Modernismo
 

- Cecília Meireles -

"A vida só é possível
reinventada."
(Trecho do poema "Reinvenção", de Cecília Meireles).

  Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu a 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro. Órfã de pai e mãe desde os 3 anos de idade, foi criada pela avó materna. Forma-se na Escola Normal do Rio em 1917, dedicando-se ao magistério primário. Estréia em livro com "Espectros" (1919). A partir da década de 30, leciona literatura em várias universidades. Faz várias viagens ao exterior, onde dá conferências sobre Literatura Brasileira.
  Recebe o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, por seu livro "Viagem" (1939). Morreu a 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro.
  Não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Modernismo brasileiro. Produziu uma poesia lírica, caracterizada por certo misticismo e por um tom melancólico. Seu livro de estréia apresentava nítida inspiração neo-simbolista.
  Mostra características intimistas, numa permanente viagem interior; sua obra reflete uma atmosfera de sonho, fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e de padecimento.

  Um dos aspectos centrais de sua poética é a consciência da transitoriedade das coisas; por isso, o tempo é personagem central de sua obra: o tempo passa, é fugaz, fugidio.
  Uma das marcas do lirismo de Cecília é a musicalidade de seus versos e as brilhantes aliterações, ao lado de uma linguagem que valoriza os símbolos, de imagens sugestivas como constantes apelos sensoriais.
  Também demonstra preocupação com o social no livro "Romanceiro da Inconfidência", que é uma recriação poética da Inconfidência Mineira, na qual Cecília parte de um fato passado, datado e limitado geográfica e cronologicamente, para tratar de valores eternos e significativos como: amor, liberdade, traição.

Canção

"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio..."

(Cecília Meireles).

Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?"

(Cecília Meireles).