Drummond é, sem
sombra de dúvida, o maior expoente da poesia contemporânea brasileira.
Sua obra acompanha a evolução dos acontecimentos, registrando tudo que
o rodeia e acontece no dia-a-dia. Suas poesias refletem os problemas do
mundo, do ser humano brasileiro e universal diante dos regimes totalitários,
da II Guerra Mundial, da Guerra Fria.
Alguns elementos são característicos de suas obras, como a
ironia, sua visão crítica do homem e sua inquietação diante da vida. Os
temas que mais freqüentemente aparecem em sua poética são: o desajustamento
do indivíduo; a monotonia da vida; a nostalgia do passado; os obstáculos
que a vida oferece; a preocupação sócio-política; a angústia diante da
morte; a própria poesia; e a falta de perspectiva do homem.
O poeta é possuído de esperança, em alguns momentos, para
logo depois tornar-se descrente, desesperançado com o rumo dos acontecimentos.
Um ponto importante é o fato de o poeta negar todas as formas
de fuga da realidade; seus olhos atentos estão voltados para o momento
presente e vêem como ponto de partida para a transformação da realidade,
a união e o trabalho coletivo (o poeta insiste, em várias passagens, em
mostrar a impossibilidade de o homem, sozinho, realizar alguma coisa).
A partir de "Lição de coisas" (1962) pode-se notar uma tendência
concreto-formalista em sua obra.
Mãos dadas
"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente."
(Carlos Drummond de Andrade).
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