Romantismo
 

- Sousândrade -

  Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Guimarães, Maranhão, em 1833. Formou-se em Letras pela Sorbone; em Paris estudou também engenharia de minas. Viajou muito pela Europa e pelas repúblicas latino-americanas; fixando-se nos Estados Unidos, onde fez editar as "Obras Poéticas" e alguns cantos do "Guesa Errante". De volta ao Brasil, viveu pobremente como professor de grego em São Luís (Maranhão), o que não o impediu de tomar partido na política da recém-proclamada República.
  Morreu na cidade de São Luís do Maranhão, em 1902, na penúria e quase desconhecido dos literatos da época.
  Sua poesia foi reavaliada pela crítica de vanguarda, que retirou o autor da posição de nome secundário do condoreirismo.
  Iniciou sua produção literária como romântico da segunda geração ("Harpas Selvagens", 1858). As viagens pela Europa e a longa permanência nos Estados Unidos abriram para Sousândrade o horizonte do mundo capitalista em plena ascensão comercial (mundo que os românticos em atividade no Brasil não conseguiam dimensionar, uma vez que estavam fechados num contexto provincinciano ou semi-afrancesado). O poeta conheceu de perto o fenômeno das concentrações urbanas, como Nova Iorque, com os seus escândalos financeiros e políticos que fermentavam entre os bancos de Wall Street (o "Inferno" do "Guesa") e as redações dos jornais montados para as novas massas. Sentiu os vários aspectos de uma democracia fundada no dinheiro e na competição, podendo compará-la ao Império Brasileiro. Desse confronto veio-lhe à mente a utopia de uma república livre e comunitária que conservasse a inocência do nativo latino-americano, curioso mito político e substância do "Guesa", poema narrativo composto ao longo de dez anos.
  O "Guesa" retoma uma lenda quíchua (tribo indígena do Peru) que narra o sacrifício de um adolescente: depois de longas peregrinações na rota do deus Sol, o jovem acaba imolado às mãos dos sacerdotes que lhe extraem o coração e recolhem o sangue nos vasos sagrados. O poeta imagina o "Guesa" escapando dos sacerdotes e indo se refugiar em Wall Street, onde os reencontra sob o disfarce de empresários e especuladores. Sendo um símbolo do selvagem que o branco mutilou, o canto do novo herói vai contra o indianismo conciliante de Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias, que exaltam tanto o nativo quanto o colonizador europeu.

  Outra novidade de Sousândrade em relação a toda a poesia brasileira do século XIX reside nos processos de composição: de insólitos arranjos sonoros ao plurilingüismo; dos mais ousados conjuntos verbais à montagem sintática.
  O poeta não podia ser assimilado no seu tempo e, de fato, não o foi, tendo-se provado otimista a previsão de cinqüenta anos em compasso de espera que lhe fizeram na época da redação do "Guesa".

"Alb ....
Dá meia-noite; em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua, e voa sobre os templos da cidade

Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos
- Fora eu os sonhos
Da bela virgem ... uma nuvem passa."

(Sousândrade).