Celestino Gonçalves
 
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ÁLBUM DE RECORDAÇÕES

- 9 -

ENCONTROS COM VELHOS AMIGOS EM MOÇAMBIQUE

(Outubro 2002 a Janeiro 2003)

 

Depois do meu regresso de Moçambique, em 1990, fixei-me na minha terra Natal, em Portugal, para aqui curtir com a cara metade a última fase das nossas  vidas.

Invariavelmente, de dois em dois anos, temos feito a viagem ao país do  nosso coração pela razão forte de mantermos viva a chama da família que nos une à filha, genro e netas que ali estão radicadas.

Esta motivação ocupa-nos uma boa parte dos habituais três meses de estadia, numa  vivência  em comum na casa em Maputo e nas praias ou reservas de caça da África do Sul, onde normalmente vamos num aproveitamento rigoroso do tempo de férias (de trabalho e escolares) que a família conjuga durante esse período. Mas também nos ocupamos em visitas a muitos amigos que felizmente conservamos naquele país.

Estas visitas, intercaladas com outras (menos regulares) que a filha e o seu clã nos fazem a Portugal, ajudam a aliviar as saudades que sentimos durante os tempos de separação.

O longo tempo que vivi em Moçambique, a profissão que exerci e a minha forma de estar na vida nomeadamente no que respeita ao relacionamento com as pessoas, tornaram-me conhecido praticamente em todo o país e daí ter feito muitas amizades, algumas prevalecem ainda.

Curiosamente, acontece com frequência, durante estas visitas,  ser cumprimentado por pessoas conhecidas, em locais públicos, que se comportam como se me tivessem visto uma ou duas semanas antes e algumas delas até me perguntam onde é que tenho andado nos últimos tempos! 

Graças à compreensão da família, tenho total liberdade para andar ou viajar sozinho, visitando muitos desses amigos, quer na cidade capital quer pelo interior do país. Alio a este prazer o facto de ir rever locais por onde andei no exercício das minhas funções, como por exemplo os Parques Nacionais, Reservas, Coutadas de Caça, Praias ao longo da Costa, etc,.

Durante a recente estadia (Outubro 2002/Janeiro 2003), fiz alguns milhares de quilómetros por estradas e picadas, e também de avião , atingindo as regiões mais ao Norte de Inhaminga e Marromeu, passando pelas cidades e vilas intermédias como Xai-Xai, Inhambane, Maxixe, Dondo e Beira, para não falar das mais pequenas sedes administrativas ao longo do percurso. De entre os muitos amigos com quem me encontrei, na capital e no interior,  retrato aqui alguns deles:

 

Foto 1

 

O primeiro contacto com amigos, após a chegada a Maputo, ocorreu no Stand de Tiro da Matola. Nem mais nem menos que a famosa dupla de caçadores-guias da década de 60/70 - Amadeu Peixe (esquerda) e Rui Quadros (direita). Eles regressaram recentemente a Moçambique para retomarem as actividades onde tantos sucessos alcançaram.

Felicidades para ambos!

 

Foto 2

Com  Mia Couto (esquerda), o notável escritor moçambicano de projecção mundial.  Ele faz parte da família onde minha filha Paula se encontra integrada, por casamento com o irmão mais novo. Não só por esta circunstância mas por afinidade de ideias relacionadas com a conservação da Natureza em geral e da fauna bravia em particular, a nossa amizade vem de longe e prevalece cada vez mais sólida. 

 

Foto 3

Com o Dr. Augusto Cabral, director do Museu de História Natural de Maputo. Com este velho amigo conservo uma forte e sã amizade firmada desde 1952 quando eu trabalhava na Administração de Marracuene e ele na brigada de demarcação da linha férrea entre esta vila e a Manhiça. Ele notabilizou-se no ensino das matérias sobre a conservação da natureza, sendo autor de várias obras de identificação do potencial faunístico do país. É muito conhecido da população da cidade de Maputo e goza de grande popularidade entre as crianças que o tratam por "Titio Cabral".

Nos últimos anos o Dr. Augusto Cabral desenvolveu um importante trabalho no Museu, recuperando-o da degradação em que se encontrava por alturas da independência.

A foto foi tirada junto da colecção de fetos de elefante, única em todo o mundo e que foi obtida durante o abate de cerca de dois mil elefantes, na década de 40, na região de Catuane. Um abate inglório que foi feito para sanear a região de animais selvagens e dar lugar à criação de gado bovino. Um erro próprio da ignorância da administração colonial, que nunca soube valorizar a importância da fauna bravia.

 

Foto 4

Com o "Titio Cabral" (centro) e o Patrício Leão (esquerda), no pátio do Museu de História Natural, junto do mural pintado por Malangatana em 1977. 

O João Patrício Leão é um  xai-xaiense descendente de uma das famílias portuguesas mais antigas que se radicaram na colónia em finais do século IXX.  Seu avô - o Mendes do Xai-Xai - chegou ali antes dos combates que Mouzinho de Albuquerque travou com o Gungunhana em 1895. Conheci esta respeitável família no auge das suas actividades e preservo óptimas recordações do relacionamento com o pai do João quando era funcionário da WENELA. O simpático descendente, que vive em Maputo com a família, mantém vivas as qualidades que herdou dos seus progenitores e a sua casa está sempre aberta aos que ali buscam apoio ou simples convívio. Senti esse calor humano e fortaleci a amizade dos velhos tempos!

 

Foto 5

O notável pintor moçambicano Malangatana, artista mundialmente conhecido e muito estimado no seu país.

A foto (tirada por minha filha Paula) regista o momento em que ele autografava o seu recente Álbum, num jantar com médicos portugueses e moçambicanos que participaram, em Novembro último, nas jornadas pediátricas em Maputo.

Malangatana N'Guenha Valente é natural de Marracuene, onde nos conhecemos e nos tornamos amigos na década de 50, quando ali residi e era funcionário da administração local.

 

Foto 6

Com o Sol Carvalho (direita), na entrada da Reserva de Caça sul africana de Thanda Nani, durante a visita que ali fizemos na segunda semana de Janeiro último.

O Sol Carvalho é um moçambicano nascido em Inhambane que veio a radicar-se em Maputo a seguir à independência. A sua paixão pelo cinema e outras artes do audio-visual catapultaram-no a uma posição de destaque nesta indústria, que há  uns anos a esta parte desfruta, sobretudo como produtor e realizador de cinema e também como fotógrafo. Desenvolve ainda actividades no jornalismo, cujos trabalhos abordam muitas vezes os problemas do meio ambiente e conservação dos recursos naturais. É um entusiasta pela fauna bravia e pelo estudo das espécies vegetais nativas, passando todo o seu tempo disponível no campo.

Foi colaborador, no início da década de 80, do Centro de Formação Agrária, em Maputo, onde eu me encontrava como administrador. Desde então que mantemos uma forte amizade e sempre que estou em Maputo passamos muito tempo juntos, quer na sua casa onde passamos horas sem fim envoltos com os ficheiros da sua vasta colecção de fotografias e vídeos sobre animais bravios (a melhor colecção que conheço), quer em viagens, como sucedeu agora: acompanhei-o à foz do rio Incomáti onde foi preparar as filmagens de um documentário sobre o ciclo do caranguejo e fomos à reserva de Thanda Nani, na África do Sul, uma das mais privilegiadas áreas de protecção da vida animal bravia deste país, com destaque para os rinocerontes brancos e negros.

 

Foto 7

Com o Sol Carvalho (direita), junto do local, em Maputo, onde o jornalista Carlos Cardoso foi assassinado em Novembro de 2000. Ambos éramos amigos do Carlos e a deslocação a este local foi uma pequena homenagem que quisemos tributar ao saudoso jornalista, miseravelmente abatido porque denunciou no seu jornal os responsáveis por grandes desfalques bancários. O julgamento dos criminosos decorreu em Maputo durante a nossa estadia e culminou com uma sentença pesada contra os responsáveis e autores do crime.

 

Foto 8

Na casa do caçador-guia Sérgio Veiga (centro), em Maputo, com o Sol Carvalho (esquerda).

O Sérgio  foi na época colonial o último caçador a ser licenciado como guia profissional de caça, tendo actuado ao serviço da Moçambique Safarilândia. Ele é filho de outro caçador profissional, o Cândido Veiga, que igualmente esteve ao serviço da mesma empresa.

Trata-se de um desportista muito conhecido em Moçambique, nomeadamente pelas suas participações nas actividades de pescador e mergulhador (campeão por diversas vezes e detentor de vários records de grandes e raros peixes) e futebolista (como jogador e treinador). Mas a principal faceta que o destingue é como pintor, dedicado especialmente ao tema dos animais bravios e ao ambiente marinho, com várias exposições no país e estrangeiro. É também um excelente fotógrafo e abarcou já o jornalismo com actuações dentro e fora do país, nomeadamente Angola nas zonas destruídas pela guerra. Como escritor tem no prelo um livro de ficção baseado na vida da população rural do pós guerra e que já tem para ele uma proposta de passar a filme.

A ligação de amizade que me prende a este personagem vem dos tempos em que ele, ainda muito jovem, acompanhava seu pai nas caçadas de fim de semana. A sua evolução abrangendo todas aquelas facetas despertou sempre a atenção de jornais e revistas, onde os seus feitos se encontram descritos e enaltecidos. 

A todo esse grande curriculo o Sérgio Veiga alia uma simpatia pessoal que cativa e daí pertencer ao número dos amigos que muito prezo e estimo.

Ele convidou-me a acompanhá-lo, na deslocação ao interior da província de Sofala, onde foi conduzir um safari de caça numa das concessões de um outro amigo meu - Alexandre Santos.  Isso aconteceu no mês de Novembro e sobre a viagem e estadia nessa longínqua concessão faunística oportunamente farei uma narrativa adequada.

 

Foto 9

No acampamento do Mupa, região de Inhaminga, na concessão de caça de Alexandre Santos (à esquerda na foto), onde passei oito dias em plena comunhão com a floresta e os animais bravios, enquanto o Sérgio Veiga conduzia um safari de caça com clientes portugueses, em Novembro último.

 

Foto 10

Com uma velha glória do futebol português -  Mário Coluna - que sendo benfiquista nunca se esquece dos amigos sportinguistas que sempre o admiraram e estimaram. A prova está nesta foto tirada durante um convívio em Maputo no passado mês de Dezembro.

 

Foto 11

Na minha deslocação a Sofala tornou-se obrigatória uma breve estadia na cidade da Beira. Ver amigos e visitar locais de gratas recordações foi uma obrigação a que me impus e esta foto revela um dos momentos altos que foi o encontro com o Arquitecto Francisco Ivo (Chico Ivo para os amigos), filho do saudoso Arquitecto Carlos Ivo. Uma família que se distinguiu sempre em todas as suas actividades e que marcou a diferença pelo papel preponderante que tiveram (e ainda têm) na defesa e protecção da fauna bravia. O Chico encabeça a direcção de uma associação local de defesa do meio ambiente do Savane, visando salvar o que resta da rica floresta da região costeira que está em vias de destruição total e que há bem poucos anos era uma área maravilhosa em termos florestais e de fauna bravia.

 

Foto 12

Em Inhambane vive este velho amigo - Joaquim Oliveira - (direita), que é um dos quatro únicos portugueses  que resistiram ali à mudança brusca resultante do processo de descolonização. Há meio século que ele se acomoda e vive feliz nesta tranquila e hospitaleira terra!

Foi um enorme prazer visitá-lo na sua residência e com ele recordar tempos antigos de vivência na velha cidade da "Boa Gente"!

 

Foto 13

Outros amigos que encontrei na cidade de Inhambane: o Magide Parmamande (esquerda) e o Augusto Simões (direita). Fomos colegas do futebol da década de 50 e recordamos alguns feitos e desencantos, como por exemplo a fractura do menisco do meu joelho direito num treino no velho campo das casuarinas!

 

Foto 14

Com  Ernesto Chale, o moçambicano que fora meu colega no quadro dos Serviços de Fauna Bravia, antes da independência  e que veio a optar pela carreira administrativa depois de 1975. Substituiu-me no lugar de administrador do Centro de Formação Agrária, que deixei em 1990, onde ainda se encontra.

Esta foto, tirada no início de Janeiro último, mostra a árvore (mafurreira) que ajudei a plantar em 1984 para assinalar o primeiro curso ali realizado.

 

Foto 15

A cerimonia de plantação da mafurreira, em 1984, no Centro de Formação Agrária, a que assistiram alunos e professores . Dezanove anos depois está uma árvore bem desenvolvida como se pode ver na foto 14.

 

Marrabenta, Fevereiro de 2003

Celestino Gonçalves

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