Romantismo
 

- Fagundes Varela -

  Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro, Rio de Janeiro, em 1841. Iniciou o curso de Diretio em São Paulo, tranferindo-se, posteriormente, para Recife. Voltou para o sul sem concluir o curso. Um fato que marcou muito sua vida foi a morte do filho. Apesar de profundamente religioso, levou uma vida boêmia e desregrada. Morreu em Niterói, Rio de Janeiro, no ano de 1875.
  É interessante a influência que Castro Alves tem em sua obra: Fagundes Varela o conhece já doente, mas ainda engajado em causas sociais; a partir deste momento, abandona, ao menos em parte, o egocentrismo (sendo esta uma característica de sua geração, representada em sua obra pelo sofrimento devido à morte de seu filho), fazendo algumas poesias de caráter social, semelhantes às do condoreirismo.
  Escreveu as poesias: "Noturnos", "O Estandarte auriverde", "Vozes da América", "Cantos meridionais", "Cantos religiosos".

  Cântico do calvário
À memória de meu filho, morto a 11 de dezembro de 1863.

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste! - Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo de ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
Correi! um dia vos verei mais belas
Que os diamantes de Ofir e de Golgonda
Fulgurar na coroa de martírios
Que me circunda a fronte cismadora!
São mortos para mim da noite os fachos,
Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
E à vossa luz caminharei nos ermos!
Estrelas do sofrer, gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! Sede benditas!
Oh! filho de minh' alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
Minha esperança amargamente doce!
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(Fagundes Varela).