Simbolismo
 

- Simbolismo -

"Sugerir, eis o sonho."
(Stéphane Mallarmé, simbolista francês).

  Surge no Brasil em 1893 com a publicação de dois livros: "Missal" (prosa) e "Broquéis" (poesia), ambos de Cruz e Sousa. Estende-se até o ano de 1922, data da realização da Semana de Arte Moderna.
  O início do Simbolismo não pode ser entendido, no entanto, como término da escola antecedente, o Realismo. Na verdade, no final do século XIX e início do século XX temos três tendências caminhando paralelas: o Realismo e suas manifestações (romances realistas e naturalistas e poesia parnasiana); o Simbolismo, situado à margem da literatura acadêmica da época; e o Pré-Modernismo, com o surgimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira.
  No plano internacional, o Simbolismo surge como uma negação, uma volta a realidade subjetiva, em oposição a uma realidade mundial difícil de ser entendida racionalmente (as disputas por mercados fornecedores de matéria-prima e mercados consumidores, lançava o fantasma da guerra sobre o mundo). Muitos afirmam que não houve momento típico para o Simbolismo no Brasil, sendo esta escola literária a mais européia dentre as que se desenvolveram no país, por isso chamada de "produto de importação". Mas é interessante ressaltar que ela se origina no Brasil na região Sul, um território marginalizado pela elite cultural e social do país (esta região foi a que mais sofreu com a oposição à fase inicial da República - a "República vestida de farda"; o Rio Grande do Sul foi palco de intensas lutas iniciadas em 1893 - mesmo ano do início do Simbolismo; também são importantes nesse contexto a Revolução Federalista, ocorrida no Rio Grande do Sul, e a Revolta da Armada, ocrrida no Rio de Janeiro).
  Daí, talvez, a origem do clima propício ao Simbolismo, marcado por frustrações, angústias, falta de perspectiva, resultando no afastamento do fato e na busca do sujeito.
  O Simbolismo apresenta-se como uma negação ao Realismo e suas manifestações: nega o cientificismo, o materialismo, o racionalismo, valorizando as manifestações metafísicas e espirituais.

  O homem volta-se para uma realidade subjetiva (o "eu" passa a ser o universo, mas não o "eu" superficial, sentimentalóide e piegas do Romantismo - os simbolistas buscam a essência do ser humano, aquilo que ele tem de mais profundo e comum a todos: a alma). Disto surge a sublimação (a perfeição, algo além da vulgaridade) tão procurada pelos simbolistas: a oposição entre a matéria e o espírito, a purificação, na qual o espírito atinge as regiões etéreas, o espaço infinto. Em última análise, tem-se a oposição entre o corpo e a alma, com a liberação da alma, só conseguida com a morte.
  O Simbolismo desenvolve uma linguagem carregada de símbolos (os "tropos", isto é, o "desvio", a mudança de uma palavra ou expressão), como conseqüência da valorização do inconsciente e subconsciente, da buca do sonho, da loucura.
  A musicalidade é uma das características mais fortes desta estética, como afirmou o simbolista francês Paul Verlaine, em seu poema "Art poétique" : "A música acima de tudo..."
  No Simbolismo as palavras transcendem o significado, ao mesmo tempo que apelam para todos os nossos sentidos. É constante o uso de sinestesias e aliterações.
  Como representantes dessa estética no Brasil podemos citar, além de Cruz e Sousa que a iniciou, Alphonsus de Guimaraens.

Cárcere das almas

"Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!"

(Cruz e Sousa).