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Conversando com Deus

Um cenário limpo. Fundo azul. Deus fala para a câmera. “Meus filhos, boa noite. Eu sou Deus Vosso Senhor. Se me permitem a imodéstia, acho que não preciso me apresentar. Meus currículo é conhecido de todos. Criador do céu e da terra, etc. A minha vida é um livro aberto e se chama Bíblia. Minha assessoria me advertiu que estaria havendo uma certa falta de comunicação entre nós e que existiria algumas dúvidas sobre o meu trabalho, os meus métodos – enfim sobre qual é a de Deus, afinal. Por isto optamos por este formato de uma conversa descontraída, sem trovões, sem relâmpagos, sem efeitos especiais ou anjos com clarins, apenas um papo informal entre criador e criaturas.

Antes de mais nada, quero esclarecer que, ao contrário do que alguns jornais andaram publicando, escolhi a Globo para falar com vocês do Brasil por uma razão muito simples, que não tem nada a ver com Ibope, cachê, favoritismo ou qualquer pretensão com o Ratinho. É que o doutor Roberto foi o único que me contatou diretamente.

E aqui estou eu para responder às suas perguntas. Sei que muitas vezes o que faço parece incompreensível. Quantas vezes você não se perguntou por que eu fiz isto ou aquilo, não é verdade? Quantas vezes, quando estragou o ar-condicionado no cinema ou o filme saiu de foco, você não olhou para o alto e disse ‘Ó Deus’, cobrando uma providência divina? Quantas vezes você se perguntou por que existem os desastres naturais, e a caspa, e aquele nervinho de carne que fica grudado entre os dentes, e o Sérgio Naya, e os alarmes de carro que disparam e não aparece ninguém para desligar, e a colher que caiu dentro do molho e depois lambuza a mão, e a doença, e a morte e o IPMF? Por que uns tiram a sena acumulada e eu não ganho nem rifa? Qual é a de Deus afinal? Pensam que eu não sei? Eu sei de tudo. Sei o que você pensa a cada minuto. Pelas minhas costas ninguém fala!

Posso responder a todas as suas perguntas. O caso do El Niño, por exemplo. Como todos sabem, o tempo é o maior problema da minha administração. Requer uma organização interna, difícil de controlar, e os encarregados nem sempre estão à altura de suas tarefas. Mantenho São Pedro na chefia do setor por que foi um dos nossos primeiros companheiros, mas a muito ele perdeu seu interesse no trabalho e o resultado é que o clima no mundo está uma confusão. Estamos tentando melhorar, no entanto, e pensando inclusive, em terceirizar o serviço, e em pouco tempo tudo voltará ao normal. Aproveito a oportunidade para dizer que são infundadas as notícias de que um meteorito se chocará com a Terra em breve e a destruirá. Não temos nenhum plano de acabar com a Terra em um futuro próximo, inclusive porque ela tem um valor sentimental para a nossa família.

Selecionei algumas cartas para responder no ar. A Ivani, de Londrina, Paraná, me pede para arranjar um encontro dela com o Fábio Jr.. Ivani, acho que você não pegou bem o espírito do programa. E o Leôncio, de Santo Antônio, no Rio Grande do Sul – velho Antônio, escreve: ‘Gostaria que o Senhor explicasse para que existem as unhas do pé. Deixa ver. As unhas do pé, por que eu criei as unhas do pé... Faz tanto tempo... Mas vejo que o nosso tempo está se esgotando. Mandem suas cartinhas! Tentarei explicar todos os meus atos numa linguagem acessível, sem tecnicalês, que qualquer leigo pode entender. Se preferir telefonar, o prefixo do céu é 02, porque 01 é os Estados Unidos. Só não atenderei se estiver em reunião. Ou então usem meu e-mail, poderosíssimo@com.ceu.

Até a próxima e fiquem comigo.”

                                                   Luiz Fernando Veríssimo[1]  

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[1] Revista Domingo – Jornal do Brasil

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