LUÍS PEDRO DE SÁ E MELLO
(Caçador-Guia)
Foto recente do Luis Pedro de Sá e Mello
(Esta mesma foto documentou uma excelente reportagem sobre um safari conduzido por este caçador no Zimbabwe – Revista “Grande Reportagem”, Novº 99).
Nascido em 1940, em Lourenço Marques (actual Maputo), o Luis Pedro viveu e estudou na cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia, até aos 21 anos. Pertence a uma família numerosa e muito conhecida na época em Moçambique – os Sá Mellos. Entre pais, tios e primos, este clã seria provávelmente o mais numeroso entre os portugueses radicados naquela província e as suas
actividades tornavam-nos muito conhecidos já que ocupavam lugares de direcção, quer no Estado quer na príncipal companhia agrícola e outras actividades da região.
Desde novo que se apaixonou pela caça, (aos 14 anos abateu o seu primeiro búfalo) beneficiando da experiência de alguns dos seus familiares que o levavam às caçadas com muita frequência. Conheceu assim a pujança faunística de zonas famosas como Morrumbala, Mopeia e Gilé, recordando-as com saudade sempre que se fala da situação que a fauna bravia de Moçambique atravessa actualmente !
Iniciou a actividade de caçador-guia em 1962, após ter cumprido o serviço militar, tendo feito a sua carreira no sul de Moçambique, Coutadas 16 e 17. No final da década de 60 era já considerado um dos melhores caçadores-guias de Moçambique com renome internacional. Esta situação não passou despercebida aos Serviços da Fauna que passaram a dispensar-lhe certa atenção e até a
requisitar a sua colaboração nomeadamente para acções decorrentes na região do alto Limpopo que ele bem conhecia e cuja língua local dominava com facilidade. Participou em várias acções de combate à caça furtiva e destacou-se sobretudo em duas missões: nos trabalhos de reconhecimento da região do Banhine, em 1971, com vista à criação do Parque Nacional com o mesmo nome e no safari
oficial do membro do governo (Secretário Provincial de Terras e Povoamento) Engº Martins Santareno, em 1973, que culminou com o abate de um elefante de grandes proporções.
A equipa que efectuou os trabalhos de reconhecimento da região de Banhine em 1971
(em 1973 viria a ser criado o Parque Nacional com este nome).
Da esquerda para a direita:
Luis Pedro de Sá e Mello, o autor desta página, o Professor Dr. Jaime Travassos Dias (Director da Faculdade de Veterinária e Presidente da Associação de Protecção da Natureza de Moçambique) e Dr. Armando José Rosinha (Director dos Serviços de Fauna Bravia).
O safari do Engº Santareno
O Engº Martins Santareno (à esquerda) e o caçador-guia Luis Pedro de Sá e Mello, junto do enorme elefante
(Loxodonta africana) abatido durante o safari oficial daquele membro do governo.
O safari acima referido decorreu na Coutada oficial 16, na provincia de Gaza, no mês de Novembro de 1973 e foi objecto de algumas especulações na época. Conjecturou-se que o abate do elefante teria sido efectuado com a utilização de um helicóptero e houve quem levantasse o problema da legalidade de tal abate. Não faltou quem tentasse pressionar as autoridades da fauna para que os
troféus – duas belas pontas de marfim com 65 Kg cada – fossem retirados ao autor do abate e entregues ao Museu Álvaro de Castro (actual Museu de História Natural). A verdade é que as leis da caça de então previam a concessão de autorizações especiais aos membros do governo e a caçada ao elefante até fora supervisada por representantes dos Serviços da Fauna. Não houve qualquer
irregularidade e o Engº Santareno pôde assim ficar na posse de tão bonitos e importantes troféus!
O abate de um elefante destas proporções já não ocorria há mais de vinte anos em Moçambique ! Até hoje não voltou a ser visto outro semelhante neste país e provávelmente não voltará a existir!
Foi opinião generalisada entre caçadores que conheciam a região, incluindo do próprio Luis Pedro, que este elefante se encontrava há poucos dias no território moçambicano, vindo do vizinho Kruger Park, da África do Sul, cuja fronteira na época não dispunha de barreiras que impedissem a passagem destes paquidermes. Eu próprio corroborei esta teoria, pois conheci bem a região quando
prestei ali serviço, dezanove anos antes, como administrativo no Pafúri e nessa altura eram frequentes as incursões no interior do território de Moçambique de elefantes saídos daquele Parque, nomeadamente de machos solitários em busca de manadas receptivas.
Vinte e sete anos depois deste acontecimento (em Junho último) o Luis Pedro voltou a descrever-nos a caçada com todos os seus pormenores emocionantes, reavivando-nos assim a memória de factos que na altura bem conhecemos, dos quais ele muito se orgulha por ter sido um dos protagonistas e responsável por aquela que viria a ser considerada uma das caçadas mais célebres em Moçambique !
Escutado atentamente pelo Dr Armando Rosinha (ao fundo), por seu filho João Pedro
(em primeiro plano) e pelo autor desta página (não visível na foto), o Luis Pedro quando
descrevia a caçada ao elefante abatido pelo Engº Santareno em 1973, na Coutada 16,
caçada essa que ele conduziu e que ficou famosa pelas dimensões e pêso das presas de marfim !
Um currículo invejável !
O Luis Pedro de Sá e Mello, actualmente, será o caçador-guia português que actuou em Moçambique com maior currículo nesta actividade. Ele saíu do país que o viu nascer logo após a independência pela razão única de terem sido suspensas, a partir de 1975, as actividades de caça. Tal como a maioria dos caçadores da época, rumou para outros países
africanos, passando pelo Sudão, República Centro Africana, Camarões, Zimbabwe, África do Sul e nos últimos anos na Tanzania ao serviço da prestigiosa empresa “Tanganyika Wildlife Safari”. Em todos estes países tem somado êxitos sobre êxitos encontrando-se cotado entre os melhores Professional Hunters que actuam em África !
Poucos são já os portugueses que exercem esta arrojada actividade. Ele é o único entre os 20 caçadores-guias brancos que trabalham na referida empresa concessionária das afamadas áreas de “SELOUS GAME RESERVE”, “RUVU MASAI” e “KITWAI”.
Trinta e oito anos de actividade ininterrupta numa profissão desgastante como é a de caçador-guia em África, é um admirável record entre os portugueses que o Luis Pedro diz não ficar por aqui já que a sua forte paixão por este tipo de vida e o facto de ter uma saúde de ferro, o prendem a novos contratos !
Um belo exemplar de Leão (Panthera leo) é sempre orgulho de qualquer caçador,
mesmo que a sua participação no abate seja, como neste caso,
a de organizador e condutor da respectiva caçada !
(safari recente na Tanzania).
Conhecedor profundo da fauna africana e estudioso dos problemas envolventes, tem sido convidado a escrever artigos para revistas deste fôro nomeadamente nos Estados Unidos da América, assim como para proferir palestras em Clubes de caçadores de vários países. É membro de várias organizações como o prestigiado Safari Club International (USA), do Game Coin (USA), da International
Professional Hunters Association of South Africa (África do Sul) (fundador) e da Association de la Chasse Professionnel (França). É ainda medidor oficial do Rowland Ward’s – Records of big Game, a mais antiga e principal organização mundial que coordena e publica em edições periódicas especiais as listas dos animais bravios abatidos em todo o mundo e nomes dos respectivos caçadores,
cujos medidas se enquadram nos limites estabelecidos para figurarem nos anais dos melhores troféus.
O mais pequeno dos animais classificados como os “Big Five” africanos – o leopardo (Panthera pardus) (os restantes são: Elefante, Rinoceronte, Búfalo e Leão) é dos mais difíceis de caçar precisamente pelos hábitos silvestres que o encobrem fácilmente da vista dos caçadores.
Tal como acontece com o Leão, as artes de caça a este felino envolvem um trabalho aturado por parte dos guias e seus auxiliares ao longo de vários dias, por vezes durante todos quantos dura o safari e nem sempre é coroado de êxito.
Daí serem estes troféus muito desejados por todos os caçadores-turistas, como este que está na foto (à esquerda) e cuja satisfação é bem patente no seu rosto !
Uma família de caçadores
Um outro aspecto curioso que torna este caçador-guia ainda mais emblemático é o facto de ser filho de um caçador – António de Sá e Mello – e ter um filho – João Pedro de Sá e Mello – também caçador, todos eles guias profissionais ! O pai, já falecido, depois de uma carreira diferente na província da Zambézia passou os seus últimos dez anos como caçador-guia nas Coutadas do sul de
Moçambique. O filho, ainda jovem quando a família se radicou em Portugal em 1975, acabaria também por escolher a profissão do pai e dedicar-se a partir de 1992, na Tanzania, a esta apaixonante actividade, frequentando mais tarde, em 1996, um curso de caçador profissional numa escola da especialidade na África do Sul.
Três gerações abarcando ideais comuns numa vida sertaneja africana tão árdua quanto emotiva, é herança de que muito se deve orgulhar esta família !
Acresce ainda que mais um outro caçador profissional , o José Afonso Ruiz (já falecido), que foi concessionário da Coutada 17, fazia também parte desta família: era tio da mãe do João Pedro, portanto tio avô deste!
Como filho de peixe sabe nadar, o João Pedro não deixa os créditos da família mal parados
e como caçador-guia tem já um currículo apreciável !
Na foto junto de um excelente troféu – búfalo (Syncerus caffer) – abatido na Tanzania.
Uma vida atribulada !
Encontrar o Luis Pedro durante o período das suas férias em Portugal é muito difícil! Por norma passa seis meses em África (entre Junho e Dezembro) directamente ocupado nos safaris. Os restantes seis meses divide-os entre a família em Portugal e as viagens para outros países para cumprir compromissos ligados à sua profissão. É a missão de propaganda dos safaris na
sua empresa; são as solicitações para visitar clubes de caçadores e proferir palestras; são os convites dos amigos para efectuar caçadas fora do ambiente africano ( a última caçada foi na Argentina, em Abril último, onde abateu um veado “Colorado” com 16 pontas e direito a figurar no Rowland Ward’s).
Uma catrefa de tarefas que o ocupam mais tempo do que aquele que a família e os amigos próximos desejavam !
Em Portugal o Luis Pedro foi já objecto de atenções por parte da comunicação social, nomeadamente a Rádio Televisão Portuguesa que seguiu um dos seus safaris no Zimbabwe e integrou a respectiva reportagem no seu programa “Portugal Sem Fim”. Ao mesmo tempo a revista “Grande Reportagem”, na sua edição de Novembro de 1999 inseriu uma bela reportagem paralela ao trabalho da RTP, fazendo-se
assim juz ao valor deste profissional que, como muito bem se diz nesta mesma reportagem, “…..continua a caçar na tradição dos nossos velhos sertanejos, esses exploradores anónimos do século passado que, em verdade se diga, desvendaram bem mais do interior de África que todos os Livingstone deste mundo.”
Nos últimos 25 anos este foi o quarto encontro com o Luis Pedro !
Na foto estão, para além dele (ao centro), o Dr. Armando Rosinha (à esquerda) e o autor (à direita).
Local: o cantinho onde se dá forma a esta página – a Marrabenta. Data: 15 de Junho de 2000.
Marrabenta, Outubro de 2000