Realismo e Naturalismo
 

- Machado de Assis -

  Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro. seu pai era brasileiro, mulato e pintor de paredes; sua mãe era portuguesa da ilha de Açores e lavadeira. Freqüentou apenas a escola primária. Aos dezesseis anos já freqüentava a tipografia de Paula Brito, onde era publicada a revista "Marmota Fluminense", em cujo número de 21 de janeiro de 1855 sai o poema "Ela" (sendo a estréia de Machado de Assis nas letras).
  Casa-se em 12 de novembro de 1869 com a portuguesa Carolina Xavier de Novais, irmã de seu amigo, o poeta Faustino Xavier de Novais.
  Em 1873 é nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Tem uma carreira meteórica como servidor público, o que lhe deu tranqüilidade financeira. Em 1896 funda a Academia Brasileira de Letras (também chamada "Casa de Machado de Assis"), da qual se tornaria presidente no ano seguinte, e concretiza o velho sonho de reunir a elite dos escritores da época em um fechado clube literário.

  Após a morte da esposa, torna-se recluso; sua saúde, muito abalada pela epilepsia, por problemas nervosos e por uma gaguez progressiva, também contribuía para seu isolamento. Morre em 29 de setembro de 1908, em sua casa no Cosme Velho, Rio de Janeiro.
  Sua obra pode ser dividida em duas fases distintas:
- Fase romântica (ou de amadurecimento) - mostra o autor ainda preso a alguns princípios da escola romântica.
- Fase realsita (ou de maturidade) - mostra o autor já completamente definido dentro das idéias do realismo.

A poesia de Machado de Assis

  Na fase romântica prende-se aos padrões de autores românticos e até mesmo de alguns árcades. São poemas sem grande preocupação formal, embora sempre com linguagem bem cuidada. A temática é amorosa ou nacionalista (principalmente em seu livro "Americanas", onde se percebe a influência de Gonçalves Dias). Produziu três livros de poesias nesta fase.
  Na segunda fase, é um perfeito parnasiano, exalta o conceito da "arte pela arte" e a temática é extremamente pessimista, com postura filosófica (lembrando a poesia de Raimundo Correia e Olavo Bilac). Seus sonetos mais famosos são: "Círculo vicioso"; "Soneto de Natal"; e "A Carolina". Nesta fase produziu apenas um volume.
  Nos últimos 20 anos de sua vida, quando a produção de prosa realista é intensa, não escreve mais poemas.

A prosa de Machado de Assis - 1ª fase

  Considerados pelo autor como frutos de uma época de fé ingênua, ingenuidade esta perdida ao seguir novos caminhos: "me fui a outras e diferentes páginas", ou seja, páginas realistas.
  Mas, apesar de romanescos, os romances e contos dessa época já mostram algumas características que iriam, mais tarde, se consolidar na obra de Machado: o amor contrariado, o casamento por interesse, uma ligeira preocupação psicológica e uma leve ironia.

A prosa de Machado de Assis - 2ª fase

  A essa fase pertencem verdadeiras obras primas de Machado. A análise psicológica dos personagens, o egoísmo, o pessimismo, o negativismo, a linguagem correta, clássica, as frases curtas, a técnica dos capítulos curtos e da conversa com o leitor são a principal característica dos textos realistas, ao lado da análise da sociedade e da crítica aos valores românticos.
  "Memórias Póstumas de Brás Cubas", além de ser o primeiro romance realista da literatura brasileira, é uma obra inovadora, com uma série de características que distinguiriam as obras-primas de Machado de Assis.
  Além de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", podem ser citados outros importantes romances da segunda fase de Machado: "Quincas Borba"; "Dom Casmurro" (estes dois sendo duas obras-primas); "Esaú e Jacó"; e "Memorial de Assis" (seu último romance - segundo a crítica teria caráter autobiográfico, servindo para equilibrar a falta da esposa morta).
  Podem ser citados como características de seus romances dessa fase:
- Quanto à visão do mundo - pessimismo (mostra uma visão trágica e amarga da existência humana); humor (seria uma válvula de escape diante da miséria humana); denúncia da hipocrisia e do egoísmo (no universo de Machado, os bons sentimentos sempre surgem para esconder uma outra face, egoísta e hipócrita); ironia (também é uma forma do escritor refletir sobre a vida).
- Quanto aos personagens - seus personagens são homens comuns, que não podem ser classificados como bons ou maus. O autor abandona o exterior, indo penetrar na consciência, no mundo interior de cada personagem, onde encontra: paixão pelo dinheiro; egoísmo; medo da opinião alheia; dissimulação (principalmente nas personagens femininas); e vaidade.
- Quanto à narração - sua preocupação é com o caráter, a vida interior dos personagens, por isso, em suas narrativas há pouca ação e muita reflexão.
  Muitas vezes, o narrador interfere na trama, para conversar com o leitor, debater, opinar, esclarecer. Graças a essa interferência, ao final, fica a impressão de que o livro não foi "lido", mas sim "contado" por alguém (isso opõe-se as pretensões naturalistas, para as quais o leitor teria que "ver" a cena descrita ou narrada).
  Machado freqüentemente rompe a narrativa cronológica, linear, ora começando pelo fim, ora pelo meio, além dos freqüentes cortes.
- Quanto à temática - certos temas aparecem com bastante freqüência: a relatividade dos conceitos morais; a transitoriedade da vida; o tédio; a preocupação psicológica está sempre presente, a fronteira entre a lucidez e a loucura (tema do conto "O Alienista"); predominância do mal sobre o bem; a vaidade; o adultério (tema de "Dom Casmurro"); a inconstância do ser humno; a contradição entre aparência e essência.