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LIVROS
DE FICÇÃO CIENTÍFICA
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"Contato"
Carl Sagan, Guanabara, Rio de Janeiro, 1986, 502 pag. |
Um dos melhores livros de ficção científica que eu
já li (e eu o li quatro vezes). Sagan revela-se não só um excelente
divulgador de ciência, mas também um excelente romancista, capaz
de construir personagens fortes e humanos. A protagonista Eleonor
Arroway nada tem daqueles personagens bidimensionais de Asimov
e outros, mas é uma pessoa real, dotada de opiniões e sentimentos
próprios. Tenho minhas dúvidas se Jodie Foster, que interpretou
Eleonor no filme homônimo, embora excelente atriz, faz juz ao
papel.
Em relação ao enredo, Sagan não poderia ter previsto
a evolução da vida na Terra. A estória, escrita antes da queda
do muro de Berlin, é passada no futuro, mas em clima de guerra
fria. Os soviéticos têm um papel relevante no livro, mas ficaram
naturalmente fora do filme. Na verdade, várias coisas ficaram
de fora do filme, mas, de qualquer forma, não se pode esperar
que 502 páginas de texto possam ser comrpimidas convenientemente
em menos de duas horas de filme
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"Jogo do Exterminador"
Orson Scott Card, Editora
Aleph, São Paulo, 1985/1991 (2a. ed), 236 pag. |
Que tema poderia ser mais banal do que a invasão
da Terra por seres alienígenas insetóides ? Orson Scott Card,
autor da nova geração de ficção científica, toma este tema e
mostra que o que importa mesmo é como se conta a estória e não
a estória em si. O leitor comum da FC traduzida no Brasil, acostumado
a oscilar entre Asimov, Clarke, Heinlein e Bradbury, encontrará
um pouco de cada um deles em Card. Ou talvez não encontre nenhum,
dependendo da leitura. Card é um humanista apaixonado e sua
ficção não pode ser descrita nem como totalmente "hard" (como
em Asimov), nem totalmente "soft" (como em Bradbury). Seus personagens
são seres humanos atormentados pelo inevitável e pela condição
humana, que muitas vezes os torna vítimas de si mesmos. Além
disso, ao contrário da maioria dos escritores de FC da "era
de ouro", Card é religioso (um mórmom), mas é capaz de traduzir
sua religião em termos puramente humanos e não-dogmáticos. Assim,
os personagens de Card manifestam uma grande esperança de redenção
e tentam mudar o mundo de maneira quase evangélica, espalhando
a verdade por meio de livros (outra das paixões de Card). Finalmente,
é interessante notar que, embora o livro tenha sido escrito
em 1985, Card antevê um governo de coalisão mundial e uma rede
mundial de computadores, capaz de dissiminar informações rapidamente
e eficientemente. A edição da Editora Aleph traz uma biografia
do autor e um curto dicionário de termos científicos.
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"Orador dos Mortos"
Orson Scott Card , Editora Aleph, São Paulo, 1990, 334 pag. |
O Orador dos Mortos não é ninguém mais a não ser
Andrew (ou "Ender") Wiggin, o genocida. Nesta continuação de
"O Jogo do Exterminador", Orson Scott Card transfere a cena
para uma colônia habitada por brasileiros no planeta Lusitânia.
Parece estranho, mas o fato é que Card, embora seja tão americano
quanto um sucrilhos, morou no Brasil e fala português. Por isso,
alguns personagens também falam português e há alguns elementos
da cultura brasileira no livro (nada de samba e futebol, entretanto).
No planeta Lusitânia, colonizado por estes brasileiros especialistas
em genética, são descobertos alienígenas inteligentes semelhantes
a porquinhos. Não há como descrever o choque cultural e psicológico
nessas poucas linhas, e Card faz isto muito melhor, mas garanto
que o resultado é de tirar o fôlego. Lusitânea também é o lar
da "Descolada", um vírus mortal para os seres humanos, mas do
qual os "porquinhos", os habitantes nativos, necessitam para
se tornarem adultos. É neste planeta estranho que Ender pretende
depositar o último ovo da rainha dos Insecta, de modo a reflorescer
a civilização que ele destruiu ... bem , desculpem-me por contar
o final de "O Jogo do Exterminador", mas quando se começa a
ler um livro com este título o final já está implícito ... eu
acho.
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"Xenocide"
Orson Scott Card
Tor Books, New York, 1992, 592 pag.
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Este livro acaba de ser traduzido para o português,
mas tive a oportunidade de lê-lo no original, mesmo que em edição
de bolso. Trata-se da continuação de "Orador dos Mortos". Como
podemos adivinhar, o Congresso Estelar não ficou muito feliz
em saber que um vírus letal habitava um planeta do qual poderia
escapar e enviou uma nave para destruir Lusitânia. O único problema
é que a nave desapareceu ... No universo criado por Card a comunicação,
mesmo entre os planetas mais distantes, é instantânea, mas o
transporte só pode ser feito a velocidades menores do que a
da luz. Isto cria certas dificuldades logísticas e Card se aproveita
disto e da relatividade especial para contar a continuação da
estória de Andrew Wiggin. Trata-se do mais profundo dos três
livros e, provavelmente, do mais fantasioso. Por mais que eu
quisesse, não conseguiria descrever toda a complexidade do enredo.
O próprio título é curioso: de quem é o Xenocício ? Dos porquinhos
? Dos Insecta, que agora habitam uma região remota e se preparam
para deixar o planeta antes que as naves da destruição cheguem
? Ou será o xenocídio da descolada, o vírus mortal que agora
se descobre ser dotado de uma espécie de inteligência ? Ou será
dos próprios seres humanos ? Ou seria de Jane, a entidade cibernética
que emergiu da rede mundial de computadores e de cuja existência
o Congresso suspeita ? A missão de Ender, o xenocida, é impedir
que isso aconteça, mas não há realmente uma solução para todos
os problemas. Algumas coisas ficam no ar e outras na esperança.
Talvez Card tenha levantado questões demais, que só serão respondidas
no próximo livro "Children of the Mind" (que ainda
não li, mas se eu contar por que acho que o livro tem este título
terei de contar o fim de Xenocide...melhor para por aqui).
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"Worthing Saga",
Orson Scott Card, Tor Books, New York, 1990, 463 pag.
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Esta coletânea de contos de Card, também traduzida
recentemente para o português, reúne as estórias sobre Jason
Worthing, escritas quando o autor tinha dezenove anos. Não há
relação com Ender e o universo narrativo é completamente diferente.
Como o próprio autor admite, as estórias foram muito influenciadas
pela leitura de Asimov e quem ler este livro depois de ter lido
a saga de Ender se decepcionará um pouco. Vale um advertência
para os leitores: a primeira parte do livro forma uma única
narrativa, por meio de estórias curtas separadas em capítulos.
A parte final não forma um todo; são contos totalmente separados
do ponto de vista de enredo, unidos unicamente pelo tema. Aos
escritores iniciantes fica a mensagem de que mesmo os grandes
escritores, nos primórdios, escreveram livros imperfeitos e
extensamente baseados em outros autores, muito embora muito
distante de um plágio.
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"The Dispossessed - An
Ambiguous Utopia"
Ursula Le Guin, Harper
Prism, 1974/1994, 387p.
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Ursula Le Guin é uma mestra em construir ambientes
alienígenas com uma grande riqueza de detalhes. Os despossuídos
do título são os habitantes do planeta Urras, que deixaram o
riquíssimo planeta Anarres para viver uma utopia comunista.
Na verdade, Urras é uma lua de Anarres e o comunismo parece
funcionar melhor por lá do que jamais funcionou, ou funcionará,
na Terra. Escrito em 1974, antes da queda do Muro de Berlin,
o livro não é uma defesa do comunismo ou do capitalismo, mas
uma boa estória envolvendo choques culturais e mudança de mentalidade.
Apesar de tudo, muitos comunistas e sindicalistas (existe diferença
?) teriam detestado ... se fossem capazes de ler em inglês.
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"O Parque dos Dinossauros"
Michael Crichton, Ed. Best Seller, 1991, 473 pag. |
Quando Michael Crichton escreveu este livro talvez
não tivesse idéia do sucesso de bilheteria em que o filme homônimo
iria se tornar. Neste livro, Crichton retoma uma tese que lhe
é muito cara: o "complexo de Frankenstein", ou a ciência vista
como instrumento de destruição da humanidade. De fato, este
é o tema central de livros como "Esfera", "O Enigma de Andrômeda"
e "O Homem Terminal", todos traduzidos para a linguagem cinematográfica.
O leitor desavisado pode ficar com a idéia de que a ciência
é má, pois Crichton não balanceia muito bem a opinião dos personagens.
O filme, por outro lado, é uma superprodução com "jeitão" de
filme classe B. É claro que os dinossauros de Spielberg não
sofrem mais do Mal de Parkinson, como os dinossuaros de antigamente
feitos em "slow motion", mas o filme apresenta erros de continuidade
dignos de um Ed Wood. Isso sem falar dos erros conceituais propriamente
ditos. Por exemplo, aquele garoto pendurado na cerca nunca poderia
ter tomado um choque elétrico, pois simplesmente não havia caminho
para fechar a corrente.
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