KABALA NUMEROLOGIA |
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Antônio Gonçalves Dias, o mais fecundo e o mais culto dos poetas românticos, e um dos mais inspirados de todos os tempos, nasceu em Caxias, no Maranhão, a 10 de agosto de 1823. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, depois de muitas dificuldades, pois, de origem humilde, teve de ser ajudado por brasileiros que o admiravam. Foi professor no Colégio Pedro II e tomou parte de uma expedição científica na Europa, em comissão do governo brasileiro. Era membro do Instituto Histórico. Faleceu em 1864. quando retornava ao Brasil, em um naufrágio, nas costas do Maranhão. Sua obra poética o elevou não só aos olhos de seus compatriotas como também diante da admiração de Portugal, recebendo de Alexandre Herculano um belo elogio. Deixou: Primeiros Cantos, Segundos Cantos, Sextilhas de Frei Antão, obra escrita em linguagem arcaica, onde sobressaem os conhecimentos filológicos do poeta; Os Timbiras e Últimos Cantos.
O CANTO DO PIAGA
I
Ó Guerreiros da Taba sagrada, Ó Guerreiros
da Tribo Tupi, Falam Deuses nos cantos do Piaga, O Guerreiros,
meus cantos ouvi.
Esta
noite — era a lua já morta —
Anhangá
me vedava sonhar;
Eis
na horrível caverna, que habito,
Rouca
voz começou-me a chamar.
Abro
os olhos, inquieto, medroso,
Manitôs!
que prodígios que vi!
Arde
o pau de resina fumosa,
Não
fui eu, não fui eu, que o acendi!
Eis
rebenta a meus pés um fantasma,
Um
fantasma d’imensa extensão;
Liso
crânio repousa a meu lado,
Feia
cobra se enrosca no chão.
O meu sangue gelou-se nas
veias,
Todo inteiro — ossos,
carnes — tremi,
Frio horror me coou pelos
membros,
Frio vento no rosto senti.
Era feio, medonho,
tremendo,
Ó Guerreiros, o espectro
que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do
Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos
ouvi!
II
Porque
dormes, ó Piaga divino?
Começou-me
a Visão a falar,
Porque
dormes? O sacro instrumento
De
per si já começa a vibrar.
Tu
não viste nos céus um negrume
Toda
a face do sol ofuscar;
Não
ouviste a coruja, de dia,
Seus
estrídulos torva soltar?
Tu
não viste dos bosques a coma
Sem
aragem — vergar-se a gemer,
Nem
a lua de fogo entre nuvens,
Qual
em vestes de sangue, nascer?
E
tu dormes, ó Piaga divino!
E
tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E
Anhangá te proíbe sonhar!
E
não podes augúrios cantar?!
Ouve
o anúncio do horrendo fantasma.
Ouve
os sons do fiel Maracá;
Manitôs
já fugiram da Taba!
Ó
desgraça! ó ruína! ó Tupã!
III
Pelas
ondas do mar sem limites
Basta
selva, sem folhas, i vem;
Hartos
troncos, robustos, gigantes,
Vossas
matas tais monstros contem.
Traz embira dos
cimos pendente
—
Brenha espessa de vário cipó —
Dessas
brenhas contêm vossas matas,
Tais
e quais, mas com folhas; é só!
Negro
monstro os sustenta por baixo,
Brancas
asas abrindo ao tufão,
Como
um bando de cândidas graças,
Que
nos ares pairando — lá vão.
Oh!
quem foi das entranhas das águas,
O
marinho arcabouço arrancar?
Nossas
terras demanda, fareja...
Esse
monstro... — o que vem cá buscar?
Não
sabeis u que o monstro procura?
Não
sabeis a que vem, o que quer? Vem matar vossos bravos guerreiros
Vem
roubar-vos a filha, a mulher!
Vem
trazer-vos crueza, impiedade —
Dons
cruéis do cruel Anhangá;
Vem
quebrar-vos a maça valente,
Profanar
Manitôs, Maracá.
Vem
trazer-vos algemas pesadas,
Com
que a tribo Tupi vai gemer;
Hão
de os velhos servirem de escravos,
Mesmo
o Piaga inda escravo há de ser!
Fugireis
procurando um asilo,
Triste
asilo por ínvio sertão;
Anhangá
de prazer há de rir-se,
Vendo
os vossos quão poucos serão.
Vossos
Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta
as iras do fero Anhangá.
Manitôs
já fugiram da Taba,
O
desgraça! ó ruína! 6 Tu pá!
(Primeiros
Cantos)
NÃO ME DEIXES
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão À corrente, onde bela se mirava...
“Ai, não me deixes, não !"
“Comigo fica ou leva-me contigo
“Dos
mares á amplidão, Límpido ou turvo, te amarei constante;
“Mas não me
deixes, não !“
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão; E a flor sempre a. dizer curva na fonte:
“Ai,
não me deixes, não !“
E das águas que fogem incessantes
A eterna sucessão Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai,
não me deixes, não!”
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão, Buscava a corrente por dizer-lhe
Que
a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão; A afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não
me deixaste, não !”
(Segundos
Cantos)
COMO EU TE
AMO
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma, O orvalho numa flor, nos céus a estréia, No largo mar a sombra de uma vela, Que lá na extrema do horizonte assoma; Como se ama o clarão da branca lua, Da noite na mudez os sons da flauta, As canções saudosíssimas do nauta, Quando em mole vaivém a nau flutua;
Como se ama das aves o gemido, Da noite as sombras e do dia as cores, Um céu com luzes, um jardim com flores, Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora, A mansa viração que o bosque ondeia, O sussurro da fonte que ser peia, Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida, A harmonia, o frescor, os sons, os céus, Silêncio, e cores, e perfume, e vida, Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
Assim eu te amo, assim; mais do que podem Dizer-te os lábios meus, — mais do que vale Cantar a voz do trovador cansada: O que é belo, o que é justo, santo e grande Amo em ti. — Por tudo quanto sofro, Me resta de sofrer, por tudo eu te amo. O que espero, cobiço, almejo ou temo De ti, só de ti pende: oh 1 nunca saibas Com quanto amor eu te amo, e de que fonte Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo! Esta oculta paixão, que mal suspeitas Que não vês, não supões, nem te eu revelo, Só pode no silêncio achar consolo, Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.
De mim não saberás como te adoro;
Não te direi
jamais, Se te amo, e como, e a quanto extrema chega
Esta paixão voraz. Se andas, sou o eco dos teus passos;
Da tua voz, se
falas; O murmúrio,
saudoso que responde
Ao suspiro que exalas.
No odor dos teus perfumes te procuro,
Tuas pegadas sigo; Velo teus dias, te acompanho sempre, E não me vês contigo!
Oculto e ignorado me desvelo
Por
ti, que me não vês; Aliso o teu caminho, esparjo flores,
Onde pisam teus pés.
Mesmo lendo estes versos, que m’inspiras, — Não pensa em mim, dirás: Imagina-o, se o podes, que os meus lábios
Não to dirão
jamais!
(Últimos
Cantos)
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ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS
Esta antologia é baseada em trabalho de ________________
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