Pré-Modernismo
 

- "Os sertões" -

  Esta obra é considerada uma das mais importantes do Pré-Modernismo, só comparável a "Triste fim de Policarpo Quaresma" (1915), de Lima Barreto.
  Nela o autor tenta expor as verdadeiras condições de vida no nordeste brasileiro, abordando, para tanto, a Campanha de Canudos (documento vivo dos contrastes entre o Brasil que "vive parasitariamente à beira do Atlântico" e aquele outro Brasil, dos "extraordinários patrícios", do sertão nordestino); além disso, Canudos é símbolo dos erros cometidos pela República, ao avaliar os problemas nacionais (a revolta foi considerada um foco monarquista que colocava em risco a vida republicana).


(Povoado de Canudos).

  Antônio Conselheiro, líder do movimento, era mostrado pelos jornais da época como um louco que colocava em risco a ordem e as estruturas do país, com sua "luta pela monarquia". Na realidade não passava de um beato que, em suas pregações, defendia a Monarquia por não entender a situação que o cercava, atribuindo à mudança para a República toda a miséria e o abandono em que vivia a população do sertão nordestino. A forma como foi organizado o povoado, com a produção voltada para a subsistência da comunidade, começou a atrair pequenos lavradores que viviam submissos nas grandes fazendas, o que desagradou os latifundiários da região.

  
(Antônio Conselheiro em ilustração de um jornal da época).

  O próprio Euclides da Cunha, ao escrever seus primeiros artigos sobre Canudos, na redação do jornal O Estado de São Paulo, recebendo informações filtradas no Rio de Janeiro, também apresentava essa visão deturpada da situação na região, classificando a revolta como um "foco monarquista". Apesar disso, o autor já manifestava preocupação com as condições sub-humanas da região.
  Mas somente quando chegou à região, como correspondente de guerra do jornal paulista, é que Euclides da Cunha conseguiu compreender, em toda a extensão, o drama de Canudos e o porquê da rebelião: não se tratava de uma luta por um sistema de governo, mas sim contra uma estrutura que já se arrastava há três séculos. Segundo o autor aquela campanha foi um crime que tinha de ser denunciado.
  A denúncia do extermínio de aproximadamente 25.000 pessoas no interior baiano, é outro aspecto do livro. Euclides da Cunha, que de início pretendia fazer um relato da luta, acabou traçando um painel do sertão nordestino.


(Jagunços prisioneiros de Canudos).

  A obra foi dividida em três partes:
- A terra - Euclides demonstra aqui sua forte formação em Ciências Naturais; descreve detalhadamente a região, sua geologia, seu clima e seu relevo;
- O homem - essa parte aproxima a obra do Naturalismo, sendo um trabalho elaborado sobre a etiologia brasileira; a ação do meio na fase inicial da formação das raças, a gênese dos mestiços; uma brilhante análise de tipos distintos como o gaúcho e o jagunço; neste cenário introduz-se a figura mística de Antônio Conselheiro.
- A luta - o conflito só é relatado na terceira parte da obra, após serem apresentados o cenário e os personagens, estando, desta forma, justificada a luta. Através dela o leitor depara-se com a denúncia de um crime, relatado no dia-a-dia da guerra.


(Corpo exumado de Antônio Conselheiro).

  Com esta obra, Euclides da Cunha, traz à tona um Brasil que até então não havia aparecido na literatura: o Brasil do sertanejo, do jagunço, da "sub-raça".