
Einstein
na ETH e a busca do primeiro emprego.
Em 1896, após a
conclusão do secundário, ele é aceito na ETH como estudante de
matemática e física, mas, para sua surpresa e decepção, a Escola
Politécnica não atendia suas expectativas. Ao contrário da escola de
Aarau, onde as aulas se desenvolviam em estimulantes discussões, na
ETH os professores se contentavam em ler, em voz alta, livros
inteiros! Para fugir do tédio de aulas tão monótonas, Einstein
decide "gazeteá-las", aproveitando o tempo livre para ler obras de
física teórica. Devora livros e mais livros que os professores da
ETH deixavam de lado: Boltzmann, Helmholtz, Hertz, Kirchhoff,
Maxwell, entre outros. Aqui, como no ginásio alemão, ele atrai a má
vontade dos seus professores, e isso lhe custará caro. Para ilustrar
a imagem que alguns professores tinham de Einstein, conta-se que
Minkowski teria dito, alguns anos depois do artigo sobre a teoria da
relatividade: "para mim isso foi uma grande surpresa, porque na
época dos seus estudos Einstein era um preguiçoso. Ele não
demonstrava qualquer interesse por matemática" (Feuer, p.94).
Esses quatro anos
passados na ETH (1896-1900) são apenas superficialmente documentados
na literatura. Nas suas notas autobiográficas (Schilpp, p. 3-95),
Einstein diz que ali teve excelentes professores, mas menciona
apenas dois: Hurwitz e Minkowski. Confessa que passou a maior parte
do tempo nos laboratórios, fascinado com as experiências, e que era
aluno negligente na maioria dos cursos; confessa também que usou os
apontamentos de um aluno aplicado para se submeter aos exames.
Sabe-se hoje que esse colega era Marcel Grossmann (Levy, p.32;
Fölsing, p.53), a quem Einstein dedica sua tese de doutorado, "Sobre
uma nova determinação das dimensões moleculares" ("Eine neue
bestimmung der moleküldimensionen"), apresentada na Universidade de
Zurique em 1905.
São as cartas
trocadas entre Einstein e Mileva Maric, sua primeira mulher (Renn e
Schulmann), que melhor esclarecem esse período passado na ETH.
Sabe-se, a partir desse material, que ele adora ler Helmholtz e
Hertz. Essas leituras constituem, provavelmente, o impulso inicial
para a teoria da relatividade. Vejamos o que ele diz em carta de
1899: "(...) estou relendo Hertz, a respeito da propagação da força
elétrica, com muito cuidado, porque não entendi o tratado de
Helmholtz sobre o princípio da mínima ação em eletrodinâmica. Estou
cada vez mais convencido de que a eletrodinâmica dos corpos em
movimento, como é apresentada hoje, não corresponde à realidade, e
que será possível apresentá-la de modo mais simples. A introdução do
termo 'éter' em teorias de eletricidade levou à concepção de um meio
cujo movimento pode ser descrito sem ser possível, creio eu,
atribuir um sentido físico a ele. Acho que as forças elétricas podem
ser diretamente definidas apenas para espaços vazios - algo que
Hertz também enfatiza" (Renn e Schulmann, p. 49). Em outra carta do
mesmo ano, ele diz: "Tive uma boa idéia em Aarau para investigar a
maneira com que o movimento relativo de um corpo com relação ao éter
luminífero afeta a velocidade de propagação da luz em corpos
transparentes. Até pensei em uma teoria sobre o fenômeno que me
parece bastante plausível" (Renn e Schulmann, p.54).
A despeito de toda
privação material a que estava submetido, chegando mesmo a passar
dias alimentando-se precariamente, o ambiente cultural de Zurique
lhe proporcionava momentos de grande felicidade. Como se sabe, nessa
parte da Europa central estavam em gestação naquele momento as três
grandes revoluções da virada do século: o marxismo, a psicanálise e
a física moderna. A agitada Zurique é então considerada o berço
pacífico das revoluções européias; por ali circulam personalidades
hoje famosas: Lenin, Trotsky, Plekhanov (para alguns o grande mentor
da revolução soviética), Rosa Luxemburg, Théodor Herzl (o fundador
de Israel), Chaim Weizman (o primeiro presidente de Israel). Nas
repúblicas estudantis se discute o socialismo, e o clima de
liberdade é inebriante. Ao chegar a Zurique, em 1900, para trabalhar
no hospital psiquiátrico Burghölzli, Jung logo percebe, como
declarou anos depois, essa atmosfera de liberdade (Feuer, p.33).
É nesse ambiente
cultural que o jovem Einstein forja sua cultura científica. Lê Kant
entre a adolescência e a juventude e se inicia, durante o período da
ETH, na leitura de autores socialistas, particularmente Marx e,
evidentemente, Mach. Tais leituras foram, aparentemente, induzidas
pelo seu colega Friedrich Adler. Estudante de física com propensão à
filosofia, Adler era verdadeiramente um ativista político e, já na
adolescência, um inveterado leitor dos clássicos do marxismo. Mais
tarde abandona a carreira científica para se dedicar à política,
ocupando vários cargos importantes no partido socialista austríaco.
Em 1916 choca o mundo ao assassinar o primeiro ministro da Áustria.
Seu julgamento, em 18 e 19 de maio de 1917, resulta na condenação à
morte; posteriormente teve sua pena comutada para prisão perpétua, e
ao final da guerra foi anistiado. Para Einstein, Adler parecia ser o
único estudante que havia realmente entendido o curso de astronomia
(Feuer, p.38). Esta capacidade intelectual de Adler parecia vir do
berço; para Engels, Victor Adler, pai de Friedrich, era "o mais
capaz entre os chefes da Segunda Internacional" (Feuer, p. 48).
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