
Como tirar as dúvidas?
Antes de começar a falar em passeios ao passado, duas coisas
precisam ficar claras. Primeiro, a possibilidade é real, existe
mesmo. Não é mágica, não é bruxaria. Segundo, essa possibilidade
está sendo estudada com extrema cautela, pois os conhecimentos
atuais da Física podem não ser suficientes para resolver as dúvidas
que ainda existem. Enfim, os meios materiais para construir uma
máquina do tempo como a que a teoria sugere estão muito além da
tecnologia disponível. Muito, muito além. Como escreveu Thorne em
seu livro: "Mesmo se as máquinas do tempo fossem possíveis pelas
leis da Física ainda estaríamos mais longe delas do que o homem das
cavernas estava das viagens ao espaço". Como cavar um buraco de
metrô no espaço vazio. Para viajar no tempo da maneira como o
teórico americano Kip Thorne visualizou é preciso embarcar num
paradoxo: abrir um buraco no espaço vazio, bem do tipo que liga nada
a lugar nenhum. Para entender melhor, pense por um momento nos
buracos negros. Eles nascem quando uma estrela superpesada (pelo
menos três vezes e meia maior do que o Sol) se apaga e fica sem
energia luminosa. A estrela escurecida desaba sobre si mesma,
produzindo uma esfera absolutamente preta, ultracompacta, com uma
força gravitacional apavorante. Traga até mesmo os raios de luz.
Dentro dela, ninguém sabe direito o que existe. Certamente não é o
espaço comum. Será que, entrando lá, alguém iria sair em outro lugar
do Universo?
Passeio num wormhole
Em 1986, Thorne já sabia que não. Tudo o que cai num buraco negro é
esmagado. Propôs então viajar dentro de wormholes, os tais "buracos
de minhoca" que já eram descritos em outros estudos de Cosmologia. A
grande vantagem dos wormholes (que são conhecidos apenas em teoria)
sobre os buracos negros é que, apesar de também ter densidade
altíssima, eles não trituram ninguém. Mais do que isso: como os
wormholes têm duas bocas, situadas em locais diferentes do Universo,
seriam os túneis ideais. Só faltava direcioná-los. A partir da
Teoria da Relatividade — que ensina que um relógio em movimento
marca o tempo mais devagar em relação a um relógio que está imóvel
—, Thorne imaginou pôr uma das bocas de um wormhole dentro de uma
nave, mandando-a para uma velocíssima viagem. A outra boca ficaria
na Terra. Na volta, uma das bocas, a que viajou, estaria atrasada no
tempo. É claro! Se essa viagem acontecesse hoje, numa velocidade bem
próxima à da luz, bastariam 12 horas de passeio para conseguir um
intervalo de dez anos na Terra. Pronto! Sai um túnel do tempo para
viagem: uma das bocas estaria em 2008; a outra, em 1998. E quanto
tempo levaria para atravessar o túnel do tempo depois de pronto?
Menos de 1 segundo.
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