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"O
Brasil é o meu público"
Veja - É um sonho muito bonito. Mas há público no Brasil para fitas
nacionais? Ou seria a falência dos exibidores?
Mazzaropi - Não posso falar pelos outros porque não conheço os resultados dos números daquilo que eles fazem. Tenho muita vaidade em dizer que eu não tenho nenhum problema de exibição de meus filmes. Os exibidores fazem fila na porta da Pam-Filmes. O público vai ver minhas fitas e sai satisfeito. Eu já consegui colocar 13000 pessoas num dia, nas várias sessões do Art Palácio, em São Paulo. Com isso, ando de cabeça erguida. Agora, pelo outro tipo de filme feito no Brasil, não respondo. Não sei se ele pode ajudar a indústria cinematográfica nacional. Veja - Que outro tipo de filme? Mazzaropi - Esse tal de Cinema Novo. Veja - Você é contra o Cinema Novo? Mazzaropi - Não, eu não tenho nada contra ele. Só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas do cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em buscas de emoções diferentes. O público é simples, ele quer rir, chorar, viver minutos de suspense. Não adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põe a boca. Isso é para agradar intelectual. Veja - Você parece ter muita raiva dos intelectuais. Mazzaropi - E tenho mesmo. É fácil um fulano sentar numa máquina e escrever: "Hoje estréia mais um filme de Mazzaropi. Não precisam ir ver, é mais uma bela porcaria". Mas não explicam por quê. Talvez com raiva pelo fato de eu ganhar dinheiro, talvez por acreditarem que faço as fitas só para ganhar dinheiro. Mas não é verdade, porque o maior de todos os juízes fugiria dos cinemas se isso fosse verdade - o público. Veja - O que você acredita oferecer para o seu público? Mazzaropi - distração em forma de otimismo. Eu represento os personagens da vida real. Não importa se um motorista de praça, um torcedor de futebol ou um padre. É tudo gente que vive o dia a dia ao lado da minha platéia. Eu documento muito mais a realidade do que construo. Quando eu falo tanto na parte comercial, não quer dizer que é só com isso que eu me preocupo. Se um crítico viesse a mim fazer uma crítica construtiva, mostrar uma forma melhor de eu ajuda r o público - eu aceitaria e receberia de braços abertos. Mas em momento nenhum aceitaria que ele tentasse mudar minha forma de fazer fitas. Elas continuariam as mesmas, pois é assim que o público gosta e é assim que eu ganho dinheiro para amanhã ou depois aplicar masi na indústria brasileira do cinema. E se os críticos se preocupassem menos com o que eu ganho e mais com as salas vazias do Cinema Novo entenderiam que cinema sem dinheiro não adianta. Que não adianta a gente começar pondo o carro adiante dos bois. Veja - Quanto rendem seus filmes? Mazzaropi - A resposta só pode ser dada pela contabilidade do escritório da Pam. É lá que eu confiro os balanços. De cabeça só tenho as cifras da renda total do filme que exibi no passado: "O Paraíso das Solteironas". Do dia da estréia, 24 de janeiro de 1969, até 19 de janeiro de 1970, o filme rendeu 2 bilhões e 650 milhões de cruzeiros velhos. Veja - Quanto custou a produção? Mazzaropi - Não lembro. Veja - E a do último? Mazzaropi - "Uma Pistola para Djeca" ficou entre 500 e 600 milhões de cruzeiros velhos. É o meu filme mais caro e mais bem cuidado. Colorido especial, guarda-roupa especialmente para o filme, que está, realmente, muito bonito. Procuro sempre melhorar a qualidade técnica dos filmes que produzo. E este o algo mais que eu procuro dar ao público. Infelizmente, o que falta no Brasil é gente inteligente, que entenda de cinema. Faltam diretores, roteiristas, cinegrafistas, falta tudo. Veja - Dos papéis que já representou, qual o mais importante? Mazzaropi - Gostei de todos os filmes que fiz, por isso é difícil dizer qual o papel que mais me realizou. Veja - Não seria "Nadando em Dinheiro"? Mazzaropi - Quem sabe! Não é verdade, é brincadeira. Gostei do Candinho, do Motorista, do Corinthiano, gostei mesmo de todos. Mas talvez eu fique com a opinião do presidente da Academia Brasileira de Letras, que, no dia 17 de janeiro de 1968, escrevia e assinava um bilhete dirigido a mim (eu o guardo até hoje num quadro sobre a lareira da minha sala): "Astraugesilo de Ataide considera que, com "Jeca Tatu e a Freira" Mazzaropi alcançou no cinema o mais alto nível de sua arte. É hoje, sem nenhum favor, um artista de categoria mundial". Veja - Você contou ter entrado no teatro através da pintura. Até hoje você pinta? Mazzaropi - Não, apenas gosto. Veja - Que gênero prefere? Mazzaropi - Sou um conservador, prefiro a pintura clássica. Principalmente dos quadros que têm paisagem, talvez por me fazerem lembrar o campo, o contato com a natureza. Veja - E quanto a leitura? Mazzaropi - Só leio "Tio Patinhas". 1 - Introdução - Amácio Mazzaropi 2 - Mazzaropi - História de vida 3 - Cinema e Filmes
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