Modernismo
 

- Vinícius de Morais -

"A vida é a arte do encontro, embora
Haja tanto desencontro pela vida."
(Vinícius de Morais, trecho de seu "Samba da bênção").

  Marcus Vinícius da Cruz de Mello Morais nasceu a 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Formado em Direito, foi crítico cinematográfico e diplomata, mas dedicou-se bastante à música e à poesia. Segundo suas próprias palavras: "capitão-do-mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil. Saravá."
  Morreu a 9 de julho de 1980, no Rio de Janeiro.
  Como Cecília Meireles, o início de sua carreira está intimamente ligado ao Neo-Simbolismo da "corrente espiritualista" e à renovação católica da década de 30. Em vários de seus poemas, dessa fase, percebe-se um tom bíblico. No entanto, o eixo de sua obra logo desloca-se para um sensualismo erótico (o que acentua a contradição entre o prazer da carne e a formação religiosa). Também há, em sua obra, a valorização do momento, um acentuado imediatismo, ao mesmo tempo em que se busca algo mais perene. Talvez desse quadro resulta outra constante em sua poética: a felicidade e a infelicidade. Em vários momentos valoriza a alegria; em outros associa a inspiração poética à tristeza; ou ainda, busca provar que "tristeza não tem fim; felicidade sim", e que isso independe de nossa vontade.

  A temática social também aparece nos poemas de Vinícius, os quais obtiveram a mesma popularidade de suas composições voltadas para o amor (como é o caso de "Operário em Construção"). É importante citar a participação de Vinícius na evolução da música popular brasileira desde a bossa-nova, no fim dos anos 50, até nossos dias.

Soneto da separação

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

(Vinícius de Morais).

"E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

(tercetos do "Soneto da fidelidade" - Vinícius de Morais).