".

Destaca-se de imediato a imagem do "mar" associada a sua figura. Esta imagem associa-se também à solidão em que ele se encontra:

" Em frente ao mar, à solidão medito;" ( p. 97 )

Contudo, este estado é interrompido pela " nocturna sombra" que invade o seu olhar.

O discurso poético presentifica elementos relacionados ao curso da sua vida :

> " Índias, miragens, pegos de saudade..." (p.97)

Num crescente, que passa da sombra à luz e o define como o ser que desperta do seu sonho, evidencia-se o seu ressugir:

" Dentro de mim... Das penas do Profundo

Ressurjo mártir, cavaleiro, Poeta!" ( p. 97)

O ser que desperta é o Poeta, e é significativa esta gradação, uma vez que, nesta escolha, a função do poeta é a maior. É ele o que cria o "novo mundo". Nele a raça portuguesa se introjeta e ele constitui o agente catalisador capaz de recriar o mundo lusitano:

" À voz de Deus, Lusíadas componho;

E dou ao Mundo um lusitano mundo:

Alta verdade de supremo sonho! " ( p. 97 )

Nessa descrição, o elemento que nos chama mais a atenção é a questão da "sombra", que vai ganhando espaço e adensando-se no decorrer do poema. Essa imagem se estabelece de duas formas. Primeiramente, a sombra é noturna e invade o seu olhar e, depois , a sombra é a raça portuguesa que nele se projeta .

A apresentação de Camões é platônica , já que arquetípica : ele é a projeção de uma raça. Ele tem consciência da importância da sua obra - Os Lusíadas - onde se cria um mundo de "alta verdade".

Na sequência dos poemas "Ausentes", há uma quebra da apresentação de personalidades literárias e temos a figura de D. Sebastião no próximo soneto de mesmo nome. O eu-poético utiliza-se novamente da primeira pessoa para dar voz a sua criação:

" Subo aos eirados e, saudooso, incllino

Meus olhos pelos vagos horizontes: " (p.98)

Nesse soneto, a questão do tempo parece ser o ponto chave para a descrição do Rei:

" Para que além dos séculos despoentes,

Senhor das nossas vidas e destino," (p.98)

A visão que o Rei tem de si mesmo da idéia da amplitude de seu "olhar". Ele é o senhor soberano que pode ver todo o horizonte; contudo, não podemos esquecer que os horizontes são " vagos " , e vai-se criando, aos poucos, a imagem do peregrino, cheio das incertezas e ausências que povoam o seu universo:

" E sigo por desertos e altos montes

Os passos dum incerto peregrino..." ( p. 98 )

Nesse momento, os tercetos mudam a voz da primeira para a terceira pessoa, trazendo à tona a verdadeira magnitude da figura do Rei. Há uma veemente invocação de sua pessoa, acompanhada de uma ardente súplica.

" Ó Rei! sol de claríssima pureza,

Senhor da nossa Fé, -- vem alumiar

Com teus olhos a terra portuguesa!" ( p. 98 )

O Rei é o sol de primeira grandeza que ilumina os olhos de seu povo. O olhar, antes incerto , instalado nos "vagos horizontes", passa a ser um olhar iluminador, o olhar da chama da esperança.

O Rei tem consciência de que é o "Senhor" da vida e do destino português, mas para que seu destino se cumpra é necessária a fé das outras pessoas. Esta relação de dependência é reforçada também pelo elemento da natureza:

" Por ti, as ondas quebram, a chorar,

Dos sinos, à noitinha, tombam ais,

E marulham saudades os pinhais!" ( p. 98 )

A natureza também sabe da sua importância e por isso ela personifica os atos de "chorar" ou o de ter "saudades" . O poeta traz aqui elementos que reforçam a soberania do Rei, não só em relação a seu povo, como também em relação à natureza.

A saudade dos pinhais, leva-nos a fazer uma conexão com as cantigas trovadorescas de amigo. A natureza reflete a ausência do ser amado, o Rei, por todos.

Para continuar no cantar da saudade é-nos dado, em seguida, um soneto sobre Frei Agostinho da Cruz, poeta pré-barroco que cantou a saudade contínua do céu e o remorso vivo de um passado que o magoou.

Apresentado em terceira pessoa, a personagem é colocada desde o início em comunhão com a natureza:

" Ai de ti, doce irmão das avezinhas

E das ervas rasteiras e de mim;" ( p. 99)

para em seguida ser destacada a sua característica mais marcante, a saudade:

" E mais saudoso que as sauudades miinhas! "(p.99)

A sua saudade vem das profundezas de sua alma e na sua poesia evidencia-se um tom de melancolia:

" Choram teus cantos lágrimas sem fim..."(p.99)

No soneto , Frei Agostinho da Cruz é também o intermediário de que Deus se utiliza para encarnar a natureza:

" Por ti, encarna Deus a Naatureza",, ( p.99)

ou a comunhão entre os homens:

"Por ti, Deus vem sentar-se à nossa mesa, "(p.99)

Assim como fez no soneto "Bernardim Ribeiro", aqui o eu-poético destaca a alma do poeta, sua força e a potencialidade adquiridas, além de ele constituir-se num elo de integração entre Deus e a natureza ou entre Deus e o povo português.

Com a apresentação do soneto seguinte, "Bocage", há uma ruptura da sequência saudosista e melancólica das figuras até então descritas.

O painel que se desenha ao leitor sobre o poeta é dada pelas imagens do "cruel" e do "desengano" :

" Funesta imagem de ilusão cruel" ( p.100)

retratando o próprio destino vivido por ele, Bocage.

Parece-nos que o eu-poética constrói a partir do soneto:

" Meu ser evaporei na lida insana

Do tropel de paixões, que me arratava:

Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana: "

do próprio Bocage toda uma caracterização que evidencia uma apropriação de palavras bocagianas para trazê-lo ao presente.

De fato, há por parte do eu-poético uma preocupação em reconstruir o universo literário ou histórico da figura a que ele se refere.

Os adjetivos empregados - "cruel" e "amargoso" - associados aos substantivos "iilusão" e " fel ", respectivamente, reforçam o duro caminho trilhado pelo poeta .

Esse soneto se constrói impressionisticamente pela impregnação indireta da cor vermelha. Assim o fel é sorvido em "taças de inebriante vinho" e a imagem dele, Bocage, "sangra num painel". Esta configuração da cor é entremeada pelo recorte do abandono em que ele próprio se deixou:

" Ó santo, a quem deteve noo caminhoo,

Das paixões o fantástico tropel, " ( p.100)

e pela história de desavenças que é condenada pelo eu-poético:

> " A tua imagem sangra num painel

Que o Tempo mostra à multidão, escarninho!"( p. 100)

mas, mesmo assim, o eu-poético pede socorro à natureza para ajudá-lo a sair do "escuro eterno" :

> " -- Estrelas, alumiai o peregrino, " ( p.100)

Neste soneto se descreve a figura de Bocage com um certo tom de negatividade, pois ele é o poeta do desengano, o poeta que sangra, o poeta pálido, o poeta da escuridão. Entretanto, há esperança de que encontre o caminho, pelo fato, talvez, de ser poeta, ainda que errante. Talvez o caminho de Deus, uma vez que Bocage sonha na sua escuridão com os " doces olhos pulcros" da Virgem Maria. Alude-se, deste modo, à conversão do poeta no final de sua vida.

A relação temporal cria uma certa tensão entre o passado do poeta: " passaste como o vento..." e a sua condição presente: " a tua imagem sangra". O conflito não se resolve uma vez que o poeta ainda se encontra na escuridão e não vê a luz para tirá-lo dessa condição.

Em oposição a esse estado de cegueira em que se encontra o nosso poeta, temos o soneto seguinte, " Castilho", cheio de luz:

> " Teus olhos cegos, sempre em claridade! "( p.101)

Castilho é descrito nos jardins da Antiguidade, sendo acompanhado da imagem iluminada de Virgílio.

O espaço aberto do soneto ( jardins) é um ambiente idílico, pastoral, leve, suave, risonho. A única coisa que perturba este cenário são os

" acentos de saudade " provenientes de Ovídio.

O maior e surpreendente destaque feito é em relação ao olhar de Castilho, que é comparado às manhãs de idílio, ou caracterizado pela " claridade". surpreendente é a ênfase sobre o olhar de um poeta cego, paradoxal, a claridade que se lhe atribui. Apesar destes aspectos positivos, destaca-se também que são esses olhos o motivo do seu aprisionamento:

" Cativo de ti mesmo, - a oolhar, seem tino," ( p. 101)

Mas, mesmo assim, é o olhar que vai ajudar Ovídio em seu exílio:

" Tacteando sombras, vais eem seu auuxílio," ( p.101)

Castilho, o " romeiro do passado", é peregrino como Bocage, só que não errante, porque tem a luz do olhar.

O próximo soneto, " Camilo " , começa em primeira pessoa:

> " Eu fui o mal, o assomo de rudeza" ( p.102)

A visão que o eu-poético tem de si próprio é a do desencanto: "assomo de rudeza", possui o coração "tenebroso da tristeza", é o "gênio estranho", o "fantasma das noites", o "caminheiro das estradas", e mais ainda, "o coveiro do próprio coração".

Para descrever seu coração, destaca a imagem do lírio, mas de uma forma também negativa:

" Meu coração desabrochou num lírio,

No lírio tenebroso da Tristeza! "(p.102)

No segundo quarteto existe a relação da flor "lírio" com a figura da "mística Tereza", evidenciando a nobreza de sua alma, que "brilha como a luz do círio! ", ficando Camilo em segundo plano.

Mesmo o lado bom do amor, da caridade, da benevolência não se encontra nele, mas naqueles que são mártires e edificam com o puro amor a terra portuguesa. Entretanto, temos de ressaltar o primeiro verso do primeiro terceto:

" -- Eu sou o gênio estranhho de umaa raça, " ( p. 102 )

Ele é o gênio porque consegue entender o grande mal do coração e escrever a respeito dele, uma vez que ele mesmo se caracterizou como o "coveiro do coração".

Ao destacar, em seguida, a pessoa de João de Deus, no soneto de igual nome, parece-nos que o narrador quer polir a atitude lírica das expressões do coração.

O soneto, em terceira pessoa, exalta a figura de João de Deus como pessoa exímia na poetização do sentimento ao produzir seus versos. Ressalta que a beleza dos seus cânticos não se compara à dos versos do Rei Salomão, nem aos sonhos das virgens. O ato de ouvir seus hinos é passado sinestesicamente, pelo eu-poético , como um sentimento de "afago" em que a "alma se torna serena como a luz dum lago". Posto desta forma, os seus cânticos adquirem um aspecto "purificador", pois falam do Amor como estado pleno de sentimento:

" Vai alto o luar, mais altto vai o Amor!" ( p. 103 )

Neste soneto, como foi em "Gil Vicente", enfatiza-se muito mais a característica da obra do que o autor. Assim sendo, o amor é o estado supremo da criação de João de Deus.

O ante-penúltimo soneto "Antero", resgata a problemática da obra de Antero de Quental - a questão do ser e do não-ser:

" Para além do Nirvana que tentastee," ( p. 104 )

Destaca-se o "Nirvana" como a busca máxima na sua obra. Contudo, este caminho é negado pelo eu-poético no segundo quarteto, porque não é o alvo de uma alma cristã:

" As estradas que, em lágriimas, traaçaste,

Não nos conduzem, não, à Terra Santa;" ( p. 104 )

Ele parece não se conformar com o espírito inquisidor de Antero:

" Por que interrogas, aflitivamente,

A noite, Deus, o vento em desatino?"(p.104)

O conflito é estabelecido pela visão de mundo que o eu-poético possui, diferente da de Antero. Para ele, eu-poético, o destino se revela no sonhar:

> " Morrer, mas a sonhar, -- eis o destino! " ( p. 104)

Trava-se um diálogo com Antero, no intuito de convencê-lo de que o seu questionamento não conduz a nada:

" __ Susta o curso das lágrimas, ó Dor!

-- Detém o rasgo da corrida ardente," <

Se para Antero a morte é o único processo de libertação das forças inconscientes que determinam o destino do Homem, para o eu-poético não é bem assim, para ele o sonho é mais forte.

No penúltimo soneto, "Oliveira Martins", não podemos dizer que há ruptura quanto a sua colocação ao lado das figuras literárias, uma vez que ele, além de historiador, sociólogo, economista, foi também escritor, pois suas obras encontram-se a meio caminho entre a História e a ficção. Entretanto, apresenta-se uma ruptura pela forma negativa como ele nos é apresentado e julgado :

" Debalde ergueste a voz, nnegando aa Vida

E a pátria, __ deusa de formoso jeito: "( p. 105 )

Oliveira Martins é caracterizado pela sua voz , que desafiou e negou a pátria - a voz da desesperança. À voz de Oliveira Martins, contrapõe-se o desejo do "povo eleito" que "espera ainda a Terra Prometida". Contudo, ele , Oliveira Martins, foi o elemento desequilibrador desta esperança e, por isso, é acusado de ter deixado o povo nas trevas.

O eu-poético não perdoa este aspecto e o coloca no "painel de temeroso aspeito" e pede, no último terceto, que se cale:

" Cala a nocturna voz de mau agoiro:" (p.105 )

Dentro desta visão negra, ele ( o eu-poético) se incumbe de trazer luz e esperança a seu povo:

" Já sobre as almas brilha a claridade

Da manhã mais que todas desejada:

> Rasga a tela da torva tempestade! " [(p.105)

O conflito se resolve porque ele ( o eu-poético) julga e conduz o desfecho das ações:

> " As naus demandam as areias de oiro! " (p.105)

Toda essa rejeição de Oliveira Martins e de sua obra pode ficar bem clara pelo anti-sebastianismo desse autor que, juntamente com o criador da peça Pátria-Guerra Junqueiro -adotou uma posição cética e desesperançada frente à conjuntura histórico-social portuguesa nos finais do século XIX. É toda a geração de 70, com seu anti-sebastianismo, que é criticada no soneto.

" Os Ausentes " se fecha com o soneto, dedicado a António Nobre.

Parece que, em oposição a voz " agoira" de Oliveira Martins, opõe-se a voz do poeta que " embala o mundo ". O narrador relaciona a sua voz ao mar:

> " O mar é a tua voz, ao abandono..." (p.1006 ))

Parece-nos que a sua voz, sendo tão ampla quanto o mar, pode atingir todos os lugares e ser ouvida por todos.

Há entre o eu-poético e o poeta descrito uma relação de dependência, na qual o primeiro se coloca a serviço deste. É interessante observar que se destaca a palavra como instrumento para o despertar do povo.

Nos tercetos, deixa-se a figura do poeta, para destacar a visão da "Nau Catrineta" e seus caminhos "cheios de naufrágios", "nau" que é imagem de Portugal. O mar embala a dor, mas se o mar é a voz do poeta, na verdade é o próprio poeta Nobre que embala a dor portuguesa do presente. Na visão do eu-poético, só o chão regado de lágrimas é que dará flor:

" ( ...) O chão da sepulturra <

Só regado de lágrimas dá flor! " ( p. 106 )

Ao tratar nesses sonetos, da ausência em si, de fato, o autor nos remete a uma outra possibilidade de interpretação, isto é, a presença.

Destacando esses personagens, na atual dormência de Portugal, faz o processo de trazê-los à nossa presença como elementos formativos da história da nação lusitana.

De fato ausência e presença relacionam-se e completam-se entre si, na medida em que uma necessita da outra para existir . Só sabemos da ausência de um determinado elemento quando um dia o tivemos presente, porque, de fato, não estamos nos referindo a qualidades estáveis e sim a estados que continuamente mudam de um para outro.

A ausência é uma denúncia da perda de um bem que outrora se possuiu ou se viveu e no momento em que o autor quer modificar essa situação, diante dessa ausência, imperiosamente impõem-se a presença daquele bem.

O imperativo de presença não é um fator somente literário; é também uma questão ideológica: a tarefa de reencontrar o ser nacional, o gérmem da pátria que esteve, segundo o autor, ausente durante séculos, ou anos, e que agora ele quer reviver por meio de seus sonetos.

O autor não quer trazer simplesmente a figura histórica das personagens, mas também o mundo de valores e idéias contido em cada uma delas e que, na sua visão, acha-se esquecido na atualidade.

O ato de trazer ao presente esses elementos é o imperativo de presença que o autor persegue e deseja ao passado, que ele pensa ser heróico; enganchar o passado com um presente que ele acusa de vazio:

" Os que, libertos da Ausência,

Prosseguem a Idade de Ouro! " (p. 88)

Pretende, assim ser o intérprete desta continuação histórica e projetá-la no futuro super-valorizado o papel político do poeta na sociedade:

" ( ...) O Poeta é, assim, em última palavra, como seu supremo intérprete, o homem da lei, o orientador, o político. Junto dos governos, deveria assistir um Conselho de Poetas. ( ...) Que seria de nós, no concerto dos Estados, se não fossem alumiar-nos as lâmpadas votivas da Pátria: os poetas de heróico, místico, sentimental dizer - Cavaleiros do Amor, de Deus e da Lusitânia? (...) Só a memória nos faz viver e, portanto, cultivar a tradição é cultivar a memória: viver integralmente. " [18]

Como intérprete da história, ele é o juiz selecionador dos elementos constitutivos deste mundo. Ele é um juiz parcial porque não só seleciona os mitos fundadores, mas contribui igualmente para a formação dos mitos através da seleção dos fatos que ele acha notáveis, julgando-os e impulsionando ao louvor ou à execração ( poemas " Bocage" ou "Oliveira Martins", por exemplo).

Os seus sonetos, ou painéis, são por ele criados numa visão maquineísta, em que uns personagens encarnam o Bem e outros o Mal, não havendo a possibilidade de uma figura se reconhecer mesclada de bem e de mal. A sua primeira preocupação é a formação do painel onde ele coloca, subjetivamente, as personagens em concordância com o seu propósito ideológico. Depois, olha para esse painel fazendo a divisão entre os que ele considera imaculados e os não bem sucedidos. Dentre os primeiros, estão os que ele acha dignos de resgatar como alicerces da nova nação. Por meio da metáfora dos olhares bons, evidencia as características desses homens ilustres.

Nos sonetos em primeira pessoa, Mário Beirão empresta sua voz aos poetas, como em "Camões", por exemplo, para que digam o que ele próprio quereria dizer, para que falem de sua própria vontade de recomeçar vindo do passado até o presente e tentar projetar o futuro:

" E dou ao Mundo um lusitano mundo:

Alta verdade de supremo sonho!" ( p. 97)

A verdade é colocada como um sonho- os seu sonho - ... " um lusitano mundo"...

Na constituição desses painéis observamos a vontade do eu-poético em trazê-las ao "agora", extraíndo-as do mundo da ausência. Assim, as personagens por ele resgatadas, refletem a sua visão de mundo em situações relacionadas com a questão da ausência e presença .

Desse modo, Mário Beirão, segundo seu modo de ver, destaca os mitos fundadores da raça portuguesa que, por um aspecto ou outro, apresentam elementos enaltecedores da alma lusitana e decisivos para formar o universo da glória da nação que ele tenta, enquanto poeta, restabelecer e conduzir.


Bibliografia



[1] Luigi Pareyson - Op. Cit.

[2] Idem, p. 104.

[3] Mário Beirão - Lusitânia, 2º ed., Porto, Ed. Tavares Martins, 1917, p. 7.

[4] Alexandre Herculano, apud Oliveira Martins - História de Portugal, 17º ed., Lisboa, Ed. Guimarães & Co. Editores, 1977, p. 15.

[5] Idem, p. 105, grifos do autor.

[6] Sérgio Filippi - A Saudade, Porto, Editores Lello & Irmão, 1981, p. 41.

[7] Idem, p. 41.

[8] Teixeira de Pascoaes - Arte de Ser Português,Lisboa, Ed. delraux, 1978, pp. 25 e 28.

[9] João de Deus é talvez citado entre os grandes porque apresentou uma vida simplista moldadas no catolicismo e na bondade. João de Deus, segundo José Saraiva e Óscar Lópes, os recursos de expressão poética mais permanentes do idioma.

[10] grifo nosso.

[11] Luís de Camões - Os Lusíadas, São Paulo, Ed. Cultrix, 1991, Canto I, estofe 15, p. 24.

[12] Op. Cit., est. 6.

[13] Idem,Canto I, est. 8.

[14] Ernest Curtis upud Maria Elizabeth Graça- " Heróis e Soberanos no Universo Poético de Os Lusíadas", in: Convergência Lusíada, ano IV, nº 7, jul/ 79 a dez/ 80, p. 87.

[15] Idem, ibidem, p. 87.

[16] Mircea Eliade - Mito e Realidade, trad. de Pola Civelli, 3º ed., São Paulo, Ed. Perspectiva, 1991, p. 11

[17] António Quadros- Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, Lisboa, Guimarães & Co Editores, Vol. II, 1983, p. 108.

[18] Mário Beirão apud Victor Santos - Op. Cit., p. 119.