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Cruz foi fundada em um sítio Reynaldo Gollo Aqui daria um bom lugar para se fazer cinema no Brasil. Reza a lenda que essa frase foi dita por José Mauro de Vasconcelos, o escritor de Meu Pé de Laranja Lima, quando ele visitava o sítio do amigo Francisco Matarazzo Sobrinho nos morros do Jardim do Mar, em São Bernardo. Era 1946. Três anos depois desse episódio, em 4 de novembro de 1949, foi fundada naquele local a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, até hoje a única tentativa de se estabelecer no país uma indústria profissional de cinema, com produção dentro de um padrão técnico de nível internacional, em oposição às comédias carnavalescas cariocas. É pouco provável que o episódio protagonizado por Vasconcelos tenha realmente acontecido. Afinal, a área era apenas um terreno sem muita estrutura que abrigava uma enorme criação de galinhas do velho Matarazzo, conhecido com Cicilio, e o escritor pode ter glamourizado a cena posto que, depois, se tornou roteirista da Vera Cruz. Mas, como no cinema, a lenda suplanta a realidade, e a premonição do escritor se confirmou na iniciativa conjunta dos empresários Cicilio e Franco Zampari. Aquele fim de década era propício para o empreendimento. A Vera Cruz foi fundada no ano em que o governo federal baixou uma lei que isentava totalmente de impostos a importação de equipamentos para produção e pós-produção cinematográfica. A empresa abriu com o capital inicial de Cr$ 7,5 milhões. Zampari contratou para diretor artístico da companhia Alberto Cavalcanti, brasileiro de carreira cinematográfica internacional. Enquanto as galinhas eram enxotadas pelos operários que ergueriam em São Bernardo os estúdios de 25 mil m2 (fechados, mais uma área de 101 mil m2), passavam 180 milhões de espectadores por ano pelas 2.411 salas de cinema do Brasil. A população era de 51 milhões de habitantes. A edificação subia no Planalto Paulista, e uma equipe técnica de 70 pessoas descia a serra rumo a Ilhabela para tocar o primeiro projeto da Vera Cruz, Caiçara, filme dirigido pelo italiano Adolfo Celi. Um dramalhão de mão-cheia, adaptado de um roteiro italiano com direito a romance sofrido e pais leprosos, com a mocinha Eliane Lage, Mário Sérgio e Carlos Vergueiro. Brigas com diretores e com a cúpula da Vera Cruz fizeram Cavalcanti abandonar o barco depois de produzir Caiçara e Terra É Sempre Terra, de Tom Payne, no mesmo ano de 1950. Junto com a história do cinema profissional, começavam também os fracassos de bilheteria, regra de quase todos os filmes seguintes. O sucesso que poderia ter salvo a empresa não ajudou. O Cangaceiro, de Vítor Lima Barreto, rendeu só no Brasil Cr$ 33 milhões. Mas todo o dinheiro ficou com a norte-americana Columbia Pictures, que comprou o filme para distribuição no país e no mundo (também foi grande sucesso internacional, chegando a ser premiado em Cannes como melhor filme de aventura). O grande erro da Vera Cruz foi implementar, ao estilo norte-americano, um cinema de estúdio, com atores e técnicos contratados com exclusividade, parafernália técnica ociosa na maior parte do tempo e grandes cenários artificiais. Tudo muito caro. A empresa chegou a construir uma cidade cenográfica, que foi muito pouco usada nos anos 60, cenário da novela Redenção, da TV Excelsior; hoje, Cidade das Crianças. Esse tipo de cinema já entrava em decadência na terra de seus criadores. Devido a seus altos custos, o star system de Hollywood começava a ser substituído pelas produções independentes e a quebra dos contratos de exclusividade de suas estrelas. Em pouco mais de três anos, a Vera Cruz produziu 18 longas-metragens e quatro documentários. Faliu em 1954. Contra ou a favor, não se pode negar a qualidade técnica de suas produções, que trouxe nova mentalidade (e maturidade) para o cinema brasileiro. Fonte: Diário do Grande ABC (www.dgabc.com.br) 1. Vera Cruz foi fundada em um sítio 2. Hollywood brasileira foi feita de talentos [volta] [proxima] |