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- Gil Vicente
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Pouco
se sabe de sua vida, apenas que foi ourives da rainha D. Leonor e provavelmente,
pela riqueza de citações em sua obra, aluno de alguma universidade. É
tido como o inicioador do teatro português, já que, antes dele esta arte
se limitava à dramaturgia religiosa e ao teatro alegórico. Embora sua
concepção de vida seja rigorosamente cristã, sua sátira incide precisamente
sobre a corrupção dos valores morais de seu tempo, atingindo de uma só
vez ricos burgueses, fidalgos, padres, autoridades políticas e religiosas,
enfim, todos aqueles que aderissem à desagregação moral em que ele via
mergulhada sua época, quando o dinheiro se torna a mola mestra da vida.
Mas para que sua sátira tivesse o êxito desejado, era preciso
conhecer esta desagregação moral profundamente, ou seja, voltar-se para
o homem, observá-lo, analisá-lo, revelando em minúcia seus defeitos e
fraquezas. É assim que cria uma galeria de tipos variados e universais,
oriundos de todos os setores da sociedade; ridicularizados sobretudo em
seus vícios: médicos irresponsáveis (farsa dos Físicos), padres relaxados
(O Clérigo da Beira), o nobre que vive do trabalho alheio (farsa dos Almocreves),
etc.
Abaixo você lerá um fragmento do "Auto da Lusitânia", peça
de base mítica que narra os amores entre "Lusitânia" e "Portugal", personagens
mitológicos. O texto tem ressonâncias no presente de Gil Vicente, que
busca formar um panorama de sua terra, apreendendo a totalidade de suas
raízes culturais. Estão em cena dois diabos, "Berzebu" e "Dinato", que
se preparava para escrever, quando entra "Todo o Mundo", ricamente trajado
e parecendo procurar algo. Logo depois dele, entra um outro homem pobremente
vestido, é "Ninguém":
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