São João, Nosso Padroeiro...
Postado Segunda-feira, Junho 25, 2007 as 7:21 PM pelo B:.Pr:. Guiseppe 33
Desde que surgiram as primeiras associações de oficio organizadas hoje, englobadas sob o rótulo geral de "Maçonaria Operativa", ou "Maçonaria de Ofício" cada ofício tinha o seu padroeiro.
A primeira organização de que se tem noticia, é a dos "Collegia Fabrorum", criados em Roma, no século VI a.C., por necessidade oriunda da atividade bélica: era a época em que as legiões romanas espalhavam-se pelo mundo conhecido, em sua ânsia conquistadora, destruindo, com a guerra, as povoações conquistadas. Os "collegiati" seguiam os legionários, para reconstruir o que fosse destruído por estes.
A principio, os patronos dos ofícios eram os deuses do panteão greco-romano que a Igreja, depois, chamaria de "pagãos" havendo, posteriormente, já na era cristã, a adoção de outros padroeiros. Com o declínio dos "collegiati" , após a queda do Império Romano do Ocidente, os ofícios passaram para o domínio exclusivo da Igreja, com as Associações Monásticas, que, evidentemente, buscavam seus protetores entre os santos e, principalmente, entre os mártires da Igreja.
Com a evolução dos ofícios, os frades passaram a ensiná-los a leigos, que se colocavam sob a sua proteção, dai surgindo, no século XI, as Confrarias, que, embora formadas por mestres leigos, sofriam forte influência do clero católico, do qual aprenderam a arte da arquitetura e o cunho religioso dado aos trabalhos. Quase na mesma época surgiam as Guildas, que eram, inicialmente, entidades simplesmente religiosas, passando, a partir do século XII, a formar corpos profissionais. Tanto as Confrarias quanto as Guildas, pela influência religiosa, mantinham o hábito do culto a protetores dos ofícios.
Deve-se considerar, também, por essa época, o "Compagnonnage" , criado pelos Templários, para o serviço em suas distantes comendadorias do Oriente. Cada um dos ofícios que compunha o "Compagnonnage" também possuía o seu santo protetor: São José, para os carpinteiros, Sant’ Ana, para os marceneiros, Santo Eloi, para os ourives, Santa Bárbara, para os telhadores, a Assunção, para os pedreiros e canteiros, etc.
Só depois do século XII é que surgiria a organização profissional por excelência, que foi a dos Ofícios Francos, ou Franco-Maçonaria. A palavra "franco", na Idade Média, designava não só o que era livre, em oposição ao servil, mas, também, todos os indivíduos, ou todos os bens que escapavam às servidões e direitos senhoriais. Os Ofícios Francos eram formados por grupos privilegiados de artesãos, desligados dos feudos, das obrigações e das imposições dos poderes real e feudal e com liberdade de locomoção. Esses grupos, dedicados à arte de construir, tinham os seus privilégios concedidos e garantidos pela Igreja, que era o maior poder da época, fazendo com que eles fossem bastante apegados a ela, aos seus santos e aos princípios religiosos.
Estas corporações de ofício costumavam comemorar, festivamente, o início do verão e o do inverno, ou seja, as datas solsticiais, ou solstícios. Solstício é a época do ano na qual o Sol, tendo-se afastado do equador o mais possível, parece estacionar, durante alguns dias, antes de tomar a se aproximar daquela linha. Os solsticios, portanto, ocorrem quando o Sol atinge suas posições mais afastadas do equador terrestre, havendo os de verão e de inverno. Para os habitantes do hemisfério sul da Terra, o solstício de verão ocorre quando o Sol atinge sua posição mais austral (meridional, sul) e, o de inverno, quando ele atinge sua posição mais boreal (setentrional, norte).
O solstício de inverno, no hemisfério sul, ocorre a 21 de junho, enquanto que o de verão acontece, a 21 de dezembro, invertendo-se no hemisfério norte, onde o de verão é a 21 de junho e o de inverno a 21 de dezembro. Por influência da Igreja, mentora das corporações, essas datas solsticiais acabaram se confundindo com as datas dedicadas a São João, o Batista (24 de junho) e São João, o Evangelista (27 de dezembro), que não são exatamente as mesmas dos solstícios. E, graças a isso, os dois São João foram considerados os patronos das corporações, hábito que chegou, em alguns casos, à Maçonaria dos Aceitos (por ser formada por homens não ligados à arte de construir, mas aceitos pelos operativos), também chamada de "Especulativa" .
Esclareça-se, entretanto, que não é em todos os ritos teístas que isso acontece. Para a Maçonaria inglesa, por exemplo, a grande festa maçônica é a de São Jorge, padroeiro da Inglaterra.
Para os ritos adogmáticos, como o Moderno, ou Francês, não há padroeiros, já que o rito, em respeito à concepção metafísica de cada maçom, evita símbolos religiosos. O Grande Oriente da França, que criou a Palavra Semestral, em 1777, e que implantou o dogmatismo e sem imposição de crenças, continua a considerar as exatas datas solsticiais, para a emissão da Palavra.
Pode-se notar, também, que, quando se fala, nos demais ritos teístas, como o Escocês, em "S. João, nosso padroeiro", a referência não é a apenas um, mas a dois santos da Igreja Católica: o S. João Batista e o S. João Evangelista.
O Batista, filho de Zacarias e Isabel, foi o precursor de Jesus, anunciando a vinda do Messias e batizando-o, no rio Jordão. Segundo o que consta nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, seus pais já eram velhos quando o conceberam, por graça divina; já adulto, pregou, ao povo, a penitência, para a espera do Messias, vivendo, ele mesmo, uma vida austera, no deserto, alimentando- se de gafanhotos e mel silvestre.
Anatematizou Herodes e foi encarcerado por este. Depois, Herodias, amante de Herodes, mandou que sua filha, Salomé, exigisse, dele, a cabeça do João Batista, que acabaria, então, sendo degolado, no ano 28 ou 29 da era atual.
O Evangelista, filho de Zebedeu, foi, como seu irmão Tiago, um dos apóstolos de Jesus (na realidade, os chamados apóstolos eram membros de uma confraria, muito comum entre os hebreus e chamada, em hebraico, de "shaburá" sendo, os seus membros, os "shaberim"). Foi autor de um Evangelho (o Evangelho do Espírito), o Apocalipse e três Epístolas. Era um dos companheiros constantes de Jesus e um dos preferidos por ele. Foi o primeiro a reconhecê-lo ressuscitado na Galiléia. Depois do ano 58, instalou-se em Éfeso, de onde continuou sua pregação, tendo sido o último apóstolo a morrer, no fim do primeiro século da era cristã, sob o reinado de Trajano.
Em homenagem ao S. João Batista é que as Lojas do Rito Escocês (como de outros ritos) dizem-se "Lojas de S. João". E é em homenagem ao Evangelista, que TRADICIONALMENTE RITO ESCOCÊS abre o Livro da Lei Sagrada NO EVANGELHO DE SÃO JOÃO, capítulo 1, versículos 1 a 5, que mostram o triunfo da Luz sobre as trevas, texto básico PARA O GRAU DE APRENDIZ e que diz o seguinte:
"No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no Principio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada existiria. Nele estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens. A Luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam"
Esse texto, que tem tudo a ver com o grau de Aprendiz Maçom, pois este, simbolicamente, veio das trevas, para procurar a Luz, acabou sendo, no Brasil, injustificadamente, substituído pelo salmo 133, da Fraternidade, que é um texto aplicável a toda a escala do rito e não especificamente ao grau de Aprendiz.
O Rito Adoniramita também homenageia o Evangelista, abrindo o Livro, no grau de Aprendiz, no Evangelho de S. João, capitulo 1, versículos 6 a 9:
"Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João. Este veio por testemunha, para dar testemunho da Luz, afim de que todos cressem por meio dela. Ele não era a Luz, mas veio para que desse testemunho da Luz. Era a Luz verdadeira, que alumia a todos os homens, que vem a este mundo. "
Nos demais ritos teístas praticados entre nós, isso não ocorre: no Rito de York, o Livro das Sagradas Escrituras é simplesmente aberto em qualquer trecho (pois não há uni obrigatório); no Rito Schroeder ele está presente, mas permanece fechado; e, no Rito Brasileiro, com base no Escocês deturpado praticado no Brasil, a abertura é no salmo 133.
A representação simbólica dos solstícíos deve estar presente nos templos, no CÍRCULO ENTRE PARALELAS TANGENCIAIS E VERTICAIS. Este sugere que o Sol não transpõe os trópicos, recordando, ao maçom, que a consciência religiosa de cada obreiro é de foro íntimo e portanto inviolável. Além da representação dos solstícios — inicio do verão e do inverno — as duas paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio, em todos os ritos teístas representam também, Moisés e o Rei Salomão, o primeiro porque instituiu a Lei de Deus (o decálogo) e erigiu o Tabernáculo, e o segundo porque construiu o templo de Jerusalém. No Rito Escocês principalmente, as paralelas tambem SIMBOLIZAM O S. JOÃO BATISTA E O S. JOÃO EVANGELISTA.
Na Carbonária, o santo padroeiro é São Theobaldo, o protetor dos Carvoeiros e que ficou designado pelos Florestais como o seu santo de referência e crença, tendo o mesmo papel para a Ordem dos Carbonários, que São João Batista para os Pedreiros.