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ÁLBUM DE RECORDAÇÕES
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CAÇADORES - GUIAS
Alberto Novaes de Sousa Araujo, o primeiro caçador-guia de Moçambique
Este personagem encabeça, por mérito próprio, a lista que a seguir divulgamos, referente aos caçadores-guias que actuaram em Moçambique antes de 1975, data da independência deste país e altura em que aqui foram suspensos os safaris de caça.
Pessoa algo polémica devido à forma muito própria, de certo modo austera, de estar nesta actividade e ainda por se auto-intitular de filho do Rei D. Carlos de Portugal.(1)
Era considerado o gentleman da indústria dos safaris em Moçambique.
Foi concessionário da Coutada oficial nº 1, anteriormente designada por “Coutada do Sabonete”, que fazia limites com o Parque Nacional da Gorongosa . Esta Coutada, por ser o prolongamento ecológico natural do Parque, viria mais tarde e já sob tutela da Safrique, (2)a ser extinta para dar lugar a uma zona em regime de vigilância
especial com vista à sua integração no mesmo Parque. Ali existiam, com abundância, as espécies de animais comuns no Parque, incluindo o rinoceronte preto, (Diceros bicornis), sendo o ponto mais a sul do país onde esta espécie se encontrava na década de 60.
Uma Coutada fabulosa em variedade e quantidade de espécies da fauna bravia africana !
O Alberto Araujo emergiu nesta actividade a partir da sua grande paixão pela caça quando ao serviço da Trans Zambézia Raylls. Os seus feitos como caçador foram largamente noticiados nos jornais e revistas da época, sobretudo pelos frequentes abates de leões na região de Inhaminga !
Conheci-o pessoalmente quando visitei pela primeira vez a Coutada, em 1963, altura em que decorriam os preparativos para a campanha cinegética desse ano e tudo ali era uma azáfama de trabalho de limpezas e arranjos no acampamento - o célebre Kanga N’Thole - de que tanto se orgulhava, construído todo em madeira tratada, sobranceiro ao rio Nhandugué que delimitava o Norte do Parque.
Aspecto parcial do acampamento de Kanga N’Thole
Nesse mesmo ano e no seguinte tive a oportunidade de acompanhar alguns safaris oficiais nas diversas coutadas, incluindo a nº 1, pelo que foram muitos os nossos contactos, prolongados em outras ocasiões quando em fiscalização rotineira ou mesmo na Beira quando exercia as suas funções na Safrique.(2)
Em 1963, depois do safari oficial dos Marqueses de Villaverde,(3) o grupo - Alberto Araujo, Marquês, Adérito Lopes (jornalista), Senhora Aznar (acompanhante), Marquesa e o autor – momentos antes do regresso à Beira.
Pessoa de idade a rondar, na altura, os sessenta e tal anos e de compleição física um tanto inadequada para operar como condutor de safaris, devido sobretudo ao excesso de peso, limitava-se a dirigir e controlar a sua Coutada. As caçadas eram entregues a caçadores-guias mais novos, seus empregados. Durante o tempo de defeso da caça organizava safaris
de pesca, a partir da Beira, sendo também famosa esta sua actividade.
Dada a fama e o seu relacionamento com as mais diversas figuras da vida pública, era anfitrião constante de individualidades de destaque, a maior parte para efectuarem caçadas patrocinadas ou apoiadas pelo próprio governo.
Viria a falecer, alguns anos mais tarde, na situação de inspector e sócio da Safrique.(2)
Vive na cidade da Beira o seu único filho, conhecido pelo “Búfalo” e que, tal como seu pai, é grande entusiasta da caça e sustenta a ideia do seu progenitor relativamente aos laços sanguíneos com o rei D. Carlos.
(1)Pessoas mais chegadas ao Alberto Araujo garantiam que este afirmava com forte convicção que era filho do rei D. Carlos de Portugal. Contudo, pensava-se que isso não passava de uma simples brincadeira devido à semelhança física de ambos e que o Alberto Araujo gostava de contrastar ostentando uma fotografia do próprio rei no seu escritório e
ao seu lado uma foto sua. Eram de facto muitas as semelhanças, como eu próprio constatei.
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(2) A Safrique – Sociedade de Safaris de Moçambique - foi constituída, em 1964, por iniciativa do Banco Nacional Ultramarino, tendo congregado as coutadas 1, 6, 7, 9, 10, 12, 13, 14 e 15 e os respectivos concessionários. E em boa hora foi criada, visto que a partir de 1965 os safaris de caça em
Moçambique foram considerados dos melhores em tôda a África e a Safrique a melhor empresa do ramo em todo o mundo !
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(3) Os Marqueses de Villaverde - filha e genro do Generalíssimo Franco, Presidente de Espanha - efectuaram safaris de caça em Moçambique em 1963 e 1964, como convidados do Presidente da República Portuguesa. Estes safaris decorreram em diversas coutadas de Manica e Sofala, tendo o autor sido designado supervisor dos mesmos.
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O NASCIMENTO DA PROFISSÃO
A caça turística em Moçambique surgiu no início da década de 60 e resultou de medidas tomadas pelo Governo para acabar com a chamada "caça profissional", até então praticada em todo o território por algumas centenas de caçadores que se dedicavam ao abate de espécies de grande porte (elefantes, búfalos, hipopótamos, elandes, etc,), para venda da respectiva carne,
peles e marfim.
Alguns desses caçadores e outros que praticavam a "caça desportiva", conhecidos por "caçadores de fins-de-semana", apoiados pela legislação acabada de sair, requereram a licença de caçador-guia.
Os mais destacados, que já tinham acampamentos nas zonas de grande densidade de fauna bravia, levados pelo entusiasmo das notícias que chegavam de alguns países africanos, nomeadamente do Quénia, relatando sucessos relacionados com os safaris de caça, disputaram entre si as melhores zona do centro e sul do território, apresentando às autoridades os pedidos para nelas exercerem
esta nova actividade - a exploração da caça turística.
Foram assim criadas as "coutadas oficiais".
Mapa das coutadas elaborado posteriormente à extinção das coutadas numeros 1,2,3 e 17.
(Clique no mapa para o ver em tamanho real)
Um processo infelismente mal conduzido, já que a própria legislação na altura não assegurava as condições a que deveriam obedecer tais áreas.
Sem qualquer estudo ecológico ou simples avaliação das espécies existentes, foram criadas, em 1960, as Coutadas Oficiais para a realização de safaris de caça, com base apenas nos dados apresentados por cada um dos requerentes !
Nasceu assim o turismo cinegético em Moçambique !
Esta actividade fez nascer uma nova profissão neste país: O caçador-guia. |
OS PIONEIROS
No centro do território vieram a ser criadas 15 Coutadas oficiais, (numeradas de 1 a 15) e no sul, provincia de Gaza, mais 2 ( com os números 16 e 17). Foram concessionadas aos respectivos requerentes, a saber: |
- Coutada 1 - Alberto N. Sousa Araujo (a)
- Coutada 2 - Não concessionada (b)
- Coutada 3 - Idem (b)
- Coutada 4 - Moçambique Safarilandia
- Coutada 5 - Jorge Alves de Lima
- Coutada 6 - José Joaquim Simões
- Coutada 7 - Idem
- Coutada 8 - Clube de Caçadores da Beira
- Coutada 9 - Agência Turismo Beira
- Coutada 10 -José Joaquim Simões
- Coutada 11-Amílcar Xavier Coelho
- Coutada 12-Vergílio Garcia
- Coutada 13- (c)
- Coutada 14-Francisco Salzone
- Coutada 15-Armindo Vieira
- Coutada 16-Manuel Sarnadas
- Coutada 17-José Afonso Ruiz(d) |
(a) – A Coutada 1 foi extinta em 1969 e criada uma "Zona de Vigilância Especial" para integração no Parque Nacional da Gorongosa.
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(b) – Estas Coutadas foram criadas como zonas tampão do Parque Nacional da Gorongosa e não foram concessionadas. Eram ali autorizados safaris a caçadores-guias independentes e vieram mais tarde a ser extintas.
(voltar ao texto)
(c) – A Coutada 13, por razões que estiveram ligadas a um desentendimento entre o seu inicial requerente e os Serviços da Fauna, só mais tarde veio a ser concessionada, por concurso público, à Safrique.
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(d) – A Coutada 17 foi extinta em 1973 por ter sido ali criado o Parque Nacional do Banhine.
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Lista geral dos caçadores-guias que operaram em Moçambique antes de 1975
Nº |
NOME
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Local de actuação
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1
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3
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5
6
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8
9
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11
12
13
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15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65 | Alberto Novais Araujo
José Joaquim Simões
Francisco Salzone
Armindo Vieira
Vergílio Garcia
Amílcar Coelho
Adelino Serras Pires
Francisco Coimbra
Augusto Luis Santos
Joaquim Silva (Jack)
Mário Cabeça Lopes
Mariano Ferreira
Pierre Maia
Carlos Costa Neves
António Fajardo
Francisco Martinho
José Augusto S.Pires
Victor Cabral
Luis Lopes da Silva
Carlos Cruz
Amílcar Jorge
Miguel Guerra
Luis Cardoso
Alberto Osório
Luis Mena
José Luis Barros
Gilberto Barros
Henrique Leitão
Mário Damião de Carvalho
Gilberto Lobo
James Chalmers
Wally Johonson
Michael Rowbotham
Jorge Alves de Lima
Werner Von Alvensleben
Manuel Posser de Andrade
Rui Quadros
Amadeu Peixe
Manuel Carvalho Figueira
José Saraiva de Carvalho
Manuel Rodrigues
José Luis Tello (Picão)
José Afonso Ruiz
Harry Manners
Manuel Sarnadas
António Sá Mello
Luis Pedro Sá Mello
José La Puente
Sérgio Pais Mamede
Cândido Veiga
Sérgio Veiga
José António Pereira
António Andrade
António Monteiro (Kubitchek)
Noel Jorge
José Barreto
Walter Johnson
António Alfaro Cardoso
George Dedek
Sérgio Cardiga
Janaka (Grego)
António Augusto
José Pereira
Keneth Fubs
António Moreno y Moreno |
Coutadas de Manica e Sofala
Idem
Idem
Idem
Idem
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Idem
Idem
Idem
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Idem
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Idem
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Idem
Idem
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Idem
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Idem
Idem
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Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Coutadas do Save (4 e 5)
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Cout. Limpopo (16 e 17)
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Idem
Cout. de Manica e Sofala
Idem
Idem
Idem
Idem
Cout. do Save e Limpopo
Idem
Idem
Cout. Limpopo
Cout. Manica e Sofala
Idem
Idem
Idem
Idem
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NOTA:
Esta lista foi elaborada com o apoio de: Dr Armando Rosinha; Luis Pedro Sá e Mello; Augusto Luís dos Santos, Nénè Vieira; Mário Lopes; Carlos Costa Neves e Adelino Serras Pires. Ficam aqui os meus agradecimentos a estes colaboradores, o primeiro ex-director da Fauna Bravia, o segundo da Nyalaland Safaris e os restantes ligados à Safrique.
Trata-se pois de um recurso da memória, já que não foi possível recolher estes dados junto dos Serviços da Fauna de Moçambique.
Poderá, assim, haver uma ou outra omissão. A existir, ela é involuntária, pois pretendemos recordar aqui todos os caçadores-guias que actuaram, com este estatuto, até 1975, data da independência de Moçambique. Estaremos pois abertos à inclusão posterior de eventuais esquecidos, bastando que nos comuniquem os respectivos nomes.
Marrabenta, Julho de 2000
Celestino Gonçalves
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