RAIMUNDO CORREIA
O autor
do famoso soneto “As Pombas”, Raimundo da Mota Azevedo Correia, nasceu a
bordo de um navio, nas costas do Maranhão, a 13 de maio de 1859. Formou-se em
Direito pela Faculdade de São Paulo. Foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras. Faleceu em Paris, a 13 de setembro de 1911.
Escreveu: Primeiros
Sonhos, Sinfonias, Versos, e Versões, Aleluias e Poesias.
AS POMBAS
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E
à tarde, quando a rígida nortada
Sopra,
aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando
as asas, sacudindo as penas,
Voltam
todas em bando e em revoada...
Também
dos corações onde abotoam
Os
sonhos, um por um, céleres voam,
Como
voam as pombas dos pombais;
No
azul da adolescência as asas soltam...
Fogem...
Mas aos pombais as pombas voltam,
E
eles aos corações não voltam mais...
(Poesias)
BEIJOS DO CÉU
Sonhei-te
assim, ó minha amante, um dia:
—
Vi-te no céu; e enamoradamente,
De
beijos, a falange resplendente
Dos
serafins, teu corpo inteiro ungia...
Santos
e anjos beijavam-te... Eu bem via,
Beijavam
todos o teu lábio ardente;
E
beijando-te, o próprio Onipotente,
O
próprio Deus nos braços te cingia!
Nisto,
o ciúme — fera que eu não domo —
Despertou-me
do sonho, repetindo
Vi-te
a dormir tão plácido a meu lado...
E
beijei-te também, beijei-te... e, ai! Como
Achei
doce o teu lábio purpurino,
Tantas
vezes assim no céu beijado!
(Poesias)
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