Romantismo
 

- Junqueira Freire -

  Luís José Junqueira Freire nasceu no ano de 1832, em Salvador, Bahia. Estudou Humanidades no Liceu Provincial de sua cidade natal, ingressando posteriormente, aos dezenove anos, na Ordem Beneditina. Aparentemente não apresentava cerrteza de sua vocação, seguindo esse caminho mais para fugir de uma vida familiar extremamente infeliz.
  Depois de um ano de sacerdócio, pediu secularização (transformação do sacerdote em leigo), voltando para casa (1854). Faleceu no ano seguinte em Salvador, vítima de doença cardíaca.
  Sua única obra de poesias, as "Inspirações do claustro" (1855), tem grande valor de testemunho das experiências interiores passadas pelo autor em sua breve vida: o desgosto na casa dos pais, as ilusões sobre a vocação monástica, as dúvidas e desesperos nos dois anos em que permaneceu na Ordem.
  A obra de Junqueira Freire mereceu um louvor, mas também uma crítica, por parte de Machado de Assis: foi louvada pela forma sincera como retratou todo o drama de um indivíduo preso a uma falsa vocação; crítica ao modo dessa poesia, que caiu no genérico e prosaico, ficando abaixo da síntese conteúdo-forma.
  Uma prova de sua dificuldade em conciliar intenções e forma é "À Profissão de Frei João das Mercês Ramos", onde expõe o fracasso de sua vocação:

"Eu também me prostrei ao pé das aras
Com júbilo indizível:
Eu também declarei com forte acento
O juramento horrível.
..........................................................
Tive mais tarde a reação rebelde
Do sentimento interno.
Tive o tormento dos cruéis remorsos,
Que me parece eterno."

  Porém, sua obra também apresentou alguns momentos felizes, nos quais lhe foi benéfica a aproximação com fontes populares e outros, nos quais sua concepção anacrônica do verso se ajustou a uma poesia mais racional (de pensamento) que de sensibilidade.

Morte
(Hora de delírio)


"Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dous fantasmas que a existência formam,
- Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das noções da vida.
Do prazer que nos custa a dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

Nunca temi sua destra,
Não sou o vulgo profano:
Nunca pensei que teu braço
Brande um punhal sobr' humano.

Nunca julguei-te em meus sonhos
Um esqueleto mirrado:
Nunca dei-te, p' ra voares,
Terrível ginete alado.

Nunca te dei uma foice
Dura, fina e recurvada;
Nunca chamei-te inimiga,
Ímpia, cruel, ou culpada.

Amei-te sempre: - e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra, - esse elemento
Que não se sente dos vaivéns da sorte.
......................................."

(Junqueira Freire).