Modernismo
 

- Modernismo -

("Cinco Moças de Guaratinguetá", 1930 - Di Cavalcanti).

  Tem seu início com a realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Foi idealizada por um grupo de artistas que pretendiam colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de consciência da realidade brasileira.
  - Primeira Fase - estende-se de 1922 a 1930, caracterizada pela tentativa de definir e marcar posições. É um período rico em manifestos e revistas de vida curta (são grupos em busca de definção).

  É o período mais radical do movimento modernista, em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Manifesta um caráter anárquico e destruidor.
  O nacionalismo manifesta-se em múltiplas facetas: voltas às origens; pesquisa de fontes quinhentistas; a procura de uma "língua brasileira" (a do povo nas ruas); as paródias (visando repensar a história e literatura brasileiras); e a valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É o tempo dos manifestos nacionalistas do "Pau-Brasil" e da "Antropofagia" (dentro da linha comandada por Oswald de Andrade), dos manifestos do "Verde-Amarelismo" e do grupo "Anta", que já trazem as sementes do nacionalismo fascista comandado por Plínio Salgado.
  No final da década de 20 o nacionalismo apresenta duas vertentes: o nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira, que identificava-se com a esquerda; o nacionalismo ufanista, exagerado, utópico, identificado com a extrema direita.
  Nesta fase podem ser destacados nomes que continuaruiam a produzir nas décadas seguintes, como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado; além de nomes como, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
  - Segunda Fase - corresponde ao período que vai de 1930 a 1945. Reflete o conturbado momento histórico: depressão econômica, avanço do nazi-fascismo, a II Guerra Mundial( no plano internacional); ascensão de Getúlio Vargas e consolidação de seu poder com a ditadura do Estado Novo(no plano interno).
  A poesia desta fase representa um amadurecimento e aprofundamento das conquistas da geração de 1922, notando-se a influência de Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram sua produção poética após a realização da Semana (Carlos Drummond dedica seu livro de estréia, "Alguma poesia" - 1930 - a Mário de Andrade).
  Os novos poetas cultivam o verso livre e a poesia sintética. Passam a questionar com maior vigor a realidade, isto resultando em uma poesia mais construtiva e politizada. Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (caso de Cecília Meireles, uma fase de Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius de Morais).
  Há um aprofundamento das relações do "eu" com o "mundo", embora sempre com a consciência da fragilidade do "eu".
  Esse período registra a estréia de alguns dos nomes mais significativos do romance brasileiro, tais como: José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo.
  O romance desse período caracteriza-se pela denúncia social; o regionalismo ganha importância até então nunca alcançada na literatura brasileira, sendo as relações dos personagens com o meio natural e social levadas ao extremo.

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

(Carlos Drummond de Andrade).


("Bananal", 1927 - Lasar Segall).