Fernando Pessoa
 

- "Ricardo Reis" -

  Discípulo de "Alberto Caeiro", insistia na defesa dos valores tradicionais, tanto na literatura quanto na política. Segundo Fernando Pessoa: "Ricardo Reis nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se por ser monárquico. É latinista por educação alheia e um semi-helenista por educação própria".
  Neoclássico, "Reis" busca o equilíbrio tão prezado pelos poetas do século XVIII e insiste nos clichês árcades do "locus amoenus" e do "carpe diem". A busca de espontaneidade de "Caeiro" transforma-se em "Reis" na procura do equilíbrio contido dos clássicos. Deixa de ser uma simplicidade natural e passa a ser estudada, forjada através do intelecto.
  A linguagem de "Ricardo Reis" é clássica, usando um vocabulário erudito, poemas metrificados e apresentando uma sintaxe rebuscada. São odes, poemas líricos cantados pelos gregos, ao som de cítaras ou flautas, em estrofes regulares e variáveis.
  As odes de "Reis", como as de "Píndaro", recorrem as deuses da mitologia grega. Este paganismo, de caráter erudito, afasta-se da convicção de "Alberto Caeiro" de que não se deve pensar em Deus. Para "Ricardo Reis", os deuses estão acima de tudo e controlam o destino dos homens.


  "Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.

Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza."

("Ricardo Reis").