ÁLBUM DE RECORDAÇÕES
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FRANCISCO MAGALHÃES
(XICO)
Francisco Magalhães, (Xico), com um belo exemplar de Palapala (Hippotragus niger), abatido em 1965 no tando do Suzano,
perto do rio Tôa, afluente do Revuè, na Província de Manica e Sofala – Moçambique.
Nascido em Moçambique, em 1936, desde criança que o Xico se habituou a conviver com a natureza e logo se apaixonou pela caça. Seu pai foi chefe de posto administrativo e viveu em regiões das mais famosas em fauna bravia, como Marromeu, Lacerdónia, Inhaminga, Gorongosa, Vila Machado e por último Vila Pery, actual Chimoio.
Caçador desportista por excelência, estudioso e apaixonado pelos problemas da fauna bravia, depressa despertou a minha atenção após a chegada a Vila Pery no início de 1963. Para além da caça tinha ainda outra grande paixão: a fotografia ! Raramente se encontravam, no seio dos caçadores, indivíduos com estes atributos !
O Xico era um profissional do ramo da electricidade, com formação superior obtida na Africa do Sul. Esta sua actividade contribuiu também para a nossa aproximação: elaborou e executou projectos de electrificação para o Parque Nacional da Gorongosa, - a cuja administração estive ligado nessa altura - e também para o Posto de Fiscalização de Caça de Vila Pery.
Conhecedor das áreas de caça da região e do seu potencial faunístico, foi o meu melhor colaborador na identificação das mesmas, quer elaborando mapas e gráficos, quer acompanhando-me nas deslocações, sobretudo quando havia operações de controle de animais em defesa de pessoas e bens, muito frequentes naquela zona central de Moçambique.
No escritório-laboratório da residência da família Magalhães – uma das melhores da cidade - passámos muitas horas ao serão, revelando filmes e fazendo fotos e mapas ilustrados com desenhos dos animais típicos das respectivas áreas. Muitos destes trabalhos foram oficializados e alguns deles ainda estão em uso, nomeadamente os respeitantes aos Parques Nacionais, Reservas e Coutadas. O
Xico era perito nestes trabalhos e executava-os com grande satisfação, nunca tendo cobrado por eles qualquer importância !
Dizia-me que a melhor recompensa que podia receber era a nossa confiança e o reconhecimento das suas virtudes como caçador desportista, respeitador das leis da caça e simultaneamente como conservador da fauna bravia.
Não tive pois qualquer dúvida em lhe facultar a realização de alguns dos seus sonhos, integrando-o muitas vezes nos meus trabalhos de controle de animais de grande porte, nomeadamente de elefantes, quando em defesa de pessoas e bens. Foi um dos raros caçadores estranhos aos Serviços da Fauna a quem facultei semelhante participação, durante a minha actividade e a sua preciosa ajuda
revelou-se sempre muito útil e confirmou o seu valor como caçador.
O Xico com o autor junto de um elefante abatido durante uma
operação de protecção às culturas dos naturais das povoações a
Noroeste do Parque Nacional da Gorongosa, na década de 60
(foto extraída do livro “African Trails”)
Publicou em 1996 um interessante livro, em inglês, sobre as suas aventuras como caçador, com o título “African Trails”, descrevendo ali algumas experiências sobre a sua participação naquelas brigadas. Está a preparar a edição em português.
Saíu de Moçambique em 1976, em circunstâncias que muito o traumatizaram e que deixou transparecer naquele mesmo livro.
Imagem da capa do livro “AFRICAN TRAILS”
Vive há largos anos no Brasil, provávelmente sonhando com a sua terra natal e com os belos momentos que ali passou nas caçadas que tanto o emocionavam!
Pela admiração e respeito que sempre me mereceu e pela amizade recípocra que ao longo dos anos temos mantido, o primeiro lugar neste album difícilmente poderia ser ocupado por outro !
Voltarei, em local diferente, a falar do Xico e de seus saudosos pais !