
O
Túnel do Tempo
Os físicos estão
correndo atrás de um antigo sonho: a viagem no tempo que, na teoria,
já é possível. O Sonho Secreto dos Físicos : Eles não contam para
ninguém e não gostam de comentar o assunto em público.
Não existe sonho mais fantástico do que viajar através do tempo,
voltar ao passado ou avançar pelas décadas à frente. Nenhum
cientista pode sonhá-lo em público sem correr o risco sério de dar
uma de maluco. Mas agora, para surpresa dos próprios físicos, a
possibilidade de atravessar os séculos para a frente e para trás não
pode ser de forma alguma descartada. Desde o final da década passada
o físico americano Kip Thorne, do Instituto de Tecnologia da
Califórnia, trouxe à tona um objeto simplesmente estupendo: o
wormhole, que, em inglês, quer dizer buraco de minhoca. Com esse
nome nada futurista, até meio invertebrado, o wormhole pode ser a
peça-chave de um futuro ônibus do tempo. E o que é esse bicho? É uma
espécie de túnel que, segundo a teoria, pode existir no Universo.
Como se fosse um atalho cósmico, ele ligaria pontos superdistantes
de um modo tal que, se alguém pudesse caminhar por ele, chegaria
rapidamente à outra extremidade. Ou seja, ganharia um tempo enorme.
A idéia de Thorne, então, seria aproveitar esses túneis, deslocando
suas extremidades para os pontos desejados e conseguir, com idas e
voltas por dentro deles, saltos não apenas no espaço, mas também no
tempo. Por enquanto, essa máquina do tempo só existe na teoria. Mas,
exatamente porque só existe na teoria, tem aquele fascínio dos
aviões e helicópteros esboçados nas pranchetas do século XV pelo
italiano Leonardo da Vinci. Como o velho gênio italiano, Kip Thorne
foi além dos limites do que é possível em sua era. Ir para a frente
é fácil. Duro é andar para trás. Você pode não levar a sério, mas
viajar no tempo não é apenas possível. É até inevitável, em certas
circunstâncias. A ciência sabe disso desde 1905, data em que o
alemão Albert Einstein formulou a Teoria da Relatividade. "O
princípio é muito simples", disse o americano Michael Morris, da
Butler University, em Indianápolis, pesquisador vital nos mais
importantes avanços da atualidade. "Basta embarcar numa nave que
alcance velocidade bem próxima à da luz, de 300 000 quilômetros por
segundo", explica Morris. "Automaticamente o tempo na nave vai
começar a passar mais devagar do que na Terra." Na volta, portanto,
o viajante estará mais jovem do que os que não voaram. Em números,
se o relógio da nave, nessa velocidade, marca a passagem de 12
horas, os da Terra marcam muito mais: uma década. Ou seja, em
relação a quem ficou aqui, o viajante terá feito uma travessia de
dez anos para o futuro. Já não há dúvida alguma sobre esse efeito,
que foi testado e comprovado exaustivamente nos últimos trinta anos.
A precisão dos resultados só não é maior porque, como as velocidades
usadas são muito inferiores à da luz, o ritmo do tempo também não se
altera muito. Assim, as viagens já feitas ao futuro geralmente são
curtas, da ordem de frações de segundo. Mas a possibilidade, hoje, é
um consenso tranqüilo entre todos os físicos, diz Morris. Em 1985,
ele embarcou numa investigação muito mais complicada: era a
possibilidade de viajar para o passado. A história começou com um
telefonema do astrofísico, divulgador científico e escritor Carl
Sagan, da Universidade Cornell, a um amigo. O amigo era o físico
teórico Kip Thorne, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Sagan
estava escrevendo o romance Contato, lançado no Brasil em 1986.
Queria saber se era cientificamente plausível viajar pelo "hiperespaço",
que na ficção-científica é um meio de cruzar imensas distâncias
quase instantaneamente. Foi então que, decidido a mergulhar no
assunto, Thorne convocou Morris para ajudá-lo nas pesquisas. Thorne
chegou a uma conclusão extraordinária: o imaginário hiperespaço
talvez pudesse viabilizar as expedições no tempo. E com destino ao
passado, tanto quanto ao futuro! Em 1994, ele lançou um livro
clássico com essas conclusões: Black Holes and Time Warps (Buracos
Negros e Dobras no Tempo, ainda não editado no Brasil).
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