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"O Brasil é o meu público"

 

Veja- Qual é o seu público?

Mazzaropi - Meu público é o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Eu loto casa em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, ilha do Bananal...

Veja - Sim, mas como você definiria esse público: gente simples, classe baixa, elite, velho, moço?

Mazzaropi - É público bom, fiel.

Veja - Você não gosta de falar?

Mazzaropi - Não.

Veja - Por quê?

Mazzaropi - Porque deturpam tudo o que eu falo.

Veja - Quem deturpa?

Mazzaropi - A crítica. A imprensa.

Veja - E como se faz para contar quem é Mazzaropi e o que ele pretende fazer daqui para a frente?

Mazzaropi - Conte minha verdadeira história, a história de um cara que sempre acreditou no cinema nacional e que, mas cedo do que todos pensam, pode construir a indústria do cinema no Brasil. A história de um ator bom ou mau que sempre manteve cheios os cinemas. Que nunca dependeu no INC - Instituto Nacional do Cinema - para fazer um filme. Que nunca recebeu uma crítica construtiva da crítica cinematográfica especializada - crítica que se diz intelectual. Crítica que aplaude um cinema cheio de símbolos, enrolado, complicado, pretensioso, mas sem público. A história de um cara que pensa em fazer cinema apenas para divertir o público, por acreditar que cinema é diversão, e seus filmes nunca pretenderam mais do que isso. Enfim, a história de um cara que nunca deixou a peteca cair.

Veja - Conte então sua história.

Mazzaropi - Quando eu comecei minha vida artística, muito pouca gente que vai ler esta história existia. Nasci em 1912, e na época em que comecei tinha uns quinze anos. Naquele tempo, o gênero de peças que fazia sucesso no teatro era caipira. E, como todo mundo, eu gostava de assisti-las. Dois atores, em particular, me fascinavam. Genésio e Sebastião de Arruda. Sebastião mais que Genésio, que era um pouco caricato demais para meu gosto. Nem sei bem por que, de repente, lá tava eu trabalhando no teatro. Mas não como ator - eu pintava cenários. Aliás, eu amava a pintura, sempre amei a pintura. Pois bem, um belo dia "perdi" o pincel e resolvi seguir a carreira de ator. No começo procurei copiar a naturalidade do Sebastião, depois fui para o interior criar meu próprio tipo: caboclão bastante natural (na roupa, no andar, na fala). Um simples caboclo entre os milhões que vivem no interior brasileiro. Saí pro interior um pouco Sebastião, voltei Mazzaropi. Não mudei o nome (embora tivessem cansado de me aconselhar a mudá-lo) por acreditar não haver mal nenhum naquilo que eu ia fazer. Os amigos diziam que Mazzaropi não era nome de caipira, que era nome de italiano, mas eu respondia para eles que, se não era iria virar. Que eu não tinha vergonha do que ia fazer e, por isso, ia fazer com meu nome. E o público gostou do meu nome, gostou do que eu fiz.Turnês em circo, teatros, recitando monólogos dramáticos, fazendo a platéia rir, chorar. Mas sempre com uma preocupação: conversar com o público como se fosse deles. Ganhava 25 mil-réis por apresentação quando comecei, passei a ganhar bem mais quando montei a minha própria companhia. De nada adiantou a preocupação dos meus pais quando eu saí de casa: "quem faz teatro morre de fome em cima do palco". Eu fiz e não morri, pelo contrário, sempre tive sorte - sempre ganhei dinheiro. Mas eu era bom, era o que o público queria. Em 1946 assinava contrato na Rádio Tupi - onde fiquei oito anos. Em 1950 ia para o Rio de Janeiro inaugurar o canal 6, e começava minha vida na televisão. Um dia, num bar que havia pegado ao Teatro Brasileiro de Comédia, entrou Abílio Pereira de Almeida. A televisão estava ligada, o programa era meu. Ele me viu. Uma semana depois, uma série de testes me aprovava para fazer o meu primeiro filme: "Sai da Frente". Meu primeiro salário no cinema - 15 contos por mês. No segundo já ganhava 30, depois 300, hoje eu produzo meus próprios filmes. E o público, como no meu tempo de circo, vai ver um Mazzaropi que faz rir e chorar. Um Mazzaropi que não muda.

Veja- Sua história parece girar em torno de cifras. Você é louco por dinheiro?

Mazzaropi - Não, acho que dinheiro não traz a felicidade na vida. Tá certo que ajuda, mas, em compensação, quem tem, além de viver intranquilo, passa a ter desconfiança em vários setores da vida. Quem tem dinheiro sempre duvida de quem se aproxima - não sabe se é um amigo ou se vem dar uma bicada.

Veja - Quanto você ganha?

Mazzaropi - Mas por que vocês se preocupam tanto com que eu ganho? Vão perguntar pro Pelé, que marcou mil gols. Ele é muito mais rico que eu. Tudo que tenho em meu nome é a casa onde moro. O resto está tudo em nome da Pam-Filmes.

Veja - Tem sócio?

Mazzaropi - Não, não tenho. Tenho o necessário para pensar em fazer amanhã ou depois a indústria cinematográfica de que falei. Tenho câmeras de filmar, holofotes, lâmpadas cavalos, cenários, agências em São Paulo, Rio, Norte do país, e uma fazenda de 184 alqueires no Vale do Paraíba - Taubaté - que serve perfeitamente de estúdio para os filmes que rodo. Como vê, tudo o que ganho é aplicado na Pam-Filmes, no cinema brasileiro. E depois vêm esses críticos de cinema metidos a intelectuais dizendo: "O Mazzaropi tá cheio de dinheiro. Ele tá podre de rico. Não sabe onde por o dinheiro". Não são capazes de entender que eu faço cinema como indústria como qualquer outra. Eu faço o cinema-indústria e vou fazer a indústria brasileira do cinema.

Veja - Acredita mesmo nisso?

Mazzaropi - Acredito e não estou longe dela. Não uma indústria exportadora. Não sou visionário. Uma indústria que seja capaz de suprir o mercado interno de filmes é o suficiente. Não podemos pensar em conquistar o mercado externo - nós não temos nem lâmpadas aqui. Tudo que temos vem de lá. Mas, se nós pudermos ter uma indústria produzindo fitas nacionais, se nossas salas ficassem ocupadas por fitas nacionais, quanto dinheiro nós estaríamos evitando de mandar para fora!


1 - Introdução - Amácio Mazzaropi

2 - Mazzaropi - História de vida

3 - Cinema e Filmes

4 - Teatro e Televisão

 

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