Modernismo
 

- Mário de Andrade -

(Mário de Andrade em pintura de Lasar Segall).

  Mário Raul Morais de Andrade, o chamado "papa do Modernismo", nasceu em São Paulo, à rua Aurora, em 9 de outubro de 1893. Desde muito jovem, escreveu crítica de arte para jornais e revistas. Formou-se em piano no Conservatório Musical de São Paulo.
  Em 1917, ano em que inicia a amizade com Oswald de Andrade, publica seu primeiro livro de poesia, sob o pseudônimo de "Mário Sobral": "Há uma gota de sangue em cada poema", de nítida influência parnasiana, retratando a I Guerra Mundial.
  Em 1922, além de participar ativamente da Semana de Arte Moderna, publica "Paulicéia desvairada", considerado o primeiro livro de poemas do Modernismo, rompendo com todas as estruturas ligadas ao passado.
  Foi diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo e professor de História da Música no Conservatório Dramático de São Paulo. Lecionou História e Filosofia da Arte na Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro na época). Voltou para São Paulo, onde trabalhou no Serviço de Patrimônio Histórico.

  Morreu em São Paulo, em sua casa na rua Lopes Chaves, a 25 de fevereiro de 1945.
  Seu "Paulicéia desvairada", tem como objeto de análise e constatação a cidade de São Paulo e seu provincianismo, a burguesia, a aristocracia, o proletariado; uma cidade multifacetada. As inovações de linguagem que apresenta fizeram desse livro uma espécie de "bandeira" do Modernismo. Demonstrando não sofrer nenhuma influência, dedica o livro a seu grande mestre: ele mesmo, Mário de Andrade.
  Buscou em toda sua obra uma língua mais próxima do falar do povo, uma língua brasileira (daí muitos de seus textos começarem com "si", "quasi", "guspe", ao invés de "se", "quase", "cuspe"). Os "brasileirismos" e o folclore tiveram a máxima importância para o poeta, como atestam os livros: "Clã do jabuti" (utilizando material do folclore, costumes e linguagem de diferentes regiões do país, o autor apreende a diversidade cultural do Brasil) e "Remate de males" (dá seqüência à mesma temática do livro anterior, mas também apresenta poemas que resultam da sondagem do mundo interior do poeta). Ao lado disso, suas poesias, romances e contos revestem-se de uma nítida crítica social, sempre atacando a alta burguesia e a aristocracia.
  "Amar, verbo intransitivo" é um romance caracterizado pela análise psicológica das personagens e por desmascarar a hipocrisia e o convencionalismo da burguesia paulista, penetrando fundo em sua estrutura familiar, sua moral e preconceitos, ao mesmo tempo em que aborda os sonhos e a adaptação dos imigrantes à "Paulicéia".
  Talvez a criação máxima de Mário de Andrade seja "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter"; a partir de seu anti-herói, o autor enfoca o choque do índio amazônico (que nasceu preto e virou branco - síntese do povo brasileiro) com a tradição e a cultura européia na cidade de São Paulo, valendo-se para tanto de profundos estudos do folclore.

Eu sou trezentos...

"Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Oh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra com quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

(Mário de Andrade).