Em seu livro
"Tempo e eternidade" (1935), escrito em parceria com Jorge de Lima, parte
para a poesia religiosa, mística, de "resteuração da poesia em Cristo"
(o livro é escrito após sua conversão ao catolicismo). Sua obra ganha
em densidade, uma vez que, ao encarar o dilema entre a poesia e a Igreja,
o finito e o infinito, o poeta não abandona a temática social. Disto surge
a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização decadente
- uma constante na obra de Murilo Mendes. Para ele, o trabalho do poeta
é tentar ordenar esse caos, utilizando-se para isso do trabalho poético,
sua lógica, sua criatividade, sua libertação. São sugestivos os títulos
de seus livros: "A poesia em pânico", "O visionário" (no qual o poeta
assume uma visão fantástica da realidade, onde formas, planos, corpos
e sonhos se confundem), "As metamorfoses", "Mundo enigma" e "Poesia liberdade"
(revela sua angústia diante de um mundo quase aniquilado pela guerra,
no entanto, demonstra certa esperança no homem e no lirismo).
Nos seus últimos livros incorpora alguns princípios da poesia
contemporânea.
Quinze de
novembro
"Deodoro todo nos trinques
bate na porta de Dão Pedro Segundo.
- Seu imperadô, dê o fora
que nós queremos tomar conta dessa bugiganga.
Mande vir os músicos.
O imperador bocejando responde
- Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de Vítor Hugo."
(Murilo Mendes).
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