Fernando Pessoa
 

- "Alberto Caeiro" -

(Pessoa menino. Capa de Fernando Pessoa - Uma Fotobiografia).

  Fernando Pessoa explicou em detalhes a "vida" de cada um de seus heterônimos. Assim apresenta a vida do mestre de todos, "Alberto Caeiro": "Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Morreu tuberculoso".
  A biografia que Pessoa cria para "Caeiro" encaixa-se com perfeição à sua poesia. Os poemas foram escritos na noite de 8 de março de 1914, de um só fôlego; esse pocesso criativo traduz a busca fundamental de "Alberto Caeiro": a completa naturalidade.
  "Caeiro" escreve com a linguagem simples e o vocabulário limitado de um poeta camponês pouco ilustrado. Opõe-se constantemente à metafísica o desejo de não pensar. Faz da oposição à reflexão a matéria básica de seus pensamentos (esse paradoxo aproxima-o da atitude zen-budista de pensar para não pensar, desejar não desejar).

  Coloca-se como inimigo do misticismo, buscando ver as coisas como elas são, sem refletir sobre elas e sem atribuir-lhes significados ou sentimentos humanos. É importante lembrar que os poetas simbolistas, que antecederam Pessoa, estavam impregnados de forte misticismo, enquanto "Alberto Caeiro" busca, de forma coerente e lógica, afastar-se da reflexão sobre Deus.
  Na sua linha de pensamento religioso, destitui o menino Jesus de santidade e o retrata como uma criança normal, espontânea, levada, brincalhona e alegre, no poema "VIII", de "O Guardador de Rebanhos".
  De acordo com sua busca de simplicidade e espontaneidade, "Alberto Caeiro" escreve versos livres e brancos.

O Guardador de Rebanhos

Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a ação humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.

(Poema "XXLII" - "Alberto Caeiro").