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Edema não-cardíaco
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Edema Pulmonar Não-Cardiogênico

 

Durante os períodos de guerra, foram feitas correlações entre manifestações pulmonares e episódios prolongados de hipertensão ou mesmo choque hemorrágico, em soldados feridos em batalha.

 

Durante a primeira guerra mundial foi descrito o colapso pulmonar maciço; na segunda guerra, o pulmão encharcado; na guerra da Coréia, a atelectasia congestiva; e na guerra do Vietnã, o pulmão de choque.

 

Estas entidades descritas com diferentes nomes em períodos diferentes tinham todas em comum sua seqüência evolutiva, em que quatro etapas sucessivas ocorria, como a seguir vai exposto:

 

1. Hipoxemia inicial que marcava o início da aparente recuperação do quadro de choque prévio;

2. a este, seguia-se um período de estabilização do status clínico que perdurava por horas ou mesmo dias, após o que, de modo surpreendente, o paciente era tomado por um quadro de

3. angústia respiratória associada a taquipnéia, dispnéia intensa insuportável, taquicardia e cianose rapidamente progressivas, durante a qual surgem imagens radiológicas de condensação, confluentes, que evoluíam para opacificação pulmonar total

4. Por fim, estabelecia-se um quadro de hipoxemia grave refratária (PaO2 < 60 mmHg com o paciente respirando oxigênio a 100%), hemorragia digestiva e morte.

 

 

Foi somente em 1967 que Asbaugh e Petty descreveram cuidadosamente uma Sindrome de angústia respiratória do adulto (SARA), caracterizada por insuficiência respiratória aguda com hipoxemia progressiva grave, refratária à oxigenioterapia, associada a infiltrados pulmonares bilaterais e queda na complacência pulmonar, um quadro que se instala após horas de agressão a um pulmão previamente normal.

 

Essa condição clínica tem desafiado todo o arsenal terapêutico tecnológico posto ao serviço da Medicina, uma vez que permanece com uma taxa de mortalidade inaceitavelmente elevada, oscilando de 50% a 80% nas melhores unidades de terapia intensiva dos EUA.

 

Qualquer que tenha sido a etiologia da SARA, caracteristicamente existe um aumento no volume de água extravascular (edema pulmonar) em indivíduo com função cardíaca esquerda normal.

 

Esse edema ocorre em conseqüência de lesão endotelial com aumento na permeabilidade capilar, associado a aumento na tensão superficial alveolar; por isso mesmo, o líquido do edema é rico emproteínas, tem maior pressão oncótica e facilita transudação adicional.

 

A SARA é observada mais amiúde em associação a sépsis; contudo, é também uma complicação de traumatismos importante, tais como aspiração do conteúdo gástrico, múltiplas transfusões de sangue, overdose de drogas e infeções pulmonares primárias.

 

 

 

 

Etapas Evolutivas

Três fases histopatológicas da SARA foram descritas:

1. Exsudativa

2. Proliferativa

3. Fibrótica

 

 

A fase inicial Exsudativa (24 a 96 horas) caracteriza-se pela morte das células alveolares tipo I, microatelectasias regionais e acúmulo de edema rico em proteína e fibrina com tumefação das células endoteliais.

 

A ativação dos neutrófilos mediada pelo complemento constitui um aspecto inicial e contribui para a lesão endotelial.

 

A segunda fase, Proliferativa, caracteriza-se pela formação de membranas hialinas e pela rápida proliferação das células alveolares tipo II.

 

A fase crônica ou Proliferativa tardia caracteriza-se por fibrose disseminada.

 

 

 

 

Principais Causas

As condições clínicas mais freqüentemente associadas à SARA são: sepsis, infeção pulmonar, Politraumatismos, toxicidade pelo o-xigênio, uso de drogas (heroina, propoxifeno, salicilatos), inalação de fumaça e aspiração de conteúdo gástrico.

 

 

 

 

Diagnóstico

Para o diagnóstico, é necessário que o paciente não seja portador de doença pulmonar prévia ou insuficiência cardíaca esquerda; o diagnóstico está feito quando há um quadro clínico compatível, dentro do contexto de risco já citado, associado às imagens radiológicas de condensação difusas, confluentes, evolutivas e PaO2 < 50 mmHg com paciente respirando ar com FIO2 > 0,6.

 

 

 

 

Evolução

A evolução da SARA comumente é rápida; a princípio, existe apenas sinais e sintomas da condição que levou à SARA.

 

O início da SARA pode ser extremamente rápido (por exemplo, 1 à 2 horas), porém é mais freqüente o seu aparecimento 24 à 48 horas após o evento precipitante, quando estabelece-se o edema pulmonar, com o paciente exibindo dispnéia, hiperventilação, estertores crepitantes e infiltrados finos à radiografia de tórax.

 

Num ritmo rapidamente progressivo, aparecem os infiltrados bilaterais, a hipoxemia refratária ao oxigênio e a grave queda na complacência, com pulmões rígidos quase inexpansível levando o sofrimento respiratório ao doente.

 

A SARA produz lesões pulmonares heterogêneas, sendo que as bases pulmonares são afetadas mais intensamente.

 

As conseqüências fisiopatológicas da SARA incluem hipo-xemia grave, diminuição da complacência pulmonar, redução da capacidade residual funcional, aumento da ventilação de espaço-morto, aéreas de efeito shunt verdadeiro, hipertensão arterial pulmonar e a criação de um "nicho" para infeção pulmonar superimposta.

 

 

 

 

 

 

Refratariedade da Hipoxemia

Um dos aspectos mais alarmantes da Sindrome de angústia respiratória do aluno é a impossibilidade médica de corrigir a hipoxemia por aumento na FIO2, atitude que se mostra muito eficaz na hipoxemia do edema agudo de pulmão e mesmo na DPOC, porque o mecanismo fisiopatológico subjacente é o desequilíbrio na relação ventilação/perfusão nestes, mas na SARA ocorre shunt verdadeiro (ao invés de apenas efeito shunt).

 

Mesmo a administração continuada de oxigênio a 100% não corrige a hipoxemia da SARA porque nesta decorre de shunt verdadeiro, não havendo qualquer contato entre o sangue venoso e o ar alveolar enriquecido com oxigênio; na maioria dos casos de SARA, a percentagem de débito cardíaco que segue pela via em shunt corresponde a 30-60%.

 

O que pode ser feito, ainda que de modo precariamente satisfatório, é a respiração por pressão positiva no final da expiração (PEEP), em que o aumento na pressão do ar contido na via aérea retarda seu colabamento expiratório, aumento os volumes pulmonares e melhora as trocas gasosas alvéolo-capilares.

 

Contudo, a maior compressão dos vasos pulmonares pela pressão alveolar assim aumentada poderá reduzir o já comprometido retorno venoso ao coração esquerdo, com queda adicional no débito cardíaco e instabilidade hemo-dinâmica que pode evoluir para a Sindrome de choque.

 

A causa do óbito nos pacientes que desenvolvem a SARA usualmente não é a insuficiência respiratória. As mortes precoces comumente se devem à enfermidade de base, enquanto que as mortes tardias estão relacionadas com as complicações do tratamento desse tipo de paciente. A infeção pulmonar secundária é uma complicação comum da SARA.

 

Dos pacientes que sobrevivem à SARA, aproximadamente um terço permanece com sintomas pulmonares persistentes.

 

                               

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