Realismo e Naturalismo
 

- Olavo Bilac -

  Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro, a 16 de dezembro de 1865. Só conheceu o pai aos cinco anos de idade, quando o mesmo voltou da Guerra do Paraguai. Teve uma infância povoada de histórias e hinos militares. Em 1888 lançou o livro "Poesias", após abandonar os cursos de Medicina e Direito; dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Republicano e nacionalista, escreve, em 1889, a letra do "Hino à Bandeira"; mais tarde, por fazer oposição ao governo de Floriano Peixoto (a quem dedicou poesias satíricas), é exilado em Ouro Preto, Minas Gerais. Em 1907 é eleito, pela revista "Fon-Fon", o primeiro "Príncipe dos Poetas". Inicia suas campanhas cívicas em 1915: alfabetização e serviço militar obrigatório; funda, no ano seguinte, a Liga de Defesa Nacional. Morre em 18 de dezembro de 1918, no Rio de Janeiro.
  É o único dos grandes poetas parnasianos a já iniciar sua obra apresentando as características do movimento. Desde o início buscou a perfeição formal; tinha a preocupação de escrever versos alexandrinos e concluir com "chaves de ouro" brilhantes, mesmo que para isso fosse necessário assumir uma postura forçada. Vale-se de uma linguagem trabalhada com constantes inversões da estrutura gramatical, buscando um efeito melhor (seu amor pela língua seria coroado pelo soneto "Língua portuguesa").

  Bilac não foge à regra do Parnasianismo, colocando-se à margem dos grandes acontecimentos políticos e sociais do seu tempo. Assumiu apenas posições republicanas conservadoras e um nacionalismo cada vez mais exagerado à medida que o tempo passava (suas prisões políticas e seu "exílio" resultam disso, e não de uma militância política). Ignorou a luta abolicionista, a luta republicana (tornou-se republicano somente após a proclamação) e a Primeira Guerra Mundial.
  Seus temas podem ser divididos em:
- Volta à Antigüidade Clássica - os sonetos "A sesta de Nero", "O incêndio de Roma" e "Lendo a Ilíada", entre outros.
- "Via Láctea" - 35 sonetos marcados por forte lirismo, sendo responsáveis pela popularidade imediata alcançada pelo poeta, merecendo destaque o soneto XIII.
- "Sarças de fogo" - neste permanece o lirismo, agora marcado por sensualismo. O soneto "Nel mezzo del camin.." tornou-se famoso, com seus pleonasmos e inversões.
- "Alma inquieta e viagens" - o poeta cai nos temas de meditação, ditos filosóficos, bem ao gosto dos parnasianos.
- "Viagens" - no qual se encontra o poema épico "O caçador de esmeraldas", que narra a chegada dos bandeirantes a terras mineiras, com os paulistas individualizados na figura de Fernão Dias Pais.
- "Tarde" - mostra o poeta mais descritivo e profundamente nacionalista. Um exemplo deste descritivismo é o soneto "Crepúsculo na mata", e a volta ao passado nacional está bem atestada nos sonetos "Anchieta" e "Vila Rica". Porém, o que chama mais atenção em "Tarde" é a consciência do fim, a proximidade da morte : o crepúsculo do poeta.

A Ronda Noturna

Noite cerrada, tormentosa, escura,
Lá fora. Dorme em trevas o convento.
Queda imoto o arvoredo. Não fulgura
Uma estrela no torvo firmamento.

Dentro é tudo nudez. Flébil murmura,
De espaço a espaço, entanto, a voz do vento:
E há um rasgar de sudários pela altura,
Passo de espectros pelo pavimento...

Mas, de súbito, os gonzos das passadas
Portas rangem... Ecoa surdamente
Leve rumor de vozes abafadas.

E, ao clarão de uma lâmpada tremente,
Do claustro sob as tácitas arcadas
Passa a ronda noturna, lentamente.

(Olavo Bilac).