Um dos aspectos
centrais de sua poética é a consciência da transitoriedade das coisas;
por isso, o tempo é personagem central de sua obra: o tempo passa, é fugaz,
fugidio.
Uma das marcas do lirismo de Cecília é a musicalidade de seus
versos e as brilhantes aliterações, ao lado de uma linguagem que valoriza
os símbolos, de imagens sugestivas como constantes apelos sensoriais.
Também demonstra preocupação com o social no livro "Romanceiro
da Inconfidência", que é uma recriação poética da Inconfidência Mineira,
na qual Cecília parte de um fato passado, datado e limitado geográfica
e cronologicamente, para tratar de valores eternos e significativos como:
amor, liberdade, traição.
Canção
"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio..."
(Cecília Meireles).
Retrato
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?"
(Cecília Meireles).
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