Por Evan Hadingham:
Visto à distância, o círculo de pedras cinzentas denominado Stonehenge afigura-se pequeno na planície desolada e batida pelos ventos de Salisbury, no sul da Inglaterra. O horizonte ermo e plano é apenas interrompido por Stonenhenge, rodeado de campos de pastagem. Mais próximo do monumento, porém, as dimensões colossais dos blocos de pedra, alguns com mais de 4 m de altura, causam uma viva impressão.
Stonehenge parece desafiar as forças do tempo e da Natureza, bem como as pretensões dos que procuram descobrir seu significado. Podem interrogar-se cem vezes estes gigantes de pedra tosca que tristemente contemplam os seus companheiros derrubados; a nossa curiosidade, porém, abate-se ante o vasto silêncio luminoso que os envolve...
Mais antigo que os Druidas:
No século XVII, anteriormente ao advento da arqueologia como ciência, os historiadores pensavam que Stonehenge fora construído pelos druidas, os sacerdotes vestidos de branco dos celtas da Grão-Bretanha e da Gália, dos quais se tinha conhecimento através de referências da autoria de escritores romanos. Atualmente, esta idéia é ainda largamente difundida, embora não contribua minimamente para esclarecer o mistério, pois é do conhecimento geral que Stonehenge já existia, pelo menos, 1000 anos antes dos druidas.
No entanto, a teoria dos druidas não é de modo nenhum a mais rebuscada das várias explicações oferecidas por arqueólogos e historiadores para explicar a existência de Stonehenge.
O interesse por tão fantasiosas idéias foi ainda intensamente estimulado após a descoberta nas proximidades de várias sepulturas pré-históricas contendo punhais de bronze e ornamentos de uso pessoal de folha de ouro, osso, âmbar, cerâmica e pedra polida.
A mais famosa descoberta deste tipo foi relatada em 1808 pelo conhecido arqueólogo inglês Sir Richard Colt Hoare, que organizou a escavação de um monte funerário pré-histórico muito próximo de Stonehenge. Deparou-se-lhe o esqueleto de um homem alto e vem constituído, junto do qual se encontravam um machado, vários punhais e objetos de cerimonial, incluindo uma clava com a parte superior de pedra polida e engastes de osso trabalhado. Havia ainda um gancho para bainha de espada de ouro, delicadamente lavrados com uma profusão de linhas e que provavelmente estariam presos ao vestuário do morto.
A magnificência destes túmulos dourado, aliada ao caráter único da arquitetura de Stonehenge, sugeriu a Sir Richard e aos seus contemporâneos a concepção de que os bretões antigos teriam certamente importado ad técnicas que utilizavam. Alguns arqueólogos atribuíram a grande riqueza destes túmulos a um pequeno invasor de guerreiros da idade do bronze que se teria fixado em Stonehenge e orientado a população nativa menos qualificada na construção do monumento. Um dos lugares de origem propostos para estes invasores foi Micenas, a grande cidadela homérica, no continente grego. Alguns dos objetos preciosos, nomeadamente as contas de cerâmica e os discos de âmbar ligados como ouro, indicavam relações comerciais com a região do mar Egeu e remotamente com e Egito.
Outro local de origem atribuído a estes invasores da idade do bronze seria a Bretanha, região famosa pelos espetaculares monumentos de menires - grandes pedras fixadas na posição vertical-, como os que existem em Carnac, onde milhares de enormes blocos se encontram dispostos em filas paralelas.
Também nesta zona se concentra o maior número de túmulos individuais de guerreiros ostentando riquezas notáveis, se bem que não existam provas de que foi este povo da idade do bronze o construtor das pedras de Carnac. Não há dúvida, porém, de que o tipo de objetos descobertos nos montes funerários da Bretanha, especialmente os punhais de bronze, apresentam semelhança flagrantes com os da região de Stonehenge.
Relacoes comerciais com o mediterraneo:
A determinação de uma nova data para Stonehenge (cerca de 2.750 ac) obtida pelo processo do carbono-14 causou grande surpresa no meio arqueológico. O plano Stonehenge não poderia incontestavelmente ter-se inspirado na arquitetura da zona do mar Egeu, pois pertencia a uma época anterior; cerca de quatro ou cinco séculos - ao período micênico. Do mesmo modo, as datas de dois dos túmulos dourados eram muito mais tardias do que se presumia, e assim alguns objetos exóticos – os discos de âmbar e as contas de cerâmica - poderiam na realidade ter sido adquiridos ou importado do Mediterrâneo. Admite-se ainda a possibilidade de que, pelo mentos durante parte do período de prosperidade e poder da região de Stonehenge depois de cerca de 1.900 ªc , ali se tivessem fixado guerreiros bretões, que constituiriam o núcleo de uma aristocracia que governou pelo menos durante 600 anos.
Importantes locais de reuniao:
De um modo geral, os círculos de pedra em torno de sepulturas são mais freqüentes no Norte que no Sul da Grã-Bretanha; estes monumentos assinalam provavelmente os túmulos de chefes ou grandes guerreiros importantes.
Na última década, o interesse do grande público foi despertado por determinadas teorias que apresentavam Stonehenge como um complicado observatório astronômico, talvez mesmo uma espécie de computador pré-histórico.
A estrutura de Stonehenge parece ainda incluir alinhamentos relativos ao nascer e ao ocaso da Lua. A curiosidade ciêntifica ou objetivos religiosos, ou provavelmente ambos, poderiam explicar o estudo sistemático dos movimentos da Lua levados a efeito em Stonehenge. O interesse dos construtores pela Lua pede perfeitamente ter sido despertado quando chegaram a conclusão de que a Lua não segue os movimentos anuais do sol.
Na realidade, além do seu próprio esquema mensal relativo ao nascer e ao ocaso, a Lua segue um outro ciclo que dura 18,61 anos. Próxmo da entrada do monumento, cerca de 40 pequenas covas para a fixação de postes, agrupados em seis filas, coincidem de modo notável com a posição mais setentrional da Lua durante este ciclo. Dado que as filas são em número de seis, é possível que estes postes correspondam a seis ciclos lunares, ou seja a mais de um século de meticulosa observação dos movimentos da Lua.
A explicação definitiva está, porém, longe de ser alcançada, pois o monumento conserva um halo misterioso que tem resistido, durante séculos, a pesquisas e suposições. Se Stonehenge foi muito provavelmente um observatório e um templo, pode também ter servido outros objetivos que continuam a pertencer ao reino do desconhecido.
FONTE: OS ÚLTIMOS MISTÉRIOS DO MUNDO - SELEÇÕES DO READER'S DIGEST.
|