Boletim da diretoria de criação número 57 novembro

Ponto de Vista

Nos EEUU são comuns os questionamentos, inclusive judiciais, de compradores de filhotes de cães quando descobrem serem os animais portadores de doenças genéticas. Interessante o trabalho de Gary F. Mason ( gmason@ileaf.com), comprador de um filhote de Scottish Terrier portador do tipo III da doença de von Willebrand, uma coagulopatia genética. Ao contrário de procurar impetrar uma ação judicial, Gary optou por uma ampla campanha de esclarecimento sobre as doenças genéticas dos cães, inclusive pela internet.

No Brasil, entre os pastoreiros, já existem indícios pelo menos de ameaças de ações na justiça comum para reparar a compra de um filhote que, radiografado na idade apropriada, mostrou ser portador da displasia coxo-femural. Eu já esperava isso baseado em dois erros cometidos pelos próprios criadores e associações: Achar ser possível acabar com a displasia simplesmente selecionando os animais baseado em radiografias coxo-femurais e anunciar a venda de filhotes isentos de DCF. Numa doença poligenética comportando gens dominantes, recessivos e co-dominantes ( nenhum gen do par é dominante ) e multifatorial estas duas condutas são bastante temerárias por não terem sustentação científica. E vou mostrar dados que mostram que teremos, criadores e dirigentes, de adotar condutas e esclarecimentos para evitar muitos dissabores futuros.

Existem muitas entidades científicas dedicadas às doenças genéticas animais . o Institute for Genetic Disease Control ( GDC ) mantém um registro aberto ( documento com estudo genético dos parentes do animal em questão ) para a seleção de cruzamentos, procurando reduzir o risco de doenças genéticas. A Orthopedic Foundation for Animals, Inc., a famosa OFA americana, mantém estudos e controle sobre a displasia coxo-femural ( ainda falarei muito sobre a OFA ). O Training and Education in Animal Care ( TEACH ) fornece informações, a lojas e criadores credenciados, sobre dados genéticos dos animais a sere comercializados. Em 1995, o poderoso AKC ( American Kennel Club ) destinou um milhão de dólares para o Dr. Donald Patterson, da University of Pennsylvania, desenvolver o Canine Genetic Disease Information System. A University of California e o Fred Hutchinson Cancer Research Center desenvolvem tentativas para o mapeamento do genoma canino e mostram dados na WWW antes mesmo das suas publicações.

O que se busca? Para o nosso problema atual, determinar gens causadores da displasia coxo-femural. Aí sim, diante de marcadores genéticos, poderemos afirmar com muita segurança se determinado animal é ou não portador da DCF. Para alguns mais céticos, por ser a DCF poligênica isso é ilusório. Pessoalmente acredito que, a médio ou longo prazos, haverá sucesso. Afinal desafios iguais ou maiores já foram vencidos pelos pesquisadores.

Enquanto isso, nós criadores e dirigentes pastoreiros, volto a afirmar, devemos saber usar os dados pouco consistentes que temos hoje e adotar condutas adequadas para evitar problemas futuros e mesmo presentes. Devemos partir de uma premissa: não há no momento procedimentos que afirmem com certeza ser determinado filhote portador ou não da DCF.

Existem, isso sim, meios radiológicos de saber-se se um animal é displásico ou não, embora todos com limitações. A OFA, que usa método semelhante ao usado na Alemanha e Brasil, com o animal em posição de decúbito dorsal ( incidência ventro-dorsal dos raios ) com os membros inferiores estendidos e com ligeira rotação interna, sugere radiografar o animal com um ano de idade. Há quem alegue que assim seriam detectados somente 70 a 75% das displasias. Os estudiosos da University of Pennsylvania, liderados pelo combativo Dr. Gail Smith, criadores do método que avalia a "frouxidão passiva do quadril", colocam em dúvida resultados do método usado pela OFA e mostram que muitos cães não displásicos pela OFA na realidade o são pelo método PennHip ( Pennsylvania Hip Improvement Program ). Muitos autores duvidam da ligação entre frouxidão e a displasia. Outros afirmam que a extensão dos membros inferiores e a rotação interna favorecem o encaixe da cabeça femural no acetábulo e conseqüente resultado falso-negativo em alguns casos. Mesmo uma radiografia normal não isenta o animal de ser portador do mal e poder transmití-lo aos seus descendentes.( continua no póximo número)

Dr. José Carlos Pereira, Diretor de Criação.

Sociedade Paulista Cães Pastores Alemães - Núcleo de Cruzeiro

Sistema SBCPA - CBKC - COAPA - FCI - WUSV

Boletim da diretoria de criação número 58 novembro

Ponto de vista ( continuação do número 57 )

Outro detalhe importante sobre a leitura das radiografias no Brasil, feita por um Veterinário e que já foi mudado algumas vezes. Na Alemanha, o Prof. Brass tem todos os recursos da Universidade de Hannover para a leitura das radiografias feitas por Veterinários credenciados. A OFA usa a leitura de três radiologistas veterinários, cada um não sabendo a leitura do outro, sendo os cães radiografados após 24 meses de idade. O PennHip, com técnica radiológica mais elaborada, lê as radiografias ( feitas por radiologistas que fizeram um curso ) na University of Pennsylvania. Portanto, todos têm atrás de si um centro radiológico de renome. É temerária a leitura por um só profissional. Já foram comprovadas, segundo trabalhos estrangeiros, leituras diferentes de uma mesma chapa por um mesmo profissional em datas diferentes. Já apresentei sugestões anteriormente.

A idade ideal para as radiografias ainda é questionável. Trabalhos mostraram que, dos cães radiografados aos 4 ou 5 meses, 90% repetirão os resultados aos 24 meses. Como a DCF é uma doença do desenvolvimento, como diz a OFA, e que todos os animais nascem com coxo-femurais normais e, nos afetados geneticamente, os sinais radiológicos serão evidentes em meses ou anos, os fatores ambientais ganham importância. Insiro aqui uma situação ética bastante interessante. Imaginemos um animal radiografado aos 4 meses com resultado normal, embora portador de gens da displasia. Criado dentro de técnica correta ( ração de qualidade, controle de peso, exercícios adequados, etc. ) aos 12 meses repete o resultado radiológico normal. Seria ético, dentro do desconhecimento dos gens causadores da doença, afirmar ser o animal isento de displasia?. Não seria mais honesto afirmar que o animal não apresenta quadro radiológico de displasia, podendo ou não ser portador da doença?. Os adeptos do PennHip afirmam ser possível radiografar os animais a partir dos 4 meses de idade com resultados bastante satisfatórios ( já apresentei dados sobre o método Pennhip em boletim passado) e que esses resultados seriam mais reveladores que os obtidos pelo método OFA ( também usado no Brasil com pequenas variações ). Essa briga entre os dois métodos de radiografia é muito interessante e deverá prosseguir por muito tempo. E poderão surgir outros...

Outro aspecto do problema DCF é o tipo de registro: aberto ou fechado?. Oregistro aberto, que trás anotado os resultados dos parentes próximos sobre doenças genéticas, sem dúvida seria o mais efetivo no controle das mesmas. Para os grandes estudiosos do assunto, Corley e Keller, um animal com excelentes coxo-femurais mas com mais de 25% dos seus irmãos portadores da doença seria mais problemático para a criação que outro animal com coxo-femurais apenas razoáveis mas com menos de 25% dos irmãos afetados. Um dos registros abertos mais importantes é o do Institute for Genetic Disease Control ( GDC ). Infelizmente, os registros abertos sofrem algumas restrições: a) Muitos grandes criadores, colocando os seus egos sobre criação, negam-se a submeter os seus animais aos controles. Nos EEUU, onde há liberdade para examinar ou não o animal, esse fato ganha importância considerável; b) Poucos animais radiografados. Já mostrei que, mesmo na Alemanha, Argentina e Brasil, onde há exigências de radiografias coxo-femurais para criação e seleção, um número desprezível de pastores alemães é radiografado. O American Kennel Club ( AKC ), o gigante norte americano, registra dois milhões de animais anualmente. De 1974 a 1975 registrou 40 milhões e, desses apenas 475000 ( 1% ) foram radiografados.

Diante do exposto: a) Doença poligênica e multifatorial, dificultando o encontro de marcadores genéticos; b) Métodos radiológicos para o diagnóstico ainda gerando controvérsias, inclusive quanto a idade ideal para radiografar; c) Possibilidade de fraudes ou má vontade dos criadores; d) Possibilidade de um animal normal ao RX ser Portador dos gens determinantes da displasia ou mesmo o inverso; e) Possibilidade de erros nos laudos radiológicos; f) possibilidade de um animal geneticamente isento poder apresentar RX alterado por ingerência da criação ( apesar de autores afirmarem categoricamente isto não ser possível, penso o contrário ), aconselho os criadores do Núcleo de Cruzeiro:

Não anunciar ou vender filhotes informando que são isentos da DCF.

Não tomar prévias aos seis meses como definitivas e vender o animal como isento. O RX, por uma série de contingências, poderá não se confirmar aos 12 meses.

Somente após o laudo oficial o animal poderá ser vendido, aí com a chancela da Brasileira, como N, QN ou AP. Embora, como já afirmei, não seja favorável ao laudo de um só veterinário é a regra do jogo e temos que aceitar.

Fugir desses conselhos é dar mole para a propaganda e a venda enganosas.

Somente podemos afirmar ao futuro dono do filhote que o mesmo é o fruto de cruzamento estudado e autorizado pelos órgãos pastoreiro, que os pais possuem RX que os credenciaram para a seleção, etc. e que existe o risco, apesar dos cuidados tomados, do filhote ser displásico. Desde que os dados sejam corretos é claro.

Dr. José Carlos Pereira, Diretor de Criação.

 

Chat ] Clínica ] Informática ] Odontologia Veterinária: ] Dermatologia ] Mural ] SPCPA ] Ortopedia ] Nutrição ] Oncologia ] Lista de e-mail- ]

Riquetsiose ] [ Ponto ] Luxação da Patela ] Uniformidade na criação ] Mielopatia Degenerativa ] Visão ] Agility ] Lobo mau ] Aprendizado ] Dispalsia cotovelo ] Erliquiose ] Ecos da SIEGER ] Pragmatismo ] Displasia Coxo-Femoral ] Dirofilariose ] Brucelose ] Consanguinidade ]