Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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Filhos de BG
Pedro B. Guimarães
Horácio Guimarães
Afonso Guimarães

Netos
Alphonsus de Guimaraens  (sobrinho)
José Guimarães Alves
Armelim Bernardo Guimarães

Bisnetos
Alphonsus de Guimaraens Filho (sobrinho)
Mª Ap. Guimarães A. Palma [Mariah]
Isabel Teresa Guimarães Alves
Lívia Alves Guimarães
Rúbio Gama Alves

Trinetos
Maria Fernanda Alves Guimarães
André Nigri
João Bernardo Guimarães
Juliana Rennó Bernardo Guimarães
Marcelo Guimarães


Parentesco dos Guimarães
com os Guimaraens




Depoimento de descendente
José Guimarães Alves (1910-1992), neto

[Palestra proferida em 1946, na Semana de Arte Moderna,
realizada em Belo Horizonte, Minas]

Minhas senhoras, meus senhores: Ao ler os jornais de hoje tive a surpresa de ver-me classificado como um "escritor jovem". É isso, evidentemente, uma bondade que partindo do meu amigo dr. Guimarães Menegale foi encontrar ressonância no afeto dos meus companheiros de jornal e confrades de imprensa. Não sou jovem e tenho dúvidas de que seja escritor. Digo-o sem falsa modéstia e principalmente para merecer de vós todos aquela dose de tolerância devida aos que, embora se oferecendo diariamente ao público em forma escrita nas páginas do jornal, nem por isso chegam a se considerar escritores, as apenas aprendizes. Que o ofício de escritor é longo, longo como tempo que ainda não vivi, e cheio de experiências que ainda não tive, e de livros que ainda não publiquei.

Passando pois desse intróito necessário eu vos falarei sobre Bernardo Guimarães de quem sou neto pelo lado materno.

Esta circunstância, que poderia me dar alguma base para falar sobre o homem, tira-me, por outro lado, a isenção necessária para falar sobe o escritor, romancista e poeta, a cuja memória me prendem laços de veneração e amor.

Uma coisa eu posso afirmar com toda a certeza. A vida de Bernardo Guimarães é muito menor que a soma das anedotas que a seu respeito se contam. O fenômeno se explica quando se sabe que nos serões das velhas cidades mineiras os inventadores de anedotas, desejando prestigiar as próprias criações, só possuíam um recurso: atribuí-las ao velho Bernardo. E com isso o sucesso e a sobrevivência podiam se considerar certos.

Não sou eu quem vai desmentir que Bernardo Guimarães não foi um boêmio. Foi, porém, muito mais no sentido espiritual do homem despreocupado as coisas imediatas da vida, contemplativo e sonhador, do que no sentido material, epicurista. Nesse ponto é que se fez em torno de sua figura de homem um anedotário fabuloso.

Para desmentir isso basta ver que Bernardo Guimarães foi um dos escritores mais fecundos de seu tempo, um dos mais trabalhadores. Tendo morrido com apenas 59 anos, deixou uma obra de 16 volumes, dos quais quatro são de poesias. E 16 volumes são qualquer coisa de respeitável __ mesmo sob o prisma exclusivo do trabalho e não do valor.

Em certa parte, a culpa do anedotário que se ergueu em torno da boemia do velho Bernardo pertence ao próprio Bernardo, ou melhor, ao seu temperamento avesso às convenções sociais

Bacharel em Direito pela Faculdade de São Paulo, veio atrás dele a fama da "Sociedade Epicuréia", que se notabilizou na capital paulista, não só pelo talento de seus três membros __ Bernardo, Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa __ como notadamente pelas extravagância com que abalavam a austeridade dos paulistanos.

Além disso, num tempo em que ser juiz implicava o abandono do riso e da acessibilidade, Bernardo Guimarães foi nomeado juiz __ e de onde, meus senhores? De Catalão, no Estado de Goiás. Hoje,  mesmo com a Panair e a estrada de ferro nos deixando à porta da Comarca, duvido que algum bacharelando aceite o cargo com muita satisfação. E Bernardo aceitou-o e cumpriu-o, sem todavia abandonar suas características e gostos bastante diferentes da sisudez imposta aos julgadores de todos os tempos.

Tinha uma bela voz de barítono e gostava de cantar ao violão, instrumento que tocava muito bem. Além disso desenha e esculpia, habilidades que só mais tarde passaram a ser, em nossa província, recomendações para a capacidade de um homem. E era poeta.

Esses elementos, em jogo com as convenções e preconceito do tempo, deram azo à fábula. E Bernardo vê-se hoje envolto numa auréola de humor boêmio...

Em verdade ele foi um despreocupado da coisas com que os homens se preocupavam, e se preocupava com as coisas que os homens só despreocupadamente se ocupam. Tal como na frase do filósofo chinês.

Amava o imperador D. Pedro II, que lhe oferece o título de barão. Bernardo Guimarães agradeceu e acrescentou, à guisa de explicação da recusa:

- De que vale, Majestade, ser barão sem baronato?

"E ninguém __ dizia-me D. Thereza, a santa esposa de Bernardo __ deixou de censurar o poeta pela recusa".

Ter título de barão era suprema aspiração. Bernardo achava, porém, que era apenas rima.

O seu trabalho intelectual pouco lucro lhe trouxe. Ele nunca vendeu por mais de trezentos mil réis a edição de seus melhores livros. Esse foi aliás o preço dos direitos de "Novas Poesias" adquiridos por contrato assinado a 5 de abril de 1875 pelo editor Garnier. A magistratura e o magistério, exercidos nos lugares mais inóspitos do Brasil, não lhe deram mais interesses que as letras.

Bernardo Guimarães morreu a 10 de março de 1884 em Ouro Preto. Morreu pobre mas não deixou uma dívida sequer. A última conta que pagara em vida __ nota de ironia numa existência sem faustos __ foi uma conta de... perfumes.

Em seu lar existiu todavia tudo o que era necessário para fazê-lo um solar de belezas, de alegrias, de virtudes: o seu amor, imensa paixão pela esposa e pelos filhos, sua tradição de honradez, sua estima à coisas do espírito, sua bondade humana, seu talento e seu...violão.