FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS E ADMINISTRATIVAS
A ATIVIDADE DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS
NO BRASIL, NO FINAL DOS ANOS 90
SANTO ANDRÉ – SP
2000
A ATIVIDADE DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS
NO BRASIL, NO FINAL DOS ANOS 90.
DOUGLAS BURBA
7406
Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas de Santo André, como exigência regimental para a obtenção de título de bacharel em Ciências Econômicas
Professor Orientador.
Eduardo Braga
SANTO ANDRÉ - SP
2000
Agradeço aos meus pais: Victor Burba e Rosália Rosa Burba, pelo apoio e incentivo e também a minha esposa Ana Lúcia, que durante este tempo abdicou de muitos momentos de lazer para que eu pudesse me dedicar a este trabalho.
Dedico este trabalho aos meus filhos: Carolina e Daniel a quem eu espero prover um futuro e um mundo melhor.
Sumário
Introdução *
1 Formas de agrupamento empresarial *
1.1 Quanto ao tipo de combinação *
1.1.1 Incorporação *
1.1.2 Fusão *
1.1.3 Holding *
1.1.4 Joint venture *
1.2 Quanto a natureza da atividade dos agentes econômicos *
1.2.1 Integração Horizontal *
1.2.2 Integração Vertical *
1.2.3 Conglomeração *
2 Fatores conjunturais que favoreceram as fusões na década de 1990 *
2.1 Início do processo de privatizações *
2.2 Abertura comercial *
2.3 O Plano Real *
2.3.1 O mecanismo da âncora cambial *
2.3.2 As taxas de juro praticadas no período *
3 Análise setorial: estudo de caso *
3.1 Setor de alimentos *
3.2 Setor de varejo *
3.3 Setor de telecomunicações *
Conclusão *
Referência bibliográfica *
Lista de Tabelas
Tabela 1 Efeito fiscal da fusão entre as empresas A e B *
Tabela 2 Compensação dos prejuízos fiscais da empresa absorvida *
Tabela 3 Setor externo, US$ bilhões, período: 1989 à 1999 *
Tabela 4 Participação das empresas estrangeiras, nacionais e estatais no total das vendas das maiores: período: 1980 à 1999 *
Tabela 5 Lucros e prejuizos da Copesul, Embraer e Fosfertil. Período de 1991 à 1995. Valores em US$ mil *
Tabela 6 Comparação anual do número de fusões e aquisições realizadas no período: 1994 à 1999. *
Tabela 7 Juros praticados no interbancário de 1994 à 1999, taxas anualizadas *
Tabela 8 Juros e reservas, período: 1994 à 1999 *
Tabela 9 Conglomerados alimentícios, receita operacional líquida em R$1.000, 1997 e 1998 *
Tabela 10 Conglomerados alimentícios, receita operacional líquida em US$ 1.000, 1996 e 1999. *
Tabela 11 Fusões e aquisições realizadas no setor de alimentos, bebida e fumo. Período: 1994 à 1999. *
Tabela 12 Participação da Nestlé no mercado. Período: 1995 à 1997 *
Tabela 13 Fusões e aquisições realizadas no setor de supermercados, e lojas de varejo. Período: 1994 à 1999 *
Tabela 14 Participação no faturamento total das maiores redes de supermercados, 1995 e 1999. *
Tabela 15 Fusões e aquisições no setor de telecomunicações. Período: 1994 à 1999 *
Lista de Quadros
Quadro 1 Empresas privatizadas de 24-10-1991 à 30-06-1994 *
Quadro 2 Principais aquisições no setor de alimentos no mercado brasileiro. Período: 1995 à 1999. *
Quadro 3 Diversificação dos produtos da Nestlé a partir de sua chega ao país, 1921 à 1990 *
Quadro 4 Classificação das fusões/aquisições da Parmalat *
Quadro 5 Produtos da Nestlé e concorrentes em 1999. *
Quadro 6 Fusões, aquisições e investimentos no setor de comunicações. Período: 1998 à 2000. *
A década de 90 foi caracterizada pela abertura comercial, pelo afastamento do Estado da atividade econômica através das privatizações e, por um processo de troca de controle de empresas do setor público e privado que se acentuou em 1997, com elevada participação do capital estrangeiro.
O objetivo dessa pesquisa é investigar os motivos que induziram a atividade de fusões e aquisições no Brasil nos anos 90, mais especificamente na segunda metade da década, fase de implementação do plano de estabilização econômica, o Real, e quais as suas conseqüências econômicas para a Nação.
Primeiramente, o trabalho visará informar e, na medida do possível, esclarecer as diferenças entre a terminologia aplicada aos diversos tipos de agrupamento de empresas encontrada na bibliografia que trata do assunto.
Uma vez esclarecidas as diferenças, o objetivo será o de definir qual os tipos de agrupamentos de empresas, tendo em vista a natureza da atividade exercida pela empresa. Esta classificação será analisada com base a bibliografia existente e à luz da teoria de Adam Smith, autor que afirma que o aprimoramento das forças produtivas é fruto da divisão do trabalho, razão pela qual os agentes econômicos se especializam distinguindo as suas atividades e procurando adequar a escala de produção a demanda existente.
As empresas, através do investimento, da integração ou da redução da base instalada, buscam atingir o tamanho ideal frente a demanda existente no mercado, otimizando o lucro em relação ao investimento na estrutura necessária para se produzir. A integração de empresas pode ser induzida a se concretizar em razão da busca por maiores lucros, eliminando um concorrente através da associação ou aquisição deste, ou, simplesmente, para garantir a manutenção da existência da empresa em função do acirramento da concorrência ou conjuntura econômica desfavorável.
Uma vez esclarecidos motivos econômicos da integração das empresas e, em quais situações essa integração é estimulada, a pesquisa se orientará para o espaço geográfico definido no tema, o Brasil, e procurará enumerar os antecedentes econômicos, ou seja, as situações que estimularam o processo de integração ou aquisição de empresas no período pós implementação do Plano Real.
O problema de pesquisa a ser investigado diz respeito a identificação dos motivos que induziram a intensificação do processo de fusões e aquisições no Brasil na década de 90, mais especificamente no período de implementação do Plano Real. Será investigado a partir das medidas econômicas implementadas se a intensificação se deu em razão de interesses monopolistas de cada setor ou se o processo se deu em razão de conjuntura econômica desfavorável gerada pelo plano.
A hipótese a ser testada supõe que o processo de fusões e aquisições se dá em razão de interesses monopolistas de cada segmento de mercado e que o mesmo conduzirá a uma estrutura de mercado de monopólio.
Uma vez enumerados os motivos que induziram o processo em estudo serão analisados os setores onde houve maior intensidade no processo, segundo a Consultoria KPMG: alimentos, varejo e telecomunicações; onde o setor de varejo, apesar de não ser lider em numero de negócios realizados, pertence à mesma cadeia de produção e distribuição do setor de alimentos.
O Setor de Alimentos é destacado na referida pesquisa e é apontado como lider em número de negócios, no período de 1994 a 1998, e será analisado juntamente com o Setor de Varejo, com o qual está diretamente relacionado, pois constitui o seu maior canal de distribuição, que apesar de não ser recordista em número de negócios realizados, ao se agrupar, exercerá influência no setor que pertence a etapa anterior na cadeia de produção, o Setor de Alimentos.
A disponibilidade de dados desta pesquisa está limitada ao número de negócios realizados por setor, e qual a participação estrangeira nos negócios realizados. Este trabalho buscou enriquecer as informações a partir de publicações e jornais e revistas do período, já que a realização de um maior número de negócios não informa se o mesmo ocorreu em um setor que já se encontrava em fase avançada no processo de agrupamento, ou seja, se foram realizados um grande número de negócios entre empresas de grande porte ou pequeno porte.
Outro motivo que tornou necessário o uso de publicações de jornais e revistas foi que as empresas, ao se constituírem, adotam um entre dois tipos societários mais comuns, Sociedade Anônima ou Limitada. O primeiro tipo obriga as empresas, através das normas da CVM - Comissão de Valores Mobiliários, a disponibilizarem dados financeiros ao mercado, e estas o fazem por ter interesse na captação de recursos junto ao mercado, o que favorece o trabalho de pesquisa; já as que adotam o tipo Limitada não são obrigadas a disponibilizarem dados ao mercado, e é adotado por empresas de pequeno porte que não comportam os custos da abertura de capital e também por algumas multinacionais que podem financiar sua atividade ou expansão através de suas respectivas matrizes.
Sob este ponto de vista será observado o aumento da participação do capital estrangeiro na atividade econômica nacional e a saída do Estado da economia, mas antes, serão discutidos os tipos de agrupamento de empresas: incorporação, fusão, holding e joint venture, que se efetivam de acordo com a conveniência de cada atividade passando pelos estágios da integração horizontal, vertical até atingir a conglomeração.
Estes estágios de integração de empresas são determinantes no momento de se decidir por uma aquisição ou fusão, juntamente com as alterações do cenário macroeconômico provocados pela implementação do Plano Real, determinarão a reestruturação do controle do parque industrial brasileiro. Os estágios de integração de empresas e as formas de integração são objeto de discussão do capítulo seguinte.
A legislação societária brasileira, particularmente a Lei das S.A. Lei 6404/76, define com maior precisão, os tipos de agrupamento com os quais as empresas se combinam para desenvolver atividades econômicas com o objetivo de maximização de lucros e/ou valorização de suas ações. O termo corrente, difundido com maior freqüência na imprensa, de qualquer tipo de combinação é "fusão". A Lei das S.A., em seus Artigos 227 e 228, identifica dois tipos de combinação com os quais se unem duas ou mais sociedades, resultando em apenas uma, a fusão e a incorporação, que serão definidas a seguir:
Incorporação
A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. (Lei 6404/76, Art. 227.)
A absorção de uma empresa por outra é comumente denominada aquisição, pois o titular da empresa absorvida ou adquirida, companhia-alvo, quando não é reembolsado pela participação que antes detinha, alienando o seu investimento, troca o seu controle pela participação da empresa adquirente, mantendo a sua identidade.
Para Gitman (1997, p. 734), o termo "fusão" é empregado para designar a incorporação ou aquisição:
Uma fusão ocorre quando duas ou mais empresas são combinadas e a empresa resultante mantém a identidade de uma delas. Geralmente, os ativos e passivos da empresa menor são fundidos nos da empresa maior.
Também para Ross et al. (1995, p. 588), uma fusão refere-se a absorção de uma empresa por outra. A empresa compradora conserva seu nome e sua identidade; como a absorvida deixa de existir, entende-se que ela foi incorporada pela compradora.
Estas definições divergem daquela encontrada na Lei das S.A., sendo que a sua definição de "fusão", também divergirá da referida lei.
A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (Lei 6404/76, Art. 228)
Ainda para Gitman (1997, p. 734), o termo a ser empregado diante da formação de uma nova sociedade, a partir da combinação das duas ou mais, será "consolidação": ... a consolidação envolve a combinação de duas ou mais empresas para formar uma sociedade anônima completamente nova. esta definição também está em concordância com a definição de Ross et al. (1995, p. 588) que afirma que uma consolidação é igual a uma fusão, exceto pelo fato de ser criada uma empresa inteiramente nova; este termo tem aplicação totalmente diversa da legislação societária brasileira, e uma vez que esta o emprega para designar a combinação de demonstrações financeiras; as companhias que detém participação e controle relevante entre os seus investimentos, em outras companhias, serão obrigadas a elaborar.
A companhia aberta que tiver mais de 30% (trinta por cento) do valor de seu patrimônio líquido representado por investimentos em sociedades controladas deverá elaborar e divulgar, juntamente com suas demonstrações financeiras, demonstrações consolidadas nos termos do art. 250. (Lei 6404/76, Art. 249)
A companhia que detém participação e controle de outras sociedades é denominada Holding, e será melhor definida a seguir.
Segundo Sandroni (1996, p. 198) Holding é a designação da empresa que mantém o controle sobre outras empresas através da posse majoritária de ações destas. Este tipo de agrupamento de empresas é diferente da "fusão", mas não totalmente da "aquisição", uma vez que a empresa controladora passa a ser titular da empresa controlada, que não deixa de existir pois não é absorvida pela controladora. Neste caso pode-se distinguir os termos "incorporação" de "aquisição", pois o emprego do primeiro termo somente deverá ser utilizado quando houver a absorção de uma ou mais empresas, resultando em apenas uma. A legislação societária definirá controladora em seu artigo 243:
Considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (Lei 6404/76, Art. 243, §2º)
Diferentemente da "fusão" e da "incorporação", este tipo de combinação não dilui o ativo e o passivo da sociedade adquirida, no da adquirente, pois a mantém como pessoa jurídica distinta e controlada. Como na fusão duas ou mais sociedades se agrupam para formar uma nova, e na incorporação, uma ou mais sociedades são absorvidas por outra que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, pode-se concluir que este tipo de agrupamento se distingue dos anteriores pois, neste caso, o investimento da controladora é uma participação na controlada, e a mantém como pessoa jurídica distinta, podendo a mesma, se for de seu interesse, alienar o investimento posteriormente.
Joint venture é um tipo de combinação de empresas, onde os participantes não detêm controle de forma individual, nem privilégios ou benefícios, uns sobre os demais, sendo mais uma combinação de empreendimentos do que uma combinação de empresas, e sua duração condicionada a realização deste empreendimento. Esta combinação de empreendimentos pode ser realizada com o investimento de capitais tangíveis e intangíveis das empresas que pretendem se associar, tirando maior proveito das suas diferenças de potencial.
A união de uma empresa detentora de uma Marca reconhecida pelo mercado, mas que não atua em determinado negócio, com outra detentora de tecnologia e que não possui estrutura de comercialização, configura um caso onde a primeira investe capital intangível, a Marca reconhecida, e a segunda investe capital tangível, a estrutura de produção.
Em muitos casos, o lançamento de um produto que incorpore uma tecnologia inovadora, para que seja economicamente viável e permita a produção em escala, diluindo o custo do investimento inicial, requer a introdução de um hábito de consumo, que pode ser conseguido através da Marca, um nome reconhecido no mercado facilita a introdução de um novo produto e o proprietário da Marca é beneficiado na medida em que o seu elenco de produtos é renovado. Exemplo: A empresa A é detentora de tecnologia que permite a união das funções de telefone, televisão e acesso à Internet, mas não tem estrutura de comercialização nem nome reconhecido no mercado, o que exigirá um grande esforço de investimento em canais de distribuição e propaganda, já que o consumidor não tem por hábito consumir um produto que reúne tais funções; por sua vez a empresa B, que atua no mercado de aparelhos de TV, possui nome reconhecido no mercado, estrutura de comercialização e necessita renovar o seu elenco de produtos, encontra oportunidade de integrar outras funções de comunicação ao seu produto. A partir daí se cria a empresa C, onde A e B detêm igual participação, esta empresa proporcionará benefícios a primeira, na medida em que ela introduz o hábito de consumo e usufrui os canais de distribuição da segunda, esta por sua vez, renova seu elenco de produtos e adquiri acesso a nova tecnologia. Ao final do empreendimento, se ambas quiserem dissolver a sociedade e trabalhar de forma independente a farão em condições mais favoráveis do que se tivessem tentado lançar o novo produto de forma independente.
Não constitui forma societária legal, portanto adotará um dos tipos societários já previstos em Lei, se adotado o tipo "Sociedade Anônima", cada sócio deterá participação acionária proporcional aos demais sócios, se adotado o tipo "Limitada", cada sócio deterá um número de quotas igual a que cada quotista possui. A participação proporcional dos sócios é o que assegura que os benefícios auferidos pela associação também serão usufruídos de forma proporcional pelos sócios.
De acordo com exposto acima, é possível que a joint venture seja afiliada, de uma holding, mas não que ela seja controlada por esta, o que garantirá gestão independente do grupo. Segundo Rasmussen (1998, p. 179):
Uma participação com maioria absoluta não funciona numa joint venture, porque esta transação, normalmente é baseada em talentos ou tecnologia inovadora, que exige uma participação ativa na gestão ...
Ainda segundo o mesmo autor (idem), o único fator inibidor da formação da joint venture, é a transferência de tecnologia, proveniente do aporte de capitais intangíveis, resultar em domínio público, já que a estrutura deste tipo de combinação, gestão com participação ativa, favorece a disseminação tecnológica. A transferência de tecnologia também pode ser motivo indutor da associação, onde uma empresa coloca a sua estrutura a disposição daquela que detém maior tecnologia.
Uma vez estabelecido as diferenças de classificação dos tipos de combinação encontrada entre os diversos autores que tratam o assunto e a legislação vigente, serão analisadas as classificações que existem quanto a natureza da atividade econômica das empresas que se agrupam e quais os motivos que as levam a se combinarem.
A diferenciação da natureza das atividades econômicas, no processo de investimento, produção e distribuição, são frutos da divisão do trabalho. Segundo Smith (1996, p. 65):
O maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é em toda parte dirigido ou executado, parecem ter sido resultados da divisão do trabalho.
A divisão do trabalho é responsável pela especialização dos agentes econômicos que se ocupam de uma das fases do processo produtivo ou de uma subdivisão deste, especialização esta que permite que o mesmo obtenha vantagens econômicas por se direcionar o esforço de produção a uma atividade relativamente simples em relação ao conjunto de atividades necessárias para se colocar no mercado um bem de consumo. Esta orientação a uma determinada atividade ou tarefa será induzida pelo talento individual, onde o indivíduo orienta o seu esforço à atividade onde possui maior habilidade.
Além do ganho proveniente da especialização do conhecimento numa determinada etapa da produção, Smith (idem, p. 68) ainda atribui este aumento de produtividade a três circunstâncias distintas:
... em primeiro lugar, devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente, à invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a uma única pessoa fazer o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitas.
Por este motivo, os agentes econômicos se agrupam quando a atividade exercida por estes é de mesma natureza econômica e pertencem a uma mesma etapa do processo produtivo, sendo que esta etapa tende a se segmentar ainda mais, tornando sua atividade cada vez mais especializada.
Integração Horizontal
Chama-se de integração horizontal, quando duas ou mais empresas que exercem a mesma atividade econômica se fundem ou se submetem ao mesmo controle. Segundo Gitman (1997, p. 739): Uma fusão horizontal resulta quando duas empresas na mesma linha de negócios se fundem, da mesma forma para Ross et al. (1995, p. 589) ... uma aquisição de uma empresa pertencente ao mesmo setor da adquirente. As empresas competem no mesmo mercado de produtos .
O principal motivo deste tipo de integração é a busca de economias de escala; quando a estrutura da empresa é menor que o necessário, isto é, o volume de produção é maior do que para o qual a estrutura da empresa foi planejada, o custo total médio é elevado e conseqüentemente os preços praticados. Havendo, neste caso, a perspectiva de expansão da atividade econômica, o investimento no aumento da estrutura da empresa permitirá maior divisão do trabalho e o conseqüente aumento de eficiência das suas divisões funcionais, isto é, um melhor aproveitamento de departamentos que podem estar sendo subutilizados, ou seja, um aumento na escala da estrutura acarretará um aumento mais que proporcional de produtividade. Não havendo disponibilidade financeira, só resta a empresa recorrer ao mercado financeiro para poder expandir a sua estrutura de produção, neste caso o custo dos recursos financeiros devem ser menores que a taxa de retorno da atividade exercida para viabilizar o financiamento da expansão da base instalada com o emprego de capitais de terceiros.
Não havendo perspectiva de expansão do mercado, o aumento da economia de escala só será possível via integração horizontal. A integração horizontal de duas ou mais empresas que atuam num mesmo mercado, ou seja, em uma mesma classe de produto, além de eliminar divisões funcionais, que antes eram subutilizadas e a agora são redundantes, também proporciona outras vantagens econômicas como: maior facilidade de captação de recursos e maior capacidade de financiamento de pesquisa de novos produtos. As vantagens econômicas que a empresa ganha ao aumentar a sua escala impede o ingresso de novas empresas, de menor porte no mercado, já que esta terá custos muito maiores e menor capacidade de captação e investimento em novos produtos, consolidando a sua participação no mercado.
Um outro ponto de vista é quando a produção se encontra abaixo do volume para o qual ela foi concebida ou há perspectiva de retração da atividade econômica ou do mercado em que a empresa atua. Haverá perda de eficiência, pois o investimento realizado com a estrutura da empresa, que está sujeito a desgaste e a despesas de manutenção não será plenamente utilizado, existirá capacidade ociosa e esta por sua vez refletirá nos custos de produção. Um aumento do volume de produção neste caso é desejável, pois haverá uma diluição de custos com a estrutura da empresa por unidade produzida.
Quando a conjuntura econômica é desfavorável a manutenção da economia de escala da empresa via investimentos, ou, o tamanho da estrutura diminui a competitividade do produto desta empresa, pois o custo de fabricação é mais elevado, só existem duas alternativas: a redução do tamanho da empresa, alienando o investimento ou através da integração horizontal, que pode ser através de uma fusão ou aquisição de outra empresa que atua no mesmo mercado, eliminando áreas com funções redundantes, nas empresas integradas.
As empresas podem ir se integrando horizontalmente e ganhando eficiência de produtividade até serem limitadas pela extensão do mercado local. É neste momento que expansão para geográfica se dá, se tornando necessário que a empresa ultrapasse o mercado local, ao fazer isto para o âmbito internacional a empresa encontrará barreiras do idioma e hábitos de consumo, que irão requerer adaptações no seu produto e publicidade diferenciada. Após a conquista de mercados estrangeiros, transpondo as barreiras dos costumes, a empresa estabelece padrões de consumo mundiais.
A principal conseqüência negativa da integração horizontal, é a eliminação da concorrência e sua conseqüente elevação de preços, se por um lado os agentes se integram eliminando o número de vendedores, a escala que atingem impede que um outro agente se aventure a entrar no mercado, pois sendo de menor porte sua eficiência produtiva será menor e os custos de produção muito maiores.
O aumento de eficiência via aumento de escala pode tanto reduzir preços como aumentar lucros; se a empresa não transferir a vantagem auferida com a redução do custo total médio para o preço final, esta vantagem será incorporada aos lucros e consequentemente aumentará a liquidez dos ativos desta empresa. Um agente econômico menor que entrar no mercado praticando preços mais baixos, pode ser surpreendido pela redução de preços do agente maior, que o fará temporariamente até se esgotar a capacidade competitiva do agente menor eliminando-o do mercado. O prejuízo computado pelo agente maior é absorvido face o aumento de liquidez adquirido no período anterior.
A diversificação horizontal é a produção de bens e serviços que tem íntima relação com a principal atividade da empresa e pode ser entendida como a produção de bens que derivaram do principal produto da empresa. Exemplo: uma empresa cujo principal produto é o leite e passa produzir: queijos, requeijão, manteiga e outros derivados do leite. O aproveitamento da experiência acumulada com o ramo leite derivou para o ramo de laticínios. Da mesma forma pode ser considerado os produtos acessórios ao ramo principal, a empresa pode pesquisar produtos que são consumidos em conjunto com o principal para diversificar a sua atividade.
O principal problema das empresas que se especializam em determinada etapa da produção ou ramo de negócio é o aumento dependência em relação as etapas anteriores e posteriores, respectivamente, fornecimento e distribuição, o que as levará numa fase posterior a se integrar verticalmente.
Define-se como integração vertical quando duas ou mais empresas que atuam em fases distintas do processo produtivo de um determinado bem se fundem ou se submetem a um mesmo controle; para Gitman (1997, p. 739) Uma fusão vertical ocorre quando uma empresa adquire um fornecedor ou um cliente, definição que converge com a de Ross et al. (1995, p. 589) ... aquisição que envolve empresas situadas em níveis diferentes do processo de produção. A compra de uma agência de viagens por uma companhia de aviação seria uma aquisição vertical.; este tipo de integração visa o controle sobre as fontes de suprimento ou canais de distribuição.
Para Rasmussem (1991, p. 43), além da estratégia de integração horizontal, ainda existem a pró-integração e a retrointegração, que de acordo com o que será definido na seqüência, e com o que foi exposto acima, podem ser admitidas como subdivisões da integração vertical.
A pró-integração é a integração com canais de distribuição, ou seja, com etapa seguinte de um processo produtivo. Exemplo: uma montadora de automóveis que detém o controle de uma Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento, pode garantir a colocação no mercado de seu produto em condições mais favoráveis; esta mesma montadora de automóveis, pode atuar no mercado de peças originais de fábrica e garantir lucros no consumo do bem.
Por outro lado a retrointegração, ou integração com uma fonte de suprimento assegura o controle sobre o fornecimento de insumos de produção; a administração mais eficiente de estoques reduz o seu custo de administração e assegura que não haverá interrupções do seu fluxo na produção.
Às vezes, o grupo econômico precisa estrategicamente dominar certas fontes de matéria-prima, de peças ou de produtos semi-acabados para garantir uma racional fluidez nos seus processos de produção em um ou em vários de seus componentes. (idem, p. 106)
Assim sendo, pode-se tomar como exemplo a integração de um provedor de acesso a Internet que se associa a uma Agência de Notícias pode oferecer um serviço no seu portal de acesso; haverá, portanto, a integração de um veículo de comunicação com uma fonte de informação.
É importante notar que a integração de várias etapas do processo produtivo permite que uma empresa obtenha lucros em apenas uma das etapas e no cômputo geral ainda conte com lucros, afastando concorrentes que tencionem atuar em uma dessas etapas.
A diversificação vertical pode ser definida como a busca de novas formas de distribuição do produto principal da empresa, com o intuito de conquistar novos mercados ou elevar o consumo de seu produto. Utilizando o exemplo anterior da Agência de Notícias, esta pode tradicionalmente distribuir seu produto, informação, a jornais, revistas, radio e televisão, ao se associar com um portal de acesso a Internet, esta terá um canal de distribuição a mais de deu produto, que pode atingir um público que tem menor interesse aos veículos tradicionais de comunicação, conquistando mercado e novas formas de vender seu produto.
A conglomeração é um agrupamento empresarial entre empresas que atuam em ramos diferentes da atividade econômica. Para Gitman (1997, p. 739) envolve a combinação de empresas em negócios não-relacionados; para Ross et al. (1995, p. 589) Não há relação entre a empresa adquirente e a empresa adquirida podemos tomar como exemplo uma empresa têxtil que assume o controle de uma siderúrgica ou mineradora.
A diluição de riscos é apontada como a principal vantagem neste tipo de integração, pois quando uma atividade se encontra em fase de expansão, proporcionará lucros que absorverão o prejuízo de outra que se encontra em fase de retração. Para Furtado (1969, p. 127):
O conglomerado surge assim, como um fenômeno específico do capitalismo post-cíclico. Eliminados os grandes ciclos de prosperidade e depressão, isto é, assegurada a estabilidade com um elevado nível de emprego, uma inversão que se distribua ao azar entre um grande número de setores produtivos, põe-se ao abrigo de riscos maiores.
O elevado grau de liquidez das empresas, obtido com a elevada escala de produção, racional fluidez dos insumos, e um eficiente sistema de distribuição, quando atingem o tamanho ideal frente a demanda pelo produto que ofertam no mercado, podem encontrar dificuldades de manter o mesmo ritmo de crescimento quando a taxa de crescimento do mercado é decrescente ou pode estar ocupado em parte por outros concorrentes, isto porque a empresa já atingiu a capacidade produtiva adequada para ofertar o que é demandado.
O lucro elevado, realizado no período anterior, é resultado da economia obtida com o aumento de escala de produção que não foi repassado ao preço final, isto é, houve diminuição de custos sem a correspondente diminuição de preços. Como a empresa já atingiu o tamanho ideal para atender a demanda, o reinvestimento do lucro no aumento da capacidade produtiva da empresa não proporcionará a mesma rentabilidade do capital investido anterior, já que um aumento da oferta sem um correspondente aumento da demanda formará um preço de equilíbrio menor que o anterior.
Se não houver perspectivas de aumento da demanda nesta conjuntura, não há porque reinvestir o lucro na própria empresa.
É neste momento que as empresas procuram outras classes de produtos ou ramos de atividade, que ofereçam oportunidade de investimento com retorno, ou potencial de crescimento, para investirem a sua liquidez de caixa. A aquisição de empresas já estruturadas pode se tornar interessante na medida em que não é necessário assumir o risco de investir em ramos de atividades desconhecidos.
Ainda para Furtado (1969, p. 127) a conglomeração confere grande poder financeiro já que é aplicado uma pequena fração de seus recursos em um mercado, e o poder financeiro é mais importante que o percentual de participação neste mercado já que:
Atuando simultaneamente em muitos mercados e armado de grande poder financeiro, o conglomerado dispõe de grande poder de manobra, podendo sempre escolher a frente que lhe convém tomar a iniciativa.
Outro motivo que leva as empresas a se agruparem com outras que exercem atividades não relacionadas são as vantagens fiscais que podem ser auferidas em um processo de fusão, os prejuízos de uma empresa, de períodos-bases anteriores ou subsequentes, podem ser utilizados para diminuir o lucro tributável de uma das empresas em um processo de fusão.
Um exemplo de vantagem fiscal é dado por Ross et al. (1995, p. 596) que afirma que as empresas podem ter lucros ou prejuízos operacionais alternadamente, o que permite que o lucro operacional da primeira pode ser compensado com o prejuízo fiscal da segunda, quando os dois ocorrem no mesmo período-base.
Tabela 1 Efeito fiscal da fusão entre as empresas A e B
Antes da Fusão |
Após a fusão |
|||||
Empresa A |
Empresa B |
Empresa AB |
||||
Se ocorrer o estado 1 |
Se ocorrer o estado 2 |
Se ocorrer o estado 1 |
Se ocorrer o estado 2 |
Se ocorrer o estado 1 |
Se ocorrer o estado 2 |
|
Lucro tributável |
$200 |
-$100 |
-$100 |
$200 |
$100 |
$100 |
Imposto de Renda |
68 |
0 |
0 |
68 |
34 |
34 |
Lucro Líquido |
$132 |
-$100 |
-$100 |
$132 |
$66 |
$66 |
Fonte: Ross et al. , 1995, p. 596
As empresas A e B, ocorrendo estado 1 ou 2 pagariam $68 de imposto individualmente mas fundidas o imposto será de $34.
Outra situação prevista é quando existe prejuízos acumulados de períodos-bases anteriores a compensar, a legislação brasileira do imposto de renda (Arts. 15/16 Lei 9065/95) permite se compense o prejuízo base de períodos anteriores em até 30% do lucro real de cada período, este exemplo de Gitman (1997, p. 738) foi adaptado para a ficar em conformidade com a legislação vigente.
Tabela 2 Compensação dos prejuízos fiscais da empresa absorvida
Total de Imposto de renda e lucros após o imposto de renda sem a fusão. |
||||
Ano |
Total para |
|||
1 |
2 |
3 |
3 anos |
|
(1) Lucro antes do Imposto de Renda |
$100,0 |
$100,0 |
$100,0 |
$300,0 |
(2) Imposto de Renda [0,25 x (1)] |
25,0 |
25,0 |
25,0 |
75,0 |
(3) Lucro após o imposto de renda [(1) – (2)] |
$75,0 |
$75,0 |
$75,0 |
$225,0 |
Total de imposto de renda com a fusão e lucros após o imposto de renda |
||||
(4) Lucro antes do prejuízo |
$100,0 |
$100,0 |
$100,0 |
$300,0 |
(5) Compensação do prejuízo fiscal com períodos-bases subseqüentes |
30,0 |
30,0 |
30,0 |
90,0 |
(6) Lucro antes do Imposto de Renda [(4) - (5)] |
$70,0 |
$70,0 |
$70,0 |
$210,0 |
(7) Imposto de Renda [0,25 x (6)] |
17,5 |
17,5 |
17,5 |
52,5 |
(8) Lucro após o imposto de renda [(4) – (7)] |
$82,5 |
$82,5 |
$82,5 |
$247,5 |
Fonte: Gitman, 1997, p. 738
No exemplo anterior, admitimos a absorção de uma empresa "B" que possui $100 de prejuízos acumulados de períodos anteriores que podem ser utilizados para diminuir o lucro tributável da "A", cuja demonstração de resultados foi acima descrita sem e com a fusão. Como a legislação do imposto de renda limita a compensação de prejuízos a 30% do lucro tributável, ao final de 3 anos ainda teremos um prejuízo residual de $10 a compensar em períodos-bases subseqüentes, é importante notar que limitação imposta pela legislação, impede que o lucro tributável do ano 1 seja $0, postecipando a arrecadação. Com a compensação de prejuízos houve redução em $22,5 do imposto pago
É importante notar que a diversificação horizontal e a vertical também conferem vantagens fiscais.
De acordo com a linha de raciocínio descrita, da natureza econômica das empresas que se combinam, primeiro buscando a economia de escala, segundo diminuindo a dependência em relação as fases anteriores e posteriores do processo produtivo e terceiro diluindo o risco entre vários ramos de atividade, há de se concluir a integração de empresas é limitada pela extensão do mercado ou pela sua diminuição da taxa de crescimento, que levará um grupo econômico a orientar o seus investimentos a atividade que oferecer maior oportunidade de remuneração do capital investido. A conjuntura econômica tem influência direta na decisão de investimento dos agentes econômicos; no próximo capítulo será visto quais os eventos que contribuíram para estimular a atividade de fusões e aquisições nos anos 90.
A natureza da atividade econômica que uma empresa exerce é, entre outros, um dos fatores que levam-na a se agrupar com outra. As oscilações da conjuntura econômica e os ciclos de crescimento e recessão, podem colocar uma empresa em situação delicada, onde a manutenção da existência de um negócio pode passar por um processo de fusão. Entrando em dificuldades, esta empresa poderá ser adquirida por outra, que o fará para ocupar a sua participação no mercado e com isso elevar a sua escala de produção, eliminando departamentos com funções redundantes, mantendo apenas aqueles mais eficientes, ou seja, um entre dois que atendem geograficamente uma mesma área.
O objetivo deste capítulo é enumerar os diversos eventos que tiveram, de uma forma ou de outra, influência no processo de agrupamento de empresas na economia brasileira na década de 90; destacam-se:
Os desequilíbrios nas contas nacionais tiveram papel determinante nas oscilações econômicas desta década. Convém lembrar que o maior problema econômico do início dos anos 90 era a inflação, que no ano de 1989 atingiu 1.782,89% de acordo com o IGP-DI, índice divulgado pela Fundação Getúlio Vargas.
O Plano Collor, plano que levou o nome do presidente recém eleito, Fernando Collor de Melo, cuja medida de maior impacto foi o bloqueio de 70% do M4 da economia (Vasconcelos e Gremaud, 1996, p. 225) visava conter a demanda e com isso anular os efeitos da inflação.
Além do problema da inflação, o país ainda contava com o problema do baixo desempenho da Balança Comercial, que não viabilizava o pagamento do serviço da Dívida Externa.
Tabela 3 Setor externo, US$ bilhões, período: 1989 à 1999
Ano |
Balança de Pagamentos |
Reservas |
Dívida |
||||
Exportações |
Importações |
Serviços |
Transferências |
Capitais |
Externa |
||
89 |
34,4 |
(18,3) |
(15,3) |
- |
(9,6) |
7,3 |
115,5 |
90 |
31,4 |
(20,7) |
(15,4) |
0,8 |
(0,4) |
8,8 |
123,4 |
91 |
31,6 |
(21,0) |
(13,2) |
1,6 |
(4,1) |
8,6 |
123,9 |
92 |
35,8 |
(20,6) |
(11,3) |
2,0 |
4,7 |
19,0 |
135,9 |
93 |
38,6 |
(25,3) |
(15,6) |
1,7 |
10,1 |
28,9 |
145,7 |
94 |
43,5 |
(33,1) |
(14,7) |
2,6 |
14,3 |
36,5 |
148,3 |
95 |
46,5 |
(49,9) |
(18,6) |
4,0 |
29,4 |
50,5 |
159,2 |
96 |
47,7 |
(53,3) |
(21,7) |
2,9 |
32,2 |
59,0 |
179,9 |
97 |
53,0 |
(61,3) |
(256,9) |
2,2 |
25,9 |
51,4 |
200,0 |
98 |
51,1 |
(57,6) |
(28,8) |
1,8 |
25,6 |
43,6 |
243,2 |
99 |
48,0 |
(49,2) |
(25,2) |
2,0 |
16,6 |
35,6 |
236,9 |
Fonte
: Conjuntura Econômica, abr. 2000; p. 6-7A somatória da dívida mobiliária interna federal, estados e municípios, em dezembro de 1999 atingiu a cifra de R$ 426.336 milhões (Conjuntura Econômica, abr. 2000, p. 21), já era fonte de preocupação início dos anos 90 pois estava previsto um déficit operacional elevado. A equipe econômica do governo recém eleito trabalhava com perspectivas de:
... um déficit primário — aquele que exclui as despesas financeiras — da ordem de 1,7% do PIB em 1990, mais déficit operacional — que inclui a correção monetária mas computa os encargos reais da dívida pública — de 8% do PIB, aproximadamente. (Tanaami, 1996)
O Produto Interno Bruto em 1990 foi de US$ 469 bilhões (idem, p. 29), o que resultaria, de acordo com a perspectiva do governo, em um déficit operacional de US$ 37 bilhões.
Com a inflação elevada, o governo formava taxas diárias para colocação de títulos públicos no mercado aberto, já que a demanda por crédito não podia ser controlada via empréstimo compulsório, e com isso contribuía para agravar o déficit público. Diante deste quadro, o governo eleito que tomou posse em março de 1990, teve argumentos para impor o seu pacote econômico à sociedade, bloqueando 70% do M4, incluindo um terço dos depósitos em poupança que ficariam indisponíveis durante 18 meses e devolvidos em 12 parcelas mensais. O bloqueio de Cruzados Novos que teve por objetivo frear a demanda e reestabelecer o controle da inflação, teve impacto recessivo na economia, já que obrigou a população a adiar o consumo e fez parte do pacote juntamente com outras medidas que serão detalhadas a seguir.
As privatizações de estatais, que no início dos anos 90 fizeram parte do Plano Collor como medida que visava gerar superávit nas contas públicas, também tiveram outros motivos que as levassem a se efetivar, desempenhando por fim outro papel, isto é, o interesse em tirar o Estado da atividade econômica concorria com a necessidade de gerar superávit. O processo de privatização foi indutor do movimento de fusões e aquisições no início da década de 90, além da Constituição Federal de 1988, que não admitia mais a presença do Estado na economia.
Ocorre que no início dos anos 90 o parque industrial brasileiro estava composto de três categorias de empresas, a saber: multinacionais, empresas brasileiras de controle familiar e as estatais, cabendo a este último a maior parcela de participação. Segundo Fonseca (1996, p. 79), entendia-se no passado que cabia ao Estado a organização da atividade econômica, e o desenvolvimento econômico era tratado como uma questão de segurança nacional. Este pensamento está presente no parágrafo 8º, artigo 157 da Constituição Federal de 1967:
São facultados a intervenção no domínio econômico e o monopólio de determinada indústria ou atividade, mediante lei federal, quando indispensável por motivo de segurança nacional ou para organizar setor que não possa ser desenvolvido com eficácia no regime de competição e de liberdade de iniciativa, assegurados os direitos e garantias individuais. (idem)
A mesma atribuição de organizar a atividade econômica aparece em menor grau no artigo 170, da Constituição Federal de 1969, que atribui a competência do setor privado e do setor estatal.
Às empresas privadas compete, preferencialmente, com o estímulo e apoio do Estado, organizar e explorar as atividades econômicas.
Apenas em caráter suplementar da iniciativa privada o Estado organizará e explorará diretamente a atividade econômica.
Na exploração, pelo Estado, da atividade econômica, as empresas públicas e as sociedades de economia mista reger-se-ão pelas normas aplicáveis às empresas privadas, inclusive quanto ao direito do trabalho e o das obrigações.
A empresa pública que explorar atividade não monopolizada ficará sujeita ao mesmo regime tributário aplicável às empresas privadas (idem)
A participação do Estado na economia é justificada pela necessidade de organizar a atividade econômica onde esta não é possível pelas mãos da iniciativa privada, notadamente, nos setores de infra-estrutura que necessitam de grandes investimentos que só começam a dar retorno através dos lucros no longo prazo, não despertando o interesse da iniciativa privada.
Assim, o Estado brasileiro foi responsável pela implantação e organização da infra-estrutura nos setores de siderurgia, mineração, transportes, energia e telecomunicações, e a partir do momento que estes setores já se encontravam em atividade, a filosofia que atribuía ao Estado o papel de organizador da atividade econômica deixou de se fazer presente no texto constitucional de 1988, onde o Art. 174 delimita o papel do Estado na economia.
Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Como a legislação vigente não era mais compatível com a presença do Estado na economia, o processo de privatizações das estatais teve início no governo Collor, primeiro governo eleito diretamente em 1990 após a revolução de 1964, dois anos após a promulgação da última constituição.
Coube ao governo em exercício justificar à população porque tais privatizações seriam efetivadas, e este o fez mediante a justificativa de que a saída do Estado na economia o deixaria livre para se dedicar exclusivamente as áreas sociais como saúde, educação, etc., o que não se efetivou pelos motivos que serão melhor entendidos após a análise da elevação do endividamento público no período.
A intervenção do estado na economia mais especificamente na exploração da atividade econômica, foi limitada pelo último texto constitucional, antes facultativa ao Estado.
Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta da atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. (Art. 173, CF 1988)
Com o programa de privatizações o governo Collor pretendia diminuir o déficit público corrente e arrecadar cerca de 4,5 bilhões de dólares, e para tanto obrigou instituições financeiras a trocar parte do seu patrimônio por Certificados de Privatização. Tal certificado deveria ser utilizado para a compra de ações de Estatais privatizáveis, e seria remunerado no primeiro mês integralmente pela inflação, nos meses subseqüentes esta remuneração seria reduzida em um ponto percentual, o que por certo criaria grande expectativa nos detentores deste papel em se livrar dele. Estes papeis seriam entregues aos bancos na mesma proporção se seus ativos: os bancos maiores deverão receber mais que os menores. (Tanaami, 1996)
Cabe lembrar que as privatizações foram o primeiro movimento de troca de controle de empresas na década; Rasmussen (1991, p. 30) descreve que:
O patrimônio industrial da nação brasileira está dividido em quase 50% de empresas estatais, ... , 22% de empresas multinacionais, e os 28% de empresas da iniciativa privada são, na sua maioria, empreendimentos familiares ...
Com as privatizações, além do governo pretender reduzir o déficit público, pretendia, também, diminuir a participação do Estado na economia.
Tabela 4 Participação das empresas estrangeiras, nacionais e estatais no total das vendas das maiores: período: 1980 à 1999
Ano |
Estrangeiras |
Nacionais |
Estatais |
1980 |
32,5% |
35,9% |
31,6% |
1981 |
31,2% |
35,2% |
33,6% |
1982 |
30,9% |
36,1% |
33,0% |
1983 |
29,7% |
39,1% |
31,2% |
1984 |
27,2% |
39,9% |
32,9% |
1985 |
28,5% |
40,7% |
30,8% |
1986 |
28,7% |
42,4% |
28,9% |
1987 |
30,7% |
41,0% |
28,3% |
1988 |
31,6% |
42,4% |
26,0% |
1989 |
30,8% |
44,0% |
25,2% |
1990 |
31,0% |
42,7% |
26,2% |
1991 |
31,0% |
42,4% |
26,6% |
1992 |
31,3% |
41,7% |
27,0% |
1993 |
35,0% |
40,2% |
24,8% |
1994 |
32,0% |
44,0% |
24,0% |
1995 |
33,3% |
43,6% |
23,1% |
1996 |
34,1% |
42,1% |
23,8% |
1997 |
36,3% |
40,4% |
23,3% |
1998 |
43,5% |
39,4% |
17,1% |
1999 |
44,7% |
37,7% |
17,6% |
Fonte:
Exame, jun. 2000, p. 20
Através da Tabela 4, observa-se que houve uma inversão na participação nas vendas das maiores empresas estatais em favor das estrangeiras,
O governo, através da Lei 8031/90, criou o PND - Programa Nacional de Desestatização; pretendia inicialmente desestatizar 18 empresas dos setores de siderurgia, fertilizantes e petroquímica, e para tanto, além dos Certificados de Privatização e dos Cruzados Novos bloqueados poderiam ser utilizados títulos da dívida pública., segundo Fortuna (1996, p. 281)
As moedas nacionais utilizadas na privatização foram:
As moedas externas foram:
Empresas Privatizadas |
Data do Leilão |
Preço Mínimo US$ Mi |
Ágio (%) |
Principal Moeda |
Principal Comprador |
Setor Siderúrgico |
|||||
USIMINAS |
24/10/1991 |
974,10 |
14,2% |
SIBR |
CONSÓRCIO BOZANO SIMONSEN |
COSINOR |
14/11/1991 |
12,00 |
13,8% |
CPs |
GRUPO GERDAU |
AÇOS FINOS PIRATINI |
14/02/1992 |
42,00 |
153,0% |
CPs |
GRUPO GERDAU |
CST – PRIMEIRO LEILÃO |
16/07/1992 |
294,80 |
0,2% |
DVR |
GR. BOZANO SIMONSEN, CVRD E UNIBANCO |
CST – SEGUNDO LEILÃO |
23/07/1992 |
36,90 |
0,0% |
DVR |
GRUPO BOZANO SIMONSEN E UNIBANCO |
ACESITA |
22/10/1992 |
347,60 |
29,5% |
OFND |
PREVI, SISTEL E BANCO SAFRA |
CSN |
02/04/1993 |
1.056,60 |
0,0% |
DVR |
B.BAMERINDUS, GR. VICUNHA, DOCENAVE, BRADESCO E ITAÚ |
COSIPA |
20/08/1993 |
166,30 |
98,8% |
SIBR |
ANQUILLA E BRASTUBO |
AÇOMINAS |
10/09/1993 |
296,40 |
87,0% |
DVR |
CIA.MIN.PART.INDUSTRIAL |
Setor Fertilizantes |
|||||
ARAFÉRTIL |
15/04/1994 |
10,70 |
0,0% |
DVR |
QUIMBRASIL E FERTISUL |
INDAG |
23/01/1992 |
6,80 |
0,0% |
CPs |
IAP |
FOSFÉRTIL |
12/08/1992 |
139,30 |
27,1% |
DVR |
CONSÓRCIO FERTILFOZ |
GOIÁS FÉRTIL |
08/10/1992 |
12,70 |
0,0% |
TDA |
FOSFÉRTIL |
ULTRAFÉRTIL |
24/06/1993 |
204,40 |
0,0% |
DVR |
FOSFÉRTIL |
Setor Petroquímico |
|||||
PETROFLEX |
10/04/1992 |
178,40 |
20,8% |
CPs |
CONSÓRCIO PIC |
COPESUL |
15/05/1992 |
617,00 |
29,2% |
DVR |
CONSÓRCIO PPE |
ALCALIS |
15/07/1992 |
46,60 |
0,0% |
DVR |
GRUPO FRAGOSO PIRES |
NITRIFLEX |
06/08/1992 |
26,20 |
0,0% |
DVR |
ITAP |
POLISUL |
11/09/1992 |
56,90 |
0,0% |
CPs |
HOECHST E IPIRANGA |
PPH |
29/09/1992 |
25,20 |
62,2% |
CPs |
PETROPAR, HIMONT E ODEBRECHT |
PQU |
24/01/1994 |
270,00 |
0,0% |
DVR |
U.CARBIDE, POLIBR.,PRIVATINVEST,ODEBRECHT |
CBE |
03/12/1992 |
10,90 |
0,0% |
DVR |
UNIGEL |
POLIOLEFINAS |
19/03/1993 |
87,10 |
0,0% |
CPs |
ODEBRECHT |
OXITENO |
15/09/1993 |
53,90 |
0,0% |
MDFA |
DRESDNER BANK E ULTRAQUIMICA |
Setor Transportes |
|||||
SNBP |
14/01/1992 |
7,80 |
54,7% |
SIBR |
CINCO |
Outros Setores |
|||||
CELMA |
01/11/1991 |
72,60 |
25,0% |
SIBR |
A.GUTIERREZ E BANCOS B.VISTA E SAFRA |
MAFERSA |
11/11/1991 |
18,50 |
161,1% |
OFND |
REFER |
Fonte:
Indicadores Diesp, jan./ fev. 2000, p. 45Até a divulgação do Plano Real, em 01-07-1994, observa-se, no Quadro 1, que houve predomínio de títulos da dívida pública e créditos contra a União na aquisição de empresas estatais, tanto por parte das instituições financeiras como pelas indústrias. Observa-se, também, que as empresas que participaram dos leilões de privatização procuraram adquirir empresas que atuavam no mesmo ramo de atividade, ou seja: siderúrgica adquirindo siderúrgica, petroquímica adquirindo petroquímica, e assim por diante.
A aquisição da Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) pelo consórcio PPE, em maio de 1992, é típico caso de aquisição horizontal, pois as empresas que assumiram seu controle: Odebrecht, Ipiranga e Hoechst, atuavam no ramo da petroquímica. A integração horizontal da Copesul com consórcio PPE ocasionou a sua reorganização administrativa e industrial que resultou em redução de custos.:
As despesas administrativas caíram 88,6% no período ... Os 700 funcionários, hoje, recebem remuneração por resultados, com base no Sistema Copesul de Gestão ... Muitas diferenças separam a empresa daquela de 1991, às vésperas da privatização. Por exemplo: não precisa mais arbitrar as paradas de produção com greves, como a do final daquele ano, quando 1.400 empregados paralisaram as operações durante 20 dias, exigindo reajuste de 100% (Matos, 1998, p. C1)
É importante acrescentar que o processo de privatizações promoveu o saneamento de muitas empresas estatais, e que nos casos em que elas saíram de uma situação onde haviam prejuízos acumulados, os mesmos puderam ser utilizados para diminuir a base tributável dos lucros auferidos nos períodos subsequentes, Pode-se citar o exemplo da Copesul, Embraer e Fosfertil, onde a Embraer, privatizada em 1994, só passou a auferir lucros em 1998.
Empresa |
1991 |
1992 |
1993 |
1994 |
1995 |
Copesul |
(13,70) |
(6,30) |
1,60 |
21 |
66 |
Embraer |
(276,80) |
(135,60) |
(60,10) |
(189) |
(300) |
Fosfertil |
n.d. |
(8,00) |
15,50 |
118 |
42,5 |
Fonte:
Exame, 1996O pacote econômico, além das medidas administrativas da qual fazia parte o programa de privatizações, implementou medidas fiscais elevando a alíquota do IPI e IOF, com o intuito de equacionar o problema do déficit público, que por sua vez não era o único problema. O programa de liberalização do comércio exterior, ou a abertura comercial, foi, por sua vez, uma mudança de estratégia, que teve por objetivo melhorar a competitividade da indústria e melhorar os resultados da Balança Comercial.
As privatizações se efetivaram simultaneamente com a abertura econômica e esta, por sua vez, obrigou as empresas a melhorarem a sua competitividade em um período de recessão ocasionado pelas medidas monetárias do Plano Collor.
A abertura comercial é um entre outros fatores responsável pela redução da participação das estatais na economia, em favor das empresas estrangeiras e será discutida a seguir.
A abertura comercial, promovida no governo Collor, consistia na redução das alíquotas de importação, de uma média de 40% para menos de 20% em 4 anos (Vasconcelos e Gremaud, 1996, p. 228). Posteriormente o Brasil assinou o Tratado de Assunção, em 29-11-1991, onde Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai se comprometem a eliminar as barreiras comerciais, gradualmente, até 31-12-1994, instituindo uma Tarifa Externa Comum para comércio fora do bloco econômico.
O objetivo da abertura era de:
... resgatar a tarifa aduaneira como instrumento de política industrial através da extinção dos regimes especiais de isenções e reduções de impostos nas importações ... (Tanaami, 1996)
Os regimes especiais referem-se a existência de uma lista de importações que estariam sujeitas a autorização prévia solicitadas a órgãos da administração federal (idem, 1996).
É importante lembrar que reduzindo tarifas e entraves para a importação, o Governo tinha por objetivo melhorar a competitividade da produção nacional, na medida em que a importação de bens de capital aumentaria a produtividade, e, ao mesmo tempo, reduziria os entraves a exportação.
Porém a perspectiva era de retração da atividade econômica, pois o consumo seria fortemente restringido pelo bloqueio de Cruzados Novos que obrigaria a população a adiar o consumo. E estava conjugada com a necessidade do empresariado brasileiro em investir na sua capacidade de produção, melhorando a sua competitividade, já que a partir deste momento a entrada de produtos importados a preços menores ameaçava a sua participação no mercado.
O saldo da Balança Comercial em 1989, de US$16,1 bilhões, diminuiria para US$ 10,7 bilhões em 1990, só se recuperando em 1992 para US$ 15,2 bilhões (vide Tabela 3 na página
*), o que contraria a perspectiva de que a recessão provocaria queda nas importações e a falta de liquidez na economia anteciparia a contratação de exportações, já que esta seria uma forma de trocar os dólares por cruzeiros.Apesar do Plano Collor não obter êxito, que foi agravado pela instabilidade política que culminou no Impeachment do presidente eleito, o empresariado brasileiro foi posto a prova na medida em que a abertura comercial o obrigou a ser mais competitivo em condições desfavoráveis.
O governo Itamar Franco, sucessor de Collor, preparou as bases e lançou o Plano Real, em 01-07-1994, substituindo a moeda corrente, o Cruzeiro Real.
Segundo Vasconcelos e Gremaud (1996, p. 229), o plano esta dividido em três fases:
O ajuste fiscal consistia na criação do IPMF (Imposto Provisório Sobre Movimentação Financeira), e teria alíquota fixada em 0,25%, e também na constituição do FSE (Fundo Social de Emergência), a partir de parte das transferências que a União faz a Estados e Municípios. O ajuste fiscal teria como objetivo equilibrar o déficit público, que seria pressionado com uma prevista elevação da taxa de juro, já que setor público remuneraria os seus títulos a taxas pactuadas no curto prazo com o mercado. A elevação nas taxas de juro se fazia necessária uma vez que, em virtude da experiência dos planos econômicos anteriores, toda vez que os índices de inflação baixavam havia uma explosão de consumo, porque o consumidor não tinha sensibilidade às taxas reais de juros, e somente as taxas nominais, que se reduziram.
Com a inflação elevada, a composição do juro nominal do financiamento de bens de consumo é formada por inflação futura e juros reais, que é o ganho do agente financeiro que intermedia a compra a prazo. O consumidor, por sua vez, analisava se a prestação, que era composta pela amortização da sua dívida mais juros nominais, cabia dentro do seu orçamento mensal antes de decidir a compra. Com a queda da inflação a taxa nominal de juro se igualava a taxa real, tornando menor a prestação de um financiamento, estimulando o consumo a prazo.
A elevação da taxa de juro também elevava as despesas financeiras das empresas endividadas e tornava mais atrativo poupar.
A introdução da unidade de conta, URV (Unidade Real de Valor), derivou da necessidade de se estabelecer um referencial de valor, já que a elevados níveis de inflação, o consumidor perde a noção de preços relativos.
A moeda possui três funções: reserva de valor, unidade de conta, e intermediária de troca; a medida que a inflação se eleva a função reserva de valor deixa de existir, pois ao se guardar a moeda para consumo posterior, o poder aquisitivo é menor, esta é uma das razões pela qual o consumo é elevado em regimes inflacionários, o consumidor antecipa o consumo antes que a moeda perca o seu valor aquisitivo; a função unidade de conta também deixa de existir, pois com a perda de valor aquisitivo constante a moeda deixa de representar o valor dos bens e serviços; a única função que a moeda exerce em regimes inflacionários é a de intermediária de trocas.
A terceira fase do plano foi a substituição da URV pela nova moeda o Real; no momento de execução desta fase, o então ministro da economia: Fernando Henrique Cardoso, já havia deixado o cargo para concorrer a Presidência da República, o que contribuiu para sua vitória.
Concomitantemente, o Banco Central passou a acumular Reservas Cambiais, para poder atuar com mais folga na política cambial e monetária.
O mecanismo da âncora cambial
Uma vez implementado o Plano Real e com o novo governo em exercício, a manutenção do plano, ou seja, a estabilidade da moeda, foi conseguida com um mecanismo batizado de Âncora Cambial, que consistia em ancorar o preço dos bens ao dólar; note-se que somente era possível ancorar o preço dos bens já que os serviços, de uma forma geral, não eram importados.
A folga cambial e a abertura comercial viabilizaram a rápida queda da inflação logo após a reforma monetária que introduziu o real. A possibilidade de importação forçou os preços internos a acomodarem-se aos internacionais. É importante observar que a política cambial adotada serviu para aprofundar esta ancoragem dos preços. Ao contrário da Argentina que fixou uma taxa de câmbio nominal de 1 peso = 1 US$, no Brasil não se fixou paridade e deixou-se o R$ valorizar em relação ao US$ em um momento que continuava a entrada de recursos. (Vasconcelos e Gremaud, 1996, p. 231)
Este mecanismo atuava em duas pontas: na primeira a importação de bens de consumo ao mesmo tempo que garantia o nível de oferta elevado na economia, atendendo a pressão da demanda, concorria com os bens nacionais, estabelecendo o seu preço; em segundo lugar a oferta de moeda não aumentava, uma vez que o importador comprou dólares retirando a moeda nacional de circulação.
A utilização deste mecanismo por um longo período de tempo teve como conseqüências: sucessivos déficits comerciais, que seriam financiados com a entrada de capital estrangeiro na balança de capitais, aumento do desemprego fruto do processo de reorganização das empresas para fazer frente a concorrência internacional e aumento da participação do capital estrangeiro no capital das empresas.
A importância da pesquisa histórica deste período se faz necessário uma vez que o processo de fusões e aquisições se intensificou neste período, já que as empresas que entraram em dificuldades, ou se fundiram ou foram adquiridas por outra.
Tabela 6 Comparação anual do número de fusões e aquisições realizadas no período: 1994 à 1999.
1994 |
1995 |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
|
A – Domésticas |
81 |
82 |
161 |
168 |
130 |
101 |
B – Estrangeira |
94 |
130 |
167 |
204 |
221 |
208 |
[A – B] |
13 |
48 |
6 |
36 |
91 |
107 |
C – Total [A + B] |
175 |
212 |
328 |
372 |
351 |
309 |
Fonte:
KPMG, 2000, p. 8A partir da Tabela 6 observa-se um aumento na participação estrangeira no processo de fusões e aquisições. A participação do capital estrangeiro intensificou-se em 1997 e, em 1999, dobrou em relação ao número de negócios das transações domésticas. Esta troca de controle em favor das empresas estrangeiras atribui-se às condições mais favoráveis que se encontravam as empresas que ingressaram no Brasil, condição esta ocasionada pela abertura comercial e pela elevação nas taxas de juro internas durante o período, que colocou as empresas nacionais em situação de desigualdade de condições com que financia suas atividades no exterior a juros mais baixos.
Como foi citado anteriormente, o Plano Real previa um ajuste fiscal para garantir equilíbrio nas contas públicas, já que se fazia necessária a elevação das taxas de juro, primeiramente para conter o crescimento da demanda e do crédito, pois o consumidor, após vários anos de inflação elevada, perdeu a sensibilidade em relação as taxas de juro reais, e com a queda das taxas nominais seria estimulado a assumir dívidas para adquirir bens de consumo.
Tabela 7 Juros praticados no interbancário de 1994 à 1999, taxas anualizadas
1994 |
1995 |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
|
IGP-M |
1.246,6% |
15,25% |
9,20% |
7,74% |
1,78% |
20,10% |
* Overnight Nominal/CDI |
1.154% |
53,2% |
27,1% |
24,6% |
28,6% |
25,1% |
Juros Reais |
(6,88%) |
32,93% |
16,39% |
15,65% |
26,35% |
4,16% |
Fonte:
Conjuntura Econômica, abr. 2000, p. 12.; * Indicadores Diesp, maio/ jun. 2000, p. 51Através da Tabela 7 é possível confirmar que no ano de 1995 houve elevação das taxas de juro reais, conforme propunha o plano. Deve ainda ser considerado que o CDI Certificado de Depósito Interbancário, refletia apenas o custo da captação de recursos que seria transacionado no interbancário, a partir deste custo, seria composto com o Spread bancário e os impostos de intermediação financeira para ser encontrado o custo do crédito do tomador final.
A rentabilidade média das 500 maiores empresas em 1995, foi de 6,1% (Exame, jul. 1997, p. 12), bem inferior a rentabilidade bruta do CDI de 32,93%, já descontada a inflação, o que implicava em uma situação desfavorável ao investimento na produção, já que diante desta conjuntura o investidor preferia aplicar a disponibilidade de recursos no mercado financeiro à investir na produção. Esta situação se manteve em 1996 quando a rentabilidade foi de 5%.
Uma outro ponto a ser considerado, é o da diferença existente entre os juros domésticos e os juros internacionais. Os juros básicos internacionais, a Libor, ao longo da década de 90, em nenhum momento atingiu a casa de dois dígitos decimais, o que estimularia o ingresso de capitais de risco de curto prazo no país. O investidor estrangeiro arriscava fazer investimentos de curto prazo no Brasil, já que no seu país só seria possível auferir rendimentos menores que 10% ao ano sobre o capital investido, enquanto no Brasil os rendimentos eram de mais de 30% ao ano, já descontada a inflação.
Como a abertura econômica e o mecanismo da âncora cambial tornou o país mais dependente de divisas e era desejável o acumulo de reservas, que teriam a função de diminuir a vulnerabilidade externa e atenuar o desequilíbrio na balança de pagamentos, as taxas de juro elevadas abandonaram a função de conter a demanda para assumir a função de atrativo ao capital de risco internacional.
Tabela 8 Juros e reservas, período: 1994 à 1999
Ano |
* CDI |
IGP-M |
(1 + CDI)¸ (1+IGPM) -1 |
LIBOR |
Reservas |
Dívida Externa |
94 |
1.154% |
1.246,6% |
(6,88%) |
5,07% |
US$ 36,5 bi |
US$ 148,3 bi |
95 |
53,2% |
15,25% |
32,93% |
6,01% |
US$ 50,5 bi |
US$ 159,2 bi |
96 |
27,1% |
9,20% |
16,39% |
5,53% |
US$ 59,0 bi |
US$ 179,9 bi |
97 |
24,6% |
7,74% |
15,65% |
5,74% |
US$ 51,4 bi |
US$ 200,0 bi |
98 |
28,6% |
1,78% |
26,35% |
5,15% |
US$ 43,6 bi |
US$ 243,2 bi |
99 |
25,1% |
20,10% |
4,16% |
6,07% |
US$ 35,6 bi |
US$ 236,9 bi |
Fonte:
Conjuntura Econômica, abr. 2000, p. 12, 27, 28;.* Indicadores Diesp, maio/jun. 2000, p. 51A Tabela 8 expõe a diferença das taxas de juros internas, o CDI, já descontada a inflação, e da LIBOR, taxas de juro praticadas para empréstimos internacionais.
Ainda é possível observar que as taxas de juros internacionais foram muito mais estáveis no período do que as domésticas, o que resultou na imprevisibilidade que influenciou a disponibilidade de crédito de longo prazo ao empreendedor que só tinha acesso ao sistema financeiro nacional, e o colocou em situação desfavorável no que diz respeito a concorrência de empresas multinacionais que tinham acesso ao sistema financeiro internacional e podiam contar com o apoio da matriz no exterior.
Outras duas situações serviram para agravar ainda mais a instabilidade das taxas de juros internas: a crise Asiática em outubro de 1997 e a crise Russa no final de 1998, momentos em que o BACEN elevou as taxas de juro internas para conter a saída do capital de risco de curto prazo, oferecendo oportunidade de ganho que não era possível em seus países de origem. Durante a crise asiática, em setembro de 1997, por exemplo, a taxa de juro SELIC foi elevada de 22% para 43% a.a. pelo BACEN, e em outubro de1998, durante a crise Russa, houve nova elevação da taxa SELIC, passando a 42% a.a. enquanto em agosto estava em 19% a.a..
Diante deste quadro é possível concluir que a empresa que optou por capitais de terceiros para expandir sua capacidade produtiva, ou simplesmente para financiar seu capital de giro em momentos que, para manter o nível de vendas, se tornou necessário financiar a compra a prazo do consumidor, aumentando o prazo médio de recebimento das vendas, ainda que sacrificando a sua rentabilidade para pagar despesas financeiras, pode ter se deparado com um quadro de elevado endividamento, tornando-se alvo de outras empresas que se encontravam em situação financeira mais sólida, cedendo a sua participação ou sendo adquirida por estas.
A partir deste ponto, o trabalho é direcionado ao estudo de caso dos setores onde o processo de fusões foi mais intenso: o setor de alimentos e o de telecomunicações.
Cabe ressaltar os motivos que induziram o movimento de fusões na primeira metade da década: conjuntura econômica em fase de retração; elevada taxa de juros; concorrência de produtos importados, resultado da política de abertura comercial; e mecanismo da âncora cambial. Estes se manifestaram com muito maior intensidade no setor de alimentos do que no setor de telecomunicações.
O setor de alimentos foi atingido com maior intensidade pelas políticas econômicas de sustentação do Plano Real do que o setor de telecomunicações, uma vez que o motivo que induziu a troca de controle de empresas neste caso, não era a mudança de filosofia que fomentou o processo de privatizações e sim as fases de contração e expansão que a economia no período atravessou. No início da década houve forte recessão econômica em função do Plano Collor, que somente encontrou recuperação no início do Plano Real, recuperação esta que foi retida em virtude dos mecanismos de sustentação do plano exigirem a contenção da demanda para não prejudicar o sucesso do plano.
O motivo da troca de controle das empresas do setor de telecomunicações foi a mudança de filosofia que não admitia mais a presença do Estado na economia, que culminou no início do processo de privatizações e o agravamento do déficit público, que como já foi visto, em dezembro de 1999 atingiu a cifra de R$ 426.336 milhões.
Setor de alimentos
A divisão do trabalho, além de modificar as formas de produção em sociedade, também influência nas formas de consumo desta sociedade. A população foi agrupada em centros urbanos e rurais, o que também pode ser entendida como divisão do trabalho.
Com a intensificação da formação de centros urbanos houve um distanciamento, cada vez maior, da população que habitava estes centros das regiões produtoras de alimento, sendo assim, a distância entre estes dois centros tornou necessário o beneficiamento deste produto perecível, até chegar ao consumidor. A população urbana deixou de ter contato com o gado e passou a ter contato apenas com os seus derivados: carne, leite, etc.; a carne passou a ser comercializada nestes centros sob diversos tipos de embalagens e elaboração, sendo encontrada congelada, temperada, defumada, em pratos semi prontos para o consumo, etc. O mesmo exemplo vale para o leite, este é comercializado em pó, em caixinhas de papel, com frutas e assim por diante. A industrialização do alimento posterga o perecimento deste produto e torna possível o transporte e armazenamento para o consumo nos centros urbanos.
Outro ponto a ser considerado é que a atividade econômica exercida pelo habitante do centro urbano exige cada vez mais dedicação, na medida que este busca ascensão social, através da atividade especializada que ele exerce, o que diminui o tempo disponível para a preparação da diversidade de alimentos que são postos a sua disposição para aquisição e consumo já industrializados, razão pela qual o indivíduo prefere comprar suco de laranja pronto para o consumo à comprar laranjas e produzir o suco; o abate de aves para consumo próprio, por exemplo, não faz parte do cotidiano do indivíduo que habita os centros urbanos.
Diante deste quadro é natural a formação de empresas dedicadas a industrialização de alimentos, que encontram um sistema de produção de bens e serviços favorável à sua existência, integradas verticalmente com o produtor rural, e sua posterior diversificação horizontal formando os conglomerados alimentícios.
Com a difusão do consumo de alimentos industrializados na cultura brasileira, predominantemente nos meios urbanos, observa-se a formação de conglomerados alimentícios, isto é, a mesma empresa que atua no mercado de laticínios, atua também no de conservas, enlatados, doces, etc.
Tabela 9 Conglomerados alimentícios, receita operacional líquida em R$1.000, 1997 e 1998
Conglomerado |
1997 |
1998 |
Nestlé |
3.235.980 |
2.882.498 |
Ceval Alimentos |
2.037.540 |
2.866.509 |
Cargill |
1.875.577 |
2.182.992 |
Santista Alimentos |
1.667.899 |
1.090.418 |
Sadia Concordia |
1.523.063 |
1.561.710 |
Parmalat |
n.d. |
1.100.626 |
Perdigão |
688.038 |
1.236.163 |
Arisco |
n.d. |
812.776 |
Quaker |
384.861 |
395.605 |
Fonte
: Balanço Anual, 1998, p. 334; Balanço Anual, 1999, p. 366
Tabela 10 Conglomerados alimentícios, receita operacional líquida em US$ 1.000, 1996 e 1999.
Conglomerado |
1996 |
1999 |
Nestlé |
4.189,1 |
2.634,2 |
Ceval Alimentos |
1.823,2 |
1.767,5 |
Cargill |
1.397,7 |
1.712,2 |
Santista Alimentos |
1.685,4 |
867,3 |
Sadia Concordia |
1.502,3 |
1.765,3 |
Parmalat |
1.147,8 |
868,1 |
Perdigão |
1.101,2 |
1.090,8 |
Arisco |
n.d. |
571,8 |
Quaker |
474,9 |
581,5 |
Paridade |
US$ 1 = R$ 1,039 |
US$ 1 = R$ 1,789 |
Fonte:
Exame, 1996; Exame, 2000, p. 78-97.O setor de alimentos liderou em número de negócios de fusões e aquisições realizados durante o período pesquisado pela KPMG, atingindo participação máxima no processo, no ano de 1997, que foi de 13,2% de negócios realizados em relação ao total, só perdendo em 1999, quando foi superado pelas empresas de telecomunicação e de computação, com respectivamente, 47 e 28 negócios.
Tabela 11 Fusões e aquisições realizadas no setor de alimentos, bebida e fumo. Período: 1994 à 1999.
1994 |
1995 |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
|
Alimentos |
21 |
24 |
38 |
49 |
36 |
25 |
Participação em relação ao Total |
12,0% |
11,3% |
11,6% |
13,2% |
10,3% |
8,1% |
Fonte:
KPMG, 2000, p. 7A pesquisa da Consultoria KPMG informa que no ano de 1999, das 25 transações realizadas no Setor de Alimentos, em 17 houve participação do capital estrangeiro e em apenas 8 foram domésticas.
Com a abertura da economia e o crescente fluxo de capital estrangeiro na economia nacional, o setor de alimentos entrou em um processo de internacionalização.
Quadro 2 Principais aquisições no setor de alimentos no mercado brasileiro. Período: 1995 à 1999.
Ano |
Empresa |
País |
Compradora |
País |
Negócio |
1995 |
Campineira |
Brasil |
Danone |
FRA |
Biscoito |
Pullman, Campo Grande |
Brasil |
Bunge |
ARG |
Pães |
|
Avaré |
Brasil |
Fleischmann Royal |
USA |
Leite |
|
1996 |
Lacta |
Brasil |
Phillip Morris |
USA |
Chocolate |
Visconti, Pardelli |
Brasil |
Arisco |
BRA |
Pães |
|
Terra Branca, Frescarini |
Brasil |
PillsBurry |
USA |
Massa |
|
Bethânia |
Brasil |
Parmalat |
ITA |
Leite |
|
Pilar, Frigoríficos Gumz |
Brasil |
Fleischmann Royal |
USA |
Geral |
|
Naturalat (Leitesol) |
Brasil |
Mastellone (La sereníssima) |
ARG |
Leite |
|
CCGL Coop |
Brasil |
Avipal |
BRA |
Leite |
|
Biscoitos Aymoré |
Brasil |
Danone (BSN) |
FRA |
Pães |
|
1997 |
Kibon (Phillip Morris) |
Brasil |
Unilever |
NED |
Sorvete |
Etti (Fenícia) |
Brasil |
Parmalat |
ITA |
Geral |
|
1998 |
Café do Ponto |
Brasil |
Sara Lee |
USA |
Café |
Batavo Coop |
Brasil |
Parmalat |
ITA |
Leite |
|
Peixe |
Brasil |
Cirio Gragnotti |
ITA |
Geral |
|
Laticínio Ivoti |
Brasil |
Milkaut |
ARG |
Leite |
|
Frangosul |
Brasil |
Doux |
FRA |
Frango |
|
1999 |
Mococa |
Brasil |
Royal Numico |
NED |
Leite |
Café Seleto |
Brasil |
Mellita |
GER |
Café |
|
Chapecó |
Brasil |
Grupo Macri |
ARG |
Frango |
Fonte:
Vieira et al., 11 nov. 1999, p. B24O crescente fluxo de capitais de risco de curto e longo prazo na economia brasileira, onde os primeiros eram atraídos pelas elevadas taxas de juro, e os de longo prazo pelo esgotamento das possibilidades de investimento em seus países de origem, foi responsável pela internacionalização do setor de alimentos.
O mecanismo da âncora cambial provocava sucessivos déficits no balanço de pagamentos, já que consistia em manter o nível da oferta elevado com as importações, necessitando de financiamento. A sustentação dos déficits foi realizada com a entrada de divisas na balança de capitais, que ingressaram no país na forma de capital de risco de curto e longo prazo. A aquisição de empresas transferindo o seu controle para o capital estrangeiro foi conseqüência dos mecanismos de sustentação do Plano Real.
As fusões e aquisições que ocorreram no período assumiram a forma de conglomeração de acordo com a Tabela 9 da página *, onde prevaleceu a aquisição de empresas especialistas em um tipo de negócio por conglomerados. O surgimento de novos conglomerados alimentícios provocariam mudanças na participação deste mercado, que até a década de 80 era liderado pela Nestlé.
De acordo com os dados expostos na Tabela 10 da página
*, a Nestlé ostentava a posição de conglomerado lider de mercado. Observa-se, também, que a Nestlé, apesar de ser líder em vendas, perdeu mercado de 1996 a 1999.A perda de participação pode ser atribuída a entrada de novos concorrentes estrangeiros, que proporcionaram às empresas adquiridas maior poder financeiro sob uma nova organização com esforço coordenado de propaganda, e a entrada de produtos importados que tiveram suas barreiras eliminadas com a abertura comercial conjugada com a entrada de produtos do Mercosul.
Quando a Nestlé se instalou no Brasil, em 1921, estreando com o leite condensado Moça, os conglomerados que figuram na Tabela 10, não existiam. Esta empresa Suíça, após se estabelecer neste mercado, introduziu, logo em seguida, os produtos: Farinha Lactea, Leite Ninho e Nescau, seguindo os estágios de agrupamento já discutidos: integração horizontal, vertical e conglomeração; primeiro ganhando escala em seguida se integrando verticalmente com as fontes de suprimento e canais de distribuição e depois diversificando as atividades, a empresa se especializa em determinado ramo e logo que se firma neste mercado abre um leque de produtos que tem alguma afinidade com o produto principal da empresa através da diversificação.
Segundo Mirow (1977, p. 160):
A Nestlé, ao se instalar em qualquer país do terceiro mundo, repete, invariavelmente a mesma técnica. Todo leite disponível da região é adquirido e ela ainda estabelece fazendas-modelo, além das usinas de transformação, fábricas de conservas de legumes e frutas e alimentos solúveis e produtos nutritivos etc., e vende seus produtos às classes de melhor poder aquisitivo do País.
A partir desta citação é possível tirar as seguintes conclusões: ao estabelecer fazendas modelo, a empresa adotou uma estratégia de retro-integração, ou seja, ela se associou com uma empresa que pertencia a uma fase anterior de seu processo produtivo, a fazenda-modelo, e ao vender seus produtos às classes de melhor poder aquisitivo ela opta por um segmento de mercado onde ela pode ou não ter concorrentes.
Mirow (idem) ainda afirmou que ela financiava o fazendeiro comprando por antecipação a sua produção, eliminando o abastecimento a fabricantes locais de leite em pó. A empresa, apesar de não ser proprietária da fazenda, estava verticalmente integrada já que esta se tornou fornecedora exclusiva da Nestlé.
Ao se firmar neste mercado de laticínios, ela diversificou as suas atividades expandindo o seu ramo de atuação para o ramo de alimentos em geral: passando a comercializar: café solúvel, caldos sopas e temperos, biscoitos, pratos congelados, sorvetes, iogurtes e água mineral.
Quadro 3 Diversificação dos produtos da Nestlé a partir de sua chega ao país, 1921 à 1990
1921 |
A Nestlé se instala no país com uma fábrica e estréia com o leite condensado Moça. Mais tarde viriam outros campeões de venda: Farinha Láctea, Leite Ninho e Nescau |
1937 |
O governo Getúlio Vargas pede à Nestlé que encontre uma saída para os estoques de café que o país acumula. Surge o café solúvel Nescafé, que estourou na Europa, mas só seria vendido no mercado interno em 1950 |
1962 |
A empresa entra no mercado de conveniência, com caldos, sopas e temperos Maggi, que concorreriam com a marca Knorr, da Refinações de Milho Brasil |
1967 |
A Nestlé comprou a fábrica de biscoitos São Luiz, de São Paulo, instalada no Belenzinho, e começa a modernizá-la. Foi uma aquisição bem-sucedida. No final da década de 90 a São Luiz se aproximou da líder de mercado, a Tostines |
1972 |
A companhia coloca nos supermercados duas novidades: os sorvetes Yopa e os pratos congelados Findus |
1973 |
Com a marca Chambourcy, a Nestlé ingressou no mercado de iogurtes. Comprou a fonte de água mineral Minalba, num negócio que nunca decolaria. Dez anos depois, a empresa se desfaria da Minalba |
1974 |
As lanchonetes Bob's passam à Nestlé. É conseqüência da aquisição, pela matriz, de todas as operações da empresa americana Libby McNeil & Libby no mundo. Mais tarde, a rede foi vendida para o grupo Vendex |
1988 |
A Nestlé compra a indústria de balas, biscoitos e confeitos Ailiram, de Marília, interior de São Paulo, da empresa americana Beatrice |
1990 |
Para aumentar as vendas dos sorvetes Yopa, a empresa se associa à rival anglo-holandesa Gessy Lever, dona da marca Gelato, formando a Insol |
Fonte:
Exame, 1996Originalmente, a empresa se dedicava à produção de derivados de leite e passou a atuar na produção de alimentos em geral, o processo de conglomeração da Nestlé no Brasil, ocorrerá desde a sua entrada no país tendeu a se ampliar se tornando o maior conglomerado alimentício que só viria a perder participação no mercado com a abertura econômica.
Em 1973 a Nestlé ampliou a sua diversificação e passou a atuar no mercado de água mineral. Segundo Mirow (1977, p. 161), em 1972, em razão dos subsídios e política de preços mínimos concedidos aos produtores de leite do Mercado Comum Europeu, se constituíram as montanhas de manteiga invendáveis, e, a partir dos cartéis de estabelecidos foi exportado para o Brasil, este excedente de produção Europeu, com direitos a isenção de ICM e IPI. Diante disso a Nestlé, com o mercado limitado pela importação, foi obrigada a diversificar as suas atividades; assim, adquiriu a Minalba, empresa de água mineral, em Campos do Jordão, alcançando 15% do mercado se utilizando dos canais de propaganda que já tinha instituído através de sua linha de produtos.
Até 1990, podia-se afirmar que não existiam conglomerados alimentício com a diversidade e participação no mercado que chegasse a ameaçar a Nestlé, mas a composição da participação nos anos 90 mudou, segundo Blecher (1997):
O mundo no qual a Nestlé floresceu evaporou. Era o mundo de escassa competição. Este mundo novo que ela enfrenta com preocupação é altamente competitivo. Até o final dos anos 80, a Nestlé chegou a dominar a maioria das prateleiras com nível de participação superior a 60%. Naquela época, a Arisco era mais conhecida como fabricante de temperos e a Parmalat ainda não havia mostrado a cara.
A empresa que no passado optou por produzir para um segmento de mercado de renda mais elevada, privilegiando a qualidade, passou a perder mercado em função da concorrência de empresas nacionais e estrangeiras que passaram a disputar mercado em função da abertura comercial.
Tabela 12 Participação da Nestlé no mercado. Período: 1995 à 1997
Mercados |
1995 |
1996 |
1997 |
Leite Condensado |
65% |
59% |
56% |
Iogurtes |
56% |
53% |
51% |
Sopas |
54% |
45% |
44% |
Leite em Pó Integral |
48% |
44% |
41% |
Caldos |
44% |
39% |
37% |
Petit Suisse |
33% |
30% |
28% |
Creme de Leite |
23% |
20% |
20% |
Sorvete |
19% |
19% |
17% |
Fonte:
Blecher (1997)De acordo com o que foi discutido anteriormente sobre os conglomerados: eles possuem grande poder financeiro, que apesar de não serem especialistas em nenhum dos setores onde atuam, não têm dificuldades em manter a sua participação já que, quando ameaçados, dispõe de poder de manobra que lhes permitem tomar iniciativa em qualquer frente, não pode ser levado em conta neste caso pois o poder financeiro não foi suficiente para impedir que houvesse perda de participação no mercado.
A abertura do mercado em 1990 e a sua ampliação em 1994, ano de implementação do Plano Real, criou uma situação em que os monopólios locais passaram a enfrentar concorrência externa, de produtos importados e de outros conglomerados que passaram a produzir no mercado local. Estas passaram a atuar no mercado local através da aquisição de pequenas empresas ou grupos que estrategicamente permitiriam a sua entrada e consolidação no país.
No caso da entrada de concorrentes no mercado local, o grupo italiano Parmalat é um bom exemplo. O faturamento na América Latina da multinacional italiana, representava 24% em 1993 e passou a 36,79% em 1998. Segundo Castro (1999, p. 5), o crescimento da participação da região no faturamento da Parmalat se deve a adoção de uma estratégia agressiva em duas frentes importantes — de aquisições e de marketing —; a estratégia de aquisições iniciada em 1989 no Brasil, incorporando ao grupo quase duas dezenas de empresas, que conferem ao Brasil 28% de seu faturamento global.
A entrada na América do Sul começou pelo Brasil, que representa 60% de suas vendas na região. Em 1974, firmou "joint-venture" com a Laticínios Mococa para a produção de iogurtes. A parceria foi encerrada em 1977, quando a Parmalat fundou sua própria empresa no país a Yolat Indústria e Comércio de Laticínios Ltda. E passou a produzir leite UHT (ultra high temperature, conhecido como longa-vida ou de longa duração). (idem)
A conglomeração da Parmalat é recente, e convém lembrar aqui que originariamente o seu principal ramo de negócio, é o de laticínios, assim como a Nestlé no principio. A transnacional, com sede na Itália, usou a associação com a Laticínios Mococa para conhecer o mercado consumidor e as fontes de suprimento; ela podia financiar a sua expansão através da matriz no exterior
Quadro 4 Classificação das fusões/aquisições da Parmalat
Tipos de Fusões |
Empresas |
Horizontal |
Fiorlat, Teixeira, Alimba, Via Láctea, Lacesa, Sodilac, Cilpe, Ouro Preto, Betânia, Batávia |
Vertical |
Gogo, Mococa, Spam, Betânia, Batávia |
Concêntricas |
Supremo, Santa Helena, General Biscuits |
Conglomerado |
Bolls, Etti, Neugebauer |
Fonte:
BNDES, abr., 1999O que diferenciaria a Parmalat da Nestlé é seu acesso ao segmento de mercado de menor poder aquisitivo, a sua consolidação no mercado de leites longa vida, que eram vendidos em caixinhas de papel, permitindo a extensão do uso da embalagem para outros produtos, como por exemplo: creme de leite, iogurte e leite condensado. Segundo Blecher (1997):
O preço do creme de leite [da Nestlé] é 12% maior que a média do mercado, segundo informações da Nielsen. O produto da Parmalat é vendido, em embalagem bric, 15% abaixo da média, segundo o Ibope-NPD. Isso ajudou a fermentar a sua participação de 10,6% em 1995 para 13% este ano. Neste período, o creme da Nestlé caiu 7 pontos percentuais.
Em 1998 a Parmalat adquiriu a Batavo (vide Quadro 2 na página
*) e consolidou a sua posição no mercado de iogurtes, dobrando a sua participação no mercado para 10,8%, praticando preços 30% menor que a média enquanto a Nestlé, 17% a mais que a média.Conforme a discussão do por que se formam os conglomerados, ao se consolidar em um mercado, atingindo a escala ideal frente o tamanho do mercado, e diminuindo a sua dependência entre os elos da cadeia produtiva, este buscará a diversificação a fim de diluir o risco de cada negócio e disporá de grande poder financeiro, o que lhe permitirá escolher a frente a tomar iniciativa caso alguém ameace a sua participação tomando parte se seu mercado consumidor.
Se o conglomerado dispõe de tal poderio, porque o mesmo não utilizou o seu poder financeiro para impedir que a Parmalat lhe toma-se parte de seu mercado consumidor?
A explicação dada por Blecher (1997) que cabe aqui é a seguinte: apesar de dispor de grande poder financeiro, que lhe permitiria a redução de preços até esgotar o poder de concorrência do pretendente a conquista do mercado, este não percebe que está perdendo participação no mercado por causa do preço; esta falta de sensibilidade pode ser atribuída a elevada burocratização dos conglomerados.
Quadro 5 Produtos da Nestlé e concorrentes em 1999.
Principais Produtos |
Concorrentes |
Empresa |
Ramo |
Leite Moça |
Glória |
Fleischmann & Royal |
Leite |
Chambourcy |
Danone/Batavo |
Danone/Parmalat |
Leite |
Maggi |
Arisco |
Arisco |
Caldos |
Leite Ninho |
Glória |
Fleischmann & Royal |
Leite |
Findus |
Pratos Congelados |
Sadia e Perdigão |
Pratos congelados. |
Nescafé |
Mellita |
Mellita |
Café |
Chocolates Nestlé |
Lacta/Garoto |
Phillip Morris/Garoto |
Cigarro/Chocolates |
Creme de Leite |
Parmalat |
Parmalat |
Leite |
Yopa |
Kibon |
Unilever |
Geral |
Fonte:
Blecher (idem)Um outro motivo que fez com que o lider no setor perdesse mercado, é a competição do conglomerado com empresas mais especializadas. Blecher (idem) Tantas frentes obrigam a Nestlé a gerir uma multiplicidade de estratégias. Há sempre o risco de exagerar na munição sem a certeza de atingir o alvo.
A Parmalat e a Arisco são duas empresas que passaram a se conglomerar no final dos anos 90, sendo que a Parmalat, apesar de possuir tantos itens quanto a Nestlé ocupando as gôndolas de creme de leite, suco de laranja, iogurte, biscoito, sobremesa e café solúvel, foca seus negócios nos derivados de leite.
A Nestlé, buscando restruturar seu elenco de produtos dando maior importância àqueles que davam mais retorno, seguiu o caminho inverso da especialização.
A Arisco, única empresa nacional, com sede no estado de Goias, que passou a se conglomerar, atuando nos mercados de catchup, alimentos congelados, produtos pet, sopas, atum e alimentos infantis, foi adquirida pela Bestfoods no começo de 2000.
Aparentemente, poderia-se deduzir que ao optar pelo segmento de mercado de renda mais elevada, a Nestlé estabeleceria o monopólio deste mercado, o que não se confirmou pelos dados demonstrados, já que o preço passou a ser o principal determinante para o consumo.
A importância do preço se intensificou com a entrada do setor de varejo entrando na disputa por este mercado lançando produtos com marca própria a preços mais baixos e será visto em mais detalhes no próximo tópico.
O setor de varejo era representado pelos supermercados e lojas que colocavam a disposição do consumidor uma variedade de produtos, que iam desde alimentos industrializados, utensílios domésticos, acessórios para automóveis até eletrodomésticos.
1994 |
1995 |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
|
A ) Supermercados |
2 |
0 |
2 |
9 |
13 |
24 |
B ) Lojas de Varejo |
1 |
2 |
7 |
8 |
6 |
7 |
Participação de [A+B] em relação ao Total |
0,2% |
0,9% |
2,7% |
4,6% |
5,4% |
10% |
Fonte:
KPMG, 2000, p. 7Apesar de não ter ocorrido um número de negócios expressivo em relação as do setor de alimentos, este setor exerceu influência na formação de preços e impôs condições de participação em suas gôndolas, dado o grau de concentração em que já se encontrava este setor.
De acordo com pesquisa divulgada em O Estado de São Paulo, as cinco maiores redes de supermercados detinham 42% do mercado, segundo Chiara (2000, p. B6), que assina a matéria: Concentração no varejo preocupa indústria, a participação dos cinco maiores hipermercados era de 37,2% em 1995, e na região Sudeste as três maiores redes detinham 51,9% do mercado.
Esta informação foi confirmada por Bruns (2000, p. 50):
Nos últimos três anos, a participação das cinco principais redes de supermercados – Carrefour, Pão de Açúcar, Bom Preço, Sendas e Sonae – saltou de 27,5% para 42% num setor onde atuam 22 mil empresas, a maioria com uma única loja.
Este grau de concentração do setor de varejo anulou o poder econômico que os novos conglomerados alimentícios poderiam impor, levando vantagem no que diz respeito a negociação com os fornecedores.
Além do setor de varejo conseguir impor preços e prazos à indústria, esta vinha sendo obrigada a conceder favores que podiam representar entre 5% a 25% dos volumes negociados. Um dos favores conhecidos pelos produtores era a prática do "enxoval". O "enxoval" ocorria quando uma grande rede de varejo ia inaugurar uma nova loja e impunha ao fornecedor a entrega gratuita de produtos que iria abastecer as gôndolas, ou seja, é a doação do primeiro estoque, se o fornecedor não quiser se submeter aos favores impostos pode ficar fora de cerca de 10% do mercado.
Tabela 14 Participação no faturamento total das maiores redes de supermercados, 1995 e 1999.
Posição no ranking |
1995 |
% |
1999 (*) |
% |
1.º |
Carrefour |
15,5 |
Carrefour |
15,0 |
2.º |
Pão de Açucar |
10,5 |
Pão de Açucar |
14,0 |
3.º |
Casas Sendas |
4,4 |
Sonae |
4,7 |
4.º |
Bompreço |
3,9 |
Bompreço |
4,4 |
5.º |
Paes Mendonça |
2,9 |
Casa Sendas |
4,0 |
Total |
37,2 |
Total |
42,1 |
(*) Estimativa de participação sobre o faturamento total do setor com base nos dados de 1999, incluindo as aquisições de 2000 até o dia 4 de maio
Fonte: Chiara, 2000, p. B6
No final da década de 90, segundo Blecher (1997), No Brasil, 80% das vendas de alimentos são escoadas em supermercados. E apenas 20% das redes comercializam 50% dos volumes. A dependência do setor de alimentos ao setor de varejo não estava limitada a concentração nos canais de distribuição; o setor de varejo estava se integrando aos fornecedores da indústria de alimentos, as cooperativas e as indústrias regionais que não tinham representatividade no mercado e lançando produtos com marca própria.
A marca própria podia ser um produto com a identificação do nome da rede ou um nome de fantasia, como o selo Qualitá, do Pão de Açúcar. Havia uma tendência da participação no mercado das marcas próprias crescerem, por exemplo: o Carrefour tinha 180 produtos há dez anos e, em maio 2000, contava com 600, o Pão de Açúcar contava com 230 produtos, com o selo Qualitá custando de 10% a 20% menos que os líderes nas áreas de mercearia, têxtil, bazar, higiene e limpeza.
Pode-se afirmar que a concentração no varejo pressionou os preços para baixo, concorrendo com a indústria de alimentos. A rede Suiça, Migros, citada por Bruns (2000, p. 52), detinha mais da metade do mercado daquele país e, em sua rede, 85% dos produtos comercializados eram de marca própria. Se a mesma situação se reproduzisse no Brasil, o setor de alimentos sofreria redução, já que a demanda inelástica e o acesso restrito as camadas da população de renda mais baixa impediriam um maior desenvolvimento do mercado.
O setor de alimento e varejo refletiam bem a exposição ao capital estrangeiro que a economia brasileira se submeteu. Pode-se concluir que no setor de bens duráveis, onde o uso da tecnologia era mais intenso, o atraso tecnológico brasileiro tornou os efeitos da internacionalização ainda maiores, pois a necessidade de investimento em pesquisa e a concorrência de produtos importados, numa conjuntura com fontes de financiamento escassa, inviabilizou o comando de empresas pelo empresariado do Brasil.
A troca de controle das empresas de telecomunicações no Brasil foi decorrência do processo de privatizações desencadeado no início da década de 90. Diferentemente de outros setores da atividade econômica, havia demanda reprimida que refletia-se na fila de espera para se obter um aparelho telefônico e no custo de aquisição de uma linha. O custo do serviço era pouco representativo em relação a linha. A demanda reprimida era resultado do domínio do monopólio estatal que cessaria em 29 de julho de 1998, data do leilão do Sistema Telebrás.
Havia vários interesses por parte do Governo em se desfazer do Sistema Telebrás.
Em primeiro lugar, a necessidade de financiar os sucessivos déficits comerciais podia se realizar pelo investimento estrangeiro, que seria elevado durante a aquisição do sistema, e, após a aquisição, já que havia a possibilidade dos lucros serem reinvestidos em função da demanda existente abrir a necessidade de investimentos em infra-estrutura, o que adiaria uma possível remessa de lucros.
Em segundo lugar, existia a possibilidade de atenuar o déficit público com a alienação do patrimônio público e assim equacionar as contas do governo e, por último, as operadoras estrangeiras teriam maior capacidade de modernizar o sistema de telecomunicações nacional
Paralelamente, segundo Speekaert (2000, p. 50), diretor de Marketing da Consultoria KPMG, os motivos que levaram as operadoras de telecomunicações a entrar na América Latina foi a necessidade de ter acesso ao mercado e para montar um banco de dados de clientes em mercados considerados emergentes.
Como os mercados em seus países de origem já se encontravam em adiantado estado de maturação, as possibilidades de reinvestimento não ofereciam possibilidades de retorno tão atrativas como a de mercados considerados emergentes. As operadoras que detinham maior participação no mercado global procuraram, então, diversificar as suas atividades afim de adquirir habilidades complementares e oferecer aos seus clientes novos serviços ligados a área de comunicação, assim a aquisição de empresas que operava em setores onde existe afinidade com a atividade principal das operadoras se tornaram alvo de aquisições. Diante deste quadro pode-se afirmar que o fim do monopólio estatal das telecomunicações coincidiu com a necessidade de expansão das operadoras globais.
A diversificação na prestação de serviços, neste caso, foi uma forma de manter a fidelidade do cliente, já que na contratação de uma única operadora existiam alternativas para a prestação de serviços.
A privatização do Sistema Telebrás se deu em um momento em que ocorria um forte movimento de fusões e aquisições a nível mundial em função dos novos serviços que surgiam, em parte induzidos pelo crescimento da Internet, que operariam de forma integrada aos sistemas de transmissão de voz existentes.
Enquanto a Internet designava o uso das linhas telefônicas à transmissão de dados e impulsionava o seu uso para o comércio eletrônico, o e-comerce, a TV a Cabo se popularizava nos grandes centros urbanos, e abria a possibilidade do acesso a Internet via cabo integrando as funções de televisão, telefone e computador a um único aparelho.
Ainda para complementar a mudança no setor, a telefonia fixa passou a disputar o mercado nacional com a telefonia móvel, já que enquanto não houvesse infra-estrutura suficiente que pudesse oferecer linhas telefônicas a toda a população, o indivíduo supria a sua necessidade imediata com a aquisição do telefone celular.
Diante desta diversificação, as operadoras de telecomunicação passaram a procurar, a nível mundial, a integração com empresas que viabilizassem a aquisição de habilidades da prestação de multiserviços. Ainda segundo Speekaert (idem), os motivos que induziram a criação de megaoperadoras no mundo e no Brasil eram diferentes: enquanto no exterior elas procuravam adquirir escala e habilidades complementares, no Brasil elas buscavam acesso a um mercado considerado emergente.
Por este motivo as fusões no setor de telecomunicações lideraram no ano se 1999, superando as do setor de alimentos, até então líder de 1994 a 1998.
Tabela 15 Fusões e aquisições no setor de telecomunicações. Período: 1994 à 1999
1994 |
1995 |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
|
Telecomunicações |
5 |
8 |
5 |
14 |
31 |
47 |
Participação em relação ao Total |
2,86% |
3,77% |
1,52% |
3,76% |
8,83% |
15,21% |
Fonte:
KPMG, 2000, p. 7Das 47 fusões no setor de telecomunicações, ocorridas em 1999, houve participação estrangeira em 39, e de acordo com o IESP, a composição do investimento estrangeiro na privatização do Sistema Telebrás foi liderada por Estados Unidos e Espanha, sendo que a participação estrangeira foi de 60% no total, o que aponta para uma internacionalização no setor.
Quadro 6 Fusões, aquisições e investimentos no setor de comunicações. Período: 1998 à 2000.
Ano |
Empresa-alvo |
Empresa Compradora |
Valor |
2000 |
Quatro A |
Telefônica |
140 |
2000 |
Vicon S.A. |
Globo Cabo S.A. |
67,8 |
2000 |
Zip.Net |
Portugal Telecom |
415 |
1999 |
Netstream |
AT&T Corp |
300 |
1999 |
Zetax Tecnologia S.A. |
Lucent Technologies |
n.d. |
1999 |
Proceda |
MCI WordCom |
n.d. |
1999 |
Globo Cabo S.A. |
Microsoft Corp. |
126 |
1999 |
Horizontes Internet |
PSINet |
n.d. |
1999 |
STI |
PSINet |
n.d. |
1999 |
OpenLink |
PSINet |
n.d. |
1999 |
Zeek Internet |
Starmedia |
n.d. |
1999 |
Rede Manchete |
TV Omega |
368 |
1999 |
Datamec S.A. Sistemas |
Unisys |
47,5 |
1999 |
Global Site |
ZAZ |
n.d. |
1998 |
UOL |
Morgan Stanley |
100 |
Fonte:
Conjuntura Econômica, p. 51, abr. 2000.Com a difusão de um novo meio, a Internet, os meios de comunicação tradicionais, como jornais, revistas e televisão, passaram a disputar espaço e verbas de publicidade, o que induziria este setor tradicional a diversificar suas atividades e a participar do processo de fusões e aquisições, se integrando aos provedores de acesso a internet.
Assim, o acesso a este novo meio de comunicação seria feito de duas maneiras, através das linhas de telefonia fixa e os provedores que se utilizassem deste meio de transmissão seriam alvo das recém chegadas operadoras de telefonia, que ingressaram no mercado brasileiro via aquisição do sistema telebrás e, através do sistema de cabo, que é derivado dos sistemas de TV a Cabo.
Convém citar os casos do provedor UOL, Universo on Line, que é uma associação entre os jornais Folha da Manhã e Editora Abril: o acesso ao portal UOL pode ser feito de duas maneiras: via linha telefônica, que é o meio mais barato e via cabo; no caso do acesso a cabo, o mesmo se derivou do negócio da Editora Abril na área de TV a Cabo, a TVA; e também, o caso do concorrente da Folha da Manhã, o jornal, o Estado de São Paulo, que por não atuar na área de TV a Cabo se associou ao portal de acesso ZAZ, que é de propriedade da transnacional Espanhola Telefonica.
Dos interesses governamentais apontados, o que trouxe mais benefício foi o de modernizar o setor de telecomunicações. A maior preocupação em relação a internacionalização deste setor era de que, como por natureza o setor de serviço não é exportador, o financiamento de déficit comercial brasileiro se converteria novamente em déficits na conta de serviço, já que as empresas que se instalaram no Brasil o fizeram por considerar o mercado emergente e portanto esperam realizar lucros que serão enviados aos países de origem na forma de royalties.
A atividade de fusões e aquisições no Brasil foi predominantemente reflexo das fusões e aquisições no exterior, que se efetivaram em busca de mercados que oferecessem oportunidades de crescimento, já que seus países de origem, dado o avançado grau de maturidade, não tinham a mesma perspectiva de crescimento.
A integração horizontal via fusões, que buscavam atingir economias de escala, não se caracterizou como principal motivo no caso brasileiro, no período de 1994 a 1999. Houve predomínio de aquisições, principalmente de empresas estrangeiras que buscavam explorar mercados que possuíam potencial de crescimento maior que o de seus países de origem, que já se encontravam em adiantado estado de maturidade.
O sistema financeiro pouco contribuiu para o investimento na produção no Brasil; o cenário macroeconômico instável, com grandes oscilações nas taxas de juro inviabilizaram o financiamento de longo prazo, o que colocou o empresário brasileiro em condição desfavorável em relação as empresas estrangeiras.
Mesmo o financiamento do consumo não foi constante em função dos planos de estabilização econômica utilizarem a política fiscal e monetária para administrar a demanda, minimizando os efeitos inflacionários.
Até o final da década de 90, o processo de agrupamento de empresas não caracterizou monopólio nos casos estudados: no setor de alimentos, varejo e telecomunicações, ainda havia disputas entre empresas que se situam em elos diferentes da cadeia produtiva.
No setor de alimentos havia mobilidade dos conglomerados na participação de mercado, com diminuição da participação do líder: a Nestlé. Os estágios de integração de empresas discutidos no primeiro capítulo: horizontalização, verticalização e conglomeração, podia ser observado nas empresas que atuavam neste setor.
Como foi discutido, a empresa ganhando com a economia de escala ao aumentar a sua estrutura ou se integrando com um concorrente buscava diminuir a dependência com as fontes de suprimento e canais de distribuição, integrando-se verticalmente, tinha seu crescimento limitado pela extensão do mercado e buscava a diversificação. A empresa, ao conglomerar-se, detém grande poder financeiro proporcionado pela eficiência adquirida, o que garante, apesar de possuir pequena participação nos mercados recém ingressados, escolher a frente que lhe convém tomar a iniciativa, caso a sua participação esteja ameaçada.
Porém, esta iniciativa dependia da rápida percepção de que a participação no mercado do lider estava sendo ameaçada, o que não ocorria com facilidade nos grandes conglomerados, já que a ameaça podia partir de um especialista no ramo, exigindo uma multiplicidade de estratégias por parte do conglomerado, que por sua vez, ao atingir elevado porte, se tornava burocratizado, o que dificultava a rápida tomada de decisões necessárias à concepção de estratégias. Cabe lembrar que os especialistas que ameaçam a participação do conglomerado, também seguiram os estágios de integração até a sua conglomeração.
A capacidade de investimento em pesquisa e o poder financeiro dos conglomerados não eram suficientes para consolidar as suas participações no mercado, pois ao procurarem diversificar suas atividades, procurando atividades econômicas mais rentáveis que a tradicional, o faziam de maneira amadora.
Neste caso, a diversificação com mais probabilidade de sucesso é aquela que buscava criar um novo uso ao produto tradicional, e assim utilizar a experiência adquirida no ramo na nova forma de utilização, e enquanto não cessarem as inovações, haverá mobilidade na participação dos agentes no mercado.
Aparentemente, o setor de alimentos não é dotado de tecnologia inovadora, frente ao setor de telecomunicações, isto pode levar a conclusão de que existe limitação na capacidade de inovação nesta atividade. Cabe lembrar que as inovações não estavam limitadas ao processamento da matéria prima, mas abrangiam a capacidade gerencial, propaganda, logística, armazenamento, embalagem e transporte, o que abria um leque de oportunidades de pesquisa e inovação, e se estas ainda não bastassem, os hábitos de consumo variam no tempo e no espaço, criando necessidade de inovação.
Outro ponto a ser considerado é que a concentração em uma etapa do processo produtivo, seja ela a extração de matéria prima, fornecimento de insumos, produção ou distribuição, quando não se integravam verticalmente, tendiam a induzir a parte dependente a se agrupar, ou seja, o elevado grau de concentração nas redes de distribuição criam uma situação desfavorável ao agente produtor no que diz respeito a divisão das margens de rentabilidade que obrigavam este agente a se agrupar para impor suas condições em situação mais favorável, ou ainda, o agrupamento de empresas no setor produtivo induzia ao agrupamento de empresas no setor de fornecimento de insumos e matéria prima. Considerando-se que não existia dependência apenas em relação aos canais de distribuição, mas também em relação as fontes de fornecimento, o raciocínio inverso devia ser válido. Ou seja, qualquer agrupamento em qualquer elo da cadeia produtiva induziria ao agrupamento dos outros elos.
A abertura econômica, iniciada nos anos 90, e o processo de privatizações mudaram o quadro econômico em relação a década de 80, e cabe lembrar que estas mudanças se devem à necessidade de aumentar a competitividade produtiva, que não foi adquirida quando o mercado nacional estava semi protegido, uma vez que existiam transnacionais no parque industrial e as mercadorias importadas não eram totalmente impedidas de serem comercializadas
A participação de mercado das empresas que estavam protegidas em virtude do mercado fechado, com a abertura, enfraqueceram as suas posições no mercado, diminuindo as possibilidades do exercício de monopólio.
Em relação ao aumento de competitividade, pode-se afirmar que a abertura proporcionou o acesso a tecnologia dos países que se encontrava em estágio mais avançado no processo de industrialização, onde a divisão do trabalho ocorreu a muito mais tempo e este acesso se dava através da expansão das empresas que buscavam escala para aumentar a sua eficiência. A transnacional, por desconhecer os hábitos de consumo, legislação, fontes de suprimento e distribuição, optou por adquirir empresas que tinham afinidade com sua atividade principal. Os objetivos destas aquisições foi ter acesso a novos mercados e implementar a inovação nos processos produtivos da empresa adquirida. Esta inovação inibia a capacidade de auto-inovação da adquirida, que se tornaria dependente das decisões da matriz
O acesso à competitividade, por este caminho, apresentava um custo que era consubstanciado na balança de serviços, que tendia a se agravar (vide Tabela 3 na página
*) dado o elevado grau de internacionalização da economia.Outro problema que se coloca é que a busca por maior eficiência das empresas, via fusões e aquisições, agravava o desemprego e a exclusão social. Se houvesse aumento de produtividade com manutenção do nível de oferta, seria necessário menor quantidade de mão de obra empregada, o que por sua vez resultaria em um menor mercado consumidor.
As empresas normalmente buscavam a integração horizontal para aumentar a sua eficiência diante da limitação da demanda, e através da integração, eliminavam setores funcionais redundantes. Se houvesse expectativa de expansão do mercado a empresa buscaria o aumento de eficiência via investimento.
Os aumentos de produtividade deveriam permitir o acesso a novos bens e serviços, uma vez que a sociedade adquiriu capacidade de prover bens e serviços na quantidade demandada, com menor esforço de produção e menor emprego de mão de obra.
A parcela da sociedade que não tinha representatividade na demanda, não pertencendo ao mercado consumidor, por não fazer parte da mão de obra empregada, devia ser recolocada em outras atividades produtivas, e para tanto esta devia ser preparada para provocar inovações. Só assim os aumentos de produtividade poderiam ser absorvidos por novos aumentos na demanda, permitindo que toda a sociedade participe da vida econômica.n
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Outras Pesquisas Disponíveis sobre Fusões e Aquisições
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A Geração de Sinergias e seus Impactos na Rentabilidade das Empresas nos casos de Fusões e Aquisições: Versão publicada na RAUSP.