Arcadismo
 

- Santa Rita Durão -

  Nascido em Cata-Preta, nas proximidades de Mariana, Minas Gerais, em 1722. Iniciou os estudos com jesuítas no Rio de Janeiro, indo depois para Portugal, onde ingessou na Ordem de Santo Agostinho. Quando da expulsão dos jesuítas, em 1759, prega violento sermão contra os padres da Companhia de Jesus (atitude da qual se arrependeria mais tarde). Publicou, em 1781, seu poema épico "Caramuru". Falece em Portugal a 24 de janeiro de 1784.
  "Caramuru" trata do descobrimento e conquista da Bahia por Diogo Álvares Correia, português vítima de um naufrágio no litoral baiano. A exaltação da natureza brasileira tem descrições da paisagem que lembram a literatura informativa do Quinhentismo. O indígena é tratado num aspecto informativo e há uma valorização da vida natural (mais pura e distante da corrupção). Com evidente influência camoniana, sem, no entanto, utilizar a mitologia pagã (que Camões usou em "Os Lusíadas"), mas apenas um conservadorismo cristão.
  É composto de dez cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. A divisão é a tradicional das epopéias, constando de proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.
  Seus heróis são: Diogo Álvares Correia, o Caramuru; Paraguaçu, com quem Diogo se casa e vai para Paris; Moema, a bela amante preterida no casamento e que morre nadando atrás de Diogo; Gupeva e Sergipe.
  Abaixo você verá um trecho da obra "Caramuru".

  "Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo, assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha empresa,
Pasma da turba feminil, que nada.
Uma que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela, do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.

(...)

- Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças no amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! que corisco és tu...raio...penhasco!

(...)

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que, irado, freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa, -
E sem mais vista ser, sorveu-se na água."

(Trecho do poema "Caramuru", de Santa Rita Durão).