Pré-Modernismo
 

- Monteiro Lobato -

  José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, estado de São Paulo, a 18 de abril de 1882. Em 1900 matricula-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sendo um dos integrantes do grupo literário "Minarete". Formado, exerce a promotoria pública em Areias, na região do Vale do Paraíba paulista. Em 1911 herda de seu avô uma fazenda, dedicando-se à agricultura; três anos depois, no inverno de 1914, cansado de enfrentar as constantes queimadas praticadas pelos cablocos, o fazendeiro escreve uma "indignação" intitulada "Velha praga" e envia para as "Queixas e reclamações" do jornal O Estado de São Paulo. Percebendo o valor da carta, o jornal a publica fora da seção destinada aos leitores, ela provoca polêmica e estimula Lobato a escrever outros artigos, como por exemplo "Urupês", onde cria seu famoso personagem "Jeca Tatu". A partir daí, os fatos se sucedem rapidamente: vende a fazenda; publica seu primeiro livro, "Urupês" (1918); funda a editora Monteiro Lobato e Cia. (primeira editora nacional) e, em 1944, a Editora Brasiliense.
  Vive nos Estados Unidos como adido comercial, de 1927 a 1931, ao retornar ao Brasil inicia sua luta em favor dos interesses nacionais, combatendo a exploração e tornando-se muito conhecido por sua campanha pela extração do petróleo existente no subsolo brasileiro

(funda o Sindicato do Ferro e a Cia. Petróleos do Brasil). Por suas posições passa a enfrentar a fúria das multinacionais e os "obstáculos" impostos pelo governo brasileiro. Disso resulta outra "indignação": "O escândalo do petróleo", livro-denúncia publicado em 1936. O empenho com o qual se bateu pelos interesses nacionais custou-lhe seis meses de prisão, em 1941, durante o governo de Getúlio Vargas.
  Nos últimos anos, colabora com artigos em jornais brasileiros e argentinos. Falece a 5 de julho de 1948, em São Paulo.
  Suas idéias políticas, assim como suas opiniões a respeito da cultura nacional, foram deixadas numa vasta série de artigos de jornal, entrevistas e prefácios.
  Monteiro Lobato enquadra-se no Pré-Modenismo por duas características de sua obra - o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira - uma vez que, no plano puramente estético, o autor assume posições anti-modernistas (o próprio Lobato afirmou que preferiu jogar xadrez nas praias do Guarujá, durante a Semana de Arte Moderna).
  Como regionalista, o autor dimensiona com exatidão o Vale do Paraíba paulista do início do século XX, sua decadência após a passagem da economia cafeeira, seus costumes e sua gente, tão bem retratados nos contos de "Cidades mortas". Na descrição do tipo humano característico da região, está o traço mais marcante da ficção de Monteiro Lobato, surge "Jeca Tatu" (inicialmente tratado como vagabundo e indolente, para só depois o autor reconhecer a realidade daquela população subnutrida, vivendo na miséria, marginalizada socialmente, sem acesso à cultura, acometida de toda a sorte de doenças endêmicas).
  O preconceito racial e a situação dos negros após a abolição foi outro tema abordado pelo autor de "Negrinha" - as personagens são gordas senhoras que, num falso gesto de bondade, "adotavam" menininhas negras para escrevizá-las em trabalhos caseiros.
  Quanto à linguagem, Monteiro Lobato luta para aproximá-la o máximo possível do coloquial, além de incorporar à linguagem literária termos e expressões típicas da fala regional.
  Ao lado da chamada literatura adulta, o autor deixou extensa obra voltada para o público infantil, um campo até então mal explorado na Literatura Brasileira. Seu primeiro livro para crianças foi "Narizinho arrebitado" (1921), rebatizado depois como "Reinações de Narizinho"; todas as narrativas centram-se num único espaço, o "Sítio do Pica-Pau Amarelo", e o autor cria enredos onde predomina a fantasia. Mesmo na literatura infantil, Monteiro Lobato não abandona a luta pelos interesses nacionais, com seus personagens representando vários aspectos do povo brasileiro, e o "Sítio do Pica-Pau Amarelo" sendo uma imagem do Brasil (por exemplo, em "O poço do Visconde" o autor mistura ficção e realidade em torno do problema do petróleo).