VERAS
=====================================================================
Em agosto | |||
|
|||
Nos lagos vê-se a cor das hemoptises e nos montes o azul do firmamento. Rolinhas, patativos e perdizes, em meio ao bosque e em langue abatimento, azas caídas, a soltar piado, buscam, na sombra, paz, frescor e alento. Veste o espaço o enxoval azulejado, feito do fumo das queimadas, denso — feito desse tenuíssimo brocado. Librando, no alto, um gavião, suspenso, solta seus pios tristemente graves, plangentes e tocantes... Em que penso, vendo essa ave inimiga de outras aves, piando, sob o azul, entristecida? Na dor, gavião que vem, em horas suaves, perturbar com seus pios nossa vida. O sol disco purpúreo é fito agora, sem deixar nossa vista dolorida. |
|||
|
|||
Agora ele pletórico não cora as flores dos jardins e das campinas de tons vivazes... como é triste Flora! As plantas não tem viço; as pequeninas flores oscilam-se, no hastil, tristonhas e quase sem perfume. Sol, fulminas aves e flores que eram tão risonhas!... Tu és qual hóstia ensangüentada pelo tato de gentes broncas e bisonhas, sem fé, sem crença, sem temor, sem zelo por cousas sacrossantas, para os crentes, como as hóstias o são e o sete-estrelo. Quero ver-te festivo e resplendente, como um Deus bom — és Bel; não como Siva que se tinge no sangue do inocente... Dá luz à natureza, clara e viva; foge do sangue, sol, não te corrompas no ocidente de rubra perspectiva. Sobe ao zênite e fulge em régias pompas! Vai; e em vez de agitares as tristezas, em ouro e luz, cantante, que prorrompas por entre o bosque e em torno das devesas. Dá a nossa alma a essência da ventura e ao nosso olhar encantos e surpresas. Sofrer não quero mais brutal tortura da nostalgia que me põe sombrio, quando no ocaso vejo-te a figura! De ti o meu olhar, triste, desvio, pois se te fito aí sofro ansiedade, sinto opressão no peito e calefrio que me produz a angustia da saudade. |
|||