Revista Época (Edição 224) Como
em outros tempos de crises e graves tensões internacionais, a crença de
que o fim do mundo está próximo ganha força. Nos EUA, 170 milhões de
pessoas acreditam nisso. No Brasil, 36 milhões vivem à espera do
apocalipse |
|
Ler o jornal de manhã pode ser uma experiência desagradável para qualquer um. Bombas terroristas no Oriente Médio, enchentes na Europa, recessão nos Estados Unidos, violência no Rio de Janeiro, seqüestro em São Paulo. Para milhões de pessoas, esses pequenos fatos dramáticos da vida cotidiana indicam uma tragédia terrível – o fim do mundo. Para João Bianchi, um escritor português que reside em Lisboa, não é diferente. A diferença é que, depois da leitura, Bianchi se senta diante do computador e registra detalhadamente, em seu site, os sinais diários de que o mundo vai acabar (http://www.amen-etm.org/grandessinaisdostempos.htm). Católico carismático, Bianchi usa a internet para avisar que os atentados de 11 de setembro foram o início do fim, adverte que os livros de Harry Potter induzem ao satanismo e registra mensagens de Nossa Senhora sobre o Armagedon, recebidas, segundo ele, por diversos videntes. 'Depois do afastamento do papa João Paulo II, o fim virá num prazo máximo de três anos e meio', declarou, em entrevista por e-mail a ÉPOCA. Bianchi, cujo site é lido principalmente por brasileiros, faz parte de um exército que cresceu espantosamente nos 12 meses após os atentados ao World Trade Center: o dos religiosos que consideram próximo o fim do mundo, e conseqüentemente a volta do Messias, para julgar os vivos e os mortos. Como João Bianchi, há autores de sites católicos, evangélicos e até judaicos que tratam do assunto. O mecânico de aviões Todd Strandberg, de Nebraska, nos Estados Unidos, publica um índice-do-fim-do-mundo, empregando um modelo semelhante ao do mercado financeiro para o risco país. Contabiliza 45 tipos de evento, de terremotos a crimes satânicos, e diz que acima de 145 pontos o estado é de alerta máximo – categoria 'Apertem os cintos'. Na semana passada ele registrava 174. Nos EUA, pela primeira vez desde 1994, o best-seller do ano não é um livro de John Grisham. O autor de romances de tribunal foi destronado pelo oitavo livro de uma saga apocalíptica. Escrito por um pregador batista, Tim LaHaye, e um jornalista, Jerry B. Jenkins, Deixados para trás romanceia o drama do fim do mundo, quando o anticristo – um aparentemente inofensivo presidente da ONU – chega para causar a 'grande tribulação' prevista na Bíblia. Com 32 milhões de exemplares em sua versão para adultos e outros 18 milhões em quadrinhos e livros infantis, a série é um dos maiores sucessos da história editorial. Tanto que mereceu uma reportagem de capa da revista Time, no início de julho. A revista diz que 59% dos americanos, cerca de 170 milhões de pessoas, acreditam que o mundo acabará da maneira descrita no Apocalipse. |
|
No Brasil, a editora United Press já lançou nove livros de LaHaye e Jenkins, e o último da saga apocalíptica sairá no fim do ano. As vendas somam 130 mil volumes, desempenho extraordinário no mercado nacional. É mais que os últimos cinco títulos de Lair Ribeiro, guru da auto-ajuda. O fim do mundo é tema freqüente de sermões dominicais em cultos e missas. Para todos os 26 milhões de evangélicos, além dos 10 milhões de católicos carismáticos, o apocalipse está próximo. |
|
Eles acreditam que o Juízo Final pode chegar a qualquer momento ('Não vos compete conhecer tempos ou épocas', disse Jesus) e se mantêm preparados para o acontecimento. Grupos de estudo se debruçam sobre o assunto em centenas de igrejas. O sistema de busca Google registra 16.400 páginas em português sobre o tema. O sociólogo Ricardo Mariano, o mais importante estudioso do crescimento evangélico no Brasil, calcula em 1 milhão o número de fiéis de igrejas cuja mensagem principal é a iminência do fim. 'O assunto entra e sai de moda. Andou esquecido durante muito tempo, mas faz parte desse repertório cultural, e voltou com força depois dos atentados', diz Mariano. As denominações evangélicas que mais crescem no Brasil enfatizam o sucesso na vida e a prosperidade, em lugar do arrependimento antes do Juízo Final. Mas mesmo nelas o apocalipse é assunto recorrente. A Igreja Apostólica Ministério Comunidade Cristã, com 140 mil seguidores, é um bom exemplo. O bispo Alcimar de Paula, que chefia oito templos em Salvador, evita comentar o Juízo Final em seus cultos. 'As pessoas já sofrem tanto, não precisam vir para cá para ouvir notícias ruins', diz. Mas os fiéis o abordam constantemente para falar sobre o tema, e ele próprio tem a certeza de que o fim está próximo. Na casa de Alcimar, o apocalipse é assunto corriqueiro. Ele conversa abertamente sobre isso com a mulher, psicóloga, e os dois filhos. 'A Bíblia diz que haverá sete reis ligados ao anticristo. Quando o mundo começa a se juntar em blocos como a União Européia e a Alca, o que isso significa?', provoca. Em todo o país, fiéis e pregadores enxergam os mais diversos sinais. 'No século XIV houve 137 terremotos no mundo. No século XX foram mais de 3 mil', contabiliza Eliezer Morais, pastor da Assembléia de Deus em Porto Alegre. |
CONVERSANDO :::: INTRODUÇÃO :::: MUNDO :::: BRASIL :::: LIBERTAÇÃO ::::: CARISMÁTICOS
PAPA ::::: INTERNET ::::: CONCLUSÃO ::::: EMPRESA ::::: BIBLIOGRAFIA ::::: CURRÍCULO